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Não resisti: o elenco na capa da Vanity Fair me pareceu mais interessante que qualquer foto do filme presente na internet. |
Sei que muita gente irá dizer que estou redondamente enganado, mas o cineasta Judd Apatow quer mostrar que está amadurecendo. Com isso, a bilheteria de seus filmes pode até diminuir, mas o cineasta que apareceu como o
papa das comédias românticas masculinas em
O Virgem de 40 Anos (2005) está ficando cada vez mais preocupado em parecer sério. Obviamente que seu cinema nunca terá a pretensão de desvendar os meandros psicológicos de seus personagens como Ingmar Bergman, mas nem precisa, o diretor percebeu que pode usar seu humor para abordar conflitos um pouco mais sentimentais desde o seu incompreendido
Funny People/2009 (que como se não bastasse ter Adam Sandler no elenco, ainda contou por aqui com o obstáculo do título hediondo:
Tá rindo do Quê? ). Se este ousava abordar os conflitos de um comediante que estava com os dias contados, aqui ele conta a história de um casal e seus tropeços quando se anuncia os 40 anos. Claro que
Bem Vindo aos 40 tem aqueles momentos de humor abobalhado que pode comprometer as reais intenções do diretor, principalmente quando fica claro que ele nunca quer parecer sério (cenas assim são como as da flatulência na cama, os autoexame de Rudd com um espelho sobre a mesa e as várias cenas onde o banheiro parece um refúgio), mas considerei detalhes até pequenos perante o esforço de Apatow em criar uma narrativa mais complexa com vários personagens em seus momentos de reflexão sobre os anos que passam sem que nos demos conta. Pete (Paul Rudd) é sócio de uma gravadora que contrata artistas veteranos que não vendem mais como antes, talvez pela nostalgia só ele ainda não entendeu isso. Na vida familiar as coisas até que estavam bem com a esposa Debbie (Leslie Mann, esposa de Apatow) apesar das constantes rusgas entre as filhas Sadie e Charlotte (Maude e Iris, as eficientes filhas de Apatow e Leslie Mann). Pete tem mais problema mesmo é em sustentar o pai (Albert Brooks), que nunca consegue lembrar o nome dos trigêmeos que teve recentemente com a segunda esposa. Já Debbie administra uma loja de roupas que atrai fregueses por conta da beleza de sua vendedora Desi (Megan Fox, que depois de tantas críticas está ganhando crédito em papéis pequenos em comédias e, modéstia a parte, está convencendo bem), Debbie ainda tenta uma reaproximação com o pai (John Lithgow) que deixou a família quando ela tinha apenas oito anos. O filme mostra sucessivos problemas cotidianos que o casal enfrenta com bastante senso de humor, seja por conta de Sadie ser uma típica adolescente que não vive sem facebook ou netflix ou uma gravidez inesperada de Debbie. Às vezes o filme alcança momentos brilhantes como o
check-up feito pelo casal ou as tentativas de cumprir a promessa de que ele não comerá
cupcakes se ela largar o cigarro. Em outros momentos o filme exagera nas bobagens (como as palhaçadas perante o serviço de quarto num retiro amoroso), mas, fazer o quê, são elas que garantem o interesse dos fãs mais antigos de Apatow. Conforme os conflitos aparecem, Debbie e Pete começam a questionar até se deveriam ter se casado, as brigas se tornam mais comuns do que os carinhos e... é quando a roupa suja é lavada na festa de quatro décadas de vida de Pete. É importante destacar que as angústias do personagem recebem um momento incomum de catarse nesse (ao som da espetacular canção
Dull Tool de Fiona Apple que ficou de fora do Oscar inexplicavelmente), sendo interrompido por um motorista marrento. É incrível como a cena simples funciona para colocar o universo do casal novamente nos eixos e deixar a sensação que Apatow debaixo de tanta abobrinha que passa pela cabeça (ajudada ainda por uma penca de amigos comediantes como Jason Segel, Melissa McCarthy, Chris O'Dowd, Lena Dunham...), trata-se de um romântico incorrigível (especialmente depois de terminar o filme com Ryan Adams cantando Lucky Now). Além disso, não deixa de ser curioso que Paul Rudd (aos 44 anos) tenha conquistado um lugar em Hollywood bem distante do galãzinho que ensaiava ser em sua estreia em Patricinhas de Berverly Hills (1995), assim como Leslie Mann (aos 41 anos) parece fazer questão de ficar distante do rótulo de nova Meg Ryan que lhe atribuíram quando apareceu toda adocicada como namorada de Matthew Broderick em O Pentelho (1996) - que foi a primeira produção de Apatow para o cinema.
Leslie e Rudd: o peso de quatro décadas na relação.
Bem Vindo aos 40 (This is 40/EUA-2012) de Judd Apatow com Leslie Mann, Paul Rudd, Maude Apatow, Iris Apatow, Chris O'Dowd, Megan Fox, John Lithgow, Albert Brooks e Graham Parker.
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