segunda-feira, 27 de agosto de 2018

NªTV: Sharp Objects

Perkins, Amy e Patricia: bom elenco e sabor de pastel de vento. 

A minissérie Sharp Objects estreou com todo o peso que um dos programas mais esperados do ano poderia ter. Não bastasse ser uma produção da HBO, ainda era baseado em um cultuado livro de Gillian Flynn (autora das obras que deram origem ao sucesso Garota Exemplar/2014 e o mediano Lugares Escuros/2015) e contava com um elenco de respeito - começando por Amy Ryan na pele marcada da protagonista perturbada pelo passado e Patricia Clarkson como a mãe sufocante. A direção ficou por conta do canadense Jean Marc-Vallée, que além de seus filmes interessantes, tem no currículo o festejado Big Little Lies, produção da mesma HBO que foi o papa-prêmio lançado do ano passado e que, devido ao sucesso, ganhará mais uma temporada no ano que vem. No entanto, Sharp Objects estava longe de ter o mesmo clima do projeto anterior de seu diretor. Ao longo de oito episódios o que se viu foi uma trama lenta e arrastada, que muitas vezes se repetia numa espiral de referências sobre o passado da jornalista Camille (Ryan) e os crimes que a levam de volta para a sua cidade natal. A própria Camille carrega o peso da morte de sua irmã caçula por causas desconhecidas que abalou de vez o seu relacionamento com a mãe, Adora (Clarkson), e ambas não fazem muito esforço para se entenderem, pelo contrário, os diálogos entre as duas sempre se repetiam entre alfinetadas e farpas cheias de rancores e incompreensões. Esta tensão entre mãe e filha se repete em todos os episódios - e ganhou até mais destaque do que as evidências encontradas sobre o assassino das jovens locais. Completa ainda este delicado núcleo familiar, a irmão caçula de Camille, Amma (Eliza Scanlen) e o padrasto passivo, Alan (Henry Czerny). Tudo exalou mistério durante o programa. Cada olhar, cada comentário sobre o que se esconde debaixo da aparente tranquilidade da região, ninguém inspirou muita confiança, nem a tia falastrona (Elizabeth Perkins) ou o xerife (Matt Craven). A única ponta de sensatez que existia era o investigador Richard Willis (Chris Messina), que se envolve com Camille  enquanto tenta entender um pouco mais sobre o que está por trás dos crimes. Embora tenha um ponto de partida interessante, o último capítulo exibido ontem só consolidou a ideia de que o programa estava mais interessado nas relações doentias entre os personagens do que propriamente com o crime em si. As resoluções vieram sem clímax e de forma um tanto apressada, utilizando até mesmo o recurso de cena pós-crédito de menos de trinta segundos para explicar o que os oito capítulos não davam muita importância. Quem conhece a obra de Gillian Flynn já devia ter matado a charada desde o início (e as falas de Richard acusando de que a culpa é sempre da família só reforçaram a sensação de previsibilidade), mas os admiradores do programa ressaltavam que o importante eram os detalhes... bem, desde o primeiro episódio eu já sabia como a coisa terminaria. Acredito que Sharp Objects seria mais interessante se fosse um filme, mas esticado em oito episódios tudo me pareceu uma repetição cansativa. A atmosfera fúnebre criada por Vallée canibalizava a si mesma a cada episódio, mas amparada pelas boas atuações, fazia até o programa parecer envolvente. A sensação de que se assistia sempre a uma reprise era constante e me fez por vezes questionar o motivo de continuar acompanhando a trama. Vale ressaltar que ninguém questiona a qualidade dos programas da HBO, mas neste ano está difícil da emissora acertar. Now and Them estrelada por Tim Robbins e Holly Hunter foi cancelada antes mesmo da primeira temporada terminar (e eu a abandonei do terceiro episódio), a segunda temporada de Westworld também me pareceu bastante perdida em sua condução. A nova série Succession começou promissora, mas logo se perdeu em uma história que girava em círculos com personagens sem personalidades distintas no jogo de ambição de uma família milionária. O que todos estes programas tem em comum é a dificuldade em se desenvolver sem enrolar o espectador por uma temporada inteira, a sorte é que Sharp Objects acabou ontem e não tem chance de enrolar por mais uma temporada. 

Sharp Objects (EUA-2018) criada por Marti Noxon e dirigida por Jean Marc-Vallée, com Amy Adams, Patricia Clarkson, Chris Messina, Henry Czerny, Eliza Scanlen, Elizabeth Perkins, Matt Craven e Taylor John Smith. 

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