Jessica: transbordando inteligência.
Jessica Chastain ficou na mira do Oscar deste ano por seu trabalho em A Grande Jogada (2017), onde interpretou a princesa do pôquer Molly Bloom na mira do FBI. Houve quem pensasse que ela ficou de fora das indicações da Academia por seu engajamento em causas que denunciam o quanto Hollywood ainda é machista no trato com as estrelas femininas, mas o fato que é sua interpretação no filme de Aaron Sorkin lembra muito que que ela fez neste Armas na Mesa (2016) em que vive a super lobista Elizabeth Sloane, uma mulher tão temida quanto desejada na hora de conseguir votos no congresso para aprovação de emendas e leis governamentais. Pelos dois a atriz ambicionava conseguir sua terceira indicação ao careca dourado e, se não conseguiu, quem ganha é o público que tem a chance de ver a atriz transbordar inteligência em dois papeis muito interessantes. Se Molly Bloom existiu na vida real, o mesmo não se pode dizer de Sloane, mas a atriz a constrói de forma tão completa que eu até imaginei que era a personagem realmente existiu. Bem, na verdade, o roteirista estreante Jonathan Perera afirma ter se inspirado na própria mãe para criar a personagem (e eu gostaria de ver a reação da senhora Perera quando soube disso..), mas o roteirista fez algumas pesquisas sobre o trabalho dos lobistas para dar à personagens seus traços mais calculistas, no entanto, Jessica pediu para que ele não contasse muito da vida pessoal, permitindo que ela mesma preenchesse estas lacunas, tornando-se ainda mais íntima da personagem. Com isto, Sloane ganha em complexidade e torna o trabalho da atriz o maior trunfo do filme. O trabalho do lobista ainda não é muito divulgado no Brasil, mas basta ver o filme para entender como ele funciona. Aqui, Elizabeth Sloane promove um verdadeiro racha em sua equipe quando é convidada para convencer o eleitorado feminino a votar pela posse de armas de fogo por qualquer cidadão. Acontece que os interessados na proposta contrária também a procuram para impedir que isso aconteça e começa uma verdadeira guerra nos bastidores do senado, num cabo de guerra contra e a favor. Nesta briga se mistura dinheiro, corrupção, marketing, espionagem, traições e outras coisas que conseguem dar bom ritmo à narrativa do diretor John Madden (Shakespeare Apaixonado/1998). No entanto, Madden não é Aaron Sorkin e tem dificuldade para lidar com os personagens falando muito ao mesmo tempo. O roteiro de Perera é palavroso, cheio de analogias, diálogos e fatos em espiral, mas prende atenção por Jessica Chastain criar uma lobista com causa, que faz questão de não ter vida pessoal. Na ausências destas informações, se tornam mais interessantes as relações que os personagens tem com ela, da secretária vira-casaca Jane (Allison Pill), passando pela discípula Esme Manucharian (Gugu Mbatha-Raw), até mesmo o advogado hesitante (David Wilson Barnes) ou o garoto de programa (Jake Lacy), conseguem revelar um pouco do que há por baixo da armadura criada por Sloane. Armas na Mesa tem seus excessos, exagera nas reviravoltas, fica confuso no meio da sessão, mas ainda assim, consegue ser um bom filme por ter a estrela certa no lugar exato.
Armas na Mesa (Miss Sloane / EUA-França / 2016) de John Madden com Jessica Chastain, Mark Strong, Gugu MBatha-Raw, Allison Pill, Michael Stuhlbarg, Sam Waterston, John Lithgow e Douglas Smith.
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