Charlotte e Jim: uma ferida chamada passado.
Filmes com personagens que se confrontam com o passado sempre me parecem interessantes. Quando escolhem bons atores então... torna-se aquele tipo de filme que fico curioso para assistir. O Sentido do Fim é uma adaptação do livro de Julian Barnes e traz Jim Broadbent como Tony Webster, um aposentado, dono de uma loja de máquinas fotográficas, divorciado e que está com a filha (Michelle Dockery) prestes a dar a luz a um bebê de produção independente. Embora tenha um bom relacionamento com a ex-esposa (Harriet Walter), o grande amor da vida dele foi Veronica Ford (quando jovem vivida por Freya Mavor), que sempre viveu em sua memória (com detalhes que não revelarei aqui), mas que recebe uma nova perspectiva nas lembranças dele quando a amada retorna por conta de um testamento. Trata-se do testamento da mãe de Veronica, Sarah Ford (Emily Mortimet), que deixou para Tony o diário da filha. A situação inusitada faz com que o protagonista relembre o início do romance com Veronica, assim como os ressentimentos por ter perdido seu grande amor para um amigo (e que rendeu uma carta bastante grosseira para o novo casal). A forma como o filme mescla passado e presente (em ótimo trabalho de edição) o torna bastante interessante e constrói um certo suspense sobre o passado do personagem. Com drama e diálogos espirituosos, aos poucos entendemos as motivações dos personagens, assim como seus arrependimentos após tanto tempo. Não sou muito fã de Jim Broadbent (que ganhou um Oscar de coadjuvante por Íris/2001 e fez uma penca de filmes muito conhecidos como O Diário de Bridget Jones/2001 e Moulin Rouge/2001), mas aqui ele está impecável - especialmente quando descobrimos que debaixo daquele senhor simpático existe um segredo bastante amargo (que resiste até ao final do filme). O contraste de seu personagem com a Veronica adulta vivida por Charlotte Rampling (sempre espetacular) é desconcertante! Quando se reencontram, ele está de peito aberto, ansioso para lhe contar tudo o que aconteceu desde que se viram pela última vez, mas ela age de forma completamente indiferente gerando situações que parecem verdadeiros tropeços. O Sentido do Fim é mais acerto do diretor indiano Ritesh Batra (do ótimo Lunchbox/2013 e do simpático Nossas Noites/2017, ele é realmente bom em trabalhar as relações de seus personagens). Batra consegue revelar as angústias de seu protagonista aos poucos e ilustra bem, não apenas o poder da memória construir a nossa versão da história, mas também o peso das palavras ao longo do tempo. Ao final da sessão, Tony irá perceber que ele foi bem menos gente boa do que imagina.
O Sentido do Fim (The Sense of an Ending/Reino Unido - 2017) de Ritesh Batra com Jim Broadbent, Cahrlotte Rampling, Harrier Walter, Michelle Dockery, Billy Howle, Freya Mavor e Matthew Goode. ☻☻☻
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