Cinco produções assistidas durante o mês que merecem destaque:
sábado, 31 de agosto de 2024
NªTV: Palm Royale
Kristen Wiig: o preço da riqueza. |
Nos anos 1960, Maxine Simmons (Kristen Wiig) é uma mulher que sonha em ter um lugar ao sol da alta sociedade de Palm Beach. Um dos seus maiores desejos é poder frequentar o clube que dá nome à série, um local frequentado somente pela elite local e que parece um daqueles lugares tão fora da realidade que beira a fantasia. Só que para isso ela ela precisa da indicação de três sócias. Ela acredita que sua vida irá melhorar muito quando conseguir conviver com aquele bando de gente tão endinheirada quanto esnobe, mas desde o primeiro episódio ela percebe que não será uma tarefa fácil e, mais do que isso, ao longo dos nove episódios que compõem a primeira temporada na AppleTV+, a sensação é que ela vê o sonho se tornar um pesadelo. Bem, se a personagem não descobre isso, o público tem cada vez mais certeza. Cheia de humor, deboche e ironias, a série se constrói a partir das trapalhadas de Maxine em ganhar respeito em mundo à qual não pertence e acaba gastando mais do que tem para conseguir sustentar uma imagem que não é a dela. Eu nunca havia pensado em como ser rico é algo caro, não apenas com os gastos para uma vida de ostentação, mas também para manter os gastos com as festas e os bailes de caridade, doações e tudo mais em que você não pode ficar para trás. Enquanto a personagem gasta uma fortuna para manter uma imagem de luxo (realizando até alguns crimes pelo caminho), toda a imagem de perfeição daquele mundo se desconstrói com arranjos, traições e corrupções. O melhor de Palm Royale fica para para os primeiros episódios em que acompanhamos com surpresa os fatos surpreendentes que pairam sobre a personagem, como a história em que é esposa de um grande herdeiro e suas visitas constantes à uma senhora presa imóvel à uma cama que não sabemos ao certo quem é. Se o programa começa em uma expectativa crescente do espectador, ampliando e conferindo cada vez mais complexidade aos personagens, conforme avança para além de sua metade, ela perde o fôlego e ganha cada vez mais um ar de novela, sem evitar cair na repetição de sempre fazer sua protagonista quebrar a cara. Me atrevo a dizer que Kristen Wiig tem aqui o papel de uma vida, embora tenha realizado bons trabalhos no cinema, eu sempre tinha a impressão que ela poderia fazer muito mais nos projetos em que aparecia. Aqui, a atriz consegue sustentar nossa torcida por uma personagem que é totalmente equivocada em suas ambições, basta ver os encontros com o grupo feminista liderado por Laura Dern, que aos poucos, se torna sua amiga. Falando em Kristen e Laura, o elenco é um verdadeiro triunfo, afinal ainda conta com Allison Janney como a ricaça megera mor do pedaço, a venerada veterana Carol Burnett em um papel cheio de surpresas e até Kaia Gerber (a filha de Cindy Crawford) em um papel bastante promissor. Para além do estelar elenco feminino, temos Ricky Martin numa performance bastante reveladora de seu talento como ator, vivendo um funcionário do hotel cheio de segredos e nuances diferentes do que você imagina, torna-se outro personagem que ganha nossa torcida. Renovada para uma segunda temporada, a série é bastante animada e cheia de acontecimentos, mas por vezes peca pela repetição que ao final deixa um gosto de que funcionaria melhor como minissérie. No entanto, reúne os talentos necessários para funcionar como uma saborosa crônica sobre o american way of life.
Palm Royale (EUA-2024) de Abe Sylvia com Kristen Wiig, Ricky Martin, Carol Burnett, Laura Dern, Allison Janney, Josh Lucas, Leslie Bibb, Kaia Gerber, Julia Duffy, Claudia Ferri e Jordan Bridges. ☻☻☻☻
PL►Y: O Corvo (1994)
Brandon Lee: morre uma estrela. |
PL►Y: Furiosa - Uma Saga Mad Max
Joy: trama de flashback. |
quinta-feira, 29 de agosto de 2024
GRANDE PRÊMIO DO CINEMA BRASILEIRO 2024
Maeve Jinkins em Pedágio: melhor filme, melhor direção e roteiro original. |
Fazia tempo que o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro precisava de um nome mais sonoro para se tornar popular, parece que finalmente isso aconteceu quando assumiram de vez o nome de Troféu Grande Otelo. Fazia tempo que a premiação não me empolgava tanto, provavelmente isso aconteceu pelo retorno dos investimentos no cinema em nosso país e o lançamento de projetos mais diversificados e empolgantes. Eu fiquei muito feliz com a consagração dos filmes premiados, ainda estranho o jeito meio improvisado com que a premiação é transmitida, mas mesmo foi com uma pergunta na cabeça: se a Academia Brasileira de Cinema considera Pedágio o melhor filme do ano, com a melhor direção e melhor roteiro original, por que não o escolheu para disputar uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2024? Enfim... antes de Retratos Fantasmas sair daqui com as mãos abanando (perdendo até a categoria de melhor documentário), eu já não entendia a esnobada que o filme de Carolina Markovicz recebeu na época da escolha. Enfim, parabéns Carol! Seguem todos os premiados da noite de ontem:
MELHOR TRILHA SONORA
Aumenta que É Rock’n’roll
MELHOR FIGURINO
Mussum, o Filmis
MELHOR MAQUIAGEM
Mussum, O Filmis
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
O Sequestro do Voo 375
MELHOR SOM
O Sequestro do Voo 375
MELHOR EFEITO VISUAL
O Sequestro do Voo 375
MELHOR DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA
O Rio do Desejo
MELHOR MONTAGEM
O Sequestro do Voo 375
MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTÁRIO
Uma Mulher Pensando
MELHOR SÉRIE BRASILEIRA DOCUMENTÁRIO
O Caso Escola Base
MELHOR LONGA-METRAGEM DE DOCUMENTÁRIO
Elis & Tom, Só Tinha de Ser Com Você
MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Mulher Vestida de Sol
MELHOR SÉRIE BRASILEIRA DE ANIMAÇÃO
Esquadrão do Mar Azul (TV Rá Tim Bum)
MELHOR LONGA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Perlimps
MELHOR CURTA-METRAGEM DE FICÇÃO
A Menina e o Mar
MELHOR SÉRIE BRASILEIRA FICÇÃO
Cangaço Novo (Prime Video)
MELHOR ATRIZ SÉRIE DE FICÇÃO
Alice Carvalho (Cangaço Novo)
MELHOR ATOR SÉRIE DE FICÇÃO
Júlio Andrade (Betinho – No Fio da Navalha)
MELHOR LONGA METRAGEM INFANTIL
Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
O Sequestro do Voo 375
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Pedágio
VOTO POPULAR
Pérola
MELHOR LONGA METRAGEM IBERO-AMERICANO
La Sociedad De La Nieve (Espanha) - Direção: J.A. Bayona
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Arlete Salles (Tia Virgínia)
MELHOR ATRIZ LONGA-METRAGEM
Vera Holtz (Tia Virgínia)
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Jorge Paz ( O Sequestro do Voo 375)
MELHOR ATOR LONGA-METRAGEM
Ailton Graça (Mussum, o Filmis)
MELHOR PRIMEIRA DIREÇÃO DE LONGA-METRAGEM
Silvio Guindane (Mussum, o Filmis)
MELHOR DIREÇÃO
Carolina Markowicz (Pedágio)
LONGA-METRAGEM DE FICÇÃO
Pedágio
domingo, 25 de agosto de 2024
PL►Y: Às Vezes eu Penso em Sumir
Dave e Daisy: aquela sensação de querer ser invisível. |
Fran (Daisy Ridley) é a funcionária de um escritório que passa a maior parte do expediente quieta em seus afazeres. Embora dê conta de seu serviço, várias vezes durante o dia, seu pensamento divaga sobre estar morta. Acontece que por boa parte do seu dia, Fran parece não ter vida. Ela não interage muito com os colegas. Não entra em contato com a família. Não conversa com vizinhos ou parece ter amigos conquistados ao longo da vida. Pode ser um mecanismo de defesa para evitar decepções, mas também um comportamento que instiga o espectador a conhecer um pouco mais daquela personagem que não demonstra ter atitudes suicidas. A esperança de alguma mudança em sua vida parece vir com a chegada de um novo funcionário, Robert (Dave Merhej), que começa a conversar com Fran tirando dúvidas pelo chat da empresa. Os dois começam a se aproximar, pelo menos até uma distância considerada segura por ela. Existem boas ideias neste filme da diretora Rachel Lambert que não faz concessões na condução da narrativa. A protagonista tem poucos diálogos, o ritmo é lento (arrastado mesmo), não existem alívios cômicos óbvios e desperta a estranha sensação de uma certa poesia quando a protagonista imagina a morte. Isolada em seu mundinho, Fran recebe um trabalho bastante intimista de Daisy Ridley que dá conta dos conflitos internos de sua personagem sem maiores problemas, especialmente quando sua personalidade entra em choque com as expectativas de Robert com relação à ela. Ele mal imagina o esforço que ela faz para deixar que ele se aproxime de seu universo particular e, ao mesmo tempo, o filme deixa claro que de nada adianta o mundo se abrir para Fran, se ela permanecer fechada. Esta tentativa de receptividade da personagem existe quando ela aceita o convite para sair e em outros momentos do filme, mas o oposto também ocorre quando ela percebe que Robert pretende tomar ainda mais espaço em sua vida. Obviamente que ela se sente ameaçada e com isso, algumas de suas atitudes a fazem repensar no seu papel em tudo o que sente. Parece complexo demais? Talvez seja mesmo e Às vezes eu Penso em Sumir termina justamente quando a personagem revela seus maiores segredos, em plena consciência do estranhamento que pode provocar, ela recebe a cena mais terna do filme. Aposto que durante a confissão ela desejava desaparecer, mas com a resposta recebida, considero que ela sentiu-se grata por existir. Não é um filme para todos os gostos, mas faz pensar sobre a vida e a forma como nos relacionamos com as pessoas que atravessam nosso caminho. Sejam Frans ou Roberts.
Às Vezes eu Penso em Sumir (Sometimes I Think About Dying / EUA-2023) de Rachel Lambert com Daisy Ridley, Dave Merhej, Parvesh Cheena, Marcia DeBonis, Megan Stalter e Bree Elrod. ☻☻☻
PL►Y: Fúria Primitiva
Patel: estreia na marra como diretor. |
Sempre acho interessante quando um ator quer sair do nicho em que Hollywood tentou o colocar e consegue enveredar por outros ares. Isso acontece com Dev Patel, o ator britânico de 34 anos se tornou conhecido com a série Skins (2007-2013), mas chegou aos cinemas com Quem Quer Ser Um Milionário (2008) de Danny Boyle. Embora o filme tenha agradado a Academia e recebido oito Oscars (incluindo filme e direção), sua primeira indicação ao prêmio só veio como ator coadjuvante em Lion (2017). Desde então o ator tem investido em produções diferentes e desafiadoras (como A Lenda do Cavaleiro Verde/2021), mas, não satisfeito, resolveu se aplicar como diretor, produtor e roteirista. No recente Fúria Primitiva ele assume os três serviços atrás das câmeras e também atua, numa verdadeira prova de que o moço é capaz de muito mais do que esperavam dele. No longa ele interpreta o protagonista que ganha a vida em lutas clandestinas, em que se esconde por trás de uma máscara de macaco (daí o nome original do filme Monkey Man). Na primeiras cenas de ringue já temos uma amostra do que o filme irá nos apresentar: lutas sujas, violência, sangue e edição frenética. Mas a vida do rapaz tem mais do que ser pago para perder todas as noites. Seu passado é marcado por uma tragédia, que fermenta nele um desejo de vingança que o fará desafiar pessoas tão poderosas quanto perigosas. Não vale falar muito mais do que isso para não estragar as surpresas que o filme reserva, mas também, em termos de sinopse, não existe mais do que isso. O que torna a estreia de Dev na direção um projeto impressionante é a sua desenvoltura em construir cenas de ação vertiginosas que bebem diretamente na inspiração em John Wick. A diferença está na ambientação em uma Índia impregnada de problemas sociais, tráfico sexual, religiosidade e tudo mais que você possa imaginar. Patel utiliza estes elementos para construir a identidade do seu filme e também de seu protagonista e não tem medo de banhar tudo com cores fortes e sanguinolentas. Essa mistureba toda fez com que a Netflix temesse o lançamento do filme diretamente em seu catálogo, mesmo após investir cerca de 30 milhões de dólares no projeto, mas embora o resultado careça de uma costura mais firme entre todos os elementos que apresenta, a produção funciona bem ao elevar a adrenalina da plateia. Resta dizer que o filme chamou até dos amantes de filme de ação, o que carimba de forma positiva a estreia de Patel como cineasta e acho que nem precisa dizer que ele está muito bem no papel principal (embora tenha quebrado uma mão, dois dentes, deslocado o ombro e conseguido uma infecção no olho), confesso que nunca teria o imaginado protagonizando um filme feito esse, e, acho que por pessoas feito eu, que resolveu bancar o projeto. Grata surpresa.
Fúria Primitiva (Monkey Man / EUA - Canadá - Singapura - Índia / 2024) de Dev Patel com Dev Patel, Sharlto Copley, Pitobash, Jatin Malik, Sikandar Kher, Sobbhita Dhulipala e Ashwini Kalsekar. ☻☻☻☻
MOMENTO ROB GORDON: Mulheres vs Alien
A franquia Alien é uma das mais queridas entre o público cinéfilo. A longevidade das ideias presentes nos filmes ficam ainda mais impressionantes quando lembramos que o primeiro filme (Alien: O Oitavo Passageiro) foi lançado há 45 anos!!! É verdade que ao longo do tempo houve tanto sucesso quanto irregularidades, muito por conta da mudança de diretores e seus embates com os estúdios (David Fincher que o diga), mas outra marca dos longas do monstrengo é a presença do protagonismo feminino em cenas de ação muito antes de começarem a falar de lacração por aí. Este Momento Rob Gordon é para lembrar de cinco personagens femininas que ajudaram a fazer a história da franquia entre os altos e baixos da carreira do xenomorfo nas telonas:
Daniels (Katherine Waterston) |
Ainda que seja dirigido por Ridley Scott, Alien: Covenant (2017) é um filme desconjuntado. Queria dar prosseguimento às reflexões propostas de Prometheus (2012), mas diante de toda a controvérsia gerada pelo, resolveu ter mais cenas com o monstrengo xenomorfo em um roteiro menos truncado. Quem sofreu com tudo isso, foram os novos personagens apresentados, especialmente a Daniels (Katherine Waterston) que pouca gente lembra até do nome. Katherine Waterston estava em ascensão em Hollywood e o filme era sua grande chance de tornar-se mais conhecida. Embora tenha se esforçado na personagem que enfrenta os planos do androide David (Michael Fassbender, roubando o filme) e suas criações, a personagem não empolgou e perdeu a chance de protagonizar um terceiro filme dessa pegada "origin" proposta pelo diretor.
Call (Winona Ryder) |
Rain (Cailee Spaeny) |
Na Tela: Alien - Romulus
Tenho a impressão que a franquia Alien estava desacreditada. Depois da decepção de Prometheus/2012 (que eu adoro e com o tempo passou a ser reavaliado por público e crítica) e do fracasso comercial de Alien Covenant (2017), a pegada diferentona impressa por Ridley Scott à saga foi para a gaveta. Embora ele tenha ideias para um terceiro filme (que ainda possa ser feito algum dia) o estúdio resolveu que a franquia voltasse às suas origens, remetendo diretamente aos dois primeiros longas da série. Considerando que o interesse pelo monstrengo era incerto, resolveram que uma nova produção seria feita diretamente para o streaming (lembrando que no meio de tudo isso existiu o projeto cancelado de Alien5 de Neill Blomkamp que traria até Sigourney Weaver de volta). Convidaram o uruguaio Fede Alvarez para capitanear o novo episódio e deixaram o rapaz desenvolver sua ideia ambientada entre os filmes Alien (que é ambientado em 2122) e Aliens (que ocorre em 2179), assim nasceu Alien: Romulus (que acontece em 2142). É a primeira vez que os protagonistas não são astronautas treinados, mas um grupo de jovens nascidos e criados em um planeta colonizado para mineração e, assim como seus pais, percebem ter grandes chances de morrer ali. Essa sensação é exemplificada por Rain (Cailee Spaeny), que descobre que sua permissão para sair daquele planeta cinzento acaba de ser adiada por vários anos. Rain compartilha seu sonho de sair daquele lugar com o irmão, Andy (David Jonsson), que na realidade é um androide que tem como principal diretriz proteger a irmã. Eis que Rain é convidada por um grupo de jovens mineradores a participar de uma fuga rumo ao planeta dos seus sonhos. Para isso, eles precisam roubar uma nave abandonada utilizando as funcionalidades de Andy. O problema é que nenhum deles imagina o que os aguarda naquela nave perdida. O diretor é um sujeito esperto e sabe que para o filme ampliar seu apelo perante ao público, ele precisa de personagens que provoquem identificação e faz isso muito bem. Para além da relação entre Rain e Andy, insere todos em uma situação de opressão que motiva suas ações mais arriscadas, além disso, também estabelecemos relações (de um jeito ou de outro) com Tyler (Archie Renaux), Navarro (Aileen Wu), Bjorn (Spike Fearn) e Ray (Isabela Merced) e cria-se a tensão quando vemos que cada um deles está em risco. Acredito que sem este laço, o apelo de todos os sustos, gelecas e ambientação industrial sombria (típica dos primeiros filmes) teriam menos impacto. Não satisfeito com isso, o diretor evoca diretamente vários elementos da franquia, assim, o integra naquele universo e resgata aspectos que pareciam esquecidos após tantos anos (como o sangue ácido do monstrengo), assim como utiliza ângulos e cenas que se tornaram clássicas na saga. Porém, o filme não se torna uma colcha de retalhos, afinla tem ideias próprias e uma plena consciência de onde quer chegar, especialmente quando insere o dilema de Andy (realçado pelo excelente trabalho de David Jonsson em fazer muito com tão pouco em suas expressões) entre zelar por Rain ou pela empresa que o construiu (e neste ponto existe um personagem que faz referência direta ao primeiro filme que nem vou citar). Falando em Rain, acho importante ressaltar a ótima performance de Cailee Spaeny, que ganhou destaque ao viver Priscilla Presley (em um longa radicalmente diferente deste aqui que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza), curiosamente ela exibia naquele papel o que vemos novamente aqui: a capacidade de expressar vulnerabilidade e força ao desenvolver uma personagem. Aos 26 anos, ela vive uma herdeira da Tenente Ripley com honras e espero que, se houver uma continuação, não façam com ela o mesmo destino desonroso que deram para Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) de Prometheus. No fim das contas, o estúdio gostou tanto do resultado (simples, direto e bem realizado) que resolveu lançar no cinema e... o longa se tornou o atual filme mais assistido ao redor do mundo. Esperado com baixas expectativas e revelando ser uma grata surpresa, Alien - Romulus promete dar novo fôlego à série (o que deve ajudar muito no sucesso da série Alien Earth que deve estrear em breve com acontecimentos que precedem tudo que vimos até aqui), Alvarez já está cheio de novas ideias, fala-se até de um novo encontro com Predador, o que eu acho péssimo, mas diante do que o moço fez aqui, pode ser até interessante. O moço ganhou crédito, algo que somente James Cameron (diretor de Aliens: O Resgate) conseguiu ao se deparar com o monstrengo xenomorfo do universo de Ridley Scott.
Alien: Romulus (EUA-2024) de Fede Alvarez com Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux, Isabela Merced e Spike Fearn. ☻☻☻☻
sábado, 24 de agosto de 2024
PL►Y: Nosso Verão Daria um Filme
Faz um tempo que Demosthenes (Yorgos Tsiantoulas) resolveu abandonar a carreira de ator, talvez tenha se cansado da incerteza de aparecer bons projetos. Agora ele trabalha num escritório. Se a vida profissional parece sob controle, a amorosa está complicada. Ele manteve por anos um relacionamento com Panos (Nikolaos Mihas), mas agora lhe restou apenas a simpática cadelinha Carmen, que o ex-parceiro estava prestes a deixar em um abrigo. Embora Demosthenes esteja saindo com outros homens, sem procurar nada sério, existe um certo desconforto nos rumos que seu coração está tomando. Quando o amigo Nikitas (Andreas Labropoulos) lhe diz que está prestes a conseguir financiamento para seu primeiro filme, os dois resolvem criar o roteiro juntos. Cogitam adaptar uma peça que criaram a um tempo atrás, mas depois consideram escrever um pouco sobre as angústias do ex-ator e, conforme lidam com as limitações do orçamento, as cenas do roteiro começam a dividir a tela com a realidade dos amigos que vivem em uma paradisíaca praia da Grécia. Nosso Verão Daria um Filme é uma comédia queer bastante despojada e lida com bastante naturalidade com a nudez masculina e as cenas de sexo enquanto faz graça com a busca pelo namoro perfeito e a estrutura de um filme. Existe aqui um exercício de metalinguística o tempo inteiro (como a cena em que os amigos descobrem que o uso de animais aumenta o custo de produção e resolvem diminuir as cenas do pet em cena - e passamos a ouvir somente os latidos do bicho), este jogo narrativo deixa o filme mais divertido que a maioria. Há também uma certa ironia em apresentar Demosthenes como um verdadeiro deus grego, objetificando despudoradamente o físico do ator Yorgos Tsiantoulas em contraste com suas inseguranças em se relacionar com o mundo, seja com o pai, com os parceiros, com a cadelinha e até com suas ambições. Assim como o roteiro dos amigos, a vida do moço parece não avançar muito durante a sessão. Se para o protagonista a coisa já está assim, ela piora um tantinho mais quando vemos que Nikitas recebe menos profundidade, sendo quase um narrador dos pontos que ditam o rumo da narrativa - e que deve obedecer para construir seu filme. Apesar do tom de brincadeira misturada a alguma ousadia (se você ainda considera nudez masculina e cenas tórridas entre dois homens algo ousado), o que mais chama atenção no filme são as paisagens praianas valorizadas pela fotografia belíssima. Se você é cinéfilo, o filme também chama atenção para um tipo de cinema feito na terra de Platão que é mais convencional do que a chamada Estranha Onda Grega que se tornou referência mundial para o cinema produzido naquele país nos últimos anos. Este aqui é solar e bem humorado, poderia ser feito em qualquer lugar do mundo, embora nem todo lugar tenha aquelas paisagens de cartão postal. No fim das contas, o filme parece uma variação mais sóbria do caótico Rotting in the Sun (2023).
Nosso Verão Daria um Filme (To Kalokairi tis Karmen / Grécia - 2024) de Zacharias Mavroeidis com Yorgos Tsiantoulas, Andreas Labropoulos, Nikolaus Mihas, Roubini Vasilakopoulou e Vasilis Tsigristaris.☻☻☻
PL►Y: A Geração do Futuro
A Geração do Futuro (The Pod Generation / Bélgica - França - Reino Unido /2023 ) de Sophie Bartes com Chiwetel Ejiofor, Emilia Clarke, Rosalie Craig, Vinette Robinson, Megan Mackzo e Jelle de Beulle. ☻☻
quinta-feira, 22 de agosto de 2024
PL►Y: Instinto Materno
Alice (Jessica Chastain) e Céline (Anne Hathaway) são vizinhas e amigas. Vivem numa tranquila vizinhança dos anos 1960, seus maridos também são próximos e seus filhos são os melhores amigos. Tudo aqui é perfeito numa verdadeira celebração do American Way of Life. Não sei se é proposital, mas o diretor estreante Benoît Delhome faz questão de apresentar esta casca de bem estar com bastante artificialidade, beirando o surreal. Tudo é tão perfeito que a maior ameaça que paira sobre as personagens é a alergia que o filho de Alice, Theo (Eamon O'Connell) apresenta. Porém, se tudo seguisse a cartilha da perfeição absoluta não haveria filme, surge então um terrível acidente envolvendo o filho de Céline, Max (Baylen D. Bielitz) e o relacionamento entre as duas amigas desanda. De início imaginamos que é devido ao processo de luto atravessado por Alice e o esposo, ou pelo sentimento de culpa envolvendo Alice que se cobra por não ter evitado que o pior acontecesse. Então... o comportamento de Céline começa a se tornar cada vez mais estranho e algumas situações suspeitas começam a deixar a vizinha desconfiada de que algo de muito ruim está prestes a acontecer. Estrelado por duas atrizes oscarizadas, Instinto Materno é na verdade uma refilmagem de um filme Belga de 2018 que foi bastante premiado em seu país de origem, mas que provavelmente perdeu algo em sua transposição para Hollywood. O cineasta Benoît Delhome era diretor de fotografia antes de assumir o comando deste filme, se por um lado ele capricha no visual, por outro ele demonstra uma certa ansiedade para desenrolar a trama, o que torna-se bastante prejudicial quando sua intenção é fazer suspense com a história que tem em mãos. A montagem do filme é um tanto atrapalhada em lidar com as sugestões do roteiro, deixando pouco tempo para o espectador imaginar o que acontecerá a seguir. Por conta disso, algumas situações envolvendo os personagens acabam não sendo plenamente desenvolvidas, como a postura do esposo de Céline, Damian (Josh Charles) ou a sugestão de que a sensação de paranoia de Alice teria relação com alguns problemas vividos por ela no passado. Um dos trunfos do filme seria a dubiedade do que vemos na tela, a possibilidade de enriquecer a narrativa com incertezas logo se dissolve nas mãos do diretor e deixa tudo por conta do talento das atrizes para que a coisa funcione. O final me fez questionar a capacidade de qualquer investigador em lidar com os fatos que estão diante do seu nariz, enfim, já disse que existe algo de surreal (ainda que involuntário) no que vemos aqui. Serve para passar o tempo se não exigir muito.
Instinto Materno (Mothers's Instinct/ EUA-2024) de Benoît Delhome com Jessica Chastain, Anne Hathaway, Josh Charles, Anders Danielsen Lee, Bailey D. Bielitz, Eamon O'Connell e Caroline Lagerfelt. ☻☻☻
domingo, 18 de agosto de 2024
4EVER: Alain Delon
sábado, 17 de agosto de 2024
4EVER: Silvio Santos
12 de dezembro de 1930✰ 17 de agosto de 2024 |
Senor Abravanel nasceu no bairro da Lapa na cidade do Rio de Janeiro, primogênito de uma família de imigrantes judeus, Senor trabalhou como camelô e vendedor até iniciar sua carreira como comunicador profissional no rádio. Sua estreia na televisão foi nos anos 1960 na TV Paulista. Adotando o nome artístico de Silvio Santos, seu apelo perante ao público foi crescente, ao ponto de tornar-se um dos rostos mais famosos da televisão brasileira. Silvio fundou o Grupo Silvio Santos, um conglomerado de empresas que inclui o SBT (o Sistema Brasileiro de Televisão inaugurado em 1981), Liderança Capitalização e Jequiti. O apresentador se tornou uma referência da programação dominical na TV com seu programa de variedades e ao longo da carreira acumulou um patrimônio de mais de um bilhão de reais. Embora seus posicionamentos políticos e comentários politicamente incorretos o envolvesse em polêmicas, sua popularidade permanecia intacta ao longo de toda carreira. Silvio de afastou da televisão em 2022 e passou o comando de sua emissora para suas filhas. A vida de Silvio inspirou a série O Rei da TV (Disney+) e o filme Silvio estrelado por Rodrigo Faro que entrará em cartaz em breve. O apresentador faleceu em decorrência de broncopneumonia.
quinta-feira, 15 de agosto de 2024
PL►Y: Borgman
De vez em quando alguém sugeria que eu assistisse o filme Borgman do qual eu não lembrava de ter escutado qualquer comentário na mídia sobre seu lançamento. Geralmente as pessoas ressaltam que é um filme estranho, mas nada que atiçava muito minha curiosidade. O que realmente me motivou ver o filme foi quando descobri que o diretor é Alex Van Warmerdan, o qual conheci quando o Max era o canal da HBO que passava filmes difíceis de encontrar, como o instigante Os Últimos Dias de Emma Blank (2010), assinado por ele. Borgman foi lançado três anos depois e manteve a linha provocativa do cineasta. O filme permite várias leituras e pode até se encaixar em uma gênero que entrou na moda um tempo depois, o folk horror. Isso se deve ao fato do misterioso protagonista proporcionar duas leituras durante a sessão, a primeira (a realista) seria a de um sem teto que invade o cotidiano de uma família e à leva à ruína. A segunda (a fantasiosa?) seria a de que Borgman e seus companheiros são criaturas que vivem no subterrâneo da floresta até que passam a interagir com pessoas comuns da superfície com segundas intenções. Esta segunda leitura é reforçada com a frase bíblica que abre o filme como um SPOILER do que veremos ao longo da sessão ("e eles desceram sobre a terra para fortalecer suas fileiras") assim como o primeiro ato, que apresenta um grupo de pessoas (entre elas, um padre) que parte para expulsar r aqueles seres que vivem no subterrâneo da floresta. Sem ter para onde ir, Camiel Borgman (Jan Bijvoet) se encaminha então para a casa de Richard (Jeroen Perceval) e Marina (Hadewych Minis), que vive em uma casa confortável junto com os filhos pequenos. Borgman pede permissão para tomar banho naquela casa, mas durante a conversa diz conhecer Marina, que não faz a mínima ideia de quem ele seja. Começa então uma verdadeira rotina de suspeitas, desconfianças e segredos entre o casal - que vai totalmente contra a aparência de perfeição que ostentam. Resta dizer que aquele homem desconhecido começa a ser cada vez mais presente na rotina da família e, aos poucos, sua presença começa a inserir seus companheiros nas redondezas, rendendo acontecimentos estranhos e assustadores que deixam aquela impressão que as famílias permitiram que o mal se revelasse em suas casas. Alex Van Warmerdan conduz o filme em ritmo lento, instigando o estranhamento do espectador e também o seu interesse pelos acontecimentos surpreendentes que se anunciam. Existe algo de sobrenatural sobre a origem de Borgman o que tempera o filme com uma espécie de horror sutil que é ampliado ainda mais pelo senso humor sinistro que perpassa toda a narrativa. Talvez o grande trunfo do filme seja nunca deixar claro as intenções do personagem título enquanto caminha para o seu desconfortável desfecho. Não é o tipo de filme que verei novamente, mas considero notável a forma como ele trabalha as dicotomias entre ordem e caos, bem e mal graças à habilidade do diretor em lidar com alegorias em suas narrativas.
Borgman (Holanda / 2013) de Alex Van Warmerdan com Jan Bijvoet, Jeroen Perceval, Hadewych Minis, Alex Van Warmerdam e Tom Dewispeleare. ☻☻☻☻
quarta-feira, 14 de agosto de 2024
4EVER: Gena Rowlands
Virginia Cathryn Rowlands graduou-se na Universidade de Winsconsin em 1950 e começou a atuar em 1956 quando mudou-se para Nova Iorque para estudar na Academia Americana de Arte Dramática, foi lá que conheceu o futuro esposo John Cassavetes, com quem realizou vários filmes que se tornariam clássicos do cinema. Entre 1963 e 1984 o casal realizou dez filmes juntos, entre eles Uma Mulher Sob Influência (1974) e Gloria (1980), que renderam indicações ao Oscar de melhor atriz para ela. Gena foi eleita a melhor atriz do Festival de Berlim em 1978 por outro trabalho com Cassavetes, o cult Noite de Estreia (1977). Ela também foi dirigida pelo filho, Nick Cassavetes, no fofo De Bem com a Vida (1996) e no sucesso Diário de Uma Paixão (2004). Ao longo da carreira, a atriz participou de mais de cem produções e recebeu mais de trinta prêmios. Em 2016 a atriz recebeu um Oscar honorário pelo conjunto da carreira, mas em 2019 a artista foi diagnosticada com Alzheimer. A causa de sua morte não foi informada.