O Castelo no Céu: Miyazaki e a paixão pelos ares.
O Castelo no Céu (1986) é o terceiro longa-metragem do diretor Hayao Miyazaki e retrata uma das paixões do cineasta: a aviação. Miyazaki tem verdadeiro fascínio por voar e este aspecto é presente em vários de seus filmes e aqui serve a uma mistura de fantasia com belíssimas imagens que serviu para pavimentar o início dos Estúdios Ghibli com o sucesso de uma história despretensiosa. A trama começa com a menina Sheeta sendo perseguida por piratas (e posteriormente por militares) que estão atrás de uma pedra misteriosa presente em seu colar. Ao fugir, a menina é salva por um menino órfão que trabalha com mineração, o adorável Pazu. O menino também é inventor nas horas vagas e seu sonho é inventar uma máquina que o possa levar para além das nuvens - onde acredita existir uma lendária ilha flutuante que, na verdade, parece mais um castelo. No meio das várias fugas realizadas, esta ilha servirá de esconderijo para os dois (mas não por muito tempo). O tal Castelo no Céu é o responsável pelos momentos mais deslumbrantes do filme, que demonstra desde o início que os animadores Ghibli sempre capricharam no visual marcante do estúdio. Além do tom de aventura em torno da amizade do casalzinho, o filme tem ainda um subtexto sobre tecnologias e os perigos que podem aparecer a partir de seu mau uso, mas nada que se aprofunde muito. Destaque para alguns momentos contemplativos e para a líder dos piratas Dola, que aos poucos demonstra mais camadas do que você imagina - ao contrário do vilão Muska, que deixa a desejar. Singelo e divertido, o filme termina como uma aventura juvenil cativante. Outro filme que também segue a linha aventuresca é PomPoko - A Grande Batalha dos Guaxinins (1994), só que de forma bem mais, digamos, ousada. Apesar de ser protagonizada por bichos fofos, o diretor Isao Takahata demonstra mais uma vez sua busca por novos "parâmetros" nas produções do famoso estúdio. Seus filmes costumam ser os mais fora da caixinha entre seus colegas e aqui existe uma verdadeira coleção de cenas em que demonstra isso. Inspirado na lenda dos tanukis, os guaxinins travessos, o filme conta a história da luta destes animais contra o avanço das cidades sobre as paisagens naturais. Por conta da invasão humana ao habitat natural dos animais, algumas pessoas podem considerar determinadas cenas pesadas para a criançada e... são mesmo!
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Pom-Poko: metamorfores, batalhas e testículos em ação.
Além de ter cenas que remetem diretamente aos filmes de terror (eu mesmo fiquei arrepiado com as pessoas sem rosto), o filme ainda ressalta bastante os testículos dos guaxinins no decorrer da história. Estes momentos fazem parte dos trechos mais surreais (e um tanto bizarros) da história que conta com guaxinins capazes de se metamorfosear e adquirir características mais diversas (incluindo fingir que são seres humanos). Vale lembrar que o filme tem dois grupos de guaxinins distintos, os pacíficos e os violentos que partem para o ataque sem pensar direito no que estão fazendo... mas nem só de planos e ataques vivem os personagens, eles também namoram e o período de acasalamento também tem destaque na histórias (mas nada explícito). No entanto, a irreverência não é um problema no filme, seu ponto fraco é a narrativa irregular, que nunca prende realmente a atenção do público. O público mais maduro vai aproveitar mais a sessão e o senso de humor bastante peculiar desta trama com com contornos ecológicos. O cineasta Isao Takahata já tinha alcançado a fama com seu filme
O Túmulo dos Vagalumes (1988) cultuado clássico do estúdio. Ambientado na Segunda Guerra Mundial, o filme acompanha dois irmãos, Seita e a pequena Setsuko, os dois tem a vida totalmente mudada após um bombardeio sobre o território japonês. Eles moravam com a mãe e aguardavam o retorno do pai marinheiro, quando de repente tiveram que morar com uma tia e... depois a situação das crianças só piora. No entanto, desde o início já sabemos o desfecho que a história terá e resta ao espectador acompanhar a sucessão de tristezas na vida dos personagens. Ao retratar os horrores da guerra, mesmo em se tratando de uma animação, Isao Takahata não hesita em ser sombrio. Dos corpos que aparecem em cena, às imagens que retratam os feridos, a fome e a violência está toda ali com a densidade de um filme
live action para gente grande (nem precisa dizer que o filme foi um fiasco ao entrar em cartaz nos EUA). Baseado no livro de Akiyuki Nosaka, o filme é um verdadeiro marco se imaginarmos que ele foi lançado no final dos anos 1980 (época em que animações ainda eram sinônimos de filmes para criança). O resultado é um filme de guerra singelo, comovente e bastante doloroso - especialmente pela forma bastante verossímil como retrata o amor entre os irmãos no meio da tragédia. O resultado é um retrato intimista e contundente sobre o Japão devastado pela guerra. Ao contrário dos citados anteriormente,
O Túmulo dos Vagalumes não está no pacote dos Estúdios Ghibli presente na Netflix, mas é um filme que vale a pena procurar quando você estiver disposto a chorar alguns litros diante da TV.
O Túmulo dos Vagalumes: filme de guerra de respeito.
O Castelo no Céu (Tenkû no shiro Rapyuta / Japão - 1986) de Hayao Miyazaki com vozes de Mayumi Tanaka, Keiko Yokozawa, Kotoe Hatsui. ☻☻☻
PomPoko: A Grande Batalha dos Guaxinins (Heisei tanuki gassen ponpoko/Japão - 1994) de Isao Takahata com vozes de Shinchô Kokontei, Makoto Nonomura e Yuriko Ishida. ☻☻
O Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no haka / Japão - 1988) de Isao Takahata com vozes de Tsutomu Tatsumi, Ayano Shiraishi e Akemi Yamaguch. ☻☻☻☻