domingo, 5 de agosto de 2018

PL►Y: Morte em Buenos Aires

Chino e Demián: atração inesperada. 

Existe muito do polêmico Parceiros da Noite (1980) no argentino Morte em Buenos Aires, tanto que rende discussões sobre as mesmas questões de décadas atrás. Acusado de ser homofóbico na época, o filme de William Friedkin ainda provoca releituras de como uma sociedade preconceituosa pode motivar atitudes extremas de quem sente um desejo considerado proibido. Não vou entrar no mérito desta discussão, mas se o policial de Al Pacino experimenta uma crise de identidade sexual no decorrer da história, o mesmo se pode dizer do Inspetor Chavez (o bom Demian Bichir) que em meados dos anos 1980 se vê diante de um crime no alto escalão de Buenos Aires. Tudo indica que o assassino é um homem homossexual que se encontrou com a vítima e a matou em seguida. Chavez desconfia de um jovem policial (Chino Darín, filho do ícone Ricardo Darín), que foi o primeiro a chegar na cena do crime e, apesar de estar de casamento marcado, não tem problemas em aceitar ser a isca para o plano de encontrar o assassino que ronda a cidade. No entanto, as situações em que o rapaz se envolve, instiga o experiente Chavez de uma forma que ele nunca imaginou, instaurando uma tensão sexual que consegue ser bastante interessante, porém, o filme nunca capricha  no que tem em mãos. Desde o início a plateia sabe quem é o assassino e a direção de Natalia Meta não faz questão alguma de disfarçar o que vemos durante pouco mais de hora e meia de narrativa. A história se desenvolve sem grandes saltos, tendo como cena mais interessante aquela dos cavalos na noite urbana da cidade. O mais instigante do filme é a química entre Bichir e Darín, os dois criam personagens cheios de olhares e intenções secretas, mas entender o que está escrito nestas entrelinhas pode custar a vida de um dos dois. Há de se elogiar a interpretação de Bichir (que já foi indicado ao Oscar pelo filme americano Uma Vida Melhor/2011) que interpreta um personagem que é pura testosterona, mas que fraqueja diante do jogo de sedução perigoso que se instaura. Por outro lado, para um jovem astro como Chino, carregar nas tintas de um personagem tão ambíguo também tem seu valor.  Morte em Buenos Aires capricha no colorido, nas luzes neon, na trilha sonora oitentista e na construção de uma atmosfera gay underground argentina (com direito até a um pavão glam), mas como filme policial não chega a empolgar. 

Morte em Buenos Aires (Muerte en Buenos Aires / Argentina - 2014) de Natalia Meta com Demián Bichir, Chino Darín, Carlos Casella, Emilio Disi e Jorgelina Aruzzi. ☻☻

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