Catalina: temperamental, complexa e fascinante.
Assisti dia desses o chileno A Criada, filme premiado em Sundance que chegou até a receber torcida para ganhar uma vaguinha no Oscar em 2010. O filme teve alguns problemas de distribuição no Brasil (assim como 90% dos filmes não americanos), mas merece atenção nem que seja para acompanhar a atuação de Catalina Saavedra na pele da empregada Raquel - além de servir para perceber como um filme de baixo orçamento consegue ser interessante. O diretor Sebastián Silva conduz seu filme como se estivesse com uma câmera escondida na casa da família Valdés para entender a relação com a empregada que os serve ao longo de vinte e três anos. Sebastián trabalha com detalhes, pequenos gestos do cotidiano que evidenciam a rede de relações que se estabelece naquele lar, por isso mesmo, ao optar por uma narrativa realista pode ser incômoda a sensação de que nada acontece. Trata-se de um recorte temporal curioso daquela realidade fictícia, já que inicia-se com a festa surpresa para Raquel e termina com uma espécie de libertação daquele lar. A festa já parece que não vai funcionar no momento que Raquel se recusa a ir para sala - quando chamada no momento "SURPRESAAA!", afinal ela deve comer na cozinha. Enquanto a patroa e as crianças cantam parabéns antes de comer o bolo, o patrão sai para ir ao quarto e Raquel lembra que terá de lavar a louça. Fica claro que o filme pretende explorar essa relação de patrão/empregado, funcionária/amiga, família/agregada que acontece dentro daquela casa. Enquanto a senhora Valdés (Claudia Celedón) age dentro de suas limitações para agradar Raquel, a empregada tem problemas de relacionamento com a filha mais velha da família e um temperamento difícil de lidar. Parece que Raquel percebe que somente ela consegue fazer aquela casa funcionar: as refeições, as arrumações, contornar os atritos entre os meninos menores... todas essas coisas são percebidas como marcas de que sua presença naquele universo é imprescindível (e deve ser mesmo), embora nada disso a torne um membro da família para todos os Valdés. O problema cresce mesmo é quando fica evidente que Raquel está com problemas de saúde e a família resolve contratar ajudantes para ela. A partir desse ponto o filme fica repetitivo. Espero que a intenção do filme seja ser engraçado em alguns momentos, já que é impossível segurar o riso quando Raquel tranca suas ajudantes fora da casa e liga o aspirador de pó para fingir que não está ouvindo os apelos para que abra a porta. A primeira ajudante é uma boa moça que sofre ainda mais porque coincide com a presença de um gato na casa. A segunda tenta fazer Raquel notar que não é parte da família (o que para ela é praticamente uma ofensa) e a terceira candidata à ajudante é a que tem sua trajetória na trama melhor resolvida, fazendo com que o roteiro explore o que Raquel quer esconder do mundo. Essa transição na personagem ganha corpo na atuação notável de Catalina que reforça os méritos do filme. Quando lê as entrelinhas das relações, A Criada é um filme interessante, quando parece mais preocupado com seu formato documental em câmera digital a coisa parece meio amadora. Desculpem a minha ignorância, mas acho que a opção por alguns diretores por imprimir uma linguagem documental/realista em seus filmes, muitas vezes, compromete o próprio equilíbrio do filme, já que a montagem final conta com cenas que deveriam ter sido cortadas na ilha de edição (ou então, ser melhor escritas no roteiro). A Criada pode não ser genial como alguns críticos afirmam, mas é um olhar bem vindo sobre um tipo de personagem que está quase sempre à margem da narrativa.
A Criada (La Nana - Chile/México - 2009) de Sebastián Silva com Catalina Saavedra, Mariana Loyola, Claudia Celedón, Augustin Silva e Alejandro Goic. ☻☻☻
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