sábado, 31 de outubro de 2020
4EVER: Sean Connery
Nascido na cidade de Edimburgo, o escocês Thomas Sean Connery foi leiteiro, marinheiro, caminhoneiro e modelo vivo no Colégio de Artes de Edimburgo antes da carreira de ator (que começou depois que ficou em terceiro lugar no concurso de Mister Universo). Embora tenha feito pequenos trabalhos no cinema e na TV na década de 1950, ele ficou famoso em 1962 ao ser o primeiro ator a encarnar o icônico agente 007 em O Satânico Doutor No. Ele voltou a viver James Bond em outros quatro filmes de sucesso e quando abandonou o papel (com Nunca mais Outra Vez/1983) já era um dos maiores atores do cinema. Ao longo da carreira atuou em mais de noventa projetos e ganhou mais de 30 prêmios. Trabalhou com Alfred Hitchcock (Marnie/1964), Sidney Lumet (Assassinato no Oriente Express/1974), John Huston (O Homem que Queria Ser Rei/1975), Brian de Palma (Os Intocáveis/1987, que lhe rendeu o Oscar de ator coadjuvante), Steven Spielberg (Indiana Jones e a Última Cruzada/1989) e Gus Van Sant (Encontrando Forrester/2000). Sua última aparição nas telas foi em A Liga Extraordinária (2003) que acabou rendendo sua aposentadoria após os desentendimentos com o diretor Stephen Norrington. Com charme, carisma imbatível e voz marcante, Sean foi um dos maiores astros do cinema. A família não divulgou a causa da morte.
sexta-feira, 30 de outubro de 2020
PL►Y: Em Chamas
quarta-feira, 28 de outubro de 2020
PL►Y: Borat - O Filme Subsequente
O britânico Sacha Baron Cohen já provou que não é ator de um personagem só, no entanto, por mais que tenha buscado papéis diferentes nos últimos anos (como em Os Sete de Chicago/2020), existe um consenso de que um personagem sintetiza melhor tudo o que ele é capaz de expressar através de seu senso de humor, digamos, peculiar. Trata-se de Borat Sagdiyev. Criado pelo comediante para o programa Da Ali G Show(2003-2004). Mas seu humor ácido sobre preconceitos diferenças culturais ganhou o mundo com sua versão para o cinema de nome quilométrico Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América (2007) em que o ator vestido do personagem passava grande parte do tempo interagindo com pessoas que acreditavam na apresentação esdrúxula que o título prometia. Que o humor de Borat é repleto de besteirol, absurdos, grosseiras, bizarrices e um bocado de preconceitos sintetizados (num amálgama inconcebível até então) todo mundo já sabia, mas ver pessoas comuns embarcando naquelas sandices achando que era algo aceitável deu um tempero considerável (e assustador) ao documentário farsesco. Obviamente que havia todo aquele exagero sobre a realidade do Cazaquistão, as piadas com judeus apresentados como monstros e aquela luta inesquecível que levou o filme muito além do que a maioria das comédias ousaram chegar. Pelo trabalho Cohen se tornou conhecido mundialmente, levou para casa o Globo de Ouro de ator de comédia e ainda foi indicado ao Oscar de roteiro adaptado, mas para além disso, mostrou o quanto uma sátira corrosiva pode ser importante para refinar nosso olhar sobre um mundo em que tudo parece banalizado. Se treze anos atrás o filme conseguia alcançar este mérito, imagina atualmente onde se questiona se a Terra é redonda ou se o holocausto realmente aconteceu, ao mesmo tempo em que a patrulha do politicamente correto trabalha a todo vapor? São extremos de um mundo polarizado que O Filme Subsequente de Borat: Entregando um Suborno Prodigioso ao Regime Americano para Beneficiar a Nação que já foi Gloriosa do Cazaquistão procura conciliar em sua hora e meia de atrocidades que divertem e assustamao apresentar um mundo que parece pura ficção. A veia do mockumentary continua ali, afinal, Borat sofreu as consequências pela imagem que apresentou do seu país. Foi castigado e preso, até que para se redimir foi encaminhado para uma missão: aproximar o presidente de seu país do presidente dos Estados Unidos. Nesta tarefa ele tem dois obstáculos: sua filha adolescente que o persegue até a Terra do Tio Sam e a fama conquistada pelo seu filme anterior. Logo a filha adolescente se torna alvo daquelas piadas de puro escracho, como o "manual para proprietário de filhas" que prega sobre cria-la numa jaula e outras delicadezas (e revela a desconhecida Maria Bakalova como ótima parceira de escracho). Já a fama rende uma série de disfarces que revela que se a Terra não é plana, pelo menos ela deve girar para trás ao repetir o procedimento de câmera (de celular muitas vezes) escondida. Se ele constrói uma caricatura do Cazaquistão, por outro lado, sua jornada pelos EUA revela um país real bastante complicado. Neste ponto, existe o aspecto que mais me surpreendeu no filme: trata-se da primeira produção cinematográfica a retratar a pandemia de Covid-19, praticamente em tempo real (e este ponto que deixa o arremate do filme com um sabor ainda mais especial). Borat 2 atira para todos os lados com a mesma bala: feministas, democratas, republicanos, judeus, Facebook, baby sugars, teorias revisionistas, leste europeu, movimento anti-vacina, conspiração chinesa e apresenta uma teoria para a proliferação do vírus que ninguém imaginaria. Ainda que o filme não tenha o gosto da novidade do primeiro, a distância de treze anos entre os dois serviu para mostrar que a piada que era local no primeiro filme agora se universalizou e, o mundo se parece cada vez mais com uma grande piada - que seria cômica... se não fosse trágica.
Borat: O filme Subsequente (Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan) de Jason Woliner com Sacha Baron Coen, Maria Bakalova, Tom Hanks, Dani Popescu e Miroslav Tolj. ☻☻☻☻
Combo: Sci-Fi baixa renda
A ficção científica é um gênero cinematográfico que é famoso por seus orçamentos inchados, que geralmente ultrapassam cem milhões de dólares. Quando o investimento retorna em lucro de bilheteria todos ficam felizes, mas quando não... o estrago é grande. Quem se aventura por viagens no tempo, idas para outros planetas, encontros com alienígenas ou visitas à outras dimensões ainda precisa tomar cuidado para não cair no ridículo (e com orçamentos modestos a precariedade tem mais chances de comprometer tudo). Este combo é sobre os cinco filmes de ficção científica de baixo orçamento que mais aprecio. Critérios para estar na lista: ter custado menos de dez milhões de dólares e eu ter gostado muito (o que deixou vários baratinhos de fora). Considerei a dificuldade em lidar com grandes ideias e pequeno orçamento para estabelecer a ordem dos filmes por aqui, já que cada um tem suas qualidades próprias:
domingo, 25 de outubro de 2020
#FDS Tarkovsky: Solaris
sábado, 24 de outubro de 2020
#FDS Tarkovsky: Nostalgia
Reza a lenda que uma vez o cineasta Andrei Tarkovsky participou de uma sessão espírita e teria recebido uma comunicação do poeta e romancista russo Boris Pasternak, que comunicou que ele dirigiria sete filmes. Desiludido, Andrei perguntou "Mas somente sete?" e Boris respondeu "Mas serão ótimos!". Nostalgia é o penúltimo filme do diretor e manteve o alto conceito de sua cinematografia. Este foi o primeiro do cineasta a que assisti (lembro que foi numa tarde chuvosa de julho, o que ajudou muito para entrar no clima do filme - e confesso que adoro ver filmes do leste europeu em dias frios). Confesso que achei um dos filmes mais bonitos que já assisti, não apenas pela história em si, mas pela forma como o diretor produz suas imagens e constrói as transições com uso de luzes e sombras no que poderia ser pensado como um exercício da memória ou realidade e sonho, mas também passado e presente. O filme retrata a viagem de um poeta russo chamado Andrei Gorchakov (Oleg Yankovski) pela Itália em busca de inspiração para a vida. Ele está nesta jornada há três meses ao lado de uma atriz (Domiziana Giordano) e a tensão sexual entre eles é bastante palpável. O filme os acompanha ao chegar a um vilarejo ao norte italiano e, ainda pensativo sobre os rumos que sua vida tomou até ali, ele passa a olhar aqueles cenários e locações pela lente de suas lembranças, o que transforma os cenários e personagens com o que deixou em sua terra natal. Neste ponto da viagem, o protagonista ainda fica instigado com Domenico (Erland Josephson), conhecido como um morador excêntrico e solitário da região que guarda um segredo trágico que funciona como uma projeção da história que Andrei deixou na União Soviética. Tarkovsky opta sempre por caminhos não óbvios ao destacar a jornada destes dois personagens masculinos com trajetórias e desfechos distintos na história que trabalha muito bem, entre a loucura e o onírico está o atrito entre a vida de ambos. Se um termina protegendo uma chama na esperança de fazer um mundo melhor, o outro utiliza a chama como forma de protesto visceral diante de uma plateia apática. Nostalgia se constrói a partir da construção de cenas que são pura poesia num verdadeiro reflexo da psiquê de seus personagens. No entanto, o mais notável é a forma como o diretor trabalha sua fotografia entre luzes, sombras, cores e planos que modificam a cena diante dos nossos olhos num verdadeiro espetáculo cinematográfico. Trata-se não apenas de um mergulho na mente do protagonista e que pode gerar diversas interpretações por parte do espectador (especialmente quando imaginamos que este foi o primeiro filme do diretor fora de sua terra natal). A beleza desta obra recebeu três prêmios no Festival de Cannes: melhor realizador, prêmio do júri e o FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema) e até hoje funciona pleno em com suas imagens hipnóticas que fazem o que Tarkovsky sempre chamou de esculpir o tempo através de seu cinema.
Nostalgia (Nostalghia / União Soviética - Itália / 1983) de Andrei Tarkovsky com Oleg Jankovsky, Erland Josephson, Domiziana Giordano, Patrizia Terreno, Laura De Marchi, Delia Boccardo, Milena Vukotic, Raffaele Di Mario, Rate Furlan, Livio Galassi, Elena Magoia, Piero Vida, Lia Tanzi e Sergio Fiorentini. ☻☻☻☻☻
sexta-feira, 23 de outubro de 2020
#FDS Tarkovsky: O Sacrifício
Pódio: Kristin Scott Thomas
3º Quatro Casamentos e Um Funeral (1994)
Bronze: A amiga platônica. |
Prata: a irmã criminosa |
Ouro: a esposa adúltera. |
PL►Y: Rebecca - A Mulher Inesquecível
Armie e Lily: coragem em refilmagem. |
Kristin e Lily: governanta de repeito. |
domingo, 18 de outubro de 2020
CATÁLOGO: Longe do Paraíso
Talvez a carreira do californiano Todd Haynes possa ser dividida em antes e depois de Longe do Paraíso. Antes, Haynes era lembrado diretamente como um dos nomes mais curiosos do cinema indie americano, responsável pelos provocadores Veneno (1991), A Salvo (1995) e Velvet Goldmine (1998). Embora diferentes entre si, os seus três primeiros filmes criaram controvérsias e dividiram opiniões quanto às suas temáticas - mas Velvet já demonstrava que o mainstream estava de olho nele, afinal, ninguém é capaz de fazer uma releitura do glam rock dos anos 1970 citando Lou Reed, Bowie e Iggy Pop sem chamar atenção (o filme foi lembrado no Oscar de melhor figurino). Quando Haynes lançou Longe do Paraíso, público e crítica ficaram surpresos pela forma como o diretor evocava diretamente um cinema que estava fora de moda, considerado até cafona em seus apelos à memória de Douglas Sirk, o cineasta alemão que fez história em Hollywood com seus melodramas nos anos 1950. Haynes bebe diretamente nesta fonte e cria um filme de estética irretocável, com fotografia deslumbrante, figurinos impecáveis e ajuda de uma estrela que personifica um daqueles papéis que as divas do cinema defenderiam tão bem ao exibir a casca de perfeição que se corrói em tristeza interior. Julianne Moore (que estrelou A Salvo e outros filmes do diretor após este aqui) interpreta Cathy Whitaker, uma dona de casa que leva uma vida aparentemente perfeita ao lado do esposo, Frank (Denis Quaid) e o casal de filhos. Ele é um executivo influente de uma empresa da região e cabe à esposa contribuir para a construção de uma imagem idílica sobre este homem fora do trabalho. No entanto, os constantes atrasos do esposo começam a intrigar Cathy, que resolve fazer uma surpresa no trabalho dele e se depara com um segredo que mudará sua vida para sempre. Some isso à atração que ela começa a sentir pelo jardineiro, Raymond (Dennis Haysbert) que é negro e o que vemos é Haynes sobrepor preconceitos para o que antes era um paraíso se tornar um sufocante jogo de aparências. As atitudes dos personagens desencadeiam uma série de situações que rompe com a casca de perfeição e os torna vulneráveis perante o que a sociedade tem de mais conservadora. Não é por acaso que o filme é ambientado nos anos 1950 com a estética inebriante de um mundo que estava prestes a enfrentar mudanças consideráveis na década seguinte. Esta necessidade de mudança necessária está mais do que presente no casal Whitaker, que precisa decidir entre estar presos às convenções ou à liberdade de escolher o que se deseja. Neste dilema, Denis Quaid tem um dos melhores momentos de sua carreira, mas o espetáculo fica por conta de Julianne Moore que teve um ótimo ano em 2002, levando para casa o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza por este filme e sendo indicada ao Oscar de melhor atriz por seu trabalho (no mesmo ano ela concorreu como coadjuvante por As Horas após ter levado para casa o prêmio de atriz em Berlim ao lado de Nicole Kidman e Meryl Streep). Além da indicação ao Oscar de atriz, Longe do Paraíso concorreu ainda pela fotografia, trilha sonora e indicou Haynes ao Oscar de roteiro original.
Longe do Paraíso (Far from Heaven / EUA - 2002) de Todd Haynes com Julianne Moore, Denis Quaid, Denis Haysbert, Patricia Clarkson e Viola Davis. ☻☻☻☻
CATÁLOGO: 32 de Agosto na Terra
PL►Y: Greta
Greta é um daqueles filmes que existem para nos fazer lembrar que os grandes também erram. Bem, se repararmos bem os créditos a ideia é que dois dos envolvidos são mais do que grandes, são gigantes - o que faz o tombo parecer ainda maior. A começar pelo diretor, Neil Jordan o diretor irlandês mais badalado em Hollywood dos anos 1990, época em que ganhou o Oscar de roteiro original com o já clássico Traídos Pelo Desejo (1991) e dirigiu o sucesso Entrevista com o Vampiro (1994) e o magnífico Fim de Caso (1999). Faz um tempinho que Jordan não encontra muito reconhecimento em seus filmes, mas até agora não havia realizado um tropeço tão grande quanto este aqui. Neste ponto entra o segundo gigante, na verdade, uma giganta, Isabelle Huppert, talvez a atriz francesa mais prestigiada do nosso tempo e que acabava de sair de sua primeira indicação ao Oscar por sua famigerada interpretação em Elle (2016) de Paul Verhoeven (e que merecia ter levado a estatueta para casa). Aqui ela também interpreta a personagem título, mas as semelhanças param por aí, já que conforme Greta avança em suas surpresas, mais chafurda no ridículo de um suspense barato. No meio do caminho ainda temos uma jovem atriz promissora que faz tempo não recebe um papel à altura, Chloë Grace-Moretz que come o pão que o mal roteirista amassou nesta trama estapafúrdia. Chloë interpreta Frances, uma jovem que tenta ganhar a vida em Nova York trabalhando em um restaurante. Educada e de bom coração, um dia ela encontra uma bolsa no metrô e resolve encontrar a dona, ela acaba se deparando com a solitária Greta (Isabelle Huppert), uma professora de música francesa que está um pouco deslocada naquela cidade grande. As duas acabam se tornando amigas, especialmente pelo fato de Frances ainda não ter superado a morte da mãe e Greta ter lá os seus problemas com a filha. Se no início a atenção de Greta tem uma forte carga maternal, não demora muito para que seja visto um certo desequilíbrio em seu comportamento obsessivo pela jovem que se torna cada vez mais amedrontada com a presença daquela senhora. Greta demonstra não apenas ser carente, mas também mentirosa e uma verdadeira louca de pedra, capaz das maiores atrocidades para ter Frances por perto. Neil Jordan é um ótimo diretor, mas aqui ele prova que não é capaz de fazer milagres com um roteiro que não tem medo do ridículo, da mesma forma é curioso ver duas atrizes competentes defendendo personagens tão unidimensionais capazes das atitudes mais estranhas para o contexto em que se encontram. Em alguns momentos Frances demonstra não ter muitos neurônios funcionando e Greta além de louca tem uma sorte impressionante para não ser descoberta pelas atrocidades que realiza. Em alguns momentos o filme beira o cômico, especialmente se lembramos todos os tipos curiosos que Huppert já interpretou em sua carreira, de Elle até a Professora de Piano (2001), do qual Greta parece uma paródia de mal gosto. Resta ao espectador de divertir com o que parece uma comédia involuntária com a expressão blasé de sua protagonista francesa que parece se divertir muito com a tosquice da trama. Os envolvidos mereciam algo melhor.
Greta (EUA-Irlanda/2018) de Neil Jordan com Isabelle Huppert, Chloë Grace Moretz, Maika Monroe, Jane Perry, Colm Feore e Stephen Rea. ☻
sábado, 17 de outubro de 2020
PL►Y: The Forty Year Old Version
Radha: nasce uma estrela.
Outro filme que acaba de chegar à Netflix é The Forty Year Old Version, um filme que entra para a minha lista de grata surpresas do ano. Ganhador do prêmio de melhor direção no Festival de Sundance, o filme marca a estreia da roteirista Radha Blank na direção. Radha ainda acumula as funções de roteiristas e atriz principal - e não por acaso ela interpreta Radha, uma mulher de quarenta anos que dá aulas de interpretação em uma escola do subúrbio de Nova York enquanto tenta retomar sua carreira que já foi promissora há algum tempo. Faz tempo que ela foi premiada como uma revelação da dramaturgia e desde então nada mais aconteceu. Entre lapidar o talento de jovens atores amadores e se meter em desventuras com o agente amigo da adolescência Archie (Peter Kim), a vida de Radha parece sempre tropeçar em promessas de um sucesso que nunca chega. Um dia ela tenta escrever uma nova peça, na outra decide ser cantora de hip-hop, mais tarde pensa em realizar uma obra por encomenda, criar um musical ou seja lá o que for para que seja reconhecida como artista talentosa. O melhor do filme é que Radha constrói uma narrativa cheia de energia, que toca em assuntos interessantes de forma muito bem humorada. Está ali a busca por sua identidade, a chegada da maturidade, o medo do fracasso, a confiança, a auto-estima, tudo isso com uma protagonista fora dos padrões Made in Hollywood. Para além disso, ainda existe a peça dentro do filme, que faz Radha repensar constantemente sobre o que está fazendo para receber algum reconhecimento, ou seria que apenas deseja fazer sucesso suficiente para pagar as contas no fim do mês? O resultado é uma comédia esperta que flerta com o drama encontrando um raro equilíbrio. Tanta sinceridade na execução revela que existe um bocado de elementos autobiográficos. Radha Blank realmente tentou a carreira como dramaturga, escreveu várias peças que não foram produzidas, afinal, seu universo fugia dos lugares comuns. Em uma entrevista no New York Times, Radha ressalta que suas peças fugiam do estereótipo do afro-americano, não explorava a pobreza, não retratava histórias de época ou de guerras africanas. Apenas uma peça de Radha foi encenada, rendendo críticas mistas, foi considerada de "baixo orçamento" para alguns enquanto outros consideravam honesta, crua e alegre. Radha tentou se reinventar escrevendo um seriado sobre se tornar rapper, mas o falecimento de sua mãe fez o projeto ser cancelado. Se tornou roteirista da série The Get Down de Baz Luhrman para depois criar o roteiro do que seria seu primeiro filme. Os produtores ficaram entusiasmados com o resultado, mas tentaram convencê-la a não filmar em preto e branco, mas ela tinha plena noção do que desejava. Filmado em 21 dias, The Forty Year Old Version traz em si um frescor regado à energia da diretora que já filma um novo projeto com tintas menos pessoais, mas aguardado sob a promessa de que temos uma artista que se reinventa plena após os quarenta anos.
The Forty Year Old Version (EUA-2020) de Radha Blank com Rhada Blank, Peter Kim, Reed Birney, Imani Lewis, Antonio Ortiz e Welker White. ☻☻☻☻
PL►Y: Os Sete de Chicago
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
KLÁSSIQO: Gosto de Sangue
PL►Y: The Boys in The Band
quarta-feira, 14 de outubro de 2020
NªTV: The Boys
Criada por Garth Ennis e Darick Robertson a HQ The Boys se tornou um grande sucesso na Amazon Prime Video tão logo sua primeira temporada foi lançada. No entanto, o programa passa longe da fórmula Marvel de sucesso e mais ainda das séries juvenis dos heróis da DC Comics na TV. The Boys está mais para os personagens instáveis psicologicamente de Watchmen (tanto que frequentemente é comparada à ela), mas com menos pretensão e temperados com muito mais ironia, deboche e espírito sanguinário. O estilo hardcore dos quadrinhos foi preservado na série que faz chacota não apenas do culto aos super-herói, mas imagina como seria a presença destes seres no mundo real. Se dizem que para conhecer realmente uma pessoa é preciso dar poder a ela, imaginar se ela recebe super-poderes é uma ideia mais do que interessante. Se na primeira temporada nos apresentaram o grupo Os Sete, liderados por Capitão Pátria (Anthony Starr) ao lado de Rainha Maeve (Dominique McElligott), Profundo (Chace Crawford), Trem-Bala (Jessie T. Usher), Black Noir (Nathan Mitchell), Translúcido (Alex Hassell) sob o prisma da chegada da novata Luz Estrela (Erin Moriarty), enquanto um grupo de rapazes (os The Boys do título formado por Karl Urban, Jack Quaid,Tomer Capon, Laz Alonso e Karen Fukuhara) tenta desmascará-los, a segunda enfatiza ainda mais as atrocidades destes heróis sem escrúpulos. No entanto se a primeira temporada apresenta estes heróis dignos de culto num mundo de celebridades, a segunda enfatiza ainda mais a forma como se constrói a aura de mitos em torno de seres de moral e ética questionáveis a partir da noção de que são verdadeiros exemplos, aspecto enfatizado ainda mais com a chegada de uma nova personagem: Tempesta (Aya Cash), que é mais experiente do que imaginam e faz com que a crise de popularidade do Capitão Pátria (cada vez mais psicótico) se depare com a eficiência dos memes regados à discurso de ódio nas redes sociais. Tempesta ainda torna o discurso do fascínio incontrolável pelo poder ainda mais incisivo, já que conforme a trama avança, nos deparamos com ideias perigosas atemporais que se adaptam ao público de diferentes épocas sob novo formato e ideias que ainda buscam seu lugar no Século XXI. Para além de Tempesta e seu envolvimento com Capitão Pátria, a segunda temporada mantem o destaque nos mesmos personagens da anterior (o romance de Luz Estrela com ... e o ódio de Bruto pelos Sete), no entanto, explorar a sexualidade de Rainha Maeve (e uma crise de consciência por uma atrocidade do passado), assim como uma "redenção" de Profundo através da religião e a iminente saída de Trem Bala não lhe garantes muito destaque no geral da trama (além do misterioso Black Noir continuar na mesma). Bom mesmo é a promessa de que qualquer um poderá ser um herói se tomar um tal Composto V e ajudar a deter os supervilões que estão por aí (o que serve como clara analogia para os tempos que vivemos), se Capitão Pátria e seu bando provam que poderes não tornam uma pessoa melhor, talvez a ideia não seja tão boa quanto parece. The Boys termina sua nova temporada com pique para emendar várias outras, torna-se o raro caso de adaptação em que os fãs não ligam muito para as alterações na trama (Tempesta por exemplo era um homem nos quadrinhos), além de ter a esperteza de saber afinar o que se assiste com o que acontece no mundo hoje. No meio de tudo isso, os fãs criaram mais problemas pelo lançamento semanal de episódios. O que era para evitar spoilers gerou uma revolta generalizada nas redes sociais, o que só me faz pensar se o público entende as alfinetadas que a própria série proporciona.
The Boys (EUA, 2019-2020) de Eric Kripke com Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr, Erin Moriarty, Chace Crawford, Tomer Capon, Jessie T. Usher, Aya Cash e Karen Fukuhara. ☻☻☻☻
terça-feira, 13 de outubro de 2020
PL►Y: Três Verões
Se a pandemia afetou Hollywood, imagina o cinema brasileiro. Veja o que aconteceu com Três Verões de Sandra Kogut, o filme precisou estrear em cinemas drive-ins por norma contratual, mas sabia que o dinheiro viria mesmo era do streaming (em que foi lançado pouco mais de dez dias depois). Lançado a nacionalmente pelo TelecinePlay, o filme parte de uma história envolvendo corrupção, no entanto, ao invés de explorar aquela pessoa que vemos todo dia nos telejornais mudando apenas de nome, o filme se concentra nos empregados dela. Assim, a centralidade da trama está em Madá (Regina Casé), a animada caseira de uma casa em Angra dos Reis que vê a rotina da família para qual trabalha ser alterada por uma visita da polícia. Madá vê seu nome metido em esquemas de corrupção e preocupada com que acontecerá dali para frente não sabe o que fazer. Neste período de crise, ela acaba se aproximando de Seu Lira (Rogério Fróes) que acaba ficando aos seus cuidados quando o chefe Edgar (Otávio Müller) e familiares tem... problemas para resolver. A cineasta Sandra Kogut tem como ponto mais interessante de seu filme voltar a câmera para os personagens que gravitam em torno da elite envolvida em esquemas de corrupção. Se existe uma rotina de festas no início, nos quais os empregados ficam nos bastidores, depois a casa de torna vazia e um território a ser desfrutado por estes personagens. Regina Casé vive mais uma empregada em sua carreira e, embora a memória ainda guarde com carinho sua performance em Que Horas Ela Volta? (2015) ela constrói uma personagem diferente, acompanhada por um elenco de apoio carismático que nunca recebe muito destaque e neste ponto o roteiro é um problema. Embora tenha a boa intenção de acompanhar um grupo de personagens que atua por trás de uma família endinheirada, tenho a impressão que o texto não faz muita ideia de como construí-los. A própria Madá, passa mais tempo ouvindo Seu Lira e preocupada com uma filmagem (que acaba revelando um pouco mais de sua história) do que propriamente se desenvolvendo ao longo da trama. O fato do filme ter uma conjunto de situações soltas como se houvesse um câmera escondida também não ajuda a perceber o desenvolvimento da trama. Três Verões parece ser uma ideia de curta-metragem que foi anabolizada para criar um longa-metragem – talvez se fosse um verão fosse mais envolvente. Além disso, investe em uma leveza que drena bastante a dramaticidade e apresenta seus personagens não muito distante da caricatura. Se a ideia era ter um olhar diferente sobre aquele universo o resultado ficou pelo meio do caminho.
segunda-feira, 5 de outubro de 2020
NªTV: Breaking Bad + El Camino
Some isso à uma coleção invejável de personagens coadjuvantes inesquecíveis, seja sua esposa Skyler (Anna Gunn), o ex-aluno Jesse Pinkman (Aaron Paul), o advogado Saul (Bob Odenkirk que ganhou sua própria série spin-off que vai para sua sexta e derradeira temporada), o chefão Gus Fring (Giancarlo Esposito), o capanga Mike (Jonathan Banks)... a cada temporada, cada um deles se aprofundava e tornava o programa mais complexo e interessante pelos laços (ou seriam nós?) que se estabeleciam. Vale lembrar que a série estreou na era de ouro do canal AMC, que era pouco conhecido, mas chamou atenção por uma ótima safra de séries, além de Breaking Bad (2008-2014), o canal ainda tinha Mad Men (2007-2015) e Halt and Catch Fire (2014-2017) e vou até contar as primeiras temporadas de Walking Dead (2010 até só Deus sabe quando). Eis que cinco anos depois do fim de Breaking Bad, os criadores junto à Netflix resolveram contar o que acontece com Jesse Pinkman a partir do desfecho dado à série. O resultado é um reencontro com alguns personagens para criar um episódio anabolizado de duas horas de duração. Embora conte um pouco mais de como foi a vida de Jesse depois que foi levado pelo tio de Todd (Jesse Plemons que ganhou muito peso após o fim da série e destoa da imagem que guardei do personagem, já que emendei o último episódio com o filme) para o cativeiro, o filme é um acerto de contas de um personagem que quer mudar de vida, mas antes precisa lidar com seus fantasmas. É um presente para os fãs, mas também um grato reencontro com um universo que parece se expandir ao infinito em nosso imaginário. O filme concorreu no EMMY a melhor filme para TV e outras três categorias técnicas. Como fã, gostaria que vários que a família White também ganhasse seu próprio filme (ainda mais que me rendeu alguma desidratação na última temporada), sobretudo pelo ótimo trabalho de Anna Gunn nas mudanças da esposa zelosa que aos poucos se percebe no pesadelo em que se meteu. Skyler também tem suas dores a exorcizar e adoraria ver como aproveitariam isso. Enquanto não se confirma um novo filme, a minha próxima etapa é assistir Better Call Saul, que deve chegar ao fim em um ano pós-pandemia! Que seja 2021, por favor.