Vanellope e Ralph: contestando o sistema de dados.
Ainda precisa aparecer alguém que me convença de que a vitória de Valente na categoria de melhor animação no Oscar deste ano, não foi uma injustiça com seus concorrentes! Não foram poucas pessoas que apontavam Detona Ralph como o favorito da categoria, afinal no ano em que a Pixar decepcionou lançando o filme mais Disney de sua trajetória, a Disney lançou o filme mais Pixar de sua carreira. Detona Ralph é o tipo de filme que chama a atenção desde o primeiro momento ao contar com vários personagens que fazem alusão ao mundo dos games. O protagonista é o vilão de um jogo das antigas. Sua função é quebrar um prédio enquanto Félix Fix Jr. (o mocinho do game) é encarregado de arrumar tudo com um martelo. O problema é que (como manda a cartilha dos vilões protagonistas de onde surgiram Megamente e Meu Malvado Favorito, ambos de 2010) ele entra em crise não apenas pela tarefa destruidora que deve realizar, mas também pelo alto índice de rejeição que tem entre os outros personagens do game (ao ponto de não ser convidado para uma festa que comemora o aniversário do jogo). Visivelmente discriminado, Ralph quer provar aos seus colegas de trabalho que é um cara legal - mas a iniciativa acaba gerando mais confusão no grupo. Com isso, acaba aceitando o desafio de conquistar uma medalha de herói e mostrar que não é apenas mais um vilão de video game. Ralph acaba buscando a medalha em outro jogo (o modernoso "Missão de Herói"), ignorando a regra de que se morrer em um jogo que não é o seu, você não ressuscita porque sua programação não corresponde aquele universo. Enquanto Ralph vai lutar contra os insetrônicos ao lado de uma capitã histérica e agressiva (cortesia da voz de Jane Lynch) e depois tem sua medalha roubada no jogo Sugar Rush por Vanellope (uma menina com ambições de corredora a que todos acreditam ser um defeito de programação), o jogo original de Ralph corre o risco de ser desligado pela ausência de sentido - já que sem Ralph para quebrar tudo, não há necessidade de Félix consertar nada. O filme é bastante divertido e ainda consegue equilibrar as cenas de ação como eu não via desde Os Incríveis (2004) e ainda consegue ter uma lição de moral sem parecer chato. Longe de querer dizer que os vilões são fundamentais para o funcionamento do universo, o filme deixa claro que é preciso gente de todo tipo para que o mundo seja mais interessante e nem sempre quem parece o mocinho realmente o é - principalmente se ele aponta para o outro manipulando os preconceitos dos demais. Debaixo de todo o colorido e ritmo contagiante, Detona Ralph expressa que a verdade tem muitas faces, assim como discursos políticos tão bem encarnados pelo rei da colorida Sugarland (que manipula informações para que as pessoas ajudem a mantê-lo no poder, mesmo sem que elas percebam). No fundo, Ralph, Vanellope e até Felix Jr. são contestadores do sistema, ou melhor, da programação de seus jogos de origem. No fim das contas, eles percebem que se todos respeitarem suas funções e particularidades o mundo será um lugar muito mais interessante. Obviamente que você não precisa reparar nada disso enquanto se diverte (e os fãs vão adorar ver conhecidos personagens juntos num longa metragem dizendo frases como "seu rosto é tão em alta definição"), mas filme bom é assim mesmo, as entrelinhas são ainda melhores do que há de mais evidente.
Detona Ralph (Wreck it Ralph/EUA-2012) de Rich Moore com vozes originais de John C. Reilly, Sarah Silverman, Jane Lynch e Ed O'Neil.
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