Abby, Edie e Jenny: a infidelidade sob análise.
A cineasta americana Gillian Robespierre caiu nas graças da crítica com seu longa de estreia, Entre Risos e Lágrimas (2014), que lhe rendeu várias indicações a premiações voltadas para o cinema independente. O filme era uma adaptação do curta Obvious Child (2009) também protagonizado por Jenny Slate (que só ficou famosa depois do filme de 2014). Quando Gillian começou a preparar seu segundo filme, ela garantiu um lugar para sua musa e ainda percebeu ter prestígio para ter Edie Falco e John Turturro no elenco. O resultado é Conflitos em Família, filme que agradou o público e a crítica, pelo bom humor como lida com um tema complicado: o adultério (tema compatível com a diretora que fez uma comédia em torno de uma gravidez indesejada). Desta vez a história gira em torno das irmãs Dana (Jenny Slate) e Ali (Abby Quinn) que descobrem que o pai (Turturro) está traindo a esposa (Edie Falco), no entanto, a própria Dana tem telhado de vidro no assunto, já que está traindo o noivo (Jay Duplass) com um velho conhecido (Finn Wittrock). Assim, a própria Dana está repensando na proposta de casamento, monogamia e existir um casal feliz (e fiel) para sempre. Existe um leve contraponto entre estas traições com o relacionamento de Ali, que ainda é uma adolescente e vivência o que parece ser o seu primeiro relacionamento sério. Gillian demonstra mais uma vez o seu humor agudo, muitas vezes desconfortável e que algumas pessoas poderiam achar humilhante até, mas que conta com o carisma de Jenny Slate para disfarçar esta sensação (seja na cena de abertura em que Dana e o noivo tentam fazer sexo num bosque ou a consequência disto sendo descoberta durante o banho). Existem vários bons momentos na história (todo trecho da Uva Passa Californiana é o meu favorito) que tentam conviver com algumas piadinhas muito bobas que poderiam ter ficado de fora na edição. No entanto, é notável como a qualidade do texto e da narrativa é muito superior a do filme de estreia de Gillian. Aqui se percebe com clareza o arco de cada personagem, a forma como suas ideias entram em conflito e se transformam ao longo da história, além de ter um acabamento visual mais caprichado (provavelmente pelo orçamento mais generoso que a diretora conseguiu após o sucesso do seu filme anterior), além disso, tem o charme de ser um filme ambientado em 1995 - com roupas, trilha sonora (P.J Harvey, Crystal Waters...) e referências às celebridades da época (uma capa da Rolling Stone com o Hole e outra com Winona Ryder). Por tudo isto, Conflitos em Família resulta numa obra simpática que demonstra como Gillian é uma cineasta mais madura e de identidade bem demarcada numa tela de cinema.
Conflitos em Família (Landline/EUA-2017) de Gillian Robespierre com Jenny Slate, Abby Quinn, Edie Falco, John Turturro, Jay Duplass e Finn Wittrock . ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário