Hanneveld e a madame: personagens que Larv Von Trier pediu a Deus.
Quando assisti a comédia de humor negro Os Últimos Dias de Emma Blank do holandês Alex Van Warmerdan tive a impressão que era a comédia que Lars Von Trier queria fazer em toda sua carreira. O roteiro é provocador, tem aquele humor maldoso que o diretor tanto gosta e ainda tem o tom de farsa que ele costuma empregar em seus filmes do gênero (como o espinafrado O Grande Chefe/2006), talvez se Lars fosse o diretor, o filme tivesse menos buracos em sua estrutura. Entretanto, o holandês tem seus momentos de genialidade. Warmerdan (eu sei que o sobrenome tem uma sonoridade bizarra em português) concebeu a história de uma mulher que está prestes a morrer e isso serve de pretexto para que ela peça os maiores absurdos aos seus devotados empregados. Com o tempo percebemos que os empregados não são tão bem intencionados como parecia, assim como as coisas não são o que aparentam. O filme fica mais interessante quando descobrimos que todos estão desempenhando papéis naquela casa isolada, sendo o de Theo (vivido pelo próprio diretor) o mais interessante e que entrega o grande truque do filme. Theo é o cão da casa e, como todo bom animal de estimação, é o personagem mais devotado à sua dona. Emma Blank (em boa atuação de Marlis Heuer) é uma chata, aparentemente ela divide o mordomo Haneveld (Gene Bervoets) com a cozinheira Bella (Annet Malherbe), mas isso não isenta que ela exija que ele use um bigode e que Bella tenha que ouvir reclamações sobre a comida o tempo inteiro. Além disso, uma das empregadas é filha dela com o mordomo (?!). Enquanto o silencioso Theo é sempre expulso da casa, ou esquecem de levá-lo para defecar fora da casa, a jovem Gonnie (Eva van de Wijdeven) não suporta o jogo de interesses na casa e não se anima nem com as investidas do atencioso Meier (Gijs Naber). Conforme a narrativa avança, os personagens vão revelando um pouco de si até o momento em que os interesses de todos são comprometidos por uma revelação. A partir desse momento as regras do jogo mudam e tudo pode acontecer, pena que o diretor parece ter perdido a inspiração (ou então foi repreendido por algum produtor) e as soluções aparecem apressadas demais. Uns dez minutos a mais de filme teriam feito bastante diferença no desfecho dos personagens, uma vez que não fica muito claro qual a ligação que todos tinham com Emma. Ainda assim, o filme tem o mérito de sacudir as percepções do espectador como um bom quebra-cabeça e ainda tem o mérito de colocar Theo como o personagem favorito dos apreciadores do filme (que o chamam carinhosamente de Dogman). Pena que uma ideia tão interessante não tenha suas possibilidades exploradas como deveria - nesse momento que faz falta um diretor com a audácia de Lars Von Trier à frente de uma produção. Mesmo assim, o resultado é bastante interessante em sua proposta quase surreal.
Os Últimos Dias de Emma Blank (De laatse dagen van Emma Blank/Holanda-2010) de Alex Van Warmerdan com Marlis Heuer, Gijs Naber, Gene Bervoerts, Eva van de Wijdeven, Annet Malherbe e Alex Van Warmerdan. ☻☻☻
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