Cinco filmes assistidos em novembro que merecem destaque:
segunda-feira, 30 de novembro de 2020
NªTV: The Undoing
domingo, 29 de novembro de 2020
PL►Y: Magnatas do Crime
Deve ser muito estranho ser Guy Ritchie, o cara fez dois filmes muito bons (Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes/1998 e o clássico Snatch/2000), depois ficou famoso como o marido de Madonna e depois virou ex da rainha pop. Nesta confusão amorosa, seus filmes começaram a ficar menos interessantes. Em crise, Guy aceitou fazer filmes por encomenda para Hollywood e alguma coisa se perdeu nisso tudo. É verdade que quando volta a fazer filmes do jeito que gosta sua marca está lá: apelidos esquisitos, edição cheia de truques, humor cortante e personagens que transitam no mundo do crime sem muita cerimonia. Vendo por este lado, Magnatas do Crime é mais do mesmo ao trazer todos os elementos que já são marcas do diretor, resta ver como o elenco se vira neste universo particular. A trama conta a história de Michael (Matthew McConaughey), um traficante que expande seu império de maconha por Londres. Tentando lidar com as regras locais, ele começa a ter problemas com a concorrência, enquanto seu homem de confiança, Ray (Charlie Hunnam), começa a meter os pés pelas mãos em algumas ações. Para dar um ar diferenciado, o filme é narrado por Fletcher (Hugh Grant), um roteirista pedante que observa as ações de Michael há tempos. Esta ideia de uma narrativa paralela poderia tornar a trama mais divertida, mas acaba a tornando um tanto engasgada, já que conforme ações são contadas, elas são interrompidas pelos diálogos entre o roteirista num misto do que é real ou ficção, com direito a alguns flertes meio desajeitados entre o roteirista e Ray. O filme avança nestes tropeços, mantendo momento engraçados, tensos, absurdos e outros que não funcionam, mas que você acompanha querendo saber onde aquilo vai parar. É Guy Ritchie sendo Guy Ritchie, mas sem o frescor e a energia de antes, amparado por um elenco que se não surpreende, pelo menos garante que a coisa aconteça. Embora seja ambientado na Inglaterra, o nome no alto dos créditos é do texano Matthew McConaghey, que faz tempo que deixa a sensação de estar interpretando o mesmo personagem, assim, deixa o lado mais interessante da história para Charlie Hunnam. Quem surpreende mesmo é a Michelle Dockery que ficou famosa como a aristocrata da série Downton Abbey e aqui interpreta a esposa do traficante com bastante vigor. Ela está mais do que convincente como a dona de uma oficina mecânica que só emprega mulheres e não tem medo da cara feia dos bandidos que estão em torno do maridão - e que acabam mudando sua regrada rotina. Não é por acaso que Michael possui verdadeira devoção por ela, afinal não é todo dia que vemos uma mulher dessas nos filmes do cineasta, tornando a relação deste casal a grande novidade na obra do cineasta. Magnatas do Crime se embola e enrola na própria história, complica coisas que poderiam ser bem mais simples, mas pode divertir aqueles que sentem falta do início da carreira do diretor.
Magnatas do Crime (The Gentlemen - Reino Unido / EUA - 2020) de Guy Ritchie com Matthew McConaughey, Charlie Hunnam, Hugh Grant, Michelle Dockery, Colin Farrell, Henry Golding e Eddie Marsan. ☻☻
PL►Y: Os Mortos não Morrem
Bill, Chloë e Adam: brincadeira sem graça. |
Você consegue imaginar um diretor que consegue reunir atores como Tilda Swinton, Bill Murray, Chloë Sevigny, Danny Glover, Steve Buscemi e Adam Driver num filme de zumbi? Você vai dizer que Bill Murray já tem Zumbilândia (2009) no histórico. Ok. Mas você consegue imaginar um diretor que reúne esta turma e ainda colocar o filme para concorrer à Palma de Ouro no Festival de Cannes? Como pode perceber não é uma tarefa para qualquer um, mas o americano Jim Jarmusch fez isso no ano passado. Jim já dirigiu verdadeiros clássicos do cinema independente americano e possui fãs fervorosos, mas até a maioria deles torceu o nariz para este Os Mortos Não Morrem. Dono de um estilo próprio de cadência bastante particular (como pode ser visto no seu anterior, Paterson/2016 também estrelado por Adam Driver), Jim já se aventurou pelo universo do terror com o vampiresco Amantes Eternos/2013 , mas aqui ele não conta com um roteiro tão estimulante e tão pouco consegue extrair humor da história. A trama é bastante simples ao apresentar uma cidade tranquila que começa a ser assombrada por zumbis. Além dos cidadãos comuns terem que fugir não serem devorados, a cidade conta com três policiais para protegê-los, mas que não sabem muito bem o que fazer. O roteiro cria uma justificativa insana para o que está acontecendo, apresenta personagens que poderiam ser interessantes se fossem melhor trabalhados, brinca um pouco com metalinguagem e bebe na fonte dos mortos-vivos clássicos que não primam pela agilidade. Fica evidente que Jarmusch quis fazer uma paródia dos filmes de zumbi à moda antiga, mas tropeçou quando no tom cômico. Com atuações desanimadas, cenas que parecem encenadas em câmera lenta e um roteiro que não consegue avançar prejudicam bastante a narrativa. Pode parecer que é Jarmsuch inserindo seu estilo num gênero diferente do que costuma trabalhar, mas parece a troça de um filme que não lhe interessa nem um pouco. Talvez Os Mortos não Morrem seja uma brincadeira sobre como o diretor considerar filmes de zumbis previsíveis e sem graça, ele só esqueceu de que o desafio para os cineastas é justamente pegar algo que já feito e fazê-lo envolvente mais uma vez. Em Os Mortos não Morrem os zumbis buscam fazer o que gostavam de fazer em vida, mas quem está em vida por aqui também parece meio morto.Talvez esta seja a grande piada do filme.
Os Mortos não Morrem (The Dead don't Die / EUA -2019) de Jim Jarmusch com Bill Murray, Adam Driver, Chloë Sevigny, Danny Glover, Steve Buscemi, Tilda Swinton, Selena Gomez e Caleb Landry Jones. ☻
sexta-feira, 27 de novembro de 2020
PL►Y: Wendy
quinta-feira, 26 de novembro de 2020
PL►Y: Dia de Trabalho Mortal
Dia de Trabalho Mortal (The Belko Experiment / EUA - 2016) de Greg McLean, com John Gallagher Jr., Adria Arjona, Tony Goldwyn, Michael Rooker, John C. McGinley, Brent Sexton, Rusty Schwimmer, David Dastmalchian, Brent Sexton e Sean Gunn. ☻☻☻
PL►Y: Quando a Vida Acontece
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
PL►Y: Era Uma Vez um Sonho
Glenn, Amy e Owen: desperdício. |
terça-feira, 24 de novembro de 2020
Pódio: Michael B. Jordan
Bronze: o jovem lutador |
Prata: o rapaz assassinado. |
Ouro: o primo aguerrido. |
domingo, 22 de novembro de 2020
#FDS Consciência Negra: Fruitvale Station
Nascido na Califórnia em 1986 o diretor Ryan Coogler já tem seu lugar na história por colocar seu terceiro filme, Pantera Negra (2018) como o primeiro longa de super-herói indicado ao Oscar de Melhor Filme do ano. Se o grande prêmio não saiu para ele, pelo menos conseguiu converter em estatuetas três (figurino, design de produção e trilha sonora) das sete categorias a que concorria. Em tempos em que a representatividade é um aspecto cada vez mais observado, a produção da Marvel chamou atenção por trazer o discurso certo na hora certa. Em seus filmes anteriores o diretor também manteve o olhar atento para a questão racial, se anteriormente fez sucesso ao mudar o verniz do antológico Rocky Balboa de Sylvester Stallone alterando o foco para o filho perdido de seu amigo Apollo no bem-sucedido Creed (2015), que rendeu até uma sequência (assim como Pantera Negra terá assim que a Marvel decidir o que fará com seu herói após o precoce falecimento de Chadwick Boseman), em sua estreia o tom é bem mais pessimista. É interessante perceber que, embora seja curta e com gêneros diferentes, a cinematografia de Coogler possui uma certa costura sobre o que é ser negro e o seu lugar no mundo. Iniciar sua carreira com um filme baseado em fatos reais como Fruitvale Station lhe confere um peso danado, afinal, muito antes do casos recentes que vemos nos telejornais, Coogler já chamava atenção para os atos de violência que ganham outro viés quando o observamos sob a lente do racismo. Aqui ele conta com uma atuação marcante de Michael B. Jordan (o ator assinatura de Coogler) para contar a história de Oscar Grant III, se o nome parece ter algo de shakesperiano, a história dele é bem mais realista. No último dia de 2008 o rapaz de 22 anos foi celebrar o início do ano novo com a namorada e alguns amigos e acabou assassinado pela ação de policiais numa estação de trem. Coogler conta esta história com uma introdução que não se sabe se é real ou encenada com atores, mas que cria o nó na garganta que perpassa toda sessão enquanto acompanhamos o último dia de Oscar. Dos tropeços no relacionamento com a mãe de sua filha, dos afagos com a menina, passando pelos desentendimentos com a mãe (e os momentos de carinho também), a câmera de Coogler segue uma linha documental para construir um mundo de verdade, com pessoas de carne e osso, com qualidades, defeitos e dificuldades, mas que ganha contornos de suspense perante a tragédia que já sabemos que acontecerá. Enquanto o trem segue seu caminho pela noite, Coogler nos instiga pelo que está prestes a acontecer e a tensão crescente se constrói sem exageros numa tragédia do cotidiano que se repete. Além do bom trabalho de seu ator, ele está muito bem acompanhado em cena, especialmente por Octavia Spencer que interpreta sua mãe e Melonie Diaz, que interpreta sua namorada. Fruitvale Station é um daqueles filmes que cria indignação quando termina e faz pensar se houve mudanças deste a morte de Oscar quando ligamos a televisão todos os dias.
Fruitvale Station - A Última Parada (Fruitvale Station / EUA - 2013) de Ryan Coogler com Michael B. Jordan, Octavia Spencer, Melonie Diaz, Kevin Durand, Ahna O'Reilly e Ariana Neal. ☻☻☻☻
sábado, 21 de novembro de 2020
#FDS Consciência Negra: Harriet
sexta-feira, 20 de novembro de 2020
#FDS Consciência Negra: O Destacamento Blood
Parece que no próximo ano veremos finalmente Delroy Lindo entre os indicados ao Oscar. Sua performance neste Destacamento Blood de Spike Lee é uma das mais comentadas do ano e me arrisco a dizer que é o seu trabalho que dá liga ao fluxo criativo que o que o diretor emprega aqui. Lee nunca foi muito de seguir padrões na condução de sua narrativa, mas aqui ele capricha em suas invencionices. A narrativa vai e volta, usa clássicos da música negra americana misturada com tons melodramáticos na trilha sonora, coloca um personagem em vários monólogos diante da câmera, cria cenas vertiginosas de ação, insere dilemas morais, imagens de arquivos, recortes de vídeos antigos e o resultado seria bem diferente sem a liberdade criativa que a Netflix permite às suas produções. O filme conta a história de quatro amigos que resolvem voltar ao Vietnã para regatar uma fortuna em barras de ouro que deixaram enterrada por lá. No entanto, voltar ao que antes era um campo de batalha irá trazer de volta alguns fantasmas que ainda estão bastante presentes. O maior deles é Stormin' Norman (Chadwick Boseman), um amigo que morreu em combate e que ainda está muito presente na mente dos quatro amigos, especialmente na memória de Paul (Delroy Lindo) que seguiu a vida entre trancos e barrancos. Norman teve grande importância para seus amigos, já que ajudou a fazê-los pensar em questões que nunca haviam se arriscado a explorar sobre a condição dos negros na sociedade em que viviam na Terra do Tio Sam. De certa forma, Norman é a voz de Spike Lee lembrando a pouca lembrança que a cultura formada em torno da Guerra do Vietnã possui dos negros que foram para a batalha. Em determinado momento o próprio filme destaca que eles correspondiam a mais de 30% dos soldados americanos enviados para a batalha. Naquele tempo a luta pelos direitos civis fervia nos Estados Unidos e a cruzada de Martin Luther King estava prestes a sofrer o seu mais doloroso golpe. Este esquecimento racial aparece também na história de Otis (Clarke Peters), que reencontra um amor deixado no Vietnã e se depara com uma pessoa muito especial que também sofreu preconceitos em seu caminho por conta dos negros presentes no Vietnã. Spike Lee busca fazer um drama de pós-guerra temperado com cenas de ação, com muito tiro, sangue, helicópteros caindo, minas terrestres construindo um cenário que mesmo acontecendo fora do período de guerra parece um verdadeiro campo de batalha. A ideia funciona a maior parte do tempo, embora por vezes o roteiro soe um tanto bagunçado nas várias intenções envolvendo seus diversos personagens. É neste ponto que o trabalho de Delroy ganha ainda mais destaque ao construir na exata medida as perturbações de um homem frente aos seus dilemas. Na pele de Paul ele tem um número considerável de atitudes polêmicas e torna a narrativa tão imprevisível quanto o seu personagem quando mergulha numa espécie de surto. Ao final do filme, Lee se rende à uma despedida melodramática que poderia ter sido cortada em meio à tradicional ponte que Spike Lee faz entre passado e presente. Com sessenta e três anos de vida e vinte de carreira, Lee está cada vez mais em sintonia com os movimentos raciais nos Estados Unidos, basta ver o espaço que dedica ao movimento Black Lives Matter antes dele se tornar conhecido mundialmente enquanto o filme era produzido.
O Destacamento Blood (Da 5 Bloods / EUA - 2020) de Spike Lee com Delroy Lindo, Chadwick Boseman, Clarke Peters, Norm Lewis, Mélanie Thierry, Paul Walter Hauser e Jean Reno. ☻☻☻☻
quinta-feira, 19 de novembro de 2020
NªTV: The Crown - 4ª Temporada
Desde a sua estreia, The Crown se tornou uma espécie de menina dos olhos da Netflix. Quando estreou, cada cena e cada detalhe de figurino desta produção de Stephen Daldry concebida pelo oscarizado Peter Morgan (de A Rainha/2006) deixava claro que estava disposta a se tornar uma das séries mais sofisticadas já produzidas. As premiações logo caíram de amores por The Crown em sua estreia, mas o mais complicado ainda estava por vir. Diante dos desafio de contar o reinado da Rainha Elizabeth desde sua posse (aos 25 anos) até os dias atuais, a série cria para si o grande desafio de condensar décadas de história em uma dezena de episódios por temporada. Se os primeiros anos de coroa deram corpo à série (com Claire Foy na pele da soberana e Vanessa Kirby como a irmã Margot), a segunda temporada ganhou ainda mais densidade. Lembro que na estreia os primeiros episódios não me prendiam muito a atenção, na segunda tudo estava mais ajustado e no segundo episódio a perfeição se instaurou. Diante do bom resultado fiquei preocupado com as mudanças que viriam a seguir, com uma Elizabeth mais velha vivida por Olivia Colman (e Margot vivida por Helena Bonhan Carter). Será que jogar a trama vários anos à frente teria o efeito desejado? Na terceira temporada, Peter Morgan já demonstrou que valeu a pena. Além dos novos atores darem conta com perfeição das personagens mais maduras, ainda deu destaque para um Príncipe Charles de partir o coração (cortesia de Josh O'Connor, o bom ator revelado no cult God's Own Country/2017) em sua paixão proibida por Camila Parker Bowles e a impressão que o desafio maior estava por vir com a quarta temporada. Lançada na Netflix no dia 15 de novembro a série precisou dar conta de inserir a Lady Di (Emma Corrin) e a primeira ministra Margaret Thatcher (Gillian Anderson) em sua lista de personagens famosos. O resultado é um deleite. Embora alguns personagens já consagrados recebam menos destaque nesta temporada (como Príncipe Phillip e a própria Margot), a série sabe direitinho como abordar Diana e Thatcher dentro do universo que construiu até aqui. Charles partia nosso coração na temporada anterior, agora ele subverte esta emoção com sua amargura diante de não poder ter a mulher que realmente ama e, neste conflito com a coroa, a doce Diana também paga um alto preço. Um dos trunfos fenomenais desta temporada é o trabalho de Emma Corrin como Diana, já que a jovem atriz (que promete fazer bonito em sua carreira) capta a essência da ex-esposa de Charles de forma magistral. O olhar, o sorriso tímido, a inclinação da cabeça, ela está perfeita e junta-se às atuações brilhantes que a série já coleciona em quatro anos de existência - e se beneficia muito da melancolia do desfecho que todos nós sabemos qual será. Para além deste conto de fadas desconstruído, temos o trabalho de Gillian Anderson como Thatcher, a eterna agente Scully de Arquivo X também realiza um trabalho memorável (ainda mais com o peso de rivalizar com o trabalho oscarizado de Meryl Streep no filme A Dama de Ferro/2011. Embora siga por um caminho diferente, Gillian consegue construir sua personagem com maestria e sensibilidade, completando o time de grandes atrizes que contracenam nestas temporadas. Diante do espetáculo que a série entrega em sua melhor temporada muita gente discute o que é verdade ou não na privacidade da família real que aparece na série, mas esta polêmica é pequena diante da qualidade dramatúrgica da série. Se as anteriores tinham seus méritos inegáveis, esta acrescenta mais uma: é a mais viciante de todas! Fico imaginando o duelo que a série travará nas premiações do próximo ano e, espero, que seja coroada como uma das melhores do ano - embora a família real considere a pior de todas (e se você assistiu sabe exatamente o motivo).
The Crown - 4ª Temporada (Reino Unido/Estados Unidos - 2020) de Peter Morgan com Olivia Colman, Tobias Menzies, Helena Bonhan Carter, Josh O'Connor, Emma Corrin, Gillian Anderson, Emerald Fennell, Marion Bailey, Erin Doherty, Stephen Boxer, Tom Byrne e Angus Imrie. ☻☻☻☻☻
PL►Y: O Pai de Itália
Isabella e Luca: laços de família. |
Talvez o filme O Pai de Itália tenha sido concebido para ser uma comédia romântica simples sobre os encontros e desencontros de um casal. Este fato fica um tanto evidente quando olhamos a estrutura do roteiro com o acaso no início, os desentendimentos no meio do caminho, o nascimento de um romance, a desilusão e o desfecho que demonstra que o filme não era nada daquilo que você esperava. Para começar o protagonista é um rapaz que ainda não se recuperou do fim do seu relacionamento com namorado. As primeiras cenas é para demonstrar que o término do namoro ainda não foi digerido e Paolo (Luca Marinelli do excepcional A Solidão dos Números Primos/2012) ainda vaga por aí em busca de uma história de amor. Se as feridas ainda não cicatrizaram, elas ficam cada vez mais em segundo plano quando Mia (Isabella Ragonese) cruza o seu caminho precisando de ajuda. Mia está grávida e ainda não sabe muito bem o que fazer da vida dali em diante. Embora ela não se importe muito com isso, ela busca de um pouco de amparo e vê em Paolo o companheiro que precisa naquele momento em uma jornada que ela não sabe muito bem até onde leva. De início a ideia parece encontrar o pai da criança, depois para reencontrar a família dela e sentimentos começam a aparecer entre o casal, principalmente uma cumplicidade que não se encontra todo dia. Aos poucos um começa a servir de suporte para o outro e a esperança de colocar a vida na "ordem" comum das coisas começa a crescer e motivar os dois a embarcar num relacionamento que parece funcionar. É neste momento que o filme de Fabio Mollo (que também assina o roteiro ao lado de Josella Porto) trai as expectativas do espectador e apresenta que a vida daqueles dois personagens está bem longe de ser uma comédia romântica, está mais baseada na vida mesmo, repleta de inseguranças, fugas e suas linhas tortas com escrita certa. São nas entrelinhas de uma história de amor camuflada de convencional que o filme tem os seus melhores momentos ao abordar a bissexualidade de Paolo de forma bastante natural, a gravidez de Mia sem moralismos e o companheirismo de suas pessoas que pode ser vista como a origem de uma família para além dos laços sanguíneos. Foi no golpe do penúltimo ato que me dei conta de como o filme me envolveu, de como a vida pode parecer seguir suas regrinhas, mas que ela não é tão simples assim. Talvez por isso, no último ato a emoção seja capaz de tomar o expectador de vez e perceber que embora despretensioso, O Pai de Itália fale de amor com tanta propriedade, para além de homem, mulher, sexualidade, gênero ou daquela bobagem que serve de matéria prima para filmes água com açúcar. O amor que aparece aqui é aquele em estado puro, daquele se importa e nasce de forma quase imprevisível diante dos caprichos do destino de qualquer mortal.
O Pai de Itália (Il padre d'Italia / Itália - 2017) de Fabio Mollo com Luca Marinelli, Isabella Ragonese, Anna Ferruzzo, Mario Sgueglia, Federica de Cola e Esther Elisha. ☻☻☻☻
segunda-feira, 16 de novembro de 2020
PL►Y: Rosa e Momo
domingo, 15 de novembro de 2020
PL►Y: Estado de União
Rosamund e Crhis: premiado casal em terapia. |
Mediante a crise estabelecida após uma traição, um casal resolve consultar uma terapeuta para ver se coloca o casamento novamente nos eixos, ou, pelo menos, alinhar os sentimentos que sentem um pelo outro. A ideia simples fica mais interessante quando se descobre que a grande parte do filme é dedicada às conversas que o casal realiza fora do consultório, na mesa de um pub enquanto aguarda o horário marcado do atendimento. São naquelas conversas um tanto despretensiosas que conhecemos um pouco mais da vida conjunta de Tom (Chris O'Dowd) e Louise (Rosamund Pike), afinal foram quinze anos vivendo debaixo do mesmo teto, os últimos ao lado dos filhos frutos desta união. Concebido para ser uma série realizada pela BBC de Londres, escrita por Nick Hornby e dirigida por Stephen Frears, a série desfruta de diálogos ágeis, cortantes e bastante robustos nos arcos que propõe dentro de cada episódio. O roteiro é defendido com bastante desenvoltura pelo casal de atores, que sabem explorar o que existe de cômico e dramático naquela situação, o amor que ainda sentem um pelo outro, os ressentimentos acumulados por tanto tempo, alguns constrangimentos e de vez em quando soltam aquelas situações incômodas sobre a vida a dois do qual o outro nunca imaginava ser tão lamentáveis. A graça da narrativa é acompanhar a recorte semanal as pequenas mudanças que acontecem naquele casal, especialmente relacionada à percepção que possui de si mesmo (e desenvolver no espectador uma torcida contra ou a favor do resgate do casamento). Enquanto narrativa, cabe criar pequenas mudanças na estrutura do bate-papo (seja a presença de uma terceira pessoa, um acidente, uma briga sobre política, uma mudança no visual). Hornby e Frears já trabalharam juntos no cult Alta Fidelidade (2000) e Rosamund e Chris já trabalharam com o texto do escritor no celebrado (ela em Educação/2010 e ele em Juliet Nua e Crua/2018), o que só colabora para a desenvoltura de uma produção que depende muito da eficiência dos diálogos. No entanto, ao ser concebido como uma série ágil de dez episódios de dez minutos, a produção funciona muito bem (e o piloto lhe garantiu três Emmys: melhor curta, melhor ator e melhor atriz em curta), com todos os capítulos agrupados em formato de um filme de pouco mais de uma hora e quarenta minutos, a ideia pode ficar um tanto cansativa para o espectador assistindo dois atores dialogando quase sempre no mesmo cenário (e deixa a impressão que é uma peça adaptada para o cinema). A sorte é que se o formato mudou, os diálogos permanecem interessantes sobre a vida agridoce de um casamento.
Estado de União (State of the Union / Reino Unido - 2019) de Stephen Frears com Rosamund Pike, Chris O'Dowd, Janet Amsden, Jeff Rawle, Laura Cubitt e Elliot Levey. ☻☻☻
NªTV: High Fidelity
sábado, 14 de novembro de 2020
Momento Rob Gordon: Penélope + Javier
O casal 20 do cinema espanhol, Penélope Cruz e Javier Bardem começou a namorar em 2007 e se casou três anos depois. No entanto, os dois se conhecem bem antes disso, mas demorou para perceberem que eram verdadeiras almas gêmeas. Esse Momento Rob Gordon é para listar os cinco melhores momentos em que estiveram juntos na mesma tela de cinema, sejam solteiros, casados ou sempre em cenas diferentes:
Para começo de conversa este é um dos melhores filmes de Almodóvar, foi o segundo longa de uma fase em que o diretor demonstrou que poderia ser mais contido e sério, para ajudar nesta tarefa o diretor escalou um quarteto de peso para interpretar seus personagens que desejam fugir do passado. Você deve estar se perguntando o motivo do filme estar em quinto na nossa lista de cinco, bem o motivo é que o casal em questão não... bem nem vou contar para não dar SPOILER! Esta foi a primeira parceria de Penélope com o cineasta espanhol que a elegeu musa até os dias atuais.
Penelope Cruz tinha dezoito anos quando estreou nos cinemas ao lado de Javier Bardem pelas lentes calientes de Bigas Luna. Bardem é sobrinho do cineasta e já tinha alguns filmes no currículo quando foi escolhido para ser o rapaz que ganha fama como o modelo de cuecas mais requisitado da Espanha. O filme tem alguns momentos inacreditáveis e típicas do exagero do cineasta (e hoje deve levantar discussões acaloradas), porém a química entre os dois já estava lá e renderia um romance somente quinze anos depois.
PL►Y: Todos já Sabem
Penélope, Javier e Eduard: crime e lavagem de roupa suja. |
Todos já Sabem que o casal espanhol Penélope Cruz e Javier Bardem formam o casal 20 do cinema espanhol? Os oscarizados (respectivamente por Vicky Cristina Barcelona/2008 e Onde os Fracos não tem vez/2010) são casados desde 2010 e tiveram um lindo casal de crianças. Os dois se tornaram tão icônicos que coloca-los no alto dos créditos é quase um convite ao nosso imaginário de que seus personagens terão alguma relação em cena. Este é o quinto filme que os dois trabalham juntos e o diretor Asghar Farhadi, sabe muito bem como sugerir o vínculo entre os dois desde suas primeiras cenas. Por muitos anos, Laura (Penélope) vive na Argentina com o esposo (Ricardo Darín) e agora retorna ao seu vilarejo natal na Espanha para celebrar um casamento na família ao lado da filha adolescente Irene (Carla Campra). Além de reencontrar parentes e amigos, ela também reencontra seu ex-namorado do passado, Paco (Javier) que agora também é casado e dono de uma vinicultura. Embora o romance tenha ficado no passado, um crime irá trazer à tona ressentimentos da família sobre esta relação, além de destacar cada vez mais um segredo. Em seu primeiro filme de língua espanhola, o iraniano Farhadi trabalha mais uma vez vários temas que se mesclam e tornam a história cada vez mais truncada para seus personagens. Se nos seus trabalhos anteriores ele temperava com maestria seus dramas com doses de suspense, aqui ele torna o suspense mais evidente, afinal existe sempre a curiosidade para saber quem cometeu o crime no decorrer da história, mas quem esperar que isto se torne o centro da história irá se decepcionar bastante. Farhadi gosta mesmo é dos desdobramentos reveladores daquela situação e por isso mesmo investe bastante tempo para apresentar aquela família afetuosa e feliz para pouco depois desconstruir as primeiras impressões que tivemos dela. Preconceitos, ressentimentos, orgulho e traições se mesclam e geram consequências que vão para além dos créditos finais. O mais interessante do filme é que embora conte com três grandes astros do cinema de língua espanhola, Farhadi trata se elenco sem que existam atuações destacadas, prefere manter todos num certo equilíbrio num exercício bastante interessante enquanto diretor. Embora seja o filme mais acessível de Farhadi, o filme está longe de ser o melhor de sua premiada cinematografia, mas ainda assim, revela seu cuidado ao abordar temas mais universais em sua obra.
Todos Já Sabem (Todos lo Saben / Espanha - França - Alemanha - Itália - Argentina / 2018) de Asghar Farhadi com Penélope Cruz, Javier Bardem, Ricardo Darín, Carla Campra, Bárbara Lennie, Elvira Mínguez e Eduard Fernández. ☻☻☻☻