domingo, 30 de agosto de 2020

PL►Y: Ameaça Profunda

Kristen e Cassell: horror nas profundezas do oceano pacífico. 

Quando vi o trailer tive a maior curiosidade de assistir Ameaça Profunda no cinema. Como não foi exibido em um cinema por perto fiquei aguardando e me deparei com críticas que detonaram o filme. Acabei não assistindo no cinema, mas a curiosidade permaneceu, principalmente por conta de William Eubank ser um nome que chamou atenção por seus filmes anteriores (Love/2011 e O Sinal/2014) se mostrarem interessantes em suas limitações orçamentárias. Com alguns milhões de dólares para gastar em sua primeira produção de estúdio, fica visível como o diretor se diverte ao evidenciar suas referências. Ainda que o filme seja ambientado no fundo do mar, sua maior referência é Alien - O Oitavo Passageiro (1979), seja pela construção dos cenários, a apresentação de sua heroína ou o embate humano com o desconhecido. É verdade que Kristen Stewart não é nenhuma Sigourney Weaver, mas sua Norah Price também não é Tenente Ripley, o que torna seu esforço para carregar o filme bastante eficiente na pele de uma personagem destemida. O filme acompanha um grupo de exploradores nas profundezas do oceano pacífico que se depara com criaturas misteriosas - o que compromete não apenas a missão de perfurar abaixo do oceano em busca de recursos, como também suas próprias vidas. O filme apresenta rapidamente aquele ambiente claustrofóbico, que logo já começa a ser ameaçado, o que compromete a apresentação dos personagens que logo se rendem à correria na luta pela sobrevivência. Logo acontecem as primeiras baixas no elenco e vemos que Norah terá a companhia de Rodrigo (Rodrigo Nagenda), Paul (TJ Miller), Liam (John Gallagher Jr.), Patty (Amanda Troop) e o Capitão Lucien (Vincent Cassell) na busca de soluções. Buscando uma forma de sair com vida daquelas profundezas o filme fica cada vez mais sombrio. Eubank investe em uma sucessão de cenas de ação, mantendo os personagens tensos a maior parte do tempo com os sustos que tem pela frente. O filme foi bastante criticado por desperdiçar a tensão psicológica de estar a quilômetros de profundidade no oceano (o que já é perigo suficiente) e abraçar o terror mais puro e simples. Tenho a impressão que o cineasta queria era fazer isso mesmo, criar cenas de tensão eficientes, um visual soturno e não ligar muito para o desenvolvimento dos seus personagens que são invariavelmente pessoas querendo sobreviver. Kristen Stewart é a que recebe mais destaque, com algumas falas mais reflexivas no início e no final (uma forma de compensar o fato do filme mostra-la com trajes mínimos várias vezes durante a sessão?). Lá pelas tantas, olhando aquelas criaturas, eu lembrei da ideia que tiveram na época de Aquaman/2018 de fazer um spin-off com as criaturas do fosso (os Abissais) e se o roteiro deste filme nasceu desta ideia reciclada. No fim das contas, não achei o filme ruim. Diante da proposta do diretor, embora pouco original, o filme funciona para passar o tempo. 

Ameaça Profunda (Underwater / EUA -2020) de William Eubank com Kristen Stewart, Vincent Cassell, John Gallagher Jr., Amanda Troop, TJ Miller e Rodrigo Nagenda. ☻☻ 

CICLO GHIBLI: Nausicaä do Vale do Vento / O Castelo Animado / Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar

Nausicäa: futuro pós-apocalíptico. 

Nausicäa é o segundo filme de Hayao Miyazaki, não chegou a ser produzido pelo Estúdio Ghibli, mas com o tempo recebeu o selo pela notoriedade que seu criador recebeu após o seu sucesso. Após  O Castelo de Cagliostro (1979), Hayao demonstra aqui mais claramente o estilo que o consagraria em todo o mundo: o uso exuberante das cores, as ambientações impressionantes, o traço caprichado, os protagonistas heroicos e a relação do homem com a natureza. O filme agradou público e crítica e alavancou de vez a carreira do cineasta. No entanto, Nausicäa do Vale do Vento investe num gênero que Hayao não revisitou em sua carreira: a ficção científica. Curiosamente a trama é baseada no mangá criada pelo próprio Miyazaki dois anos antes e conta uma história ambientada mil anos no futuro em que vemos a Terra devastada por séculos de poluição e destruição da natureza, o que gerou o chamado "colapso da civilização industrial". O resultado é um mundo praticamente coberto pelo que chamam de "Mar Podre", espécie de floresta tóxica que produz gases venenosos habitada por insetos gigantes capazes de destruir tudo que está pela frente - o que coloca ainda mais em risco a vida dos humanos sobreviventes. No meio deste mundo destruído, existe o vale do título, um lugar que ainda abriga uma espécie de paraíso natural, no qual o humanos procuram viver de forma harmônica com a fauna e a flora que restam. Nausicäa é a heroína que lança um olhar diferente sobre o que a maioria dos personagens teme ao longo da história. Disposta a conhecer melhor este estranho mundo novo o filme cria um embate entre ela e outra personagem que tem outros planos para a humanidade se impor novamente naquele mundo. Existe aí um verdadeira disputa pelo poder através da força bruta. Este embate revela bastante semelhança com os temas abordados mais tarde em outro filme do cineasta, Princesa Mononoke (1997) em que a relação do homem com a natureza também está no centro da trama só que abordado de forma ainda mais agressiva. A animação capricha nos cenários, nos figurinos e nas cenas de ação com naves espaciais e aquele início no deserto que lembra a estética de Star Wars. Nausicäa é um filme cheio de energia e mantem o tom de aventura durante suas quase duas horas de duração. Constrói um mundo próprio tão envolvente quanto assustador e se mantem atual pelo valor de suas entrelinhas. É interessante lembrar dos filmes de Hayao citados aqui e depois assistir a O Castelo Animado (2004), o nono longa metragem do cineasta. Lançado após o sucesso arrebatador de A Viagem de Chihiro (2001), o filme investe mais uma vez em uma fantasia radical (só que desta vez baseada na obra da britânica Diana Wynne Jones). O filme conta a história de  Sophie, a filha de um chapeleiro que é amaldiçoada por uma bruxa e recebe a aparência de uma senhora de noventa anos.

O Castelo Animado: Benjamin Button feminino?

Tentando reverter a maldição ela acaba encontrando o castelo e seres mágicos em seu caminho (um mago, uma chama falante, um espantalho flutuante....), o filme então investe naquele grupo de personagens que tentam mudar seus destinos enquanto Sophie rejuvenesce aos poucos em cada cena. Com toques de romance, aventura e bruxaria o filme caprichando no tom fantástico que é atravessado por uma verdadeira guerra. Particularmente considero o ponto alto do filme o próprio castelo. Sua concepção como um amontoado de sucata em constante movimento resulta bastante exuberante. Enquanto caminha perdendo peças pelo caminho, ele guarda segredos e passagens secretas e já torna por si só interessante. Seu visual é tão milimetricamente calculado em sua tridimensionalidade que impressiona sempre que está em cena. Apesar de ser totalmente surreal, ele parece visualmente realista ao extremo. Embora o roteiro não seja tão bem amarrado, o filme se torna bastante envolvente e, por vezes, até assustador. Quem leu o livro da escritora britânica pontuou que o final ficou bastante diferente, o que transforma a história em uma trama sobre superação e perdão. Diante de suas qualidades, o filme concorreu ao Leão de Ouro no Festival de Veneza e foi indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro, se tornando um clássico do diretor japonês. Logo em seguida o diretor lançou outro filme que concorreu ao prêmio máximo do Festival de Veneza, mas ficou de fora do Oscar. Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar deve ser o filme mais leve do diretor, apesar de possuir elementos mágicos, seu tom de fábula com toques de surrealismo o torna um programa bastante agradável de assistir. Ponyo parte de uma ideia simples e encantadora em sua ambição de ser apenas uma fantasia sobre amizade, mas que aos poucos ganha contornos de uma fábula sobre nossa relação com a natureza. Ela conta a história de um peixinho que é encontrada por um menino de bom coração, chamado Sosuke e por conta de um incidente no tempo que os dois conviveram, o peixinho se transforma em uma menina e parte para reencontrar seu amigo. No entanto, esta proximidade entre os dois viola algumas regras importantes no convívio entre o mundo marinho e o mundo dos humanos, o que gera consequências surreais na história. O filme tem a maior cara de conto de fadas (e em vários momentos me fez lembrar de A Pequena Sereia/1989 da Disney, embora siga por um caminho completamente diferente) e capricha no uso do mar para criar cenas impressionantes (prova disso é a cena do mar agitado perseguindo o carro de Sosuke e sua mãe), mas mesmo quando o filme apresenta situações que poderiam ser trágicas, o diretor opta por um caminho mais leve e mágico em sua proposta.  O resultado parece mais voltado para as crianças, mas os adultos devem apreciar o excelente uso de cores em contraste com o azul e o verde que alcança momentos deslumbrantes em sua execução.  

Ponyo: aventura em ritmo de conto de fadas. 

Nausicäa do Vale do Vento (Kaze no tani no Naushika / Japão - 1984) de Hayao Miyazaki com vozes de  Sumi Shimamoto, Mahito Tsujimura, Hisako Kyôda. ☻☻

O Castelo Animado (Hauru no ogoku shiro / Japão - 2004) de Hayao Miyazaki com vozes de  Chieko Baishô, Takuya Kimura e Tatsuya Gashûin. ☻☻

Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar (Gake no ue no Ponyo / Japão - 2008) de Hayao Miyazako com vozes de Tomoko Yamakagushi, Kazushige Nagashima, Yuria Nara e George Tokoro. ☻☻ 

sábado, 29 de agosto de 2020

PL►Y: O Segredo de Vera Drake


Apesar de ser uma atriz inglesa renomada, Imelda Staunton ficou conhecida do grande público quando participou da saga cinematográfica de Harry Potter na pele da megera Dolores Umbridge que assumia com mãos de ferro a escola de Hogwarts. Quem acompanha as premiações lembrou que alguns anos antes, em 2004, ela se tornava uma das atrizes mais comentadas do ano por O Segredo de Vera Drake. Sua atuação lhe valeu os prêmios de melhor atriz no BAFTA e no Festival de Veneza,  além de pegar muita gente de surpresa, já que Imelda estava acostumada a viver personagens simpáticos e cômicos. A atriz surpreende pelas nuances que atribui à uma personagem bastante complexa em um roteiro que lida diretamente com um tabu: o aborto. A assinatura do cineasta Mike Leigh também gerou curiosidade, já que acostumado a abordar temas mais leves com personagens do cotidiano (basta ver Simplesmente Feliz/2008 ou Um Ano A Mais/2010) ele demonstra bastante personalidade diante de uma temática mais sombria e extremamente feminina. Leigh começa o filme como se fosse mais um de seus filmes sobre pessoas comuns, apresentando Vera Drake no dia-a-dia com sua família na Londres da década de 1950, Vera cuida da casa em que vive com os filhos crescidos e com o esposo, além de trabalhar como doméstica. De vida modesta e sempre sorridente, Vera tem uma outra ocupação que sua família não suspeita, e por isso mesmo, se torna o segredo do título: Vera realiza abortos clandestinos. Existe aí um choque do cotidiano trivial com seu método e instrumentos de trabalho que aparecem em várias cenas (e provoca arrepios). O roteiro utiliza pequenas variações sobre as personagens que procuram os serviços de Vera e faz o espectador pensar sobre aquelas realidades apresentadas de forma bastante econômica. Quando uma mulher tem a vida colocada em risco. o caso vai parar na polícia e Vera vê sua realidade mudada para sempre. Embora existam comentários sociais em seu subtexto, Mike Leigh sabiamente não toma partido sobre o tema, apenas apresentando considerações dos personagens sobre aquela situação. As falas e as expressões dos personagens passam a significar mais ainda no contexto do filme (atenção para a policial mulher que aparece na história), preconceitos e julgamentos começam a aparecer durante o processo movido contra a personagem e no meio disso tudo, Imelda faz emergir uma pessoa de carne e osso em meio à controvérsia numa atuação precisa, especialmente no ponto de virada da personagem quando a câmera fixa em seu rosto deixa claro que o olhar da família e da sociedade sobre ela nunca mais será o mesmo (neste ponto fica ainda mais curioso saber que o diretor havia revelado somente a Imelda qual era o tema do filme, deixando as reações do elenco ainda mais espontâneas no momento da revelação).  O filme recebe um tom cada vez mais pesado e ganha complexidade ao apontar alguns fatores que perpassam o assunto, que são igualmente sociais, mas deixados de lado em várias discussões. Sem ser apelativo, gratuito ou panfletário, O Segredo de Vera Drake faz pensar e se constrói como um exercício narrativo interessantíssimo sobre um tema sempre delicado de ser abordado. Para os fãs de Mike Leigh, o filme ainda conta com participação de várias grandes atrizes recorrentes na obra do cineasta.

O Segredo de Vera Drake (Vera Drake / Reino Unido - 2004) de Mike Leigh com Imelda Staunton, Richard Graham, Eddie Marsan, Anna Keaveney, Alex Kelly, Lesley Manville, Sally Hawkins e Jim Broadbent. ☻☻

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

4EVER: Chadwick Boseman

29 de novembro de 1976 ✰  28 de agosto de 2020

Chadwick Aaron Boseman nasceu na Carolina do Sul (EUA) e escreveu sua primeira peça ainda no ginásio. Em 2000 se formou em Artes Plásticas na Universidade Howard (Washington, D.C.), mas seu interesse era se tornar roteirista e cineasta. Boseman começou a estudar atuação para aprender  a lidar com atores e se formou na estudou na Academia Digital de Cinema de Nova York. O ator morou no Brooklyn no início de sua carreira e trabalhou como professor de interpretação no Centro Schomburg de Pesquisa em Cultura Negra no Harlem até se mudar para Los Angeles em 2008 para seguir a carreira de ator. Chadwick ficou famoso por encarnar personagens reais em seus filmes. Seu primeiro papel de protagonista foi como o jogador de baseball Jack Robinson em 42 (2013), começou a chamar atenção do público como James Brown em Get on Up (2016) e também viveu o advogado Thurgood Marshall em Marshall (2017) . Mas seu trabalho mais famoso foi como o T'Challa, o príncipe super-herói de Pantera Negra (2018), personagem da Marvel que Chadwick viveu em quatro sucessos da Marvel nos cinemas. Pantera Negra virou uma febre em tempos em que discussões sobre representatividade recebem cada vez mais espaço. O longa tornou o primeiro filme de super-herói indicado ao Oscar de Melhor Filme e ganhou o prêmio do sindicado de Melhor Elenco. O ator faleceu em decorrência de um câncer após quatro anos de tratamento.

sábado, 22 de agosto de 2020

Pódio: Kristen Stewart

Bronze: a assistente descolada. 
Longe de ser uma unanimidade, a atriz americana tem vários filmes interessantes no currículo, entre eles este aqui dirigido por Olivier Assayas. Ela faz um trabalho corajoso como a assistente de uma atriz veterana do cinema (Juliette Binoche) que enfrenta as dores do envelhecimento. Kristen, ao lado de uma celebrada atriz, enfrenta diálogos que provocam uma verdadeira reflexão sobre o que é interpretar uma personagem diante de uma câmera. Prova de que o filme é bom são as várias indicações aos prêmios de coadjuvante que Stewart recebeu, levando até o César da categoria para casa. A surpresa deixou claro que nem mesmo a atriz acreditava que seria premiada (e Kristen se tornou a musa do cineasta). 

Prata: a esposa adolescente
O brasileiro Walter Salles ousou levar para as telas o clássico beatnik de Jack Kerouac e surpreendeu ao escolher Kristen para o principal papel feminino da história: a esposa de Dean (Garrett Hedlund). Na pele Marylou, uma jovem esposa de dezesseis anos, que parte em uma jornada pelas estradas arenosas do Tio Sam. O trajeto se torna cada vez mais intimista para o casal e o amigo Sal (Sam Riley). Numa época em que todos associavam a atriz à insossa Bella, o diretor brasileiro conseguiu lhe conduzir em um trabalho totalmente oposto - e Kristen mergulha na personagem de corpo e alma. 

Ouro: a filha em perigo. 
Kristen estreou como atriz aos nove anos de idade em um filme para a televisão. Depois fez dois filmes em que não chamou atenção, até ser descoberta por David Fincher para fazer a filha de Jodie Foster neste suspense de tirar o fôlego (na verdade ela foi escolhida para ser a filha de Nicole Kidman que acabou saindo do filme). No papel da menina diabética que tem a vida em risco quando a casa é invadida por bandidos, Kristen faz um trabalho mais do que convincente, que transborda tensão e lhe garantiu posição entre as jovens atrizes mais promissoras de Hollywood. Embora o tempo tenha passado entre tropeços e trabalhos interessantes, não são poucos que consideram este aqui o seu trabalho mais relevante.  

PL►Y: JT Leroy

Laura e Kristen: farsa digna de um bom livro.

O mundo literário viveu um escândalo que parecia coisa de ficção. Ao final dos anos JT Leroy se tornou um escritor cultuado com suas obras que se gabavam de ter relação com sua vida pessoal. Apresentado como um rapaz soropositivo e com um passado problemático, sua história de vida ajudou a alavancar o sucesso de obras como Maldito Coração e Sara, ambos lançados em 1999. Os livros deram notoriedade ao recluso escritor. Argumentando não gostar de aparecer em público, suas entrevistas eram feitas por telefone e informações sobre sua vida eram divulgadas na mídia por sua agente chamada Emily Frasier que ressaltava o passado de violência e abusos sofridos ao lado a da mãe e dos homens que cruzavam seu caminho. Com o tempo, JT começou a aparecer em fotos e entrevistas, sempre com poucas palavras e cabisbaixo como se escondesse algumas coisa. De aparência jovem e andrógina, especulavam sobre sua transexualidade e a agente estava sempre por perto para cobrir qualquer problema ao seu redor. Quando estava no auge se descobriu que JT nunca existiu, foi a criação da mulher que se dizia sua agente, na verdade a escritora Laura Albert, que encontrou naquele personagem a chance de ganhar notoriedade e lidar com suas frustrações pessoais. O que poderia ser apenas um pseudônimo ganhou corpo e alma através de uma persona construída para a mídia com o auxílio da cunhada de Laura, Savannah Knoop (que sonhava ser atriz) e sonhava se passar pelo rapaz alçado ao posto de prodígio literário. Esta história cheia de possibilidades é contada no filme de Justin Kelly (chegado a personagens controversos como vimos em Eu Sou Michael/2015 e King Cobra/2016), tento Laura Dern como Laura Albert e Kristen Stewart na pele de Savannah/JT. Por mais que o diretor se esforce, ele tem problemas para estabelecer o ritmo da narrativa que sempre parece meio travado, possivelmente por conta do roteiro que não aprofunda muito a problemática relação entre as cunhadas perante a notória mentira. Se a narrativa é irregular, a produção conta muito com as atrizes para manter o interesse da plateia. Laura Dern é acima de qualquer suspeita e entrega uma personagem complicada, que percebe em JT não apenas sua chance de se tornar famosa, mas também a forma de lidar com os fantasmas passado, assim, pesa bastante o fato de trata-lo como sua propriedade quando encarnado por outra pessoa. Este fato complica bastante o relacionamento com Savannah. Já Kristen Stewart é Kristen Stewart. Apesar do trabalho com diretores renomados aumentarem sua naturalidade em cena, existem aqueles momentos em que você deixa de enxergar a personagem e enxergam apenas a apatia da atriz. É verdade que esta apatia colabora bastante para a construção da personagem, alguém debaixo de tudo aquilo que teme ser descoberto, no entanto, as questões que o filme aborda sobre gênero, construção da identidade e processo criativo poderiam ser bem mais exploradas, especialmente pela forma como o fictício JT Leroy sugere uma bifurcação na personalidade das mulheres reais por trás da farsa. Tenho que reconhecer ainda que a forma como JT lida com a mídia, remete diretamente ao próprio desconforto que Kristen apresentava perante a imprensa quando se tornou mundialmente conhecida pela saga Crepúsculo (e assim como em Acima das Nuvens/2014 aqui este fator rende uma relação interessante entre atriz e personagem).  O desfecho do filme também é um tanto problemático, apresentando uma versão bem mais amena do que foi a descoberta de toda farsa no mundo real em 2006. Hoje, Laura e Savannah seguem suas vidas e carreiras ainda carregando as marcas do tempo em que eram celebridades através de um personagem da vida real e, curiosamente, Knoop segue carreira literária (e colaborou na construção do roteiro deste filme ao lado do diretor) se apropriando daquela personalidade de forma mais interessante que o filme sugere em seu desfecho. 

J.T Leroy - Escritor Fantasma (J.T. Leroy / Reino Unido - Canadá - EUA / 2018) de Justin Kelly com Kristen Stewart, Laura Dern, Diane Kruger, Jim Sturgess, Kelvin Harrison Jr. e Courtney Love. ☻☻☻

domingo, 16 de agosto de 2020

PL►Y: Rede de Ódio

Maciej: um rosto por trás das fake news

Lançado na Europa pouco antes da pandemia, o polonês Rede de Ódio chegou à Netflix disposto a ser um dos filmes mais falados do ano. A trama é ancorada numa temática bastante atual: a troca da vida real pela vida digital. Em tempos em que a "verdade" é construída pela internet, a proliferação da desinformação e o uso de fake news faz a festa em campanhas de difamação. Embora seja fictício (até certo ponto) aqui você conhecerá um personagem responsável por este "trabalho" que ganhou força no século XXI. Quando o filme começa, o jovem Tomasz (Maciej Musialowski) está prestes a ser expulso da faculdade de Direito por plágio. A faculdade é paga por um casal, pais de Gabi (Vanessa Aleksander), uma garota pelo qual nutre interesse - mas que apenas o rejeita. Sem dinheiro e sem coragem de contar a verdade ao casal, ele tenta arranjar um emprego para conseguir se manter sem estabelecer muito critério. No início ele quer apenas impressionar Gabi, mas a coisa complica.  Na primeira parte acompanhamos como funciona a mente do personagem, a forma como lida com dores e ressentimentos e mais tarde como as transforma em combustível para o trabalho em uma empresa especialista em propagar informações falsas na internet. A ética logo evapora neste ambiente com o objetivo de determinados clientes neutralizarem seus concorrentes. Campanhas bancadas por perfis falsos, notícias mentirosas e um verdadeiro bombardeio de desinformação é capaz de destruir a reputação de qualquer um. Não demora muito para que a política atravesse o caminho de Tomasz e neste instante a situação de torne mais complicada. Na polarização entre dois candidatos a situação sai do controle e a violência começa a se desenhar longo da história. Neste trajeto, o rapaz começa a se expor cada vez mais, realiza atitudes cada vez mais dissimuladas e chega a instigar um personagem instável emocionalmente para promover uma verdadeira atrocidade. O cineasta Jan Komasa (recentemente indicado ao Oscar por Corpus Christi/2019 e que chama cada vez mais atenção desde sua estreia com Sala Samobójców/2011) desenvolve seu filme sem pressa por mais de duas horas e constrói um cenário tão rico quanto assustador sobre um mundo vê nas redes sociais o palco e a janela para enxergar suas intolerâncias e preconceitos. Em Rede de Ódio quem ajuda a ornamentar esta percepção distorcida do mundo é um garoto inescrupuloso interpretado com grande desenvoltura por Maciej Musialowski. Seguro em sua realização e com um último ato devastador (e um tanto revoltante), Rede de Ódio fica na cabeça como um pesadelo cinematográfico sobre o mundo real desenfreado do século XXI. 

Rede de Ódio (Hajten / Polônia - 2020) de Jan Komasa com Maciej Musialowski, Vanessa Aleksander, Danuta Stenka, Jacek Koman, Maciej Stuhr e Piotr Biedron. ☻☻☻☻

PL►Y: Asas do Amor

Alison, Linus e Helena: triângulo amoroso e golpe do baú.  

Famosa por seus papéis de mulheres excêntricas, a inglesa Helena Bonham Carter geralmente cai nas graças do tio Oscar quando faz filmes de época mais comportados. O gênero era bastante comum no início da carreira da atriz no cinema e, de vez em quando, ela retorna à ele com o talento de sempre (basta lembrar sua participação como a princesa Margareth na série The Crown ou sua performance como a Rainha Mãe em O Discurso do Rei/2010 , trabalho que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante e o prêmio BAFTA na mesma categoria. Vale lembrar que sua primeira indicação ao Oscar veio por sua atuação neste Asas do Amor, adaptação do romance de Henry James que a colocou no Oscar de melhor atriz ao lado de Kate Winslet (Titanic) e da ganhadora Helen Hunt (Melhor é Impossível). A trama gira em torno de Kate (Helena), jovem criada pela tia pedante (Charlotte Rampling caprichando nos olhares arrepiantes). Kate é apaixonada pelo jornalista pobretão Merton (Linus Roache) e nem precisa dizer que o relacionamento entre os dois não é bem visto, mas as chances de ficarem juntos aumentam quando Kate conhece a jovem Millie (Alison Elliot), que segundo o comentário de um amigo bem próximo, seria a princesa dos Estados Unidos se eles vivessem numa monarquia. As duas começam a se aproximar e Kate não demora a descobrir que a nova amiga sofre de uma doença incurável, além de demonstrar grande interesse pelo charme britânico de Merton. Eis então que surge o plano de fazer o amante seduzir a jovem, casar-se com ela e quando ele estiver rico, os dois possam ficar juntos. É um plano aparentemente simples, mas que mexe com os princípios que Kate e Merton julgavam não ter muita importância. A instalação do triângulo amoroso logo mistura compaixão, escrúpulos, culpa, ciúme, cobiça e estes obstáculos emocionais começam a criar problemas na relação dos pombinhos calculistas. O diretor Iain Softley não demonstra muita personalidade na condução do filme, realiza apenas um trabalho convencional, no entanto, sabe como valorizar a fotografia caprichada (indicada ao Oscar), os figurinos de encher os olhos (também indicado ao Oscar), as locações caprichadas (boa parte da história se passa em Veneza) e os olhos expressivos de sua protagonista. Helena está ótima nos dilemas que a personagem cria para si e está muitíssimo bem acompanhada de Alison Elliott (ótima atriz que nunca ganhou o devido reconhecimento) que compõe uma Millie pela qual é fácil se apaixonar. Compondo mulheres de personalidades e opostas, as duas atrizes só não encontram amparo no trabalho robótico de Linus Roache que não consegue explorar as camadas da personalidade de Merton de forma convincente. Com pinta de galã e meio travadão é até fácil entender o apelo que ele tem para as personagens, mas lá pelo final você pensa o que o rapaz tem de tão especial. Tivesse um ator mais interessante na liga deste triângulo amoroso, Asas do Amor poderia ser um filme ainda mais vigoroso, do jeito que está a produção de torna apenas correta. 

Asas do Amor (Wings of the Dove / Reino Unido - EUA  1997) de Iain Softley com Helena Bonhan Carter, Linus Roache, Alison Elliott, Charlotte Rampling, Michael Gambon, Elizabeth McGovern e Alex Jennings. ☻☻☻

#FDS Todd Haynes: A Salvo

Moore: alérgica ao século XX. 

Para encerrar este #FDS dedicado ao diretor Todd Haynes, tive dúvida se escrevia sobre seu filme de estreia ou sua obra seguinte. Acabei escolhendo A Salvo por ainda considera-lo bastante atual, especialmente em tempos de pandemia. Depois da estreia multifacetada com Veneno/1991 (que prometo comentar em breve), Haynes retorna com uma linguagem mais concisa e enxuta, dando indícios ainda mais seguros dos caminhos que seguiria. Fascinado por personagens que não se encaixam no mundo ao redor, A Salvo conta uma história bastante interessante sobre uma mulher que se descobre alérgica ao século XX. Ambientado em 1987, o filme gira em torno de Carol (Julianne Moore, musa do diretor), mulher que vive em uma casa bastante confortável e tem como maiores preocupações a cor do sofá da sala. Ela faz ginástica para passar o tempo e participa de jantares de negócios com piadas infames, mas nada parece incomoda-la muito, até que uma dor de cabeça constante, enjoos e sangramentos começam a se tornar constantes. Os exames não sabem dizer o que ela tem. O psiquiatra também não identifica nada de errado com ela, mas os sintomas de que algo está errado com Carol se tornam cada vez mais constantes. Haynes decora seu filme com notícias de rádio e televisão sobre um mundo que vai de mal a pior, até uma redação do  pequeno enteado de Carol demonstra que existe um mundo cão lá fora. "Por que precisa ser tão sangrento?" ela diz a certa altura - e não recebe resposta diante da naturalização do que ouvimos todos os dias nos noticiários. O marido (Xander Berkeley) no início imagina que tudo é uma grande frescura da esposa, até que se dá conta de que a situação é mais preocupante do que pensava. Procurando alternativas, ela descobre que seu sistema imunológico começou a reagir ao mundo como se fosse uma verdadeira doença, a junção de poluição, acontecimentos ruins e produtos químicos variados acarreta várias reações desagradáveis em seu organismo e a ida para uma espécie de retiro longe dos centros urbanos parece a solução. Todd Haynes filma desta vez com distanciamento e estranhamento, ainda que faça transbordar para o espectador o que faz mal à sua protagonista. Do acesso de tosse em um labiríntico estacionamento, da dedetização em uma tinturaria, dos diálogos amenos de um chá de bebê... sentimos que o mundo se tornou tóxico para Carol (e o filme assusta ao destacar a enorme quantidade de produtos químicos com que temos contato durante o dia... você já parou para contar?). Haynes constrói um drama que parece um suspense e tem na atuação precisa de Julianne Moore um porto bastante seguro. Na época a atriz começava a chamar atenção e aqui tem um papel bastante complicado, no qual a voz macia e tranquila, a postura inofensiva e todo o resto parece abrigar também uma insatisfação que nunca é dita - e isso permanece na segunda parte em que aparentemente está num lugar realmente seguro. A Salvo permanece atual ao ilustrar como é complicado viver no mundo contemporâneo, com as aparências, as cobranças, as insatisfações crescentes e um ambiente cada vez mais tóxico. Vinte e cinco anos depois, o filme continuar relevante. 

A Salvo (Safe / EUA - 1995) de Todd Haynes com Julianne Moore, Xander Berkeley, Dean Norris, Julie Burgess, Chauncey Leopardi, Jodie Markell e James Le Gross. ☻☻           

sábado, 15 de agosto de 2020

#FDS Todd Haynes: Sem Fôlego

Jaden, Oakes e Julianne: histórias paralelas. 

Wonderstruck de Brian Selznick deve ser um daqueles livros que você adora quando lê, mas imagina que seria impossível transformar em filme. O motivo para esta dificuldade está na complexidade da trama e nos sentimentos complicados que abriga ao lidar com personagens infantis. No entanto, o diretor Todd Haynes topou o desafio e fez um filme que encheu os olhos, mas também causou estranhamento no Festival de Cannes. Com roteiro do próprio Selznick (também autor e A Invenção de Hugo Cabret/2011), o diretor dado a abordar temas polêmicos, aqui se aproxima mais do gênero infantil, ao mesmo tempo que cria uma estética um tanto rebuscada que somente os mais velhos podem desfrutar de todos os detalhes e referências. Talvez este seja o motivo do filme não encontrar o seu público, chamando mais atenção pela forma como chancela o protagonismo de duas crianças surdas em sua trama. O filme conta a história de duas crianças que vivem em tempos diferentes, um deles é o menino Ben (Oakes Fegley), que na Minessota de 1977 ainda tenta lidar com a morte da mãe e que não sabe o paradeiro do pai. Por conta de um acidente, ele irá perder a audição e terá coragem de partir em uma aventura em busca do pai na cidade de Nova York. Sua história é misturada com a da menina Rose (Millicent Simmonds que depois ficou mais conhecida pelo seu trabalho em Um Lugar Silencioso/2018 e é surda de verdade) que em 1927 parece ser grande fã de uma atriz do cinema mudo (vivida por Julianne Moore) e foge de casa para encontra-la.  Rose tem problemas de relacionamento com o pai e com o mundo em geral, afinal, ela se sente totalmente deslocada (e a chegada do cinema falado parece acentuar ainda mais este incômodo). As histórias destes dois jovens personagens  seguirão de forma paralela ganhando tom de aventura quando Ben chega ao Museu de História Natural. Haynes conta estas histórias aparentemente distintas com estéticas bastante diferentes, o mundo de Ben é colorido e embalado pelo rock dos anos 1970, o de Rose é em preto e branco e sem vozes, emulando um verdadeiro filme mudo. Estranhamente é nesta estética mais diferente que Haynes está mais à vontade e o filme chega a ser menos envolvente quando a menina recebe menos destaque na história. Já a trama de Ben investe em tantos segredos que acaba se tornando mais cansativa do que realmente envolvente. A sorte é que quando as duas histórias se unem o filme se torna mais terno e coerente, embora alguns acusem de cair no mais puro melodrama. O fato é que Haynes sempre se interessou por personagens que não se enquadram muito bem em seu tempo e Wonderstruck (que no Brasil recebeu o título de Sem Fôlego, vai saber o motivo...) não deixa de apresentar uma certa redenção de Rose através de dois momentos distintos de sua vida. O passar do tempo, com o crescimento e o envelhecimento demonstram como aprendeu a se apropriar e se impor no mundo que está ao seu redor.  Este talvez seja o maior recado deste filme assinado por um diretor que aqui camuflou suas provocações com bastante fofura (para desespero dos seus fãs mais ferrenhos).

Millicent Simmonds: só ela já valeria o filme. 

Sem Fôlego (Wonderstruck / EUA - 2017) de Todd Haynes com Millicent Simmonds,  Oakes Fegley, Julianne Moore, Cory Michael Smith, James Urbaniak, Jaden Michael e Michelle Williams. ☻☻

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

#FDS Todd Haynes: O Preço da Verdade

Camp e Mark: o filme quadradão de Todd Haynes. 

O tema do nosso #FDS é o cineasta Todd Haynes, que antes de se tornar representante do cinema indie americanos dos anos 1990, imaginava que seria no máximo um produtor de cinema. O que ele considerava certo era ser professor de cinema e, de vez em quando, fazer alguns filmes experimentais. Seus primeiros filmes impressionaram muita gente (Veneno/1991 e A Salvo/1995 são cultuados até hoje) e pouco depois caiu no radar do Oscar. Foi assim que o glam Velvet Goldmine (1998) foi parar no Oscar de melhor figurino, que o nostálgico Longe do Paraíso (2002) concorreu a quatro estatuetas (incluindo melhor atriz para a amiga Julianne Moore), que Cate Blanchett foi parar no páreo de atriz coadjuvante como um clone de Bob Dylan de Não Estou Lá (2007) e Carol (2015) foi indicado a seis estatuetas. Os filmes de Haynes costumam ser bem diferentes entre si, tanto na estética quanto na narrativa, mas quem conhece seus filmes sabe que o cara curte mesmo é cinema, não importante o gênero. Parece que um dia ele acordou e achou que faltava um filme careta no seu currículo - e assim nasceu este O Preço da Verdade. O filme tem o maior estilo de querer figurar nas premiações do ano passado, mas nem mesmo Mark Ruffalo conseguiu ser lembrado por seu trabalho como o obstinado advogado que move uma ação contra a gigante DuPont. Baseado em uma história real, o filme conta a história de Rob Billot (Ruffalo), advogado de grande corporações e procurado por um velho conhecido fazendeiro (Bill Camp) que suspeita que existe algo estranho com a água das redondezas. Ele perdeu mais de cem cabeças de gado por causas desconhecidas (mas evidenciadas em sintomas como tumores, dentes pretos e agressividade) e acredita que tem relação com intoxicação por liberação de algum produto químico na região que a maior empregadora é a fábrica da DuPont. Conforme consegue mais informações, Billot descobre doenças crônicas em moradores da região, deformidades em recém-nascidos e um padrão estranho no manejo de funcionários da indústria. Ele nem imaginava que todos estes problemas está relacionado com um produto utilizado em frigideiras antiaderentes. A partir de determinado ponto, Billot irá se deparar com o que pode haver de mais despudorado em irregularidades e descarte de substâncias químicas. Haynes faz um filme "denúncia" munido de uma grande investigação (registros e documentos são o que não faltam) e os interesses que se cruzam na cruzada de Billot contra um verdadeiro gigante industrial. A narrativa prende atenção e você nem se dá conta de que Anne Hathaway tem pouco a fazer como a esposa de Billot (a não ser aumentar  prole masculina da casa) ao longo dos vários anos de disputas judiciais. O Preço da Verdade consegue ser interessante, ainda que esteja mais para A Terra Prometida (2012) de Gus Van Sant do que para Erin Brockovich (2000) de Steve Soderbergh (curiosamente filmes de diretores que compartilham o passado indie ousado com Haynes). Mesmo sem trazer novidades para o gênero (embora Haynes ouse num ângulo aqui, num ruído crescente ali...), o longa deixa mais uma vez aquela sensação de até quando teremos que lidar com tragédias assim?

O Preço da Verdade (Dark Waters/EUA-2019) de Todd Haynes com Mark Ruffalo, Anne Hathaway, Tim Robbins, Bill Camp, Victor Garber e Bill Pullman. ☻☻☻☻

PL►Y: A Cor que Caiu do Espaço

Nicolas e Brendan: o horror que veio do céu. 

Howard Phillips Lovecraft, mais conhecido como H.P. Lovecraft (1890-1937) está em alta no mundo do entretenimento. O escritor americano ficou famoso por injetar elementos de ficção científica e fantasias em histórias de terror que se tornaram cultuadas ao longo do tempo. Faz tempo que Guillermo Del Toro tenta levar para as telonas o cultuado Nas Montanhas da Loucura e a HBO faz uma campanha de marketing agressiva para a divulgação da série Lovecraft Country (com previsão de estreia no próximo dia 16) que busca referências no universo do escritor (especialmente no racismo percebido nas entrelinhas) com produção de JJ Abrams e Jordan Peele. Pouco antes da pandemia, em fevereiro deste ano, chegou aos cinemas americanos A Cor que Caiu do Espaço estrelado por Nicolas Cage. O mais engraçado é que o filme foi vendido com a frase "dos mesmos produtores de Mandy/2018" e enxerguei alguns paralelos entre estes dois filmes, para além da presença de Nicolas que começa como um homem pacato e pira no decorrer da história (acho que Cage gosta da coisa).  Aqui ele vive com a família numa casa afastada da cidade, no meio do mato, ele vive com a esposa Theresa (Joely Richardson) que ainda tenta se recuperar de sua batalha contra um câncer. Junto deles está a filha aborrescente Lavinia (Madeleine Arthur), o filho Benny (Brendan Meyer), o caçula Jack (Jullian Hilliard) e uma criação de alpacas (uma espécie de lhama pequena comum na região dos Andes). Se tudo é aparentemente tranquilo por lá, desde o início sabemos que Lavinia detesta aquela tranquilidade. Ela nem imagina que toda aquela calmaria irá desmoronar quando uma estranha luz rosa neon anunciar a chegada de um meteorito no quintal. Aquele artefato espacial chama atenção de todos, mas, estranhamente nenhuma medida é tomada. Não há estudos sobre radiação ou contaminação, apenas um comentário de um jovem cientista que aparece por lá que ressalta para tomar cuidado com a água do local. Quando as esquisitices começam a acontecer,  fica mais interessante quando não sabemos se estão todos alucinando ou se aquilo é real de verdade. O fato de Lavinia ser fã de bruxaria também poderia contribuir para dar contornos interessantes para a história, mas a personagem é tão insuportável que, sempre armada de comentários desagradáveis sobre tudo ao seu redor, fica difícil gostar da personagem que tem grande destaque na trama.  Ela é apenas um dos problemas que afetam o envolvimento do espectador com a história, que aos poucos se torna uma mistura de cenas tão assustadoras quanto grotescas em torno daquela família banhada em luz rosa (e este trabalho da fotografia é o mais interessante do filme e lembra muito o visto em Mandy). O cineasta Richard Stanley já provou outras vezes que adora uma narrativa caótica. Prova disso foi sua demissão no meio do remake de A Ilha do Doutor Moureau (1996) estrelado por Marlon Brando e Val Kilmer e que resultou numa bagunça cinematográfica. Aqui ele faz uma zona mesmo, mas é de propósito. O filme fica controlado até que tudo se distorce (som, imagem, identidades, personagens...) num caos completo. Não considerei o filme envolvente, mas os fãs do gênero devem curtir esta viagem de cores psicodélicas (e numa telona deve ser realmente incrível!) sobre a desconstrução de uma família (e do mundo). Sim, Nicolas Cage surta mais uma vez (e confesso que estou cansado disso), mas o diretor não fica atrás. 

A Cor que Caiu do Espaço (Color out of Space / EUA-Malásia-Portugal / 2020) de Richard Stanley com Nicolas Cage, Joely Richardson, Madeleine Arthur, Brendan Meyer, Jullian Hilliard, Elliot Knighte e Josh C. Aller. ☻☻

PL►Y: Retrato de uma Jovem em Chamas

Noèmie e Adèle: sucesso no Festival de Cannes e no mundo. 

Aclamado desde sua exibição no Festival de Cannes, Retrato de Uma Jovem em Chamas da cineasta Céline Sciamma se tornou um dos filmes mais falados do ano passado. O motivo para tantos elogios é a forma sensível como retrata o romance entre duas jovens no século XVIII. Acrescente este aspecto ao título sugestivo e acho que muita gente pode ter se decepcionado com o filme que está longe do sensacionalismo ou do erotismo barato, o filme opta pelo tom intimista, mesmo quando suas personagens estão cheias de desejo. O roteiro desenvolve aos poucos a relação das protagonistas, o interesse lidando com as inseguranças, os pudores e a repressão sexual. Diante destes elementos o que faz o filme realmente especial é a forma hábil como a diretora utiliza este romance para contar uma história que é cortada por vários vários temas pertinentes à situação da mulher na sociedade (da época e de agora), temas como casamento, aborto, maternidade, insatisfação, sororidade, amizade ajudam a compor o andamento da história ambientado em um lugar isolado e que renderá cenas geralmente protagonizadas por mulheres, como se fosse um mundo à parte. O filme acompanha Marianne (Noémie Merlant), uma jovem pintora que é designada para fazer o quadro de Heloïse (Adèle Haenel) que será enviado para o futuro esposo desta. A fama de temperamental de Heloïse a precede. Questionadora e insatisfeita com o casamento que o destino a reserva, ela se aproxima aos poucos de Marianne e o romance das duas segue meio sem maiores ambições. Sciamma desenha esta relação de forma bastante sutil, a forma como as duas se conhecem, como aos poucos uma ganha a confiança da outra, como se instaura um conflito aqui e outro ali e as cenas de intimidade entre as duas em nada lembram de outro hit romântico entre mulheres nascido em Cannes. Retrato de uma Jovem em Chamas não é explícito como Azul é a Cor mais Quente (2013), o que acho excelente. O longa também não é exuberante como outros filmes de época, seus figurinos são simples, assim como os cenários, mas  é nesta simplicidade que dispensa artifícios para se concentrar nas personagens. Existem momentos bastante poéticos (como o título apresentado de forma literal duas vezes), as aparições no vestido branco ou as últimas cenas reservadas às personagens. De quebra, mais um nome para ficar no caderninho de prestar atenção nos próximos anos, Noémie Merlant. Atriz promissora, dona de talento e espontaneidade cativantes.

Retrato de Uma Jovem em Chamas (Portrait de la jeune fille en feu / França - 2019) de Céline Sciamma com Noémie Merlant, Adèle Haenel, Valeria Golino e Luàna Bajrami. 

NªTV: Perry Mason

Rylance e Rhys: as origens de um clássico dos tribunais. 

Ah, o tempo! Hoje o tempo voa, amor! Escorre pelas mãos, mesmo sem se sentir... faço das palavras de Lulu Santos as minhas desculpas de quando me dei conta que o último capítulo de Perry Mason da HBO foi ao ar no domingo e somente hoje tive tempo para sentar e escrever sobre ela. Estes tempos de Home Office em pandemia dão a impressão que estou no trabalho em tempo integral... enfim, vale ressaltar que o programa foi concebido como minissérie e, se agradasse, teria aval para se tornar uma série. Satisfeita com o resultado, a HBO já anunciou que novos casos e investigações do clássico personagem virão por aí. Muita gente reclamou que o personagem que vemos aqui é interessante, mas que nem de longe lembra o personagem concebido por Erle Stanley Gardner em 1933 (que rendeu uns oitenta livros em que precisava lidar com casos variados). O personagem se tornou tão popular que ganhou uma popular série de televisão que durou de 1957 até 1966.  No entanto, o passado do personagem (e quem mais estivesse ao seu redor) nunca recebeu muito destaque e a ideia desta nova série é explorar a origem destes personagens. Paul Drake (Chris Chalk) agora é um policial afro-americano casado que lida com o preconceito dentro e fora do trabalho, a parceira Della Street (a ótima Juliet Rylance) é apresentada como uma secretária com grandes aspirações que trabalha com um advogado veterano (John Lithgow). Para este advogado que Perry Mason (vivido com o comprometimento habitual de Matthew Rhys, celebrado  por seu trabalho em The Americans) começa a trabalhar como detetive. Perry ainda não é bem sucedido ou reconhecido e mora fora de Los Angeles, na fazenda decadente que herdou dos pais. Com ousadias e métodos pouco ortodoxos, Rhys se envolve na investigação do arrepiante sequestro e assassinato de um bebê que foi encontrado com os olhos abertos costurados. Esta imagem fantasmagórica paira sobre toda a trama, que aos poucos revela segredos dos pais e aspectos assustadores do submundo de Los Angeles, com espaço para um culto que gira em torno de uma líder que diz ser capaz até de ressuscitar os mortos, esta vivida pela grande Tatiana Maslany (inventando um tipo bem diferente das trocentas personagens que interpretou em Orphan Black). Na investigação se mistura interesses políticos, religiosos e discursos bastante conservadores que se voltam contra a mãe do bebê, Emily Dodson (Gayle Rankin), que torna-se suspeita daquela atrocidade. Embora em alguns momentos o programa dê voltas demais em torno das mesmas pistas, ele ainda consegue ser envolvente ao aprofundar os personagens e manter a tensão até o final, enquanto vemos Perry ganhar corpo e segurança para se tornar o renomado advogado em seu futuro. Se Matthew Rhys empresta toda credibilidade a um personagem que ainda não é levado a sério no tribunal, ele está muito bem acompanhado pelo elenco feminino que o cerca com trabalhos interessantíssimos. Juliet, Tatiana e Emily tem momentos brilhantes durante o programa, não satisfeitos, os produtores ainda deram destaque para a sumida  Lili Taylor como a mãe zelosa da histriônica líder religiosa. Perry Mason tem reconstituição de época impecável, bom trabalho de direção e um tom sombrio que transcende os figurinos e a fotografia. Terminado de forma redondinha, a segunda temporada pode ser aguardada sem estresse.

Gayle, Tatiana e Lili: ótimas atuações. 

Perry Mason (EUA-2020) de Ron Fitzgerald e Rolin Jones com Matthew Rhys, Tatiana Maslany, Lili Taylor, Juliet Rylance, John Lithgow, Gayle Rankin e Robert Patrick. 

domingo, 9 de agosto de 2020

PL►Y: O Homem que Matou Dom Quixote

Adam e Pryce: boas atuações em filme conturbado. 

No Grande Livro da História do Cinema deverá haver um capítulo somente para se falar de O Homem que Matou Dom Quixote, não necessariamente o filme em si, mas sobre a odisseia que o diretor Terry Gillian atravessou para a produção chegar às telas. Começando a ser delineado em 1998, o filme contaria a história de um publicitário desiludido que viajaria no tempo através de fantasias e encontraria um sapateiro que acredita ser Sancho Panza. Aos poucos o filme misturaria realidade e ficção de forma que os personagens e a plateia não saberiam mais distinguir o que era real ou imaginário. O publicitário era vivido por Johnny Depp, sua musa seria Vanessa Paradis (que durante as atribulações casou com Depp, juntos tiveram dois filhos e permaneceram casados até 2012 - antes de toda confusão do casório de de Depp e Amber Heard). No papel do fidalgo estava Jean Rochefort, que no meio das filmagens sentia fortes dores e foi diagnosticado com dupla hérnia de disco, o que piorava com as cavalgadas nas filmagens. Se os trabalhos já estavam atrasados, por conta da captação de som em um ambiente próximo de uma base aérea da Espanha, tudo piorou quando uma tempestade destruiu os cenários e parte dos equipamentos. Trata-se de uma das produções mais azaradas de todos os tempos e os produtores resolveram engaveta-la para evitar prejuízos maiores. A situação foi tão impressionante que rendeu até um documentário, "Perdido em de La Mancha" (2002). Em 2010 a produção seria retomada, mas problemas com o orçamento e Johnny Depp fora tornou a captação de recursos ainda mais complicada (e o falecimento de John Hurt também atrasou um pouco mais as coisas). No entanto, terminar o longa se tornou questão de honra para Gillian que encontrou apoio em seu novo protagonista, um jovem ator em ascensão chamado Adam Driver. Quando o filme ficou pronto, Gillian teve problemas na justiça por conta de um produtor português que se considerava o dono do filme... quando o filme foi exibido no Festival de Cannes em 2018 eu imagino a emoção do cineasta ao ver sua obra realizada depois de tantas atribulações. O roteiro passou por algumas modificações e agora conta a história de um diretor, (Adam Driver) que vai rodar um filme sobre Dom Quixote na Espanha e no meio de algumas confusões, reencontra atores que trabalharam em seu primeiro projeto sobre a obra de Cervantes, realizado quando ainda cursava a faculdade. Este olhar sobre o passado lança uma luz melancólica e um tanto nostálgica sobre a história, especialmente quando aparece o sapateiro (Jonathan Pryce) que trabalhou na produção e que acredita ser realmente Don Quixote desde então. A história mistura fantasia, sonho e realidade com aqueles toques surrealistas que Terry Gillian sabe trabalhar com naturalidade desde sempre, mas aqui ele incrementa ainda mais a narrativa com uma reflexão sobre o impacto da arte em vidas áridas e a responsabilidade de um artista sobre o que produz. Não é coisa pouca. Em alguns momentos o filme parece se enrolar nas intenções e o que era um belo delírio soa apenas como uma grande confusão., mas a estética do filme ajuda a prender a atenção, assim como as boas atuações. Vale destacar os bons trabalhos de Adam Driver, num raro papel cômico desde que se tornou reconhecido por Hollywood e, mais ainda, a atuação de Jonathan Pryce como um senhor que encontra na fantasia  (ou seria na  loucura?) uma justificativa para sua existência. Fica ainda mais interessante se você acompanhou a última temporada de prêmios e viu os atores em trabalhos completamente diferentes (respectivamente) em História de Um Casamento (2019) e Dois Papas (2019), filmes que os colocaram no páreo de melhor ator no Oscar pela primeira primeira vez. Embora ainda considere Os Doze Macacos (1996) a obra-prima de Terry Gillian, este aqui recebe um sabor especial por tantos percalços e sua obstinação em concretizar algo que parecia cada vez mais impossível de ser realizado. 

O Homem que Matou Dom Quixote (The Man Who Killed Don Quixote/Espanha - França - Reino  Unido - Portugal - Bélgica / 2018) de Terry Gillian com Adam Driver, Jonathan Pryce, Stellan Skarsgård, Olga Kurilenko, Joana Ribeiro, Rossy de Palma e Sergi López. 

sábado, 8 de agosto de 2020

10+: Mais Lidos No Blog

A Origem (2010) do blog. 

Em oito de agosto de 2010 eu comecei a escrever o Diáriw Cinéfilo. Antes eu tinha outro blog, o VERBORRAGE, mas comecei a achar que ele estava um tanto confuso e precisei de algum tempo para organizar as ideias. Foi com uma postagem sobre A Origem de Christopher Nolan que o Diáriw nasceu. O filme foi o meu favorito do ano (na época eu postava apenas cinco favoritos - e estavam lá Almas à Venda de Sophie Bartes, A Estrada de John Hillcoat, Direito de Amar de Tom Ford e A Fita Branca de Michael Haneke). Lembro de uma amiga que ao ver meu blog sugeriu que eu escrevesse mais sobre filmes conhecidos. Minha intenção sempre foi escrever sobre os filmes que eu assistia e se alguém procurasse impressões sobre ele, ou não, estaria tudo bem. O mais interessante foi que comecei a ficar atento aos número de acessos e percebi como existem pessoas que visitam o blog em busca de comentários sobre filmes que não são tão populares. Só para ter ideia, A Origem, que é um filme bastante conhecido, após dez anos de lançamento, meus comentários sobre o filme foi visto 22 vezes. Um número extremamente baixo se comparado ao filme mais procurado por aqui - e que obteve mais de três mil visualizações (e que você nem imagina qual é... não imagina mesmo)! Foi por isso que para comemorar os dez anos do blog resolvi publicar a lista dos dez filmes mais visitados do Diáriw Cinéfilo. A lista é bem variada, tem documentário, um curta-metragem, uma animação, romance, comédia, ficção científica esquisita, um mockumentary canadense, releitura de Jane Austen, um suspense erótico pouco conhecido... enfim, segue a lista dos campeões de audiência por aqui:

Exibido pela HBO, o filme conta exatamente o que o título promete... ou quase, já que não sabemos direito o limite entre a fantasia ou o planejamento do crime por conta do personagem real que o filme investiga. Embora siga um formato bastante tradicional, o filme consegue ser bastante instigante perante as questões que levanta. Lembro de conversar horas sobre este filme com um amigo dramaturgo que até pensou em fazer uma peça sobre esta situação, mas que nunca saiu do papel. A postagem foi visualizada por 530 pessoas desde a publicação.

A única animação que aparece nesta lista é a aventura solo do personagem que ganhou fama das animações do Shrek na Dreamworks. O resultado é bastante divertido, com um tempero latino e Antonio Banderas inspiradíssimo na pele do gatinho mais fofo do cinema. Pouca gente lembra, mas o filme foi até indicado ao Oscar de Melhor Animação e seus fãs fieis de vez em quando o colocam na lista dos mais lidos por aqui. Até hoje foram 543 leitores que encontraram meus comentários sobre a produção. 

Como seria o mundo se a humanidade não precisasse mais dos homens para se reproduzir? Como os homens lidariam com isso? Como as mulheres lidariam com uma sociedade em que os homens pudessem ser descartados da noite para o dia? Este divertido mockumetary (ou documentário de mentira) é uma grande brincadeira em forma de provocação sobre um futuro distópico (palavra em moda ultimamente) sobre um mundo dominado pelas mulheres e que um casal formado por um homem e uma mulher causa um verdadeiro escândalo. No entanto, tem gente que não gostou da brincadeira, um dos leitores foi categórico ao comentar o filme por aqui: "Ridículo"... não mesmo! 546 pessoas leram sobre o filme por aqui. 

A cineasta australiana teve bastante ousadia em adaptar a obra de Rupert Tomson sobre um dançarino que é sequestrado por três mulheres e abusado sexualmente por um longo período. O filme explora os conflitos deste personagem, seus traumas e sua tentativa de voltar a ter uma vida sexual normal depois de tudo o que aconteceu. Mais provocador, incômodo e sombrio do que todos os filmes da trilogia Tons de Cinza, O Livro das Revelações dividiu opiniões quando foi lançado e atraiu 598 leitores para o blog. 

Não costumo comentar curtas-metragens, mas este aqui se enquadra numa categoria especial. Além de ter assinatura ilustre de Spike Jonze, ele ainda é baseado no álbum mais elogiado da banda Arcade Fire, The Suburbs (que depois foi até eleito o álbum do ano no Grammy, derrotando o favoritismo de Lady Gaga e deixando os Little Monsters enfurecidos). O curta tem 28 minutos de duração e deixa a sensação de que poderia ter rendido um longa-metragem nas mãos do renomado diretor embalando seus personagens juvenis com a ótimas faixas do CD. A publicação foi visitada por 737 pessoas desde a data de sua publicação. 

Pode se dizer que entre os filmes mais visitados no blog demonstram praticamente um empate no gosto por comédias e romances. Este romance recebe tons de suspense ao contar uma história de amor cheia de mistério e nostalgia em torno dos charmes premiados de Jean Dujardin e Marie Josée-Croze. A única produção em língua francesa da lista aparece por aqui amparada por 798 visitantes do blog. 

No topo dos mais lidos desta semana está a apreciação mista do filme adolescente de Amy Heckerling estrelado por Alicia Silverstone  - que é baseada no livro de Jane Austen - e  Emma, que recebeu uma versão mais fiel pelas mãos de Douglas McGrath, estrelada  por Gwyneth Paltrow. De vez em quando o filme aparece entre os mais procurados por aqui e um comentário mencionou que o texto pode ser usado nas aulas de Literatura Comparada... não foi esta a minha intenção! Recentemente Emma recebeu uma nova versão que acabou prejudicada nas bilheterias por conta da pandemia. A postagem foi visitada por 1023 pessoas aqui no blog, um número respeitável...

A medalha de bronze vai para o segundo longa-metragem do realizador do instigante Primer (2004). O filme que conta uma história de amor incomum misturada com elementos de ficção científica, experiências e um tanto de esquizofrenia. O filme demonstra a preocupação do cineasta em contar histórias únicas. Famoso no circuito independente, indicado em premiações indie e desconhecido da maior parte do público, recentemente o diretor disse que não faria mais filmes e que se dedicaria apenas ao ensino em escolas de cinema. Espero que ele mude de ideia (Netflix, ajuda o moço!). Este filme pouco conhecido rendeu 1365 leituras ao blog. 

Sempre que esta comédia de título sugestivo (e realização inofensiva) aparece entre os mais lidos, eu imagino que as pessoas chegaram até aqui buscando uma espécie de manual. Longe de ser isso, o filme é uma espécie de brincadeira com um tema apimentado em um local julgado como conservador. Com algumas boas piadas e um elenco carismático, o título quilométrico esconde um filme divertido e até pudico diante das possibilidades que tinha. O texto foi visualizado por 1984 pessoas e garante a medalha de prata, no entanto, o primeiro colocado foi bem mais longe...

Nunca imaginei ao assistir esta produção italiana estrelada por Penélope Cruz que ela renderia a postagem mais lida do blog. A produção adaptada do livro de Margareth Manzantini (esposa do diretor) não chegou a me empolgar e minha apreciação deixou isso bem claro para insatisfação dos fãs que teceram vários comentários por aqui (admito que os mais ofensivos eu sequer publiquei). O drama familiar ambientada em Sarajevo é feito para render muitas lágrimas e consegue. A postagem foi lida por 3126 pessoas - e prova que não precisa ser um campeão de bilheteria para render visualizações num blog sobre cinema.  

10+ variedades

Vale ressaltar que entre as postagens mais vistas existem outras relacionadas a artistas, listas e brincadeiras. A lista com Os 5 Piores filmes de Julianne Moore rendeu 454 visualizações ao blog e por algum motivo a quinta edição de Poderes Especiais (sessão que nem existe mais por aqui, mas estou pensando em resgatar) rendeu 578 visitas. O Combo Rainhas atraiu 617 leitores e a postagem mista sobre os seriados Hannibal e Bates Motel gerou 634 visualizações, praticamente um empate técnico com o  Momento Rob Gordon com Personagens Cinematográficos Congelantes com 638 interessados. Com 802 leitores, a especulação de Entre 4 Irmãos também ficou tempos entre as mais lidas. Em 4º Lugar está uma postagem sobre Michelle Pfeiffer visitada por 816 fãs, seguida pela medalha de bronze de Rebecca Hall que atraiu 1363 visitantes para um texto sobre sua carreira no cinema. Em segundo lugar, está uma brincadeira sobre a Família Bateman  (1670 visualizações) e em primeiro lugar, a cara de pau de listar os 5 Maiores Tropeços de Mad Men. A provocação com a cultuada série rendeu 1979 visitas (que por coincidência é o ano de meu nascimento....).  Como diria DARK, tudo está conectado!