Marion e Brad: romance de espionagem.
Você já teve impressão que alguns diretores entram num processo de crise de identidade? Não estou nem dizendo que precisa ser como aqueles cineastas obsessivos que repetem até as fontes dos créditos de seus filmes (como o Sr. Woody Allen), mas estou falando de pessoas como Robert Zemeckis. O cinema de Zemeckis tinha uma marca bastante específica em filmes como De Volta Para o Futuro/1985 ou A Morte lhe Cai Bem/1992. Seu talento lhe valeu até um Oscar por Forrest Gump/1994 e a oportunidade de repetir a parceria com Tom Hanks em Náufrago/2000. Subitamente ele se rendeu às tecnologias e fez algumas animações que chamavam mais atenção pelas técnicas do que propriamente por suas narrativas. Em 2012 ele deixou a animação de lado e lançou Voo estrelado por Denzel Washington. Embora o filme tenha recebido elogios, aquele não era o Zemeckis dos velhos tempos. Havia ali o esforço de ser denso, de arrancar lágrimas da plateia e ser alguma outra coisa que seu cinema dos anos 1990 não se preocupava tanto. Neste sentido, A Travessia/2015 conseguia ser bem mais próximo do tom jovial do auge da carreira do cineasta, pena que as novas ambições do diretor voltaram no ano passado quando Zemeckis lançou Aliados, filme estrelado por Brad Pitt e a oscarizada Marion Cotillard. Obviamente que ninguém junta astros deste para nada (juntos eles somam sete indicações ao Oscar) e o estúdio ficou tão animado que colocou o filme para estrear ao lado dos pesos pesados da temporada de premiações. Não era para tanto. O filme conta a história do agente da inteligência Canadense Max Vatan (Pitt) que é escalado para trabalhar com uma aliada da Resistência Francesa, Marianne Beauséjour (Cotillard) no início da Segunda Guerra Mundial. Os dois precisam fingir que formam um casal enquanto tecem planos para eliminar um ministro nazista. A primeira parte do filme se dedica à missão, bem... mais ou menos, já que está mais preocupado em explorar a atração que surge entre os dois (com direito a uma cena de tempestade de areia que fez muita gente suspirar no cinema). Na segunda parte a coisa complica, já que existe a suspeita de que a francesa é na verdade uma espiã alemã. Deste ponto em diante o filme se enrola em colocar Vatan num dilema (mata a mulher que ama ou não?) e coloca Marianne em frases, caras e bocas ambíguas até a cena final. O interessante é que embora seja bem produzido, a história do casal de espiões que se apaixona e tem o casamento colocado em risco não tem nada demais. Brad Pitt e Cotillard fazem o que podem para deixar o filme interessante, mas a profundidade que Zemeckis desejava nunca se concretiza por ter um roteiro que parece ter sido tão alterado que diluiu boa parte da densidade que existia ali. No fim das contas, Aliados é um romance de espionagem que venderam como uma mistura de Casablanca/1942 e Sr. e Sr.ª Smith/2005 - se a mistura já soa estranha como referência, imagina numa tela de cinema! No geral, o filme tem algumas cenas de ação ambiciosas, uns beijinhos, cenas melodramáticas, boa reconstituição de época, figurinos elegantes (indicados ao Oscar) e bons atores em personagens nem tanto, mas consegue ser um bom filme de entretenimento - e não há problema algum nisso, o problema está mesmo em Zemeckis tentar ser outro cineasta depois de tanto tempo.
Aliados (Allied / Reino Unido - EUA / 2016) de Robert Zemeckis com Brad Pitt, Marion Cotillard, Jared Harris, August Diehl,Lizzy Caplan e Matthew Goode. ☻☻☻
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