domingo, 7 de julho de 2013

DVD x Klássiqo: Caça aos Gangsteres x Os Intocáveis

Ribisi, Brolin, Gosling...: bons atores em quase caricaturas. 

Às vezes eu mesmo me assusto com a minha ingenuidade. Mas aí, volto à uma lição de minhas professoras de cinema que nunca falha: "cinéfilo que é cinéfilo repara o nome do diretor"! O problema é quando percebo o nome do diretor só quando estou assistindo ao filme. Quando começaram a falar de Caça aos Gangsteres com um elenco anabolizado por Sean Penn, Ryan Gosling, Nick Nolte e Josh Brolin, imaginei que seria uma espécie de versão moderna de Os Intocáveis (1997) de Brian de Palma, mas quando me dei conta de que Ruben Fleischer assinava o filme a coisa já começava a ficar esquisita. Ruben Fleischer pode ser sinônimo de filme engraçadinho quando você leva em consideração que ele estreou nas bilheterias polpudas de Zumbilândia (2009), depois ele deu uma derrapada com 30 Minutos ou Menos (2011), que eu ainda não consegui assistir inteiro (o que já é um mal sinal). Tudo piora quando se trata de filme de gangster. Baseado no livro de Will Beall e Paul Lieberman, Caça aos Gangsteres é um exagero só! Seu maior problema é que a trama tem semelhanças demais com o já clássico Os Intocáveis, mas a execução é um desastre. No filme de DePalma, Kevin Costner encarnava Eliot Ness, o responsável pelas investigações e confiscos que apontariam Al Capone (Robert DeNiro) como um chefão do crime organizado, responsável por várias infrações durante a lei seca nos EUA. Capone é mostrado como um sujeito famoso e que sempre conseguia espaço na imprensa para debochar de quem estava no seu encalço. Fleischer tenta fazer o mesmo com Sean Penn, mas o sabor é diferente. Penn interpreta Mickey Cohen, personagem que já apareceu em outro clássico recente (Los Angeles Cidade Proibida/1996), um ex-lutador de boxe que ascendia socialmente ao ponto de ter até uma professora de etiqueta com quem tinha um caso (Emma Stone, num papel bem diferente do que está acostumada). A violência de Cohen parece ainda mais elaborada do que a de Capone, especialmente quando seus negócios era feito a base de ilusões vendidas às garotas do interior que esperavam se tornar atrizes. O ano era de 1949, quando a polícia organizou um grupo especial para destruir as organizações de Mickey encabeçada pelo correto sargento John O'Mara (Josh Brolin). É até interessante como o filme aborda a escalação do time de O'Mara a partir das indicações de Connie O'Mara (Mireille Enos, da série The Killing), a esposa grávida de John. 

Emma Stone e Ryan: juntos outra vez? 

A partir de características mais pessoais do que profissionais, Connie escolhe a dedo aqueles em que pretende confiar a vida de seu marido. Fleischer peca por nunca deixar claro quais são as intenções das operações do grupo e quando existem as cenas de ação, elas beiram o pastelão. A pressa em criar momentos de perseguição fez com que o corte final do filme ficou bastante confuso. Os personagens são quase caricaturas, ganhando melhor desenvolvimento o sargento Jerry Wooters (Ryan Gosling, com uma voz bem diferente do normal) e a professora/amante de Cohen, Grace Faraday (Emma Stone). A inserção do romance num filme de gangster poderia soar mais original se Fleischer não houvesse copiado o casal da comédia romântica de sucesso Amor à Toda Prova (2011). Além disso, apesar de todo o esforço em parece sexy, Emma Stone tem aparência jovem demais para o papel. No entanto, o que compromete mais Caça aos Gangsteres é a falta de sutileza em nome de um ritmo frenético. As coisas poderiam melhorar se o final fosse poderoso, mas não é isso que acontece quando Brolin derrota Sean Penn no muque! A cena pode até ter acontecido de verdade, mas da forma que é mostrada parece um delírio de overdose testosterônico! Se você quer ver um filme sério sobre o assunto, é melhor procurar Os Intocáveis. O filme de DePalma se tornou um clássico do cinema depois que foi lançado em 1987. Ambientado nos anos 1920, o filme mostra as ações do grupo liderado pelo agente federal Eliot Ness no cerco ao império de Al Capone. DePalma ainda estava no auge quando conseguiu reproduzir com fidelidade o clima dos filmes policiais da era de ouro de Hollywood. Quando Hollywood já experimentava a mistura de ação e humor, o diretor opta por uma cadência mais solene com excepcional trilha sonora de Ennio Morricone já nos créditos inciais. Obviamente que Brian já tinha os seus delírios (uma coisa que Tarantino anabolizou nos dias de hoje), como o momento faroeste entre policiais e bandidos no meio do deserto - mas a tensão absurda que constrói durante boa parte do filme compensa essas notas dissonantes. Apesar da presença imponente de Kevin Costner como protagonista, o veterano Sean Connery soube construir uma espécie de mentor de Ness, tendo um dos momentos mais marcantes do filme - que lhe valeu o Oscar e o Globo de Ouro de ator coadjuvante. Existem pelo menos meia dúzia de cenas memoráveis no filme, algo que lhe dá fôlego para ser lembrado até os dias de hoje como uma referência do gênero. No fim das contas, apesar de toda a violência estilizada e semelhanças, Caça aos Gangsteres parece mais uma antítese de Os Intocáveis do que qualquer outra coisa. 

Os Intocáveis: referência clássica do gênero. 

Caça aos Gangsteres (Gangster Squad/EUA-2013) de Ruben Fleischer com Josh Brolin, Ryan Gosling, Sean Penn, Emma Stone, Giovanni Ribisi, Mireille Enos e Nick Nolte. ☻☻

Os Intocáveis (Untouchables/EUA-1987) de Brian DePalma com Kevin Costner, Robert DeNiro, Sean Connery e Andy Garcia. ☻☻☻☻

2 comentários:

  1. Duas coisas aprendi na minha carreira de cinéfilo: Primeiro, quando um cara descobre que não tem talento para o cinema vira um crítico de cinema. Segundo, nunca dar ouvidos aos críticos de cinema. Ótimo filme, grande elenco, boa fotografia, bom enredo, temática sensacional e ainda por cima inspirado numa história real. Certa semelhança com os intocáveis? Sim. Qual história de máfia, real ou imaginária não tem semelhança com todas já contadas? O filme é original dentro de seu universo? Talvez não a história contada, com carros voando, um rei do crime com a polícia e a lei nas mãos e um grupo de homens bons tentando fazer a faxina, ok, todo mundo sabe que essa é a trama recorrente em filmes desse porte, ainda mais quando a abordagem é feita do ponto de vista do pessoal "do bem", contudo o filme não deixa a desejar em nada e está muito longe de ser um fracasso. Se fosse dar uma nota, ficaria na casa dos sete, ou o qualificaria como "bom". Vale a pena ver. Não decepciona. - Paulo Barra

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pelas ofensas, Paulo Barra! Mas não sou crítico de cinema e o blog é para que eu escreva as minhas impressões sobre os filmes. Acho bacana que as pessoas possam escrever suas impressões diferentes das minhas, mas você poderia ter feito de forma mais gentil. Não somos obrigados a concordar um com o outro, mas penso que não precisa desmerecer minhas considerações para exaltar as suas. A graça da arte é que as pessoas fazem leituras diferentes das mesmas obras, mas isso não dá o direito de um ofender o outro. O que você fez não se chama comentário, se chama intolerância. Um abraço.

    ResponderExcluir