sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Na Tela: Você Nunca Esteve Realmente Aqui

Phoenix: mais um esquisito para a coleção. 

A escocesa Lynne Ramsay começou a fazer curtas em 1996 e desde o seu longa de estreia (Ratcatcher/1999) deixou claro que não estava com vontade de realizar filmes amenos. Foi por conta desta característica que ficou famosa com seu terceiro longa metragem, Precisamos Falar Sobre Kevin (2011) - um dos filmes mais impressionantes da década. Nos seis anos que separam a obra sobre a relação de uma mãe com o filho psicopata e este seu novo filme, o fã clube de Ramsey cresceu consideravelmente. Você Nunca Esteve Realmente Aqui foi exibido no Festival de Cannes no ano passado e saiu de lá com o prêmio de melhor ator para Joaquin Phoenix - que provavelmente terá chances no Oscar se o filme for bem trabalhado depois de sua pífia distribuição nos Estados Unidos. Joaquin está realmente bem no filme em mais um personagem sombrio. O filme nunca conta direito a sua história, restando ao espectador juntar "pedaços" do seu passado em flashes que perpassam a narrativa. Tudo indica que ele tem alguns traumas de infância e do período em que combateu em alguma guerra. Some a isto seu instinto suicida, o corpo marcado, o rosto que parece uma máscara entre barba e cabelo, além do corpo truculento que já não tem o mesmo vigor da juventude. Ele se chama Joe, um homem que faz o serviço sujo para quem não quer sujar as mãos. Seus princípios nunca ficam muito claros, ao contrário, suas ações costumam ser camufladas por uma certa indiferença que por vezes cede lugar para uma catarse pessoal perante um mundo desacreditado. O único ele de Joe com sua humanidade  é o fato dele morar com a mãe idosa (mas isto não impede que exista uma brincadeira com a famosa cena de Psicose/1960, mas que também emula as ambiguidades do relacionamento entre mãe e filho presentes no clássico de Hitchcock). Tudo desanda quando Joe recebe mais uma tarefa e seu mundo desaba - e a parte mais interessante da narrativa são os minutos em que a diretora apresenta este desmoronamento. Baseado no livro de Jonathan Ames, Lynne Ramsey sempre busca o complicado equilíbrio entre o brutal e o tom intimista, em alguns momentos constrói cenas belíssimas, em outro se perde no exercício estilístico que mantem um ritmo oscilante em toda duração do filme. Por tentar apresentar o protagonista por meio de sugestões, o espectador sempre busca referências que possam dar sentido à história por trás do que se vê na tela, mas fica a sensação de que faltam alguns pedaços. Tudo poderia ser amarrado no desfecho, mas ele prefere apresentar uma alucinação em que o mundo só demonstra sua indiferença diante da vida ou da morte. Você Nunca Esteve Realmente Aqui é um exercício narrativo interessante com um bom ator, mas não chega a empolgar.

Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here/Reino Unido/França/EUA - 2018) de Lynne Ramsay com  Joaquin Phoenix, Judith Roberts, Elaterina Samsonov e Alessandro Nivola. ☻☻☻

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