Robin Williams: o enigma em pessoa.
Por um longo tempo, Robin Williams foi sinônimo de comédia americana. Embora nunca se considerasse um comediante, se classificava mais como um ator cômico, Robin fez muita gente rir - e mesmo quem não curtia seu humor (eu mesmo o considerava acelerado demais) reconhece que ele tinha uma energia invejável. O sujeito divertido chocou o público ao se suicidar em agosto de 2014, se tornando um enigma para o público, que, de certa forma, é uma das motivações para assistir ao documentário Robin Williams: Entre na Minha Mente da diretora Marina Zenovich. Embora o título e a cena inicial brinquem com a ideia de conhecermos como funcionava a cabeça do ator, o filme tem outros interesses. Como não podia deixar de ser, fala um pouco sobre a família incomum de Robin, sua personalidade meio-hippie na escola de arte dramática (em que entrou ao lado de Christopher Reeve, um dos seus grandes amigos), cita os três casamentos, os três filhos, o interesse da mídia e conta com várias entrevistas e cenas de arquivo sobre o ator. O longa perpassa o estrelato com a sitcom Mork & Mindy e a transição do ator para o cinema - em tempos em que isso era bastante incomum e coberto de preconceito. Curiosamente, o filme oferece pouco espaço para os filmes do ator, ressaltando somente alguns trabalhos marcantes. Embora mencione Bom Dia Vietnã! (1987) como seu primeiro grande sucesso no cinema e destaque Sociedade dos Poetas Mortos (1989), suas indicações ao Oscar nem são mencionadas, tão pouco o impacto de seu prêmio de coadjuvante por Gênio Indomável (1997) - que se tornou um divisor de águas na carreira do artista. Embora Robin já houvesse realizado papéis dramáticos, foi a partir do reconhecimento da Academia que seus filmes tomaram rumos mais intimistas e até sombrios, aspecto que passa batido no documentário. Porém, é estranho a diretora ressaltar a indicação de Robin ao Critic's Choice Awards por seu excelente trabalho em Retratos de uma Obsessão (2002), uma ocasião em que foi derrotado por um incomum empate entre Jack Nicholson e Daniel Day Lewis, detalhe, somente os três atores concorriam. Robin enfrentou a derrota em tom de brincadeira, mas que revelava a consciência do preconceito em torno de seus papéis mais densos (vale lembrar que naquele ano Jack e Daniel foram indicados ao Oscar de melhor ator e Robin ficou injustamente de fora). O filme também aborda de forma coerente o período em que o ator usava drogas pesadas, mas se esquiva um pouco na hora de abordar o desfecho de sua vida e carreira. Robin se tornou mais discreto em sua vida pessoal e profissional e atribuem isto ao diagnóstico de Mal de Parkinson, apontado por muitos como uma das motivações para o suicídio que cometeu. Robin Williams: Entre na Minha Mente é mais uma homenagem ao artista do que propriamente um estudo de sua personalidade e capricha no uso de cenas da carreira do ator nos palcos e na televisão, um detalhe que pode soar como novidade para o grande público fora dos Estados Unidos. Ao final, não pude deixar de lembrar de outro documentário recente, Jim & Andy (2017), que aborda um pouco da personalidade de Jim Carrey e a necessidade imposta a ele de sempre ser divertido (quando sua personalidade é muito mais complexa), o que não deixa de ser um dos pontos em comum com este documentário feito pela HBO.
Robin Williams: Entre na Minha Mente (EUA-2018) de Marina Zenovich com Robin Williams, Billy Cristal, Steve Allen, Steve Martin e Zach Williams. ☻☻☻
Robin Williams: Entre na Minha Mente (EUA-2018) de Marina Zenovich com Robin Williams, Billy Cristal, Steve Allen, Steve Martin e Zach Williams. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário