Daniel: culpado ou inocente?
Rubens (Daniel de Oliveira) é um professor de natação muito querido pelos alunos, no entanto seu mundo desaba quando um deles diz para a mãe que o professor lhe deu um beijo na boca. O aluno em questão é o pequeno Alex (Luiz Felipe Mello), que já parecia estranho quando chegou para o dia da competição no clube e só piorou depois que ficou em segundo lugar. Tudo indica que foi naquela noite, ao chegar em casa que o menino contou para a mãe o que aconteceu. Em momento algum a plateia escuta o relato do aluno ou a reprodução fiel da palavras dele por qualquer personagem, assim como o próprio professor se esquiva de relatar o que aconteceu no dia e, quando o faz, não chega a dissipar todas as suspeitas que pairam sobre ele. No meio do caminho está a mãe (Stella Rabello) que esta confiante nas palavras do filho, tão confiante que não hesita em relatar o caso nas redes sociais, exigindo justiça mesmo que não existam provas concretas do que aconteceu - dependendo muito mais da confiança que deposita no menino e no professor. Ainda se juntam em torno da situação o pai (Marco Ricca) e a diretora do clube (Malu Galli), que embora tenham suas dúvidas sobre o que aconteceu agem um tanto automaticamente na ausência de certezas sobre uma situação delicada. O roteiro de Lucas Paraizo (do celebrado Gabriel e A Montanha/2017) tem como maior trunfo a ambiguidade da situação, deixando claro em como as redes sociais tem a capacidade de tornar verdade o que seria uma suspeita a ser investigada pelas autoridades. Se Rubens é culpado ele precisa responder por isso perante à justiça, mas... e se for um grande mal entendido (em determinados momentos nem a mãe confirma que o beijo foi na boca do menino)? Como reparar Rubens diante do linchamento social que ele sofreu? Diante da proposta, a atuação de Daniel de Oliveira é perfeita, não exime o personagem de simpatia, ao mesmo tempo que o tempera com uma certa malícia e esperteza que torna seu personagem um tanto escorregadio. Dosar estes dois lados não é tarefa fácil, mas ele cumpre com maestria, nunca deixando claro o que realmente possa ter acontecido. Outro destaque fica por conta da ótima direção de Carolina Jabour, que em seu segundo filme (cujo primeiro foi Boa Sorte/2014) demonstra ainda mais segurança ao mover o filme somente por sugestões contraditórias, que aumentam a tensão, o suspense e o drama dos personagens. Além disso, Carolina filma bem, sem aquela mania tosca dos jovens cineastas brasileiros de manter a câmera parada em planos médios ao longo da sessão. Sua câmera é ágil, sempre em busca de ângulos interessantes e arrisca planos sequências muito bem estruturados. Sei que muita gente irá odiar o final do filme, mas aqui é algo explicado desde o título e, curiosamente as pessoas apontam semelhanças do filme com o dinamarquês A Caça (2013) e esquecem do quanto ele deve à Dúvida (2008), cujo o desfecho é bem semelhante. Em épocas em que o Facebook parece transbordar certezas vale a penas conferir os três filmes.
Aos Teus Olhos (Brasil/2018) de Caroline Jabour com Daniel de Oliveira, Marco Ricca, Malu Galli, Stella Rabello, Luiz Felipe Mello e Gustavo Falcão. ☻☻☻☻
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