Laia: presença magnética.
O candidato espanhol para uma vaga no Oscar de filmes estrangeiro em 2018 foi exibido em poucas salas no Brasil no final do ano passado e, para quem conhece a fama do cinema espanhol, o singelo Verão 1993 pode surpreender com a história da menina órfã que sai da cidade para morar com os tios no campo. A narrativa não chega a ser exuberante e investe em poucos diálogos, preferindo uma abordagem quase documental do que está acontecendo naquela família que se forma pelos desvios do destino. A diretora Carla Símon opta por uma direção quase invisível, onde a câmera é uma intrusa naquele universo captado pelos olhos da pequena Frida (a impressionante Laia Artigas), uma garota de seis anos que passa a ser cuidada pelo tio (David Verdaguer) e pela esposa dele (Bruna Cusí) após uma perde significativa. Em sua nova casa, Frida ainda ganha a companhia de Anna (a fofa Paula Robles) sua prima de quatro anos. Depois que somos apresentados aos personagens, o roteiro e a direção encontram sustentação principalmente nas entrelinhas desta história de adaptação da protagonista à nova família - o que lhe promove uma verdadeira avalanche de sentimentos que não chegam a ser traduzidos por palavras, mas por gestos e olhares sempre ambíguos diante da situação. De momentos de alegria, passando por outros de fúria, ciúme, desprezo e desentendimento, Verão 1993 joga o tempo inteiro com o que está por trás das emoções desta nova filha que chega na casa. Neste período complicado, situações simples como uma brincadeira no quintal, a visita de parentes e o relacionamento entre Frida e Anna recebem camadas que só o tempo será capaz de trabalhar e cicatrizar. Existem alguns segredos na história que são tratados de forma bastante discreta, como a causa da morte da mãe da personagem ou as suspeitas que pairam sobre a menina. Com bela fotografia, edição correta e momentos realmente encantadores, o que faz o filme brilhar de verdade é a presença magnética de Laia Ortigas, que é a alma do filme e torna fácil a tarefa do espectador projetar nela as emoções que sente. Verão 1993 tem ainda o aspecto interessante de demonstrar como as posturas e papéis se ajeitam dentro de uma família diante de uma situação delicada - neste ponto, a participação do casal formado por Bruna e David, somado à doce Paula tem papéis importantíssimos, ao ponto de nos fazer acreditar que assistimos a um recorte temporal de uma família de verdade (pelo menos até que a última cena nos faça lembrar que era tudo um filme).
Verão 1993 (Estiu 1993 / Espanha-2017) de Carla Simóns com Laia Artigas, Paula Robles, David Verdaguer, Bruna Cusí e Isabel Rocatti.
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