Jessica: morrendo no dia do aniversário.
Houve um tempo nos anos 1990 em que os filmes de terror se renderam aos serial-killers num tom bem humorado, quem demonstrou que a coisa funcionava foi o maior clássico deste subgênero: Pânico (1996) de Wes Craven, que misturava as regras dos filmes de terror doses cavalares de ironia e adolescentes um tanto atrapalhados. A ideia rendeu quatro filmes, uma série de TV e uma várias produções que tentavam repetir a receita, mas que nunca alcançaram o mesmo sucesso. Algum tempo passou e chegou aos cinemas este A Morte te dá Parabéns, que nas devidas proporções, faz lembrar um pouco o tom das agruras vividas por Sidney Prescott, que se revelava um verdadeiro ímã para psicopatas. No entanto, existe uma novidade neste filme de terror voltado para adolescentes: sua personagem está presa no dia do aniversário em que é perseguida por um assassino mascarado que sempre a mata e a faz retornar ao início do dia mais uma vez. Fazer um personagem ficar preso a um loop temporal não chega a ser uma novidade (aqui no blog já teve até um Combo sobre este tema), mas não lembro de um filme de terror ter se apropriado da ideia. Outro fator que faz a diferença no filme é que a protagonista não é uma donzela indefesa, mas uma universitária americana egocêntrica e superficial que não precisa se esforçar muito para ser insuportável. Ela se chama Tree Gelbman (Jessica Rothe) e começa o filme sem saber muito bem o que aconteceu na noite anterior, mas sabe que está no quarto do personagem mais simpático do filme, Carter (Israel Broussard) - e mesmo assim ela não consegue expressar mais do que desprezo por ele. Durante o dia, ela dispensa um pretendente, lida com suas colegas de fraternidade igualmente insuportáveis e à noite se depara com seu algoz com máscara de bebê. Ela morre. Ela acorda faz tudo de novo e morre. Acorda e morre. Acorda e morre. Acorda e morre. O que não nos faz perder o interesse pelo filme são os detalhes que o roteiro começa a inserir para mostrar outros detalhes sobre aquele dia e os personagens que o habitam, o que insere mais humor na história e trabalha um pouco mais o misterioso assassino da história - e neste ponto vale tudo, os pretendentes desprezados, as colegas antipáticas, um assassino que fugiu da prisão... todos se tornam suspeitos. Curiosamente, o filme fica mais interessante da metade para o final, justamente quando poderia se tornar tediosamente repetitivo. Ele começa a fazer graça de sua estrutura e dos dilemas da personagem diante do dia mais longo de sua vida. A edição tem alguns momentos bem legais e o diretor Christopher Landon (do mais esperto Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi/2015) capricha em algumas cenas (aquela vertiginosa corrida pelo hospital, por exemplo), mas o resultado não consegue ser mais que um passatempo.
A Morte te dá Parabéns (Happy Death Day/EUA-2017) de Christopher Landon com Jessica Rothe, Israel Broussard, Ruby Modine, Charles Aitken, Laura Clifton e Rachel Matthews. ☻☻
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