Cinco filmes assistidos no mês que merecem destaque:
domingo, 28 de fevereiro de 2021
#FDS Robert Altman: Assassinato em Gosford Park
Os anfitriões e seus convidados: a parte de cima. |
sábado, 27 de fevereiro de 2021
#FDS Robert Altman: O Jogador
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
#FDS Robert Altman: Nashville
Robert Altman: humor peculiar. |
domingo, 21 de fevereiro de 2021
§8^) Fac Simile: Isla Fisher
PL►Y: Greed - A Indústria da Moda
Coogan: dentes inconcebíveis... |
O inglês Michael Winterbottom começou sua carreira na televisão dirigindo séries e documentários no final dos anos 1980. Em 1995 teve sua primeira experiência ao fazer cinema e desde então manteve a rotina quase inquebrável de lançar um filme por ano. Pode se dizer que ele já fez todo tipo de filme, do erótico (9 Canções/2004) até o drama mais convencional (O Preço da Coragem/2007), mas sua marca mesmo é quando mistura realidade e ficção em longas que podem ser dramas (Bem-Vindo à Sarajevo/) ou comédias (A Festa Nunca Termina/2002). Fazia tempo que eu não me empolgava com um filme dirigido pelo moço, mas o que ele faz neste Greed está entre os seus melhores trabalhos, não apenas por repetir com maestria sua mistura de ficção com algo documental, mas por misturar risos com temas sérios, além de debochar um tanto de si mesmo com as filmagens de um reality show e um documentário dentro do próprio filme. Parece complicado? Nas mãos de outro diretor a ideia seria uma confusão só, mas com Winterbottom demonstrando toda sua energia, o filme é bastante empolgante. O filme conta a história de Sir Richard McCreadie (Steve Coogan, o ator favorito do cineasta) que desde bem jovem construiu um verdadeiro império da moda. Entre grandes magazines à marcas disputadas por artistas ele fez muito dinheiro ao longo dos anos. Ele está prestes a celebrar sessenta anos de vida e uma grande festa é organizada para servir de uma espécie de fachada para todos os escândalos financeiros envolvendo seu nome. A celebração ainda inclui a presença de um escritor (David Mirchell) que está preparando um livro sobre a vida de McCreadie e passa a ter contato com os bastidores da festa, além de funcionários e familiares do empresário. Cada um deles tem algo a contar sobre Richard, a mãe (Shirley Henderson) que não faz questão de entender como o filho se tornou milionário, a ex-esposa (Isla Fisher) que ainda é bem próxima do ex-marido e mostra-se grande parceira de maracutaias, o filho inconformado (Asa Butterfield), a filha (Sophie Cookson) que tem seu próprio reality show (e que de vez em quando se confunde sobre o que é sua vida e o que é mentira). Misture tudo isso com humor ácido, imigrantes sírios, sósias, mão de obra barata, cenários gregos e um pouco de vingança e o filme se constrói de forma surpreendente. O mais interessante é como Greed (o apelido de Richard que em inglês significa ganância) constrói sua casca engraçadinha e um tanto frívola para escancarar mesmo a miséria que se esconde por trás de toda uma indústria milionária, tendo Coogan em um ótimo trabalho que vai do flerte com o glamour à personalidade mais desagradável. Assim, da comédia passa-se para o drama e depois até para um certo suspense. Greed é Winterbottom em sua melhor forma.
Pódio: Oscar Isaac
Bronze: o empresário honesto. |
Prata: o gênio ambíguo. |
Ouro: o cantor fracassado. |
PL►Y: A Vida em Si
Antes de ficar conhecido como o criador da série This Is Us, Dan Fogelman fez carreira no cinema como roteirista de sucessos como Carros (2006) e Amor à Toda Prova (2011). Em 2015 ele dirigiu seu primeiro filme, Não Olhe Para Trás estrelado por Al Pacino e que não chamou a atenção desejada. Em 2018, no auge do sucesso do seu seriado, ele se aventurou novamente como diretor e lançou este A Vida em Si, mas e a sensação deixada é que Fogelman tem uma dificuldade gigantesca de dosar o drama em suas obras. Se na televisão este artifício pode até funcionar ao estender a vida de seus personagens por vários episódios, num filme de duas horas de duração a coisa complica. Também não ajuda o fato do filme começar de forma bastante confusa com uma narração de Samuel L. Jackson sendo engraçadinho até que uma tragédia acontece e você descobre que é tudo um roteiro do personagem de Oscar Isaac. Se a ideia era ser descolado ou engraçadinho, a coisa mais desanda a apresentação dos personagens do que prende a atenção do espectador. A sorte é que depois o filme encontra um ritmo agradável ao contar a história do casal Will (Oscar Isaac) e Abby (Olivia Wilde), que flui de forma bastante agradável e convincente, se tornando a melhor parte do filme até que percebemos que aquele início esquisito na verdade revelava o truque narrativo que a o roteiro perpetuará até o seu desfecho: as coincidências. Nada contra este tipo de recurso, ele pode até ser convincente de acordo com a habilidade do diretor lidar com isso, mas Fogelman se atrapalha um bocado, especialmente pela sobrecarga de histórias tristes em torno de seus personagens. Alguém avisa para ele que os personagens não precisam sofrer tanto para nos comover. Depois de acompanharmos o casal por um bom tempo, temos a história de Dylan (Olivia Cooke) e seu avô (Mandy Patinkin), além de uma família espanhola que aparentemente não teria nenhuma relação com os outros personagens. Com tudo girando em torno de um acidente do destino, o acaso recebe destaque em uma trama que ainda tem uma discussão acadêmica que relaciona narradores não confiáveis e a vida em si. Parece confuso? Nem tanto, é apenas coisa demais para quase duas horas de projeção. O roteiro parece uma colagem de problemáticas (e dado o grande número de personagens nem todos os problemas tem a chance de serem desenvolvidos de forma eficiente, são reduzidos quase a detalhes da história). Parece um novelão condensado na duração de um filme e que poderia alcançar um resultado melhor se fosse mais organizado e enxuto em seu rosário de tragédias. Acho que em uma série a ideia até funcionaria bem, mas num filme... você precisa pensar diferente Dan Fogelman.
A Vida em Si (Life Itself/ EUA - 2018) de Dan Fogelman com Oscar Isaac, Olivia Wilde, Antonio Banderas, Olivia Cooke, Annette Bening, Mandy Patinkin, Sergio Peris-Mencheta, Jean Smart, Laia Costa e Àlex Monner. ☻☻
PL►Y: A Febre
sábado, 20 de fevereiro de 2021
FILMED+: Vá e Veja
Aleksei (ao centro): uma guerra sem enfeites |
Vá e Veja está sempre presente na lista de melhores filmes de guerra da história do cinema e também aparece naquelas dedicadas às produções mais difíceis de se assistir. O motivo de todo o culto em torno dele é a narrativa realista sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial ambientada no território da União Soviética e o motivo para o filme ser tão difícil nasce exatamente daí, já que o diretor Elem Klimov destrói qualquer ideia do filme de guerra como entretenimento para contar uma história sem concessões que coleciona vítimas ao longo de suas duas horas de duração. O filme segue a trajetória do adolescente Florian (Aleksei Kravtchenko), um rapaz comum que vive num vilarejo na Bielorrússia com a mãe e suas irmãs. No início do filme, ele e um amigo cavam o chão em busca de artefatos de guerra e acabam encontrando uma arma. Um avião cruza o céu e é como se um verdadeiro pesadelo começasse. O que antes poderia ser vivenciado como uma brincadeira, mostrará que Guerra é coisa séria e devastadora. Logo ele se alia aos partisans, um movimento clandestino que lutava contra os invasores alemães. Enquanto a mãe se desespera com as possibilidades em vista, Florian mostra-se até entusiasmado com seu recrutamento. No entanto, logo uma série de acontecimentos o farão se perder do grupo e vivenciar o inferno na Terra. São tantas atrocidades que o garoto testemunha que compreendo perfeitamente a desistência de parte do público durante o filme. Embora Vá e Veja condense os acontecimentos em pouco mais de duas horas (o que é mais do que suficiente para cumprir seus objetivos) não existe qualquer exagero no que vemos diante da câmera. Cenas chocantes (e a pior delas é a do celeiro) foram bastante comuns na Bielorrússia. Ao todo foram 628 cidades queimadas junto com seus moradores durante a invasão nazista e o filme não poupa o espectador de vivenciar as angústias presenciadas por seu protagonista (que começa o filme como um rapaz comum e termina magro, envelhecido e à beira da loucura num trabalho impressionante de Aleksei). Outro destaque da produção é a fotografia com uso de luz natural que deixou tudo ainda mais realista diante da câmera, além de um impressionante trabalho de som. Ainda existe toda uma mítica em torno do filme, já que o diretor Elem Klimov vivenciou o período da Segunda Gurra Mundial quando era menino e se inspirou nesta experiência para criar o filme, além disso, seu co-roteirista, Ales Adamovich, era adolescente durante a Guerra e lutou ao lado dos pais entre os partisãos, vivenciando testemunhando histórias muito semelhantes as de Florian. Todas estas experiências trazem uma autenticidade impressionante para o filme que tem seu título retirado do texto bíblico do sexto capítulo do Apocalipse. Com seus diálogos ásperos e suas cenas cruas, trinta e cinco anos após seu lançamento, o retrato da guerra em Vá e Veja continua incômodo e insuperável.
PL►Y: Eu me Importo
Sem dar maiores detalhes poderóamos imaginar que Marla Grayson (Rosamund Pike) tem um dos trabalhos mais nobres da história do cinema. Afinal, todo dia quando acorda pela manhã, Marla tem a missão de cuidar de idosos indefesos que recebem dela o apoio incondicional para cuidar de suas vidas pessoais e financeiras. Esta casca de boas intenções convence o juiz Lomax (Isiah Whitlock Jr.) que confia plenamente na boa índole de Marla e, obviamente, não acredita em qualquer pessoa que indique que no coração da loura existe algo mais do que bondade. Marla é um destes monstros que sabem utilizar as brechas do sistema para se dar bem, para isso conta com a ajuda de Fran (Eiza González) e outras pessoas dispostas a ganharem uma grana sem ter que se preocupar com escrúpulos ou coisa parecida. Com a tutela judicial para cuidar de seus clientes, Marla faz o que quiser e tudo indica que ela acaba de receber uma grande cereja no topo do seu bolo profissional: Jennifer Peterson (Diane Wiest), uma senhora que lhe é apresentada como alguém que não possui filhos ou familiares, mas que tem rendimentos consideráveis. Jennifer não precisa da ajuda de ninguém, mas nada que um diagnóstico médico adulterado não resolva. Existe algo de arrepiante quando Marla bate à porta de Jennifer e a vida daquela senhora vai pelos ares sem muita esperança de voltar ao normal - pelo menos até que apareçam personagens preocupados com Jennifer e dispostos a dar uma lição na ambiciosa Marla. Eu Me Importo é uma comédia de humor maldoso que se assiste com um riso nervoso diante das atrocidades que o roteiro reserva. Existe aqui uma disputa cada vez mais absurda envolvendo personagens que não valem muita coisa, mas o espectador tem plena liberdade de escolher com quem ele simpatiza um pouco mais e torcer por ele até o final. É neste ponto que os trabalhos de Rosamund Pike (indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz de comédia), Diane Wiest (que vale lembrar tem dois Oscars na estante) e Peter Dinklage se tornam fundamentais para fazer as engrenagens do roteiro do diretor J. Blakeson funcionarem que é uma beleza. São tantas reviravoltas em personagens que pretendem dar uma rasteira nos outros que as quase duas horas de filme passam bem rápido amparados pelo trabalho dinâmico do cineasta. Depois de tanta confusão, o filme expande aquela história sobre pessoas que transformam a fachada das boas intenções em interesses pessoais bastante escusos. Eu Me Importo bem que poderia ter recebido mais atenção nas premiações até agora (como ter conseguido uma vaga na categoria de Melhor Comédia ou Musical no Globo de Ouro ou até estar cotado para prêmios de roteiro original), mas talvez o problema seja o finalzinho, que não combina com a esperteza e a sagacidade tóxica de todo o resto (mas nada que estrague a produção).
Eu Me Importo (I Care a Lot/EUA-2020) de J. Blakeson com Rosamund Pike, Eiza González, Diane Wiest, Peter Dinklage, Chris Messina, Isiah Whitlock Jr. e Macon Blair. ☻☻☻☻
terça-feira, 16 de fevereiro de 2021
NªTV: Cidade Invisível
10+: As Fantasias Segundo Gary Oldman
Com 72 anos e prestes a receber sua terceira indicação ao Oscar, o inglês Gary Oldman demorou muito para ser levado à sério por Hollywood. Ótimo ator ele sempre foi, mas por um bom tempo foi preso a um tipo bem específico nos filmes: o de vilão, além disso, foi chamado a maior parte do tempo para dar conta de personagens que cairiam no ridículo na mão de outros atores, Gary não se importou muito e fez alguns clássicos no decorrer de sua carreira. Ponto alto de sua carreira são suas caracterizações impressionantes que sempre fizeram questão de ressaltar seu talento e versatilidade. Esta lista é para lembrar dez vezes em que o ator desapareceu em personagens com sua figurinos, perucas, maquiagem e interpretações marcantes. A lista está organizada por gosto pessoal pelas suas caracterizações mesmo e, com certeza, você poderia ordenar de outro jeito:
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021
FILMED+: Honeyland
domingo, 14 de fevereiro de 2021
PL►Y: Nova Ordem Espacial
PL►Y: Bliss - Em Busca da Felicidade
Bliss - Em Busca da Felicidade (Bliss / EUA - 2021) de Mike Cahill com Owen Wilson, Salma Hayek, Nesta Cooper, Ronny Chieng, Madeline Zima, Jorge Lendeborg Jr. e Joshua Leonard. ☻☻
sábado, 13 de fevereiro de 2021
FILMED+: Stalker
PL►Y: Sonhos de Uma Vida
Indicado ao Urso de Ouro no último Festival de Berlim, Sonhos de Uma Vida teve sua estreia nos cinemas prejudicada por conta da pandemia, mas pode ser assistido no Amazon Prime Video. O filme conta um dia na vida do escritor Leo (Javier Bardem) e sua filha, Molly (Elle Fanning) que é jornalista e tenta conciliar sua rotina entre o trabalho e o pai que sofre de uma doença mental degenerativa. Desde o início vemos que Leo tem dificuldades para articular sua fala e movimentos, mas a diretora Sally Potter não se contenta com isso e quer apresentar o que se passa na cabeça dele (e explica muitas vezes seus movimentos, reações e palavras aparentemente sem sentido). É assim que o filme cria sua narrativa em torno do que acontece naquele dia e o que pode ser imaginação ou lembrança sobre a vida do protagonista. Assim, o que poderia ser um dia comum em que Molly precisa leva-lo ao dentista e ao oftalmologista se torna um grande desafio, cheio de percalços e desafios, além de cenas que não sabemos ao certo se aconteceram de fato ou não. Assim, resta ao espectador tentar entender o que está acontecendo enquanto somos apresentados à Dolores (Salma Hayek) e Rita (Laura Linney) e desvendamos um pouco mais da vida daquele homem. Filmes com narrativas calcadas nos labirintos da mente são sempre interessantes e dependem muito da habilidade da montagem em criar uma cadência atraente para os dramas dos personagens. Em Sonhos de Uma Vida, curiosamente, a graça não está no início ou no desfecho, mas sim em sua metade, onde começamos a entender a vida daquele homem. Javier Bardem tem um bom desempenho nas várias camadas de Leo, mas quando Sally opta por ter o foco total sobre o personagem, os coadjuvantes acabam ficando unidimensionais, isto é sentido muito no personagem de Salma Hayek que está bem em cena, embora o seu texto seja dramático demais de forma que Laura Linney se sai melhor em uma participação pequena e bastante sintética de sua personagem. No entanto, confesso que tive problemas sérios com Elle Fanning. A queridinha do cinema indie americano não me convenceu como a filha preocupada entre o dilema de viver se equilibrando entre o trabalho e o cuidado ao pai, sua atuação me parece fora do tom e um tanto improvisada na falta de química com Javier. O que poderia ser só um detalhe se torna um problema quando o desfecho revela que deveria haver uma grande reconexão entre os dois, mas do jeito que está parece que o filme não chega ao lugar que desejava. Embora tenha seus tropeços, Sonhos de Uma Vida pode agradar quem procura uma narrativa diferente.
Sonhos de Uma Vida (The Roads not Taken / Reino Unido - EUA - Suécia - Polônia - Espanha / 2020) de Sally Potter com Javier Bardem, Elle Fanning, Branka Katic, Salma Hayek e Laura Linney. ☻☻