Thomas Jane: expertise em Stephen King.
Quem acompanha as versões da obra de Stephen King para o cinema sabe que suas adaptações tem lá os seus favoritos. Na direção Frank Darabonts tem três filmes elogiados no currículo que contam histórias concebidas pelo escritor (O Nevoeiro/2007 e os dois indicados ao Oscar: À Espera de Um Milagre/1999 e Um Sonho de Liberdade/1994). No campo das atrizes Kathy Bates é a favorita com duas personagens incríveis que ajudou a levar para as telas (em Eclipse Total/1995 e Louca Obsessão/1990 - pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Atriz). Quando se trata de ator, parece que Thomas Jane quer levar o título de melhor ator do universo de King. Depois de viver o herói que paga o pato da pior maneira possível em O Nevoeiro (que diga-se de passagem é bem melhor do que a insuportável série inspirada nele), Thomas aparece em outra adaptação do autor em um personagem completamente diferente e alcança o melhor desempenho de sua carreira! O ator vive o fazendeiro Wilfred James, que no ano de 1922 começa a entrar em conflito com a esposa quando esta decide vender as terras herdadas do pai. Arlette James (a ótima Molly Parker) está cansada daquele lugar, ali ela cresceu, casou, cria o filho ao lado do esposo e vê o tempo passar sem grandes alterações. PAra afastar o tédio, ela desenvolve gosto pela costura, planeja vender as terras, ganhar dinheiro suficiente para mudar para a cidade com a família e abrir uma butique. Ela só não contava que Wilfred é radicalmente contra. Nem ele sabe explicar direito o motivo, mas considera um absurdo a esposa determinar os rumos que sua vida tomará dali para frente - além de relembrar que a terra é dela, não dele. Conforme Arlette insiste na mudança, o clima em casa fica mais pesado e até o divórcio é cogitado. As brigas e discussões crescem - e o fato do filho adolescente (o bonitinho Dylan Schmid) começar a namorara a filha de um casal amigo da família só faz com que Arlette esteja cada vez mais solitária em suas ambições. Não chega a ser um SPOILER dizer que o marido começará a bolar um plano para se livrar da esposa e manter seu sonho de se tornar um grande fazendeiro local, mas para sua drástica solução ele irá precisar da ajuda de alguém, no caso, do próprio filho (numa cena difícil de assistir). O diretor Zak Hilditch não é um novato, mas até agora sua fama era restrita ao cinema australiano, aqui ele demonstra saber extrair do conto de mesmo nome (que compõe o livro Escuridão Total Sem Estrelas de 2010) o que há de mais trágico, afinal, o assassinato da esposa é o ponto de partida para uma série de acontecimentos que fogem totalmente ao controle daquele homem - e que o direciona inevitavelmente para a ruína. No entanto, ironicamente diante de todas as desgraças que se sucedem, seu crime foi perfeito - mas as consequências resultam piores do que ele imaginava. Prova de que Hilditch (que também assina o roteiro) sabe exatamente o que está fazendo é a forma como insere o sobrenatural na história (o que foi o ponto fraco de Jogo Perigoso/2017 outra recente adaptação da Netflix para um livro de King). Aqui o horror já está mais do que consolidado quando o sobrenatural aparece para ressaltar o que há amargo e deprimente na história. Perseguido pelo cadáver da esposa e roedores (ou seria apenas sua consciência?), Dylan irá remoer as péssimas escolhas que fez até o desfecho - que carrega o tom de uma macabra redenção.
1922 (EUA-2017) de Zak Hilditch com Thomas Jane, Molly Parker, Dylan Schmid, Brian D'Arcy James, Neal McDonough, Kaitlyn Bernard e Bob Frazer. ☻☻☻
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