Garance: batismo de sangue.
Pode se dizer que os filmes de horror vivenciam uma renovação nos últimos anos, embora continuem existindo os tradicionais filmes de serial killers, existem cada vez mais produções que buscam a construção de climas e atmosferas que se diferem pela sutileza. Raw (ou Grave no título original) é um destes casos. Embora invista em algumas cenas bastante explícitas, Raw investe no horror psicológico sem perder a capacidade de revirar o estômago. Depois de fazer sucesso em alguns festivais (e se fazer muita gente passar mal no Festival de Toronto) e ganhar até alguns prêmios, A protagonista do filme é a jovem Justine (Garance Marillier), que acaba de ser aceita numa prestigiada faculdade de veterinária - a mesma frequentada pela irmã, Alexia (Ella Rumpf). Não bastasse todo o estresse de ingressar na rotina de estudos, Justine ainda tem que lidar com aquelas brincadeiras estúpidas conhecidas como trote (e o filme é praticamente um inventário de ideias do gênero) e o contato com animais de uma forma, digamos, “ incomodamente técnica”. O fato de Justine ser criada numa família de vegetarianos torna sua inadequação ainda maior durante este período de transição. As coisas pioram de vez no trote em que ela precisa comer um rim de coelho cru e... ela começa a se interessar cada vez mais por carne (sobretudo crua). Dali em diante o apetite de Alexia passa por uma transformação, que afeta sua vida social também - já que o interesse pela carne humana começa a aparecer também. A diretora estreante Julia Ducournau consegue ser bastante ousada no desenvolvimento de sua história, que mistura canibalismo, o ambiente universitário francês e o relacionamento entre duas irmãs que são mais parecidas do que imaginam. Achei muito interessante a opção por sintetizadores na trilha sonora (que parece saída de um filme de vampiro e resulta irônica em vários momentos) e Ducournau consegue construir belos pesadelos narrativos, só que às vezes ela exagera na vontade de criar polêmicas - o que pode cansar um pouco o espectador. Com relação ao elenco, a jovem Garance Miller realiza um belo trabalho ao interpretar uma personagem complicada conciliando sua aparência frágil com a agressividade quase selvagem que domava por tanto tempo. Cheio de detalhes, o roteiro tem algo do mexicano Somos o que Somos (2010), mas a abordagem de que havia algo adormecido dentro de Justine lembra os conflitos de Carrie – A Estranha/1976 (e a referência fica mais forte com a cena do “banho de sangue” logo no início do filme).
Raw (Grave / França - Bélgica - Itália / 2016) de Julia Ducournau com Garance Marillier, Ella Rumpf, Rabah Nait Ofella, Laurent Lucas e Joana Preiss. ☻☻☻
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