domingo, 6 de abril de 2025

NªTV: O Professor

Alvarez: rindo de se levar a sério demais. 

Juro que eu queria escrever sobre a segunda temporada de Ruptura, mas confesso que empaquei no terceiro episódio e devo retomar em breve (não sei quando) o resto da temporada. Eis que procurando uma série para passar o tempo e relaxar a mente (afinal, estou acompanhando a repaginada de Demolidor e a pasmaceira da terceira temporada de White Lotus também) encontrei no catálogo do Disney+ a série O Professor. Eu confesso só ouvi falar da série perante suas indicações ao Critic's Choice Awards (ator, atriz coadjuvante série de comédia) e no Independent Spirit (ator, atriz coadjuvante, ator coadjuvante e melhor série nova) e me surpreendi ao ver que já estava disponível no streaming por aqui. A série gira em torno de Evan Marquez (Brian Jordan Alvarez), um professor de inglês, assumidamente gay, mas que tenta separar sua vida pessoal do trabalho, especialmente depois da denúncia por ter beijado seu então namorado Malcolm (Jordan Firstman) na frente dos alunos. Malcolm já deixou de ser professor da escola e também de ser namorado de Evan, mas o ocorrido rendeu uma advertência para Evan, que está proibido de se relacionar com qualquer funcionário no trabalho. Este é só um dos dilemas que o personagem irá enfrentar durante a primeira temporada da série, já que rola uma química com o novo professor de química, Harry (Langston Kerman). O mais engraçado de O Professor está na forma como Brian Jordan Alvarez encarna o personagem que se leva a sério em um roteiro que brinca com o arquétipo certinho do personagem a cada episódio (afinal de contas, a trama se passa em um dos estados mais conservadores dos Estados Unidos, o Texas, e ser certinho é um belo motivo para deixarem você em paz) com um tantinho de pimenta. Totalmente comprometido com sua profissão, Evan se enxerga várias vezes perdido em um mundo em que os discursos se cruzam e tentam se sobrepor a toda instante. Em um mundo em que a verdade parece cada vez mais ofuscada pelas narrativas mais variadas possíveis, o personagem enfrenta sua cota de cruzadas por causas que parecem perdidas. Embora a série seja uma comédia (oito episódios curtinhos que você consegue maratonar em um dia), ela toca em alguns assuntos sérios como homofobia, o lugar da docência no mundo atual e a construção da identidade com bastante leveza (mas me pergunto se algumas temáticas não poderiam ir um pouquinho mais longe). Brian Jordan está ótimo a frente do elenco e conta com a ajuda de  Jordan Firstman (o ex sempre presente na vida do professor) para bagunçar ainda mais a vida amorosa do protagonista. Ainda que pouco comentada por aqui, O Professor é uma delícia de assistir e já aguardo a nova temporada. Interessante como o programa é mais uma série recente sobre professores, assim como Abbot Elementary (também presente no Disney+) e a finada Lucky Hank

O Professor (The English Teacher / EUA - 2024) de Brian Jordan Alvarez com Brian Jordan Alvarez, Stephanie Koenig, Enrico Colantoni, Sean Patton, Carmen Christopher, Jordan Firstman, Savanna Gann, Langston Kerman, Scarlette Amber Hernandez, Chris Riggi e Ben Bondurant.

PL►Y: Acabe com Eles

Christopher, Barry e Nora: tragédia eminente. 

Os primeiros minutos de Acabe com Eles servem para deixar claro que apesar de sua aparente tranquilidade, Michael é um um sujeito instável. Some isso à culpa que carrega sem suas costas e você entenderá porque aquele olhar triste que Christopher Abbott sabe fazer tão bem cai como uma luva no personagem. Vale lembrar que Abbott é um ator nascido em Connecticut nos Estados Unidos, mas ninguém diria ao vê-lo falando gaélico (a língua natal dos irlandeses) neste filme de estreia de Christopher Andrews. Seu personagem vive com o pai doente (Colm Meaney) e assumiu a responsabilidade de cuidar de suas ovelhas desde que a saúde dele piorou nos últimos anos. A situação dos dois poderiam ser um tantinho mais tranquila se não existissem os constantes conflitos com outro criador de ovelhas da região, Gary (Paul Ready), de quem suspeitam estar roubando ovelhas com a ajuda do filho, Jack (Barry Keoghan). As duas famílias não se toleram e a situação só piora quando as suspeitas de roubo se intensificam, dando início a uma sucessão de acontecimentos que ganham proporções cada vez mais violentas. O filme conta uma uma narrativa sufocante que cresce cada vez mais diante das ações violentas dos personagens, especialmente de Michael e Jack que são incapazes de perceberem que os limites já foram ultrapassados faz tempo. A narrativa é movida pelo ódio das duas famílias e até o que poderia ser uma história de amor no meio disso tudo termina soterrada pelos acontecimentos que beiram a tragédia. As locações bucólicas junto à fotografia friorenta ressaltam ainda mais o tom trágico da relação entre as famílias rivais (e nem vou mencionar as cenas angustiantes protagonizadas pelas ovelhas - cabendo ressaltar que nenhuma delas sofreu maus tratos durante as gravações). No meio de tanta testosterona explodindo na nossa cara, a atriz Nora Jane-Noone (que interpreta a esposa de Gary) merece destaque por ser um contraponto diante da guerra patriarcal já instaurada. Em cartaz na Mubi, o longa merece atenção pela sua mistura atraente de drama e suspense, mas exige estômago da plateia. 

Acabe com Eles (Bring Them Down / Irlanda - Reino Unido - Bélgica / 2024) de Christopher Andrews com Christopher Abbott, Barry Keoghan, Colm Meaney, Paul Ready, Susan Lynch, Aaron Efferman e Conor MacNeill. ☻☻☻


PL►Y: A Verdadeira Dor

Kieran e Jesse: viagem às origens.

David (Jesse Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin) são primos muito próximos - e o foto de nascerem próximos ajudou ainda mais esta relação. Os dois cresceram juntos, mas na vida adulta seguiram caminhos um tanto diferentes. Enquanto David casou e se tornou pai, Benji ficou meio perdido com a vida adulta. Diante do falecimento da avó, os dois resolvem fazer uma viagem para a terra natal dela e conhecer um pouco mais da origem da família na Polônia. A família de origem judia carrega o espectro do Holocausto em sua história e esta se mistura com as referências de outros visitantes que participarão do mesmo pacote de viagem que os primos. Obviamente que não será apenas um filme de viagem, já que aos poucos percebemos que existem algumas situações entre os dois que precisam ser passadas a limpo - e algumas delas contrariam a primeira impressão bem humorada deixada por Benji. Aliás, ele mesmo faz questão de desconstruir esta primeira impressão quando começa a problematizar o fato de terem dinheiro para fazer uma viagem daquelas, ou o prazer que a viagem pode despertar diante do confronto com um passado tão sombrio e até questionar os rumos adotados pelo guia de turismo durante as visitações que realizam. Em seu segundo trabalho como diretor, Jesse Eisenberg opta por uma narrativa sem firulas, de tom simples, centrado nos personagens e sem medo de criar alguns momentos bobos (como aquele momento em que todos resolvem posar para fotos junto com estátuas). Depois de assistir "A Verdadeira Dor" (agora disponível no Disney+), eu fiquei imaginando se Kieran Culkin merecia realmente todos os prêmios de ator coadjuvante da temporada. Para começo de conversa, ele não é coadjuvante, sendo tão protagonista quando Jesse Eisenberg (que também assina o roteiro) e não consigo enxergar nada demais em seu trabalho que mereça tamanha unanimidade. Longe de mim dizer que ele está mal no papel, pelo contrário, ele está bem, mas não era para culminar com o Oscar de coadjuvante da temporada. É um trabalho bem humorado, temperado com algum melancolia e que termina com o tom de incerteza próprio das atitudes do personagem. Existem outros fatores que justificam sua premiação: o fato dele ser um ator que cresceu em Hollywood (seu primeiro trabalho foi ao lado do irmão Macaulay aos seis anos de idade em Esqueceram de Mim/1990), mas nunca chegou perto de ser um astro (ele até ensaiou quando foi indicado ao Globo de Ouro de ator de comédia pelo ótimo Igby Goes Down/2002), porém recentemente foi redescoberto pelo seu trabalho na série Succession (2018-2023). O fato é que sem ele A Verdadeira Dor seria bastante sem graça, já que a narrativa nada exuberante, precisa do seu personagem para espantar a sonolência que poderia provocar com a pouca profundidade que aborda seus temas. O filme também concorreu ao Oscar de melhor roteiro original, embora ele lembre muito o ponto de partida de outro filme, Minha Lua de Mel Polonesa (2018) em que um casal francês resolve visitar o avô de um deles na Polônia. Quem curtir o tom simpático de A Verdadeira Dor, pode procurar o outro filme que até pouco tempo estava disponível no Prime Video

A Verdadeira Dor (A Real Pain/EUA) de Jesse Eisenberg com Jesse Eisenberg, Kieran Culkin, Jakub Gasowski, Will Sharpe, Daniel Oreskes, Jennifer Grey e Kurt Egyiawan. ☻☻

terça-feira, 1 de abril de 2025

4EVER: Val Kilmer

31 de dezembro de 19591º de abril de 2025

Val Edward Kilmer nasceu na Califórnia em uma família de origem Cherokee, sueca, irlandesa e alemã. Já crescido, Val estudou com Kevin Spacey na Universidade Chatsworth e na Escola Profissional de Hollywood. Aos 17 anos, o rapaz ficou conhecido como o mais jovem a ser aceito na prestigiada Juilliard School para estudar arte dramática. Seu primeiro trabalho no cinema foi no clássico da Sessão da Tarde Top Secret (1984) que eu jurava ser uma paródia de outro filme com Val, Top Gun (1986) que foi lançado anos depois. O ator foi aclamado por sua personificação mediúnica de Jim Morrison em The Doors (1991) de Oliver Stone, filme que lhe garantiu status nos anos seguinte e lhe rendeu papéis importantes em produções como Amor à Queima Roupa (1993), Fogo Contra Fogo (1995) e Batman Eternamente (1995) em que viveu o próprio Homem-Morcego. O temperamento difícil o fez se afastar das grandes produções, no entanto, continuou trabalhando com diretores importantes como David Mamet (Spartan/2004) e Francis Ford Coppola (Virginia/2011) e ajudou a fazer Beijos e Tiros (2005) um filme de sucesso - cuja sequência nunca saiu do papel. Com mais de cem produções no currículo, o ator atuou menos por conta de um câncer na laringe diagnosticado em 2016. Sua última aparição nas telas foi no sucesso Top Gun: Maverick (2022) em que sua voz precisou ser dublada para se tornar mais compreensível. O ator faleceu em decorrência de uma pneumonia.