quinta-feira, 28 de março de 2019

4EVER: Agnès Varda

30 de maio de 1928 ✰ 28 de março de 2019

Nascida em Bruxelas na Bélgica, Agnés Varda tornou-se conhecida como fotógrafa e cineasta, sendo principalmente reconhecida como uma das precursoras do da nouvelle vague do cinema francês. Seu cinema foi desde sempre marcado por uma mistura de comentário social, feminismo e experimentação com a linguagem documental. Com mais de cinquenta filmes no currículo, Agnès é uma cineasta que merece destaque em um tempo em que mulheres cineastas buscam reconhecimento. Casada por muito tempo com o cineasta Jacques Demy, Agnès esteve recentemente em cartaz nos cinemas brasileiros com o excepcional Visages, Villages (2018) realizado junto ao fotógrafo JR. Pelo filme foi indicada ao Oscar de melhor documentário - logo após receber um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra. Agnès faleceu em decorrência de uma batalha contra um câncer. 

segunda-feira, 25 de março de 2019

Na Tela: Nós

Lupita: performance arrepiante. 

Antes de Corra! (2016) o ator Jordan Peele era essencialmente conhecido como um comediante. Depois que seu filme fez um sucesso estrondoso nos cinemas levando para casa o Independent Spirit de Melhor filme de 2016 e o Oscar de Melhor Roteiro Original (o filme também concorreu às estatuetas de diretor, filme e ator/Daniel Kaluuya) sua carreira mudou definitivamente de patamar. Com público e crítica interessados no próximo passo do diretor, assistir Nós é uma experiência de grandes expectativas. Se levamos em conta que um dos próximos projetos de Jordan é a nova versão de Além da Imaginação, os universos de seus filmes fazem ainda mais sentido. Talvez Nós não seja tão celebrado quanto seu longa anterior, mas, ainda igual atenção. A história tem como protagonista Adelaide (Lupita N'Yongo), mulher casada e com filhos, que ainda carrega traumas de um dia em que se perdeu dos seus pais numa temporada no litoral. Quando menina ela se perdeu numa casa de espelhos, o episódio lhe custou ficar sem voz por alguns dias e ainda hoje ela percebe que foi marcada por aquela noite. O que poderia ser visto como uma simples paranoia, ganha contornos reais quando num final de semana perto da praia com o esposo (Winston Duke), a filha (Shahadi Wright Joseph) e o filho (Evan Alex), ela recebe a visita de uma família inesperada. Assim, o que era para ser um final de semana sossegado se torna um pesadelo de proporções inimagináveis. A genialidade de Peele está justamente em pegar um ponto de partida batido (uma casa sendo invadida) e tomar rumos cada vez mais surpreendentes, assim, sempre que o espectador considerar saber o que acontecerá, o filme surge com um novo ato que amplia o anterior. Dificilmente outro diretor poderia conceber um filme como Nós, afinal, Jordan Peele já possui uma assinatura própria, que aqui  ganha contornos ainda mais definidos. São próprios de seus estilo a subversão dos clichês do terror, o excelente trabalho com atores e a mescla de terror com comédia (que aqui aparece mais fluído do que em Corra!). O núcleo principal está excelente na dupla concepção de seus personagens, com destaque para Lupita N'Yongo, que está assustadora na pele da versão obscura de Adelaide). A atriz que tem um Oscar de coadjuvante por 12 Anos de Escravidão/2013 recebeu tantos elogios por este novo trabalho que possivelmente será lembrada na próxima temporada de ouro. Por outro lado, Peele mantem o foco em suas camadas de crítica social, mas torna-se mais sutil, surreal e amplo - especialmente se levarmos em consideração a enorme corrente que vemos na última cena. Nós assusta não apenas por falar de nossos dois lados, mas por mostrar que esta rivalidade raivosa que se instaurou nos últimos anos, faz com que esqueçamos o que temos em comum. A ideia do filme me lembra um pouco a premissa de um filme com Elisabeth Moss (que interpreta uma amiga do casal protagonista) chamado As Complicações do Amor/2014), só que aqui a comédia romântica dá lugar ao terror (algo que o cineasta já disse ter feito com Quero Ser John Malkovich/1999 em Corra! - e ambos contavam com Catherine Keener no elenco). Embora eu considere que em seu desfecho o filme perca um pouco da força por fantasiar demais, Nós tem tudo para se tornar um dos filmes mais relevantes do ano. 

Nós (Us / EUA-2019) de Jordan Peele com Lupita N'Yongo, Winston Duke, Shahadi Wright Joseph, Evan Alex, Elisabeth Moss e Anna Diop. 

domingo, 24 de março de 2019

§8^) Fac Simile: Ben Affleck

Benjamin Géza Affleck-Boldt
Faz algum tempo que Ben Affleck lida com os altos e baixos de Hollywood. Atua, escreve, dirige, produz e já tem dois Oscars na estante (pelo roteiro de Gênio Indomável/1997 e pela produção de Argo/2012) ainda que nunca tenha sido indicado ao prêmio de ator. Ele já fez todo tipo de filme, das viagens cerebrais de Terrence Mallick à correria explosiva de Michael Bay, sendo o único ator que já encarnou Superman em Hollywoodland (2006) e Batman, além do herói da Marvel Demolidor. Já namorou as mulheres mais cobiçadas do cinema e já flertou com o que o mundo da fama tem de mais tóxico. Enfim, Ben tem muita história para contar e foi num rápido encontro com nosso repórter imaginário que ele respondeu cinco perguntas nesta entrevista que nunca existiu:

§8^) Primeiramente quero dizer que fiquei muito triste quando deixou de ser o Batman nos filmes da DC Comics! Ainda considero o seu Homem-Morcego o melhor de todos. 

Ben Realmente agradeço o seu elogio. Estou tão acostumado à imprensa pegando no meu pé que fico realmente surpreso. Obrigado mesmo, de coração. Eu estava muito animado para viver o Batman! Afinal, ele é o melhor super-herói que temos! Ele não é uma alienígena, um mutante, um deus ou coisa parecida. Ele é um homem de carne e osso que luta por justiça. Foi este aspecto que tentei trabalhar nos filmes. Era isto que eu gostaria de fazer no meu projeto para ele, mas as coisas foram tomando rumos diferentes e percebi que não me encaixava mais ali. As pessoas não entendem mas, quando um ator mergulha em qualquer projeto ele investe muito de suas emoções ali e quando tudo muda de configuração pode ser um pouco frustrante. Eu me sentia inadequado naquela nova concepção do herói na telona, mas tenho certeza que a DC está buscando o melhor para os seus personagens e os fãs vão perceber isso. 

§8^) Você disse que a imprensa costuma pegar no seu pé, você faz ideia de qual o motivo disso?

Ben Não sei. Sei que já fiz muitos filmes ruins, mas já fiz muita coisa interessante. Alguns filmes são massacrados quando chegam ao cinema e passa alguns anos as pessoas elogiam e percebem que foram muito duras com eles. Sou um ator que busca um tipo de interpretação mais intimista, sei que às vezes me perco e as pessoas reclamam, mas não sou de exageros, de atuações expansivas, caricatas... gosto mais de personalidades mais internas, sutis e alguns costumam falar que sou mecânico, inexpressivo, frio, sem emoção... lamento dizer, mas aquele na tela não era eu, mas o personagem interpreto. 

§8^) Seu irmão Casey Affleck faz uma linha parecida e levou um Oscar de ator para a casa (por Manchester à Beira-Mar/2016) enquanto isso, o Oscar nunca indicou nenhuma interpretação sua...

Ben Exatamente. Já fui indicado ao BAFTA de melhor ator por Argo e ao Globo de Ouro por Hollywoodland, que inclusive me rendeu o prêmio de atuação no Festival de Veneza. Acho que a Academia não entende minhas interpretações, ou o meu trabalho em geral. Se você pensar, quando dirigi Argo ele foi todo indicado ao Oscar, mas eu fiquei fora do páreo de melhor direção. O filme levou o prêmio de Melhor Filme e o diretor não estava nem entre os cinco melhores do ano. O filme se fez sozinho? Em alguns aspectos, os prêmios não podem ser levados tão a sério. 

§8^) Sua vida amorosa e pessoal foi por muito tempo alvo de tablóides, este assédio da imprensa te irrita muito?

Ben Bastante. Já disseram todo tipo de coisa sobre eu e Matt Damon, sobre meu casamento com a Jen, mas a pior época foi quando eu estava com a J.Lo, naquele tempo as coisas ganharam uma proporção insuportável. Houve também aquela época que namorei a Gwyneth (Paltrow) logo depois que ela terminou com o Brad Pitt e ficavam dizendo que eu não era tão bonito quanto Brad... eu sempre fico rindo com este tipo de bobagem. Eles achavam que eu me olhava no espelho e me comparava com outros atores? KKKKKK. A última foi o alvoroço quando meu pênis aparecia rapidamente em Garota Exemplar/2014 e todos me perguntavam mais sobre isso do que qualquer outra coisa do filme. A coisa mais ridícula era me perguntar sobre ele como se fosse alguma novidade para mim. Uma vez eu cheguei a dizer: "sim, ele é meu e o conheço desde que nasci". 

§8^) Foi difícil ficar sem roupa diante da câmera?

Ben Eu sou sem roupa, né? Todos nós somos. Debaixo de tudo isso tem um corpo, um corpo de homem como outro qualquer. Sei que o fato de eu ser famoso gera especulações e fantasias... mas ainda fico impressionado quando em pleno século XXI descobrem numa sala de cinema o que um homem tem entre as pernas. Sinceramente, não tenho do que me envergonhar. Além disso era uma cena tão simples e natural. 

§8^) Quando comecei a trabalhar para o Diáriw Cinéfilo a Jennifer Garner foi minha primeira entrevistada... 

Ben Eu sei. Ela me disse coisas horríveis sobre você. 

§8^) Sério? Eu adorei falar com ela...

Ben Sim, a Jennifer é realmente adorável. Ainda a considero o grande amor da minha vida, se respiro hoje é graças à ela. Pode escreve isto aí. Ela achou muita petulância sua teoria de eu ter um fetiche por Jennifers. 

§8^) E você tem?

Ben Acho que não... ou a Jennifer Lawrence já te contou alguma coisa?

PL►Y: Operação Fronteira

Oscar e seus amigos: um Mercenários levado a sério. 

O americano J. C. Chandor chamou atenção da crítica faz tempo. Seu primeiro longa-metragem (o bom Margin Call/2011) lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro original e fez muita gente gravar seu nome. Desde então, estes já perceberam que J.C. não cria para si uma zona de conforto, prefere escolher projetos com temas e gêneros diferentes. Se a estreia abordava uma empresa na véspera da explosão da última grande crise da economia americana (aquela, da marolinha), seu filme seguinte colocava Robert Redford em um texto sem diálogos lutando pela sobrevivência dentro de uma barco (Até o Fim/2013). Depois ele merecia ter feito bonito no Oscar com o magnífico O Ano Mais Violento (2014) - que bebia diretamente no final dos anos 1970 para criar uma atmosfera muito envolvente. Depois da completa esnobada da Academia de Hollywood, Chandor volta acompanhado do premiado roteirista Mark Boal  (do oscarizado Guerra ao Terror/2009) numa produção original da Netflix. Há mais de Boal do que Chandor em Operação Fronteira. É o tipo de filme que costumo passar longe, mas com estes nomes e um elenco interessante não há desculpa para resistir. O filme parte de uma premissa bastante batida: um grupo de agentes especiais se reencontra para descobrir o paradeiro de um grande traficante da América Latina. A ideia parte de Santiago (o catalão Oscar Isaac), que procura o amigo aposentado em crise Tom (Ben Affleck), o parceiro Francisco (Pedro Pascal), além dos irmãos William (Charlie Hunnan) e Ben (Garrett Hedlund). O quinteto parte para uma jornada que inclui vários países latino americanos (o Brasil inclusive) e encontram várias surpresas pelo caminho. Na jornada eles colocarão as vidas em risco, viverão dilemas, matarão inocentes e terão vários confrontos com traficantes. O resultado não impressiona, mas tem momentos de grande tensão (especialidade de Chandor), mas os personagens não dão liga, provavelmente porque suas personalidades não são muito  trabalhadas na trama, com isso você nunca se envolve realmente com nenhum deles. Ben Affleck parece bastante aborrecido no filme (dizem que ele filmou durante as negociações que o colocaram para fora do novo filme do Batman), mas está convincente como o homem experiente que já está de saco cheio da vida. Os irmãos também não tem muito o que fazer além de um ser a frieza em pessoa e o outro ser desmiolado. Pascal é o que mais parece de carne e osso, mais por conta do ator do que pelo personagem. Oscar Isaac acaba assumindo o posto de protagonista, mas acho que você torce por ele mais pela química com a informante (a ótima Adria Arjona) do que por qualquer outra coisa. Curti a cena do helicóptero, a casa cheia de dinhe Operação Fronteira é um filme de ação que faria sucessoiro e outras duas cenas. Se fosse lançado nos cinemas agradaria aos fãs do gênero e talvez rendesse até continuação com seu estilo de Os Mercenários (2010) com alguma seriedade. No entanto, os fãs de aclamado diretor ficarão decepcionados.  

Operação Fronteira (Triple Frontier/EUA-2019) de J.C. Chandor com Oscar Isaac, Ben Affleck, Pedro Pascal, Charlie Hunnan, Garrett Hedlund e Adria Arjona. 

sábado, 23 de março de 2019

4EVER: Domingos de Oliveira

28 de setembro de 1936 ✰  23 de março de 2019

Antes de se apaixonar pelo teatro, Domingos cursou faculdade de engenharia e por pouco o Brasil não perde um cineasta, diretor de teatro, dramaturgo, ator, produtor e roteirista. Domingos José Soares de Oliveira se consagrou como um dos principais autores de nossa produção cultural. Com dezenove filmes no currículo, Domingos ficou mais conhecido após sua estreia como cineasta em Todas as Mulheres do Mundo (1966) que marcou época com a musa Leila Diniz. Vários de seus sucessos no teatro ganharam versão para o cinema aos seus cuidados, como Amores (1998), Feminices (2004), Confissões de Mulheres de 30 (2007) e Todo mundo Tem Problemas Sexuais (2008). Dono de um estilo espirituoso e bem-humorado, ele gostava de trabalhar o ator Paulo José como seu alter-ego constante nas telas. Nascido no Rio de Janeiro, o cineasta faleceu em decorrência de dificuldades respiratórias em sua cidade natal.  

segunda-feira, 18 de março de 2019

PL►Y: Além do Homem

Guizé: filme estranho com história esquisita. 

Com vinte anos de carreira como ator e dezessete como vocalista da banda Tio Tchê, o paulista Sérgio Guizé ficou mesmo conhecido nos últimos seis anos pelos seus trabalhos na televisão. Versátil ao personificar seus personagens, ele nem parece aquele sujeito tímido que de vez em quando aparece em entrevistas. Era de se esperar que com seu apelo perante o público ele aparecesse rapidamente no cinema, mas infelizmente este Além do Homem está aquém do talento do rapaz. Ainda que tenha belo tratamento visual e alguns momentos instigantes, o longa metragem de Willy Biondani é uma das coisas mais esquisitas que o cinema nacional recente já realizou. Ao investir em diversas atmosferas, o filme não se decide qual estilo quer seguir, resultando numa colagem sem sentido. Parece uma mistura do americano David Lynch com o pernambucano Cláudio Assis diluídos com pitadas de pornochanchada. Talvez o maior problema seja o roteiro capenga que mistura um monte de clichês com frases feitas com vulgaridades enquanto ambiciona ser uma obra elevada com as viagens visuais que proporciona. O protagonista é Alberto Luppo (Guizé), um escritor brasileiro que vive em Paris há tempos e não tem a mínima vontade de voltar à sua terra natal. Sem conseguir empolgar com a ideia de seu novo livro, ele acaba sendo mandado pelo editor para as terras brasileiras atrás do antrópologo Marcel Lefavre que foi supostamente devorado por canibais no interior do país. Alberto tem a missão de descobrir o que aconteceu com Lefavre e transformar a história em livro. Sendo guiado por um estranho taxista (Fabrício Boliveira), o viajante se depara com um Brasil bastante peculiar. Não sei se é de propósito ou se o diretor errou a mão mesmo, mas o Brasil do filme é pouco realista e alegórico demais - o problema é que as alegorias não levam a lugar algum, sendo pouco interessante ou original. Os personagens que poderiam ser excêntricos são uma tediosa coletânea de personagens que já vimos dezenas de vezes em um monte de filmes e novelas. A busca por Lefavre se torna apenas um pretexto para que o filme crie imagens que servem mais para fetichizar a imagem de seu ator do que  aprofundar um personagem. Existe realmente um trato curioso com o corpo de Guizé (que aparece em cenas tórridas, enrolado em toalha, tomando banho de rio, pintado de vermelho, em nu frontal e outras cenas que nunca deixam claras se são reais ou imaginárias. O ator se esforça, mas não tem muito o que fazer em uma obra que se confunde na própria pretensão. 

Além do Homem (Brasil/2018) de Willy Biondani com Sérgio Guizé, Débora Nascimento, Fabrício Boliveira, Flávia Garrafa e Otávio Augusto. 

terça-feira, 12 de março de 2019

PL►Y: Como Falar com Garotas em Festas

Alex e Elle: amor alienígena e punk rock. 

O cineasta e ator americano John Cameron Mitchell ganhou o mundo quando viu seu filme de estreia, o excelente Hedwig (2001) ser premiado em Berlim com a história de uma roqueira trans e suas músicas marcadas por uma história cheia de percalços. Pelo trabalho, Mitchell foi indicado ao Globo de Ouro de melhor ator em comédia/musical (e merecia ter levado). Depois, ele quis provar que não estava interessado em prêmios, mas contar as histórias como bem entendesse, nem que para isso chocasse a maioria do público com as cenas bastante explícitas de Shortbus (2005). O rapaz levou um susto quando pouco depois recebeu o convite de Nicole Kidman para dirigir um filme profundamente dramático como Reencontrando a Felicidade (2010), que valeu uma indicação ao Oscar para a atriz. Desde então, Mitchell deve ter recebido vários convites para filmes "sérios", mas preferiu atuar nas séries Girls e Vinyl, optando por lançar seu novo longa somente em 2017: uma adaptação sobre um conto maluco de Neil Gaiman. A história já foi até adaptada para os quadrinhos pelas mãos de Fábio Bá e Gabriel Moon, mas aqui ela recebe uma cara ainda mais psicodélica pelas mãos de Mitchell. Como Falar com Garotas em Festas causou rebuliço no Festival de Cannes e chamou atenção da mídia por conta da participação de Nicole Kidman e a darling Elle Fanning (que me parece cada vez mais repetitiva). A trama é ambientada no auge do punk rock na Inglaterra e conta a história de três jovens tímidos que frequentam inferninhos punk, leem fanzines e testam suas chances com as meninas - que não ligam muito para eles. Eis que eles acabam indo parar numa casa cheia de jovens esquisitos, com roupas coloridas, danças bizarras, diálogos surreais e não fazem ideias que todos ali são alienígenas. Eis que um dos garotos, Enn (Alex Sharp) cai de amores por Zan (Elle Fanning) e resolvem viver seu romance regado a punk e desafiar a ordem estabelecida desta comunidade extraterrestre. Sim, é uma história com muitas metáforas sobre ser adolescente, se sentir um ET, não ser compreendido por outras pessoas, ser engolido pelos adultos, poder transformar a realidade e... um monte de outras coisas, mas John Cameron Mitchell não está muito interessado em aprofundar nada disso. O diretor gosta mesmo é do delírio, criando uma essência completamente doida para o filme que não faz questão alguma de fazer sentido. Nesta brincadeira tem algumas cenas legais (a melhor delas foi o show de Alex e Elle cantando que me fez pensar que o filme poderia ter se tornado um musical interessantíssimo, mas acho que Cameron achou que estaria se repetindo), há figurinos interessantes e um sabor de pastel de vento a maior parte do tempo. Existe até uma tentativa de brincar com signos de invasões alienígenas (incluindo as piadinhas sexuais), mas alguns atores parecem não ter entendido e se levaram muito a sério. Quem se sai bem nesta galhofa é Ruth Wilson (por que não seguiram o tom dela?) e Nicole num papel pequeno, mas que parece tê-la divertido bastante. No fim das contas, em sua tentativa de ser descolado, Cameron Mitchell retorna cheio de ideias, mas não sabe muito o que fazer com elas. 

Como Falar com Garotas em Festas (How to talk to Girls at Parties / Reino Unido - EUA / 2017) de John Cameron Mitchell, com Alex Sharp, Elle Fanning, Abraham Lewis, Ethan Lawrence, Nicole Kidman, Ruth Wilson, Matt Lucas e Tom Brooke. 

PL►Y: Yonlu

Thalles Cabral: conto de uma breve vida. 

Era uma vez um adolescente de Porto Alegre que gostava de ficar no quarto a maior parte do tempo escrevendo, compondo músicas e fazendo desenhos. Fã da banda inglesa Radiohead, sua sonoridade era visivelmente inspirada na banda, da mesma forma que seus desenhos eram marcados pela influência dos traços de clipes e álbuns da banda. De grande sensibilidade, o rapaz tinha material suficiente para lançar um álbum que chegou às lojas em 2007 e alcançou o mercado internacional conquistando ótimas resenhas. Sob o nome de Yonlu, o jovem Vinícius Gageiro Marques ficou conhecido e teria uma carreira promissora se não houvesse terminado com a própria vida aos dezesseis anos em 26 de julho de 2006. Uma história bastante sombria e que se tornou ainda mais assustadora pela participação do garoto em salas de bate-papo sobre suicídio na internet. Diante de um material tão sinistro, o filme de Hique Montanari poderia se tornar insuportável se não optasse por uma narrativa que foge do realismo, abraçando as músicas, textos e desenhos do menino para contar a história. O filme acerta ao recriar o quarto do menino como cenário, apresentando aquele como seu universo criativo ao mesmo tempo que um local de isolamento. Sem muito traquejo social, Yonlu parece não ter amigos na escola e mesmo o diálogo com seus pais se mostram distantes e artificiais. A internet se tornou sua maior fonte de contato com outras pessoas, pena que o guri não tinha filtro para as novas companhias. São nas conversas online que o filme tem seus traços mais bizarros, com pessoas que surgem sem nome, escondidas por trás de desenhos obscuros e que motivam o rapaz a mergulhar cada vez mais em sua depressão.  Em contraponto a isto, o filme perpassa a narrativa com uma encenação de entrevista com falas psiquiátricas baseadas no profissional que acompanhou o rapaz desde criança - mas estas partes ficam meio desengonçadas perante o universo imaginário que se vê na tela. Percebe-se que o diretor as utiliza para gerar um "equilíbrio" com os discursos pró-suicídio que alguns personagens apresentam, mas diante das opções narrativas apresentadas até ali, não me pareceu uma opção muito bem sucedida. Fora isso, o filme se torna hipnótico justamente pelo jeito diferente com que conta as angústias do menino, utilizando sua arte para retratar sua intensidade e angústias (e as temáticas se repetem incansavelmente na metade para o final). O ator e cantor Thalles Cabral, responsável por encarnar o protagonista tem uma atuação quase teatral, o que deixa o filme com um sabor ainda mais descolado da realidade.  É fácil perceber que Yonlu se torna um filme brasileiro bastante inventivo e criativamente incomum, ao mesmo tempo que fomenta uma discussão considerada tabu e que sempre gera polêmicas. Um filme poético, mas feito para incomodar.  

Yonlu (Brasil/2017) de Hique Montanari com Thalles Cabral, Leonardo Machado, Liane Venturella e Nelson Diniz. 

sábado, 9 de março de 2019

Na Tela: Capitã Marvel

Brie: perdida na personagem.

Segundo um amigo especialista em quadrinhos, a Capitã Marvel é uma das personagens mais mexida nas histórias da Marvel. Já aconteceram tantas coisas em suas tramas que imagino a dificuldade que os roteiristas tiveram para criar o filme. Acrescente a isso o fato de que faz tempo que tentavam levar a heroína, aclamada como a mais poderosa da editora, para as telonas, mas nunca enxergaram o momento certo de apresentá-la aos cinemas. Ao que parece o sucesso de Mulher-Maravilha/2017 (o primeiro filme  solo de uma super-heroína a receber uma versão para o cinema) ajudou a dar um empurrãozinho quando a Capitã tinha outro problema para resolver: como introduzir a personagem em um universo já consolidado após mais de dez anos de Marvel nas telonas? Some a isso a etapa radical que o universo dos heróis chegou após o final de Guerra Infinita (2018) e você terá ideia do desafio que os roteiristas tiveram em mãos. Talvez por conta de tantas variáveis, Capitã Marvel é um filme que demora para decolar. Sua necessidade de se encaixar no MCU é visível, ao mesmo tempo, o fato de se dar ao luxo de ser um filme de origem é uma grande ousadia. O filme conta a história da desmemoriada Vers (Brie Larson), membro da m Força de Elite da Raça alienígena Kree, que há algum tempo está em Guerra com a raça Skrull - formada por seres metamorfos que pretendem invadir planetas. Capturada do meio de um embate, Vers percebe que reencontrar o seu passado pode ajudar a acabar com a guerra entre as duas espécies. Ela desaba na Terra e descobre suas origens humanas - o que interfere diretamente nos seus super-poderes. Seguir a cartilha para apresentação da personagem sem grandes surpresas não é o maior problema do filme, embora em seu desfecho o filme ganhe energia, na maior parte do tempo, o filme é bastante frio. Colabora muito para isso o desconforto de Brie Larson (oscarizada por O Quarto de Jack/2015) na personagem, este fato pode até ser proposital para compor a heroína que está sempre em dúvida sobre quem ela é de verdade, mas a abordagem não empolga. Neste aspecto, chegamos à outra fraqueza do filme: a direção. Não entendi o motivo do estúdio convidar a dupla Anna Boden & Ryan Fleck para dar forma ao filme, seja no drama Half Nelson (2006) ou na comédia Se Enlouquecer, não se Apaixone (2010), não consigo enxergar um traço que possa indicar que os dois teriam habilidades para contar uma história de herói. Da mesma forma, os dois não demonstram estilo para compor um filme de encher os olhos, mesmo a ambientação nos anos 1990 não chega a empolgar.  Este deslize na escolha dos diretores aparece também na atuação de Samuel L. Jackson como Nick Fury, embora ele esteja divertido em cena na pele de um agente mais jovem, este Fury não tem relação nenhuma com o que estamos acostumados a ver. O resultado é um filme que cozinha nossa ansiedade crescente por Vingadores: Ultimato (2019) e após a primeira cena pós-crédito (e o filme tem duas) eu me perguntei se valia a pena terem feito um filme solo da personagem ambientado no passado, considero que seria mais interessante abordá-la dentro do contexto já estabelecido após Thanos e seus estragos. Ao voltar ao passado, a aventura solo da Capitã Marvel serve só para passar o tempo. 

Capitã Marvel (Captain Marvel/EUA-2019) de Anna Boden e Ryan Fleck com Brie Larson, Samuel L. Jackson, Jude Law, Ben Mendelsohn, Clark Gregg, Annette Bening, Djimon Hounsou e Lee Pace. 

quinta-feira, 7 de março de 2019

Na Tela: Querido Menino

Pai, filho e a família: drama pela metade.

Após sofrer com o vício do filho em metanfetamina o jornalista David Sheff resolveu exorcizar suas desventuras em um livro. Quando chegou às livrarias, Querido Menino chamou atenção pela sinceridade com que o pai descrevia a tristeza perante a impotência de ver o filho mergulhar no mundo das drogas. Ao mesmo tempo, sua preocupação com o primogênito rendia a negligência de sua atual esposa e filhos menores enquanto vagava pelas ruas atrás do filho que entrava e saia de reabilitações rotineiramente. Escolher adaptar um material destes para o cinema é um grande desafio, uma vez que o foco não está sobre o usuário, mas na família que está ao redor dele. Este foi o desafio aceito pelo diretor belga Felix Van Groenigen, que escalou Steve Carrell para viver David e o badalado Thimothée Chalamet para encarnar Nic. A maior parte do público irá estranhar a não menção das motivações de Nic para se render ao vício. É proposital que o filme não apresente aquele momento fatídico em que o personagem é apresentado às drogas, ou que ele tenta justificar sua atração pela metanfetamina, no lugar disso, o espectador verá o rapaz oferecendo um baseado para o pai, uma conversa em que o patriarca confessa ter experimentado drogas na adolescência ou aquela cena em que David usa ópio mara se aproximar das sensações vivenciadas pelo filho. Outros vão procurar pistas nos tempestuosos diálogos do David com a ex-esposa (Amy Ryan) ou se indagar sobre algum amigo que poderia ter influenciado o comportamento do menino. Ao negar respostas fáceis, Querido Menino incomoda pelas lacunas que opta em deixar pelo caminho, afinal, o roteiro não se baseia somente no livro do pai, mas também no livro do filho (Cristal na Veia), que foi lançado quase simultaneamente ao livro de David. O que poderia tornar a narrativa mais rica se torna decepcionante, afinal, muito do livro de Nic ficou de fora, já que o rapaz detalha mais um pouco a jornada naquele mundo sombrio. Em ambos o relato não possui nada de glamouroso ou apológico, o que vemos é o sofrimento de um rapaz que perdeu o controle de uma vida promissora e levando junto quem está ao seu redor. Existem momentos realmente dolorosos no filme, especialmente quando David se rende à impotência e percebe que não existe mais o que fazer ou quando o fim de Nic parece próximo no chão de um banheiro, no entanto, o olhar unilateral história deixa a narrativa um tanto morna, como se faltasse um pedaço da história, ou melhor, do próprio Nic. Em Cristal na Veia, Nic relata como problemas relacionados à autoestima, à ausência de objetivos e preocupações demasiadas com beleza, fama e vida fácil o tornaram mais vulnerável às drogas, em Querido Menino o que Nic aponta a todo instante é o peso da expectativa do pai sobre ele. Embora o final de Querido Menino seja esperançoso, a jornada de Nic é bem mais complicada, incluindo fome, prostituição e recaídas constantes. Em termos de narrativa, infelizmente Groeningen não lembra em nada a abrasividade do excelente Alabama Monroe (2012), oferecendo uma narrativa bastante convencional, a sorte é que ele tem um ótimo elenco em mãos. Chalamet está bastante convincente e mereceu ter sido indicado ao Globo de Ouro de coadjuvante pelas oscilações do personagem. Carrell também tem bons momentos (desde que não grite, ainda considero seu tom agudo ainda é um problema quando interpreta dramas), assim como Maura Tierney na pele da discreta madrasta. Se houvesse um equilíbrio na hora de conjugar as duas obras em que se baseia, Querido Menino teria se tornado um filme poderoso sobre a devastação das drogas, do jeito que está, alcança somente metade das suas intenções. 

Querido Menino (Beautiful Boy/EUA-2018) de Felix Van Groeningen com Steve Carrell, Thimothée Chalamet, Maura Tierney, Amy Ryan e Timothy Hutton. 

PL►Y: Boy Erased

Nicole, Lucas e Russell: cura gay. 

O australiano Joel Edgerton estreou na direção com o eficiente O Presente/2015 e com a boa recepção resolveu alçar voos mais altos. Em seu projeto seguinte, adaptar a obra de Garrard Conley sobre um adolescente submetido ao controverso tratamento de "cura gay", Edgerton chamou atenção da mídia e de um elenco de respeito que embasou o filme para estrear em meio à temporada de ouro do cinema americano. A bilheteria minúscula (menos de sete milhões nos cinemas americanos) lhe custou passar em branco nas premiações e uma polêmica com o não lançamento do filme nas salas brasileiras (lamento informar queridos, mas todo ano centenas de filmes são lançados diretamente no mercado de home video por serem considerados pouco rentáveis nos cinemas). Embora no alto dos créditos estejam os oscarizados Russell Crowe e Nicole Kidman, o grande peso da narrativa recai sobre os ombros de Lucas Hedges (indicado ao Oscar de coadjuvante por Manchester à Beira Mar/2016). Hedges interpreta Jared Eamons, jovem de dezoito anos, filho de um pastor (Crowe) e de uma mãe recatada e do lar (Kidman). Jared tem uma namorada da mesma idade, mas diante das investidas da moça ele percebe que existe algo de diferente em seus gostos. Ele acaba indo parar num centro de tratamento para homossexuais, onde deve aprender a se comportar como um rapaz heterossexual e parar de pecar diante de seus pensamentos sobre outros rapazes. Ao tocar em um assunto tão polêmico, o cineasta Joel Edgerton realiza um ótimo trabalho, optando pela discrição mesmo nos momentos mais espinhosos da história. Sua abordagem do tal tratamento é bastante sóbria (e o próprio diretor interpreta o mentor do tal tratamento) e deixa o espectador tirar suas próprias conclusões. A opção pela narrativa introspectiva (o que pode ser conferido até na fotografia um tanto desbotada e na trilha sonora) deixa o filme ainda mais incomodo, sobretudo quando deixa o foco recair sobre as relações familiares de Jared com a revelação de sua homossexualidade. Nicole, Crowe e Edgerton estão convincentes em seus personagens, mas o destaque vai mesmo para Hedges, que desenvolve o protagonista entre a negação, a rejeição e a aceitação do que se é. O grande problema do filme fica por conta da edição, cujas idas e vindas não acrescentam muito ao desenvolvimento da trama, pelo contrário, a deixa bastante confusa, sem que o espectador se dê conta da ordem de alguns fatos na trajetória do protagonista. Boy Erased é um belo passo do diretor Joel Edgerton rumo à maturidade como diretor, sem sensacionalismo, histeria ou melodramas, mostra-se um filme seguro da história que tem para contar em tempos de intolerância, além disso, o Edgerton conseguiu arrancar um trabalho memorável até do Red Hot Chilli Pepper Flea. O cara é bom mesmo! 

Boy Erased (EUA/2018) de Joel Edgerton com Lucas Hedges, Nicole Kidman, Russell Crowe, Joel Edgerton, Xavier Dolan, Britton Sear e Flea. ☻☻☻

terça-feira, 5 de março de 2019

MOMENTO ROB GORDON: As Fantasias Segundo Robert Downey Jr.

Robert Downey Jr. é hoje um dos atores mais populares do mundo, mas nem sempre foi assim. Antes dele se tornar astro dos filmes da Marvel, o astro vivenciou momentos bastante complicados em sua vida pessoal, momentos que quase destruíram sua carreira para sempre. Versátil e bem-humorado ele tem vários filmes interessantes na carreira e em alguns deles viveu caracterizações que chamaram atenção. Cinco delas estão nesta lista:

Guy Ritchie deu uma repaginada no clássico detetive e ainda aguardamos o terceiro episódio. 

#4 Charlie Chaplin (Chaplin/1992)
A fantasia rendeu ao ator sua primeira e única indicação ao Oscar de melhor ator. 

#3 O Peludão (A Pele/2006)
Nesta biografia fantasiosa sobre a fotógrafa Diane Arbus, Downey seduz Nicole Kidman coberto de pelos.

#2 Blackface (Trovão Tropical/2008)
O ator expõe o ridículo de um ator branco se passar por negro (e foi indicado ao Oscar de coadjuvante).  

O super-herói da Marvel salvou o mundo e a carreira do ator. 

segunda-feira, 4 de março de 2019

4EVER: Luke Perry

11 de outubro de 1966 ✰  04 de março de 2019

Coy Luther Perry III nasceu na cidade de Mansfield em Ohio e começou sua carreira em programas de televisão aos dezesseis anos em 1982. Em 1990 ficou famoso com uma das séries mais populares da TV americana, Beverly Hills 90210, batizado no Brasil como Barrados no Baile. O programa sobre jovens ricos da famosa cidade americana se tornou um fenômeno mundial e na pele do conquistador Dylan McKay, Perry se tornou conhecido mundialmente nos dez anos que a série ficou no ar. O sucesso na telinha lhe garantiu vários convites para filmes, entre eles, Buffy - A Caça Vampiros (1992), 8 Segundos (1994) e O Quinto Elemento (1997). No entanto, com o fim do famoso seriado, foi na televisão que Perry encontrou mais trabalhos. Ele teve papel fixo na série Oz, além de participações em vários programas como Lei & Ordem, Mentes Perigosas, Community e sendo recentemente visto como o pai de Archie na série Riverdale. Luke Perry faleceu em consequência de um AVC ocorrido ao final de fevereiro. 

domingo, 3 de março de 2019

NªTV: Umbrella Academy

Os irmãos: como deter o Apocalipse?

Com o cancelamento das séries da Marvel e os heróis da DC já com dias contados por conta do serviço de streaming da editora, a Netflix passará a investir em adaptações de quadrinhos de selos menos conhecidos. Assim, a primeira investida é The Umbrella Academy, criado pelo vocalista do My Chemical Romance, Gerard Way e pelo brasileiro Gabriel Bá, do selo Dark Horse.  O resultado se tornou um fenômeno de audiência e já existe as especulações para uma segunda temporada. A série conta a história de sete crianças que nasceram de forma misteriosa, já que as mães não estavam grávidas minutos antes de darem a luz. O fenômeno aconteceu ao redor do mundo com dezenas de mulheres, mas a trama se concentra nas sete que foram adotadas por um milionário excêntrico chamado Reginald Hargreeves (Colm Feore). Com o tempo, ele descobriu que as crianças tinham poderes especiais e as treinou treinadas para formarem um grupo de super-heróis. Hargreeves não era muito atencioso, ao ponto de batizar seus filhos apenas com números, deixando os nomes por conta de uma babá robótica gentilmente chamada de Mãe (Jordan Claire Robbins) que ajudou a criar o fortão Luther (Tom Hopper), também chamado de Spaceboy pelo tempo que viveu na Lua, a influenciadora Allison (Emmy Raver-Lampman) que se tornou atriz, o que fala com os mortos Klaus (Robert Sheehan), o falecido Ben (Justin H. Min) que possuía tentáculos em seu abdome, o bom de mira Diego (David Castañeda) e Número Cinco (Aidan Gallagher que considero o grande destaque da temporada) - que por viajar no tempo e no espaço acabou desaparecido. Não posso esquecer de Vanya (Ellen Page), a número sete, que cresceu deprimida por não ter poderes e se dedica a tocar violino. Faz tempo que os irmãos não se encontram e eles se juntam novamente quando o patriarca morre. O que poderia ser um reencontro de luto se torna uma espécie de terapia familiar, onde as diferenças e ressentimentos de todos vem à tona. Ao longo dos dez episódios os personagens irão especular sobre a morte do pai, vão lavar roupa suja, colocar pingos nos is, brigar com alguns vilões viajantes no tempo (estes vividos pela dupla de respeito Mary J. Blige e Cameron Britton) e tentar impedir o apocalipse iminente. Em termos de história, a série mistura várias referência, de Watchmen à X-Men, passando pelo mais recente Casa das Crianças Peculiares, todos estes ingredientes funcionam pela energia com que o criador Jeremy Slater os costura com bom humor, violência absurda, elementos de ficção científica, um tanto de sinistrice e ótima direção de arte. O trabalho do elenco também ajuda bastante perante os segredos que se revelam aos poucos e que colocará em risco não apenas os personagens, mas, especialmente os laços que os une (os separa, sei lá). Esperto em sua narrativa um tanto nonsense, Umbrella Academy cria para si o desafio de agradar espectadores de várias idades e garantir à Netflix um programa capaz de absorver o público órfão das séries que deixaram sua grade. Embora tenha alguns deslizes (fiquei um tanto saturado com o uso cômico de músicas em cenas de ação ou as longas dancinhas que os irmãos apresentam de vez em quando), a série tem personalidade para várias temporadas.  

Umbrella Academy (EUA-2019) de Jeremy Slater com Tom Hopper, Ellen Page, Aidan Gallagher, Mary J. Blige, Cameron Britton, Emmy Raver-Lampman, Robert Sheehan, David Castañeda, John Magaro e Colm Feore. ☻☻☻