Neste vinte de novembro resolvi fazer uma lista com dez filmes (premiados e comentados aqui no blog) que contam com personagens negros em tramas que considero bastante relevantes - sejam verídicas ou ficcionais sobre racismo, tolerância, luta pela igualdade e respeito.
A lista ficou assim (em ordem alfabética):
Antes de virar série da Netflix, conheci este filme ao ganhar o prêmio de melhor roteiro de estreia no Independent Spirit Awards. A ideia não poderia ser mais contemporânea: um grupo de alunos negros numa conservadora universidade americana. A ideia é puro pretexto para uma bem articulada (e bem humorada) discussão sobre os disfarces que os preconceitos podem ter. De namoros interraciais, brigas por poder e uma festa blackface, o roteiro é esperto o suficiente para triturar tudo de forma bastante articulada.
Ganhador do Oscar de roteiro orginal, este filme ainda foi indicado em outras três categorias (filme, diretor e ator para Daniel Kaluuya) e surpreendeu muita gente quando estreou. No início parecia só uma revisita à surrada história do rapaz negro que vai visitar a família da namorada branca. O que a plateia não esperava é que o filme envereda pelo terror (desde a primeira cena) e o surrealismo para abordar temas bastante atuais. O comediante Jordan Peele fez uma ótima estreia na direção.
Enquanto a escravidão é tema de inúmeras novelas das seis no Brasil, nos EUA nunca houve uma tradição de produções sobre o tema. Assim, podemos perceber a importância deste filme que foi indicado a nove Oscars e levou três (Filme, roteiro adaptado e atriz coadjuvante - para a matadora atuação de Lupita Nyong'o). O filme é sobre a história real de Solomon Northup (o ótimo Chiwetel Ejiofor), um homem livre que é escravizado nos EUA pré-Guerra Civil. Um filme obrigatório.
O novaiorquino Melfi já deixou claro que é o tipo de diretor que tem grande carinho pelos personagens - mesmo quando insere humor em situações dramáticas. O resultado é uma simpatia imediata com seus protagonistas. Aqui, a junção da história bem amarrada com o elenco brilhante lhe rendeu sucesso de público, crítica e três indicações ao Oscar (incluindo melhor filme). Ao contar a história de três cientistas negras importantes na NASA o filme fez história - e levou para casa o prêmio máximo do Sindicato de Atores: melhor elenco.
Este filme está na lista de filmes dos mais arrepiantes que já assisti. Deve ter se tornado o documentário mais premiado em seu ano de lançamento (levou para casa vários prêmios, incluindo o BAFTA, mas perdeu o Oscar), talvez seu maior mérito é a sintonia perfeita entre imagens e narrativa baseada nos textos do escritor James Baldwin (com voz de Samuel L. Jackson). O resultado realmente impressiona! Eu Não Sou seu Negro é uma profunda reflexão sobre a situação dos afro-americanos no mundo contemporâneo.
Nos Estados Unidos dos anos 1960, a luta pelos direitos civis estava fervilhando e este filme conta histórias de pessoas comuns que sofriam na pele segregação na Terra do Tio Sam, no caso, se tratava de um grupo de empregadas domésticas negras que tinham muito a contar sobre o que acontecia dentro das confortáveis casas do subúrbio sulista americano. O filme alçou a brilhante Viola Davis a outro patamar em sua carreira e oscarizou Octavia Spencer como coadjuvante, além de ter comovido muita gente ao redor do mundo.
Dá para acreditar que o casamento interracial era crime no estado da Vírginia? Esta é pergunta que serve de ponto de partida para a história do casal Mildred (a magistral Ruth Negga, que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz e ao Globo de Ouro) e Richard Loving (Joel Edgerton) que mantem um relacionamento fora da lei no ano de 1958. Perseguidos, presos e afastados do convívio de suas famílias num verdadeiro exílio, a história de Loving parece inacreditável, mas aconteceu de verdade e merece ser conhecida.
O Mississipi deve ser o estado que mais serviu de cenário para histórias sobre segregação racial em todos os tempos (e não por acaso é até citado em Corra!). Mesmo indicado a três Oscars, poucas pessoas deram o devido valor a este filme que foi comprado pela Netflix e foi lançado nos cinemas antes de ir para o streaming. A história de uma família branca que cruza seus caminhos com uma família negra tem um dos desenvolvimentos mais contundentes do cinema recente - e o trabalho da cineasta Dee Rees é de uma maturidade impressionante em cada cena.
Não ficarei surpreso se o filme se tornar a primeiro produção de super-herói a ser indicado a Melhor Filme no Oscar do ano que vem. Sucesso nas bilheterias, o filme estrelado pelo herói da Marvel quebrou paradigmas ao oferecer uma visão moderna, ao mesmo tempo cheia de tradições sobre o continente africano e a cultura pop. Um super-herói negro em conflitos com o seu papel no mundo atual rende um filme marcante - além de ter um elenco impressionante. No MTV Movie Awards foi lembrado em sete categorias e levou quatro: filme, herói, vilão e performance em um filme.
Embora tenha algumas licenças históricas, este filme prende a atenção sobre a histórica marcha da cidade de Selma para Montgomery em nome dos direitos civis em 1965. Também ajuda muito a atuação de David Oyelowo absolutamente magnética como Martin Luther King (com uma autenticidade impressionante mesmo nas complicadas cenas de discurso). Indicado ao Oscar de Melhor Filme e ganhador do prêmio de Melhor Canção (para Glory de John Legend e Common), o filme merecia muito mais.