Hani e Gael: contemplando o nada em belas paisagens.
Nica (Hani Furstenberg) e Alex (Gael Garcia Bernal) formam um casal que resolve colocar a mochila nas costas e caminhar pela Cordilheira do Cáucaso na divisa da Europa com a Ásia. Eles contam com a companhia de um guia para a jornada e em meio às belas paisagens a câmera persegue a intimidade do casal em cenas triviais para aproximá-lo do público. Não acontece muita coisa até que lá pela metade do filme o trio é surpreendido por um grupo de homens armados e num reflexo inesperado, Alex coloca Nica como escudo para defendê-lo de um possível tiro. A cena poderia revelar algo mais sobre o casal aparentemente feliz, mas a diretora prefere sugerir uma crise com longos silêncios que parecem caminhar para mais uma hora de quase nada. A cena de defesa de Alex é a melhor cena de um filme que caminha para lugar algum. Eu poderia falar sobre os planos abertos, a miudeza do ser humano, a solidão consigo mesmo perante a natureza embriagante... mas a melhor crítica que li sobre o filme o comparava a um borrão de Rorschach, onde o espectador pode projetar nele o sentido que quiser. Isso pode fazer a glória dos intelectualóides, mas não afasta a obra do completo vazio. O Planeta Solitário é forte candidato ao filme mais sacal dos últimos anos. Exibido nos festivais de Cannes, Toronto e Sundance, dificilmente o filme receberia alguma atenção se não fosse estrelado pelo ídolo mexicano Gael Garcia Bernal. Pode se dizer que escalar o ator foi a grande esperteza da diretora Julia Loktev, já que Bernal é o tipo de ator que consegue estar bem até quando não tem nada para fazer em cena. A coisa deu tão certo que lembro de alguns críticos ensandecidos chegaram a cogitar indicações ao Oscar para o filme - sinceramente, não lembro da Academia ter criado a categoria melhor sonífero. Dificilmente os elogios irão além das paisagens exibidas ou os tons da fotografia bem cuidada, já que não existe muito mais do que isso em cena. As cenas soam improvisadas e os personagens nunca se definem, não sabemos quem são, de onde vem, o que fazem, sabemos apenas que vivem um relacionamento e que o clima de carinhos vai para o vinagre quando Alex age em nome da autopreservação. Há o ensaio de uma traição, nudez, um toque sexual aqui e outro ali e o filme termina tão oco quanto começou. Poucas vezes vi uma perda de tempo tão grande quanto isso, o incrível é que foi preciso três pessoas para escrever uma história que nem existe. Não tenho nada contra filmes contemplativos, mas O Planeta Solitário tem menos a contemplar do que um conjunto de cartões postais. Por desafiar a paciência do espectador, Julia Loktev foi até indicada a prêmios de direção por essa picaretagem que poderia ser a chance de explorar a estranha sensação de sentir-se só ao lado de quem se ama. Acho que isso não é nem uma resenha, mas uma advertência.
O Planeta Solitário (The Loneliest Planet/EUA-Alemanha/2012) de Julia Loktev com Gael Garcia Bernal, Hani Furstenberg e Bidzina Gujabidze. #
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