sexta-feira, 3 de agosto de 2018

PL►Y: Os Fantasmas de Ismael

Marion: assombração encarnada. 

Temos um grupo de senhores conversando sobre um homem que não sabemos direito quem é. Depois nos damos conta de que este homem é jovem (Louis Garrel) e todos suspeitam de que seja um espião. Esta não é a trama principal de Os Fantasmas de Ismael, ela está na verdade quando tudo isso fica de lado e vemos um senhor escrevendo a história de espionagem no computador.  Na verdade ele é um cineasta chamado Ismael (Mathieu Almaric), que prepara seu novo filme - e logo ele é interrompido ao receber uma ligação de seu sogro, que acaba de ter um pesadelo sobre a filha desaparecida. Pesadelo também é algo bastante comum nas noites de Ismael, que, assombrado, costuma utilizar remédios para dormir até o dia amanhecer. Talvez ele ainda seja assombrado pela esposa - que desapareceu muito jovem sem deixar pistas - mesmo mantendo um bom relacionamento com uma astrofísica, Sylvia (Charlotte Gainsbourg). Os casal mora numa casa com vista para o mar, num romance idílico... pelo menos até uma mulher aparecer e se se apresentar como Carlotta (Marion Cotillard), a esposa desaparecida há mais de vinte anos. Não precisa nem dizer que o retorno da mulher e todas as indagações possíveis que ela irá responder transforma a vida dos outros personagens. É justamente na forma como o casal lida com este fantasma encarnado que o filme sustenta a sua primeira hora. Existe uma mistura de romance, tensão, drama, desejo e ressentimentos que funciona bem nas mãos do diretor Arnaud Desplechin, que sabe amparar o ótimo elenco que tem em mãos, em especial Marion que está ótima como a mulher misteriosa que volta no nada e Gainsbourg, que está ótima em uma personagem bem mais leve do que costumamos vê-la. As atrizes trabalham as identidades opostas destas mulheres muito bem e nos fazem entender o que torna o protagonista dividido entre ambas. Não satisfeito em desfiar este relacionamento, Desplechin de vez em quando desvia sua rota para o roteiro que seu protagonista está escrevendo e explora o que há de pessoal naquela história. Entre estes dois pólos o filme se sustenta com certa harmonia, até que um determinado personagem resolve partir e tudo vira uma bagunça. Com cada vértice deste triângulo amoroso seguindo o seu próprio caminho, o filme mergulha em sua segunda hora de duração e se perde. Existe um momento interessante aqui, outro ali, mas nada que se compare ao que vimos na primeira hora do filme. Enquanto o filme dá voltas e apresenta alguns delírios (muito bem filmados, registre-se) a vontade é que ele termine logo antes que você desista de assistir. Os Fantasmas de Ismael foi o filme de abertura do Festival de Cannes no ano passado e seu emaranhado de gêneros e pretensões dividiu opiniões, mas pode ser um programa muito interessante para quem curte narrativas pouco convencionais. 

Os Fantasmas de Ismael (Les Fantome d'Ismaël/França - 2017) de Arnaud Desplechin com Mathieu Almaric, Charlotte Gainsbourg, Marion Cotillard, Louis Garrel,  Alba Rohrwacher, Louis Garrel e László Szabó. ☻☻☻ 

Um comentário:

  1. Se não fosse por Marion e Charlotte teria desistido, parece que ficaram com preguiça de escrever o restante do filme...

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