quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

HIGH FI✌E: Fevereiro

Cinco filmes vistos no mês que merecem destaque: 

 

 

"Poderia me Perdoar?" de Marielle Heller
 

 

N@ Capa: Oscar 2019

Oscar 2019: Os Oito Indicados. 

Como não poderia deixar de ser, a capa do blog no mês de fevereiro foi dedicada aos oito indicados ao Oscar de melhor filme. Quem ilustrou o alto da página durante todo o mês foi Christian Bale irreconhecível como Dick Cheney em Vice - que levou para casa o Oscar de maquiagem, ao seu lado estava a ganhadora do Oscar de melhor atriz Olivia Colman (A Favorita) que ficou chocada ao ouvir seu nome no lugar da favorita Glenn Close. Roma levou para casa três prêmios: direção e fotografia para Alfonso Cuarón e melhor filme estrangeiro. Infiltrado na Klan levou deu o prêmio de roteiro adaptado para Spike Lee.  Lee detestou ver Green Book levar o prêmio de melhor filme da noite, mesmo depois de ter faturado os prêmios de roteiro original e ator coadjuvante (Mahershala Ali) muita gente torceu o nariz para o campeão da noite. Pantera Negra perdeu a categoria principal, mas fez história ao levar as estatuetas de melhor figurino, direção de arte e trilha sonora. Rami Malek foi considerado o melhor ator do ano por seu trabalho como Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody. O controverso filme ainda levou para a casa os prêmios de edição de som, mixagem de som e edição, com quatro estatuetas na bagagem, o filme do Queen se tornou o mais premiado da noite. Apesar da torcida e do sucesso, Nasce uma Estrela ganhou somente o de melhor canção para Shallow - que rendeu um dos melhores momentos da noite com a apresentação do diretor, ator (cantor?) Bradley Cooper e sua estrela Lady Gaga. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Premiados Oscar 2019


Como eu já imaginava, era o Oscar em que tudo poderia acontecer! Tudo mesmo! O melhor foi que tivemos algumas surpresas, algumas boas, outras nem tanto e uma arrasadora! Este foi o Oscar sem anfitrião, com alguns apresentadores inusitados, poucas piadas e um ganhador que promete entrar para a lista dos mais odiados. Eu já imaginava que eu erraria um monte de palpites, mas eu nem ligo, foi uma cerimonia que realmente gostei de assistir, por Rami, por Regina, por Olivia Colman, por Shallow, por um curta que fala sobre menstruação, pelo modelito cheio de coelhos de Melissa McCarthy. A seguir todos os premiados da noite e os meus comentários - sem esquecer o tradicional  marcando meus acertos e o placar ao final de tudo:

Melhor Filme: Green Book
Estava longe de ser o melhor filme no páreo. Não era o meu favorito, mas talvez seja ainda o filme que a grande maioria da Academia ainda vota diante do apelo cada vez maior à diversidade. Vão massacrar o filme ao longo dos anos, vão relembrar de todas as críticas que sofreu, mas no fundo é um filme que está bem longe de ser um desastre - só não merecia ser considerado o melhor filme de 2018.

Melhor Direção: Alfonso Cuarón  (Roma)
Este era mais que esperado. Cuarón fez um filme que exalta o cotidiano, que transforma em arte as suas memórias de infância e comove por sua simplicidade e beleza sutil. O mais interessante é que o s mexicanos estão fazendo a festa no Oscar dos últimos anos, ao lado dos amigos Guillermo Del Toro e Alejandro Iñárritu, Cuarón faz história (e ainda repetia Netflix cada vez que subia no palco).  

Melhor Ator: Rami Malek  (Bohemian Rhapsody)
Desculpe Christian Bale, mas quando olhava para todos os concorrentes eu só conseguia torcer pelo cara dando o sangue por Freddie Mercury. Bohemian pode não ser um filme exemplar, mas me fez viajar para outro tempo enquanto eu assistia - e boa parte desta magia se deve ao trabalho de Rami. 

Melhor Atriz: Olivia Colman (A Favorita)
Melhor surpresa da noite! Amo Glenn Close (mas sempre acho que depois dela perder o Oscar por Ligações Perigosas/1988, vai ser difícil levar o Oscar para a casa)... mas Olivia está espetacular como a Rainha Anne! Vê-la levar a estatueta me fez até relaxar em ver Glenn perder outra vez. Além disso, nos brindou com o discurso mais espontâneo da noite (ainda com  cara de quem tinha certeza que perderia até para a Lady Gaga).  

Melhor Atriz Coadjuvante: Regina King (Se a Rua Beale Falasse)
Foi lindo ver Regina  subindo ao palco para buscar sua estatueta com seu discurso impecável. Pelo papel da mulher que faz  o que pode para inocentar o genro, Regina se tornou a alma de um belo filme que se perde no excesso de controle do diretor. 

Melhor Ator Coadjuvante: Mahershala Ali (Green Book) 
Maherslala Ali entrou para a história como o segundo ator negro a ter duas estatuetas na estante (um feito que se compara somente a Denzel Washington). Ele é um dos principais motivos para se pensar que Green Book é um filme melhor do que realmente é.  

Melhor Roteiro Adaptado: Infiltrado na Klan 
Não era o meu favorito, mas foi emocionante ver Spike Lee levando seu Oscar para casa. O diretor ficou tão feliz que empolgou todos os presentes! O melhor foi aquela sensação de que o filme poderia até levar o principal prêmio da noite, mas o tiro saiu pela culatra...

Melhor Roteiro Original: Green Book
O oposto de Infiltrado na Klan não empolgou muito quando foi anunciado como o premiado na categoria (e seus roteiristas sentiram isto na pele na hora do discurso). A torcida para A Favorita era grande, mas a Academia preferiu um material mais convencional. A vitória era o prenúncio do que estava por vir mais tarde. 

Melhor Filme Estrangeiro: Roma
Quando Roma levou este aqui eu só imaginava como seria estranho ver um filme ganhar o prêmio de Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro, quase um egoísmo em rede mundial! Por conta disso  acabei apostando em Guerra Fria, belíssimo filme polonês que merecia muitas honras e glórias mas saiu de mãos abanando. Imaginei que os votantes canalizariam os votos para melhor filme na obra de Cuarón e premiariam outro nesta aqui.

Melhor Documentário em Curta-metragem: Period 
Acertei! Acho que as categorias mais imprevisíveis vão me render pontos extras para tornar meu massacre menos vexaminoso! Só pelo discurso da diretora ("nunca imaginei que um filme que fala sobre menstruação ganharia o Oscar") e o fato de ter o orçamento levantado pela internet já valeriam o prêmio

Melhor Documentário em Longa-metragem: Free Solo 
Elogiado e vertiginoso, seria difícil ver este ótimo exemplar de homem versus natureza sair de mãos abanando. Merecido. 

Melhor Design de Produção: Pantera Negra
A estética do filme da Marvel é realmente espetacular! Melhor ainda quando sua designer subiu ao palco e fez aquele discurso emocionado que já valeria outra estatueta. 

Melhor Figurino: Pantera Negra 
Outro ponto forte do filme da Marvel! Outra profissional que fez história no Oscar! Wakanda Forever!

Melhor Fotografia: Roma 
Alfonso Cuarón saiu da festa de mãos cheias! Três Oscars para um filme em que dirigiu, produziu, escreveu, fotografou, imaginou, relembrou, sonhou...

Melhores Efeitos Visuais: O Primeiro Homem 
O filme de Damien Chazelle estava tão em baixa que imaginei que ele não levaria nada para a casa (ele nem conseguiu emplacar a indicação de Claire Foy como coadjuvante). Pelo realismo que vimos durante a projeção foi um prêmio merecido (e ainda assim, surpreendente). 

Melhor Mixagem de Som: Bohemian Rhapsody
Prêmio interessante - que só ressalta o que disse nos últimos dias: a percepção do filme do Queen como um musical para as massas. 

Melhor Edição de Som: Bohemian Rhapsody
Seguindo a trilha do filme anterior, não se pode dizer que foi algo injusto. A sonoridade do filme é um dos seus maiores trunfos. 

Melhor Animação: Homem-Aranha no Aranhaverso 
Não restava dúvida de que o cabeça de teia levaria esta! Considerado por muitos como o melhor longa do aracnídeo, o filme usa técnicas inovadoras e deixa a plateia louca pela continuação assim que termina!

Melhor Curta de Animação : Bao 
O filme que deixou muita gente chocada com sua estranheza em falar sobre Síndrome do Ninho Vazio antes da aventura de Os Incríveis 2.

Melhor Curta-Metragem: Skin 
O mais bizarro dos concorrentes levou a melhor - inclusive fora da premiação, já que foi transformado num longa e em breve deve estrear nos cinemas. 

Melhor Trilha Sonora: Pantera Negra
Não houve apresentação da música tema do herói da Marvel, mas a trilha sonora que mistura música africana com ritmos eletrônicos caiu no gosto da Academia - e o compositor é um dos criadores de This is America de Childish Gambino, além de colega de faculdade do diretor Ryan Coogler (e com  madeixas de deixar Jared Leto com inveja).  

Melhor Montagem: Bohemian Rhapsody
Eu tô dizendo que a Academia vê o filme do Queen como um grande musical, por isso mesmo levou esta categoria estratégica do gênero. 

Melhor Maquiagem: Vice 
Um agradinho para o filme de Adam Mckay não ficar sem nada. 

Melhor Canção Original: “Shallow” (Nasce uma Estrela) 
Até eu que não sou fã de Lady Gaga me emocionei com a apresentação dela ao lado de Bradley Cooper. Também achei lindo ela dizer que a música só poderia ser cantada ao lado dele, afinal, Cooper abriu uma porta inestimável para a carreira da popstar que deve ter deixado Madonna p... da vida. Sei que Gaga não fez um filme esperando ser premiada por sua música, mas sua emoção no discurso foi realmente genuína. 

Placar
Roma - 03
A Favorita - 01
Vice - 01

13 acertos /  11 erros 
Um fiasco... 
Ano que vem acerto mais!

domingo, 24 de fevereiro de 2019

PALPITES PARA O OSCAR 2019


Oscar 2019: Quem leva?

Sabendo que neste Oscar tudo pode acontecer, seguem meus palpites para a premiação de hoje! Sei que corro o risco de um enorme massacre com as minhas apostas (especialmente porque ainda tenho aquela dificuldade típica de diferenciar meu gosto pessoal dos prováveis ganhadores). Seja como for, the Oscar goes to...

Melhor Filme

Melhor Direção

Melhor Ator

Melhor Atriz

Melhor Atriz Coadjuvante

Melhor Ator Coadjuvante

Melhor Roteiro Adaptado

Melhor Roteiro Original

Melhor Filme Estrangeiro

Melhor Documentário em Curta-metragem
Period.

Melhor Documentário em Longa-metragem
Free Solo

Melhor Design de Produção

Melhor Figurino

Melhor Fotografia

Melhores Efeitos Visuais

Melhor Mixagem de Som

Melhor Edição de Som

Melhor Animação

Melhor Curta de Animação
Bao

Melhor Curta-Metragem
Mother

Melhor Trilha Sonora

Melhor Montagem

Melhor Maquiagem

Melhor Canção Original

Amanhã retorno com meus erros e acertos. E você, quem acha que irá levar uma estatueta para casa?

INDICADOS AO OSCAR 2019: FILME

O Oscar acontece hoje à noite e para terminar nossas postagens especiais com os indicados, chegamos à categoria mais cobiçada da noite: Melhor Filme. Vale a pena lembrar que o Oscar deste ano foi envolvido em várias polêmicas: apresentadores que desistiram, ganhadores do ano anterior que não foram convidados, categorias que ficariam de fora da apresentação ao vivo, cantores indicados que não apresentariam a canção na cerimonia... enfim deu a louca no Oscar! Sorte que diante das reclamações os produtores sempre voltavam atrás. Esta dificuldade de ser a maior premiação do cinema americano e manter os índices de audiência gera um impasse faz tempo, tanto que a primeira confusão do Oscar deste ano foi a alardeada categoria de Filme Popular que premiaria um sucesso de audiência. Tanta gente reclamou (afinal, existem critérios diferentes para avaliar um bom filme se ele faz sucesso?) que a categoria foi deixada de lado (ainda bem). No entanto, os votantes foram espertos e nos indicados a melhor filme colocaram filmes considerados mais difíceis  com filmes de sucesso perante o público (incluindo um filme de super-herói pela primeira vez).  Os indicados não mentem: muitos votantes deixaram os preconceitos de lado e reconheceram qualidades em filmes que anos anteriores deixariam de fora. Os oito indicados  estão na minha ordem de favoritismo (e não significa que o último é ruim, apenas que junto aos demais não é o que mais merece o título de filme do ano), de bônus apresento aquele que senti falta entre os indicados:

A Favorita O filme brinca com as convenções e constrói um filme bem diferente sobre a história da Rainha Anne e duas mulheres de grande influência na sua corte. Com câmeras que deformam, danças absurdas, cenários carregados, diálogos cortantes e um tempero anacrônico, este é o meu filme favorito. Ainda concorre em direção (Yorgos Lanthimos), atriz (Olivia Colman), atriz coadjuvante (Rachel Weisz e Emma Stone), figurinos, design de produção, roteiro original, fotografia e edição num total de 10 indicações. 

Roma O filme de Alfonso Cuarón chega fortíssimo ao Oscar deste ano. A história que é um recorte do cotidiano de uma família aos olhos de uma empregada, mostra-se uma aula de como fazer uma história comum virar uma obra de arte. Produzido pela Netflix, a obra mais pessoal do cineasta concorre a dez prêmios: filme, diretor, atriz (Yalitza Aparicio), atriz coadjuvante (Marina de Tavira), fotografia, roteiro original, design de produção, edição de som e mixagem de som e ainda pode levar o prêmio de filme estrangeiro. 

Infiltrado na Klan  Spike Lee reencontrou o prestígio desde que o filme foi exibido no Festival de Cannes. Este deve ser o seu longa mais esperto em muito tempo e conta a história de um policial negro que se infiltra na Ku Kux Klan. Parece absurdo, mas é baseado numa história real. O filme rendeu a Lee sua primeira indicação ao Oscar de direção e também concorre aos prêmios de ator coadjuvante (Adam Driver), trilha sonora, roteiro adaptado e melhor edição. 

Vice Virou moda fazer filmes bem humorados com material que renderia um drama político pesado. O cineasta Adam McKay é especialista no gênero e foi consagrado mais uma vez ao contar a história do ex-vice presidente americano Dick Chenney. Famoso por suas decisões radicais, o personagem rendeu um filme bastante inquieto que ainda concorre aos prêmios de direção, ator (Christian Bale), atriz coadjuvante (Amy Adams), ator coadjuvante (Sam Rockwell), roteiro original, edição, maquiagem e penteados.

Nasce Uma Estrela Ninguém esperava que a nova versão da cantora que fica famosa enquanto tem um romance com cantor decadente fizesse tanto sucesso. A surpresa ficou por conta de Lady Gaga convincente em cena - pontos para o estreante Bradley Cooper que confiou no talento da cantora. Indicado ainda a melhor ator (Cooper), atriz (Gaga), ator coadjuvante (Sam Elliott), mixagem de som, fotografia, roteiro adaptado e canção original. 

Pantera Negra O primeiro filme de super-herói a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme já entrou para a história. Embora pudesse ser somente uma aventura de efeitos especiais e ação, o filme tem seu viés político para além da representatividade dos afro-descendentes na telona - a trama é política mesmo. Concorre nas categorias filme, trilha sonora, design de produção, figurinos, edição e som e mixagem de som, será que o filme irá quebrar paradigmas na categoria?

Green Book Feito com grande leveza pelo diretor Peter Farrelly, o filme sobre o motorista ítalo-americano que acompanha um músico negro pelo racismo sulista dos EUA é apontado por muitos como o grande favorito da noite. O filme consegue grande equilíbrio entre comédia e drama, mas poderia sem um pouquinho mais denso nos temas que aborda. O longa levou para casa o Globo de Ouro de melhor comédia e concorre aos Oscars de filme, ator (Viggo Mortensen), ator coadjuvante (Mahershala Ali), roteiro original e edição.

Bohemian Rhapsody Surpreendeu o mundo quando levou para casa o Globo de Ouro de melhor filme dramático no Globo de Ouro. O mais interessante é que ele deveria ter concorrido na categoria oposta, a de comédia ou musical, afinal, o filme tem o ritmo e o tom de musicais feitos para ser populares - tanto que conseguiu ótima bilheteria ao redor do mundo com a história do cantor Freddie Mercury ao lado de sua banda, o Queen. O filme concorre ainda nas categorias de melhor ator (Rami Malek), edição, edição de som e mixagem de som.

O ESQUECIDO: Guerra Fria Já que o Oscar indicou Roma ao prêmio de Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro, o mesmo poderia ter acontecido com esta obra-prima do polonês Pawel Pawlikowski. O longa conta uma densa história de amor em que a música tem papel fundamental. Já era previsto que o filme concorresse ao prêmio de Filme Estrangeiro, mas surpreendeu ao colher indicações à direção e fotografia (e merecia ter entrado no páreo de melhor atriz, Joanna Kulig está magnífica).

Na Tela: Se a Rua Beale Falasse

Stephan e Kiki: separados pela injustiça.

Tish (Kiki Lane) e Fonny (Stephan James) se conhecem desde pequenos e pelo carinho que sempre sentiram um pelo outro era previsível que se tornariam namorados. O casamento era questão de tempo e muitos se arriscariam em dizer que viveriam felizes para sempre. Ele tinha 21 anos e ela 19 quando começaram a procurar uma casa para chamarem de lar. Quando o romance dos dois segue para o inevitável matrimônio surge um golpe do destino  que coloca Fonny atrás das grades. Acusado de estupro, todos que conhecem o rapaz consideram que houve um equívoco quando a vítima o reconheceu na delegacia. Resta à Tish e à família tentar provar a inocência do moço, especialmente quando descobrem que Tish descobre que está gravida. Baseado na obra de James Baldwin (celebrado no documentário Eu Não sou Seu Negro/2016), o novo filme de Barry Jenkins (Moonlight/2016) poderia cair fácil no melodrama ou no mais manjado filme do condenado injustamente, mas Jenkins prefere seguir um caminho oposto. Ao invés de desespero o bebê surge como um sinal de esperança e no lugar da brutalidade, o filme nos oferece poesia. É visível como o diretor quis utilizar novos elementos ao seu estilo  oscarizado pelo filme anterior, tanto que diante de um material denso, ele opta pela leveza constante da narrativa, criando uma cadência bastante particular. O diretor confirma sua habilidade para humanizar personagens e deixa-los tridimensionais,  reafirma o gosto por cores fortes na composição das cenas em seus jogos de luzes e sombras, comprova o talento para costurar as cenas da história que está contando, além de comprovar a capacidade de conduzir atores ao longo de idas e vindas, no entanto, senti  que o medo de cair no melodrama drenou parte da emoção do filme. Talvez seja por isso que as premiações caíram de amores por Regina King no papel da mãe de Tish. A atriz veterana (que já levou o Globo de Ouro, o Critic's Choice e o Independent Spirit de atriz coadjuvante é a favorita ao Oscar de hoje) sabe exatamente a hora que deve deixar a introspecção de lado e rasgar o coração diante da câmera. Regina está arrasadora como a mãe que precisa ajudar o genro a se livrar da acusação, mesmo aparecendo em poucas cenas. Outro destaque é a novata Kiki Lane, que tem os olhos mais luminosos dos últimos anos e torna-se responsável pela narrativa do filme que é embalada por uma deliciosa trilha jazzística. Premiado como o melhor filme no Independent Spirit Awards deste ano (e também ganhador do prêmio de  melhor diretor), Se a Rua Beale Falasse tem uma história pesada tratada de forma bastante sutil, o que pode ser seu maior mérito ou seu maior defeito dependendo do espectador.  

Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk/EUA - 2018) de Barry Jenkins com Kiki Lane, Stephan James, Regina King, Teyonah Parris, Diego Luna, Pedro Pascal e Dave Franco. ☻☻

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Premiados Film Independent Spirit 2019

Se a Rua Beale Falasse: melhor filme indie do ano. 

Hoje foi entregue em Santa Mônica na Califórnia o Film Independent Spirit Awards 2019. Esta foi a 31ª edição da premiação que tradicionalmente ocorre na véspera do Oscar. Alguns dos indicados aparecem em ambas as cerimonias e, de vez em quando, os premiados também coincidem. Neste ano o grande vencedor está fora do Oscar de melhor filme, mas os premiados à melhor atriz, atriz coadjuvante, filme estrangeiro e roteiro tem chances de levarem também um careca dourado para a casa amanhã. Se o Brasil ficou fora do Oscar, no ISA ele levou um prêmio importante para casa com o diretor Alex Moratto. A seguir todos os indies celebrados no dia de hoje: 

Melhor Filme

Melhor Direção
Barry Jenkins, "Se a Rua Beale Falasse"

Melhor Roteiro

Melhor Atriz

Melhor Ator
Ethan Hawke, “First Reformed”

Melhor Atriz Coadjuvante

Melhor Ator Coadjuvante

Prêmio Robert Altman
“Suspíria – A Dança do Medo”
Diretor: Luca Guadagnino
Diretores de Casting: Avy Kaufman, Stella Savino
Elenco: Malgosia Bela, Ingrid Caven, Lutz Ebersdorf, Elena Fouina, Mia Goth, Jessica Harper, Dakota Johnson, Gala Moody, Chloë Grace Moretz, Renée Soutendijk, Tilda Swinton, Sylvie Testud, Angela Winkler

Melhor Primeiro Filme
“Sorry to Bother You”

Melhor Primeiro Roteiro

Prêmio John Cassavetes
“En El Séptimo Día”

Melhor Documentário
“Won’t You Be My Neighbor?”

Melhor Filme Internacional

Melhor Edição

Melhor Direção de Fotografia
Sayombhu Mukdeeprom, “Suspíria – A Dança do Medo”

Prêmio Bonnie
Debra Granik

Prêmio Piaget de Produtores
Shrihari Sathe

Prêmio Alguém Para Assistir
Alex Moratto
Diretor de “Sócrates”

Prêmio Mas Real que a Ficção:
Bing Liu
Diretor de “Minding the Gap”

PL►Y: Dumplin'

Danielle e Jennifer: fora dos padrões. 

No último dia onze a atriz Jennifer Aniston completou cinquenta anos. Eu sei que não parece, mas a eterna Rachel da série Friends já é uma veterana. Sua carreira praticamente começou nos anos 1990 e depois de uma infinidade de trabalhos cômicos no cinema e na TV, a atriz demonstra maturidade de procurar se adequar à nova idade. Foi assim que ela apresentou um trabalho exemplar como a mulher de história dolorosa em Cake (2014) e interpreta agora uma ex-miss mãe de adolescente em Dumplin'. Aniston capricha no sotaque, nas caras, bocas e gestos para compor um dos tipos mais interessantes do seu currículo. O resultado é divertido e torna-se mais legal ainda pela famosa atriz não se importar de ser escada para Danielle MacDonald, atriz que recebe cada vez mais destaque após sua participação magnética no mediano Patti Cake$ (2017). Danielle interpreta Willowdean, jovem que cresceu ao lado da dia enquanto a mãe organizava concursos de misses pela região (o sul dos Estados Unidos). Com a tia, Willowdean aprendeu a se relacionar bem com a sua aparência fora dos padrões. Embora a mãe pareça incomodada com os quilinhos da filha, as duas até que se entendem bem. A relação das duas é colocada à prova quando Willow decide participar de um concurso de beleza promovido pela mãe (junto com três colegas numa espécie de manifesto). O interessante é que debaixo de tanta segurança, a protagonista demonstra que também tem lá suas lacunas na auto-estima, o que a faz lidar com aquele concurso com mais desdém do que seria necessário - e rende conflitos até com sua melhor amiga. Suas inseguranças (afinal, estamos falando de uma adolescente), também influenciam na sua dificuldade para aceitar os sentimentos de um rapaz do trabalho. Apesar de trabalhar numa lanchonete com avental e cheiro de gordura, Bo (Luke Benward) tem a maior pinta de príncipe encantado, além de ser atencioso, simpático e visivelmente apaixonado por Willow, mas ela considera que não tem chances de ficar com ele. Falando assim parece que Dumplin' é um dramalhão, mas ele está bem longe disso, trata-se de uma comédia sobre adolescentes (não muito diferente de outras que a Netflix lançou recentemente). É simpática e cheia de açúcar para agradar o espectador e traz até uma mensagem sem ser piegas sobre diversidade, mas sem ranços. O que mais me incomodou foi que Danielle e Luke não me convencem em momento algum que ainda estão na escola (ele tem 23 anos e ela já vai chegando aos 28...), mas diante das gracinhas do filme é um detalhe que até se releva . O filme foi indicado ao Globo de Ouro de melhor canção original.  

Dumplin' (EUA-2018) de Anne Fletcher com Danielle MacDonald, Jennifer Aniston, Luke Benward, Odeya Rush e Maddie Baillio. ☻☻

PL►Y: Sicario - Dia do Soldado

Brolin e seu bando: sem Emily Blunt. 

Achei muito estranho resolverem fazer uma sequência de Sicario - Terra de Ninguém (2015) de Dennis Vileneuve sem a estrela Emily Blunt, pelo que entendi a história da personagem já fora contada e não consideraram que era necessário que ela retornasse. Talvez por este detalhe, o filme não chamou muito a minha atenção quando passou nos cinemas e somente agora cruzou meu caminho. Interessante foi que reli minhas considerações sobre o primeiro filme e percebi que fui bastante duro com ele, na verdade o assisti novamente algum tempo depois e o achei até interessante, mas ainda tenho dúvidas se o filme alcança todas as notas que precisa, agora que ele ganha contornos de primeira parte de uma trilogia, talvez mereça um novo olhar. Esta continuação, batizada de Sicario - Dia do Soldado, tem vários elementos semelhantes ao anterior, retoma alguns personagens e a guerra contra o tráfico continua sendo o foco. Reencontramos Matt Graver (Josh Brolin), o agente da CIA especialista em ações secretas na fronteira, e o escorregadio Alejandro (Benicio Del Toro), que mais uma vez é contactado por ele. O plano desta vez é sequestrar a filha caçula de um chefe do tráfico e criar instabilidade entre os cartéis. O roteiro (mais uma vez de Taylor Sheridan) trata os traficantes como células terroristas e, por vezes, se perde na apresentação dos vários personagens que compõem a trama. O filme gasta um bom tempo apresentando personagens que semelhantes a peças para os acontecimentos que vem a seguir, alguns são descartados logo, outros ganham maior destaque numa sucessão de acontecimentos que criam reviravoltas, momentos tensos, violentos e outros apenas repetitivos. Assim como o anterior, existem algumas cenas interessantes (várias emolduradas pela ótima trilha sonora do finado islandês Jóhann Jóhansson), mas visto por completo, o filme parece dar voltas em torno de uma trama simples de forma bastante complicada. Lá pelas tantas eu não sabia se estava vendo uma história posterior ou anterior ao filme de 2015. Sem Denis Villeneuve na direção, o cineasta Stefano Sollima (do elogiado Gomorra/2014) faz o que pode para manter a estética desta continuação, no entanto, falta um personagem para criar a identificação do público (que era o grande efeito da passiva personagem de Emily Blunt no filme anterior), este efeito quase acontece com o desfecho do personagem de Del Toro, mas, quase... Diante de tanta sordidez, assistimos a tudo com um distanciamento que  nunca arrebata diante do que se vê. Especula-se que haverá um terceiro filme que terá Emily novamente no alto dos créditos, espero que em seu reencontro com os personagens, a trilogia Sicario entregue finalmente o que tanto promete.  

Sicario - Dia do Soldado (Sicario - Day of the Soldado / EUA - 2018) de Stefano Sollima com Josh Brolin, Benicio Del Toro, Isabela Moner, Jeffrey Donovan, Matthew Modine, Catherine Keener e Elijah Rodriguez. ☻☻

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

4EVER: Stanley Donen

13 de abril de 1924  21 de fevereiro de 2019

Considerado por muitos o último grande diretor da era dourada de Hollywood, Stanley Donen  dirigiu clássicos imortais como Cantando na Chuva (1952), Um dia em Nova York (1949) e Charada (1963). Afastado da direção desde 1984 (ano em que lançou Feitiço do Rio), ele sempre hesitou em voltar a fazer filmes argumentando que não voltaria para fazer filmes que já tinha feito. Nascido na Cidade de Columbia na Carolina do Sul (EUA), o diretor começou a carreira aos 16 anos num coral da Broadway. Sua estreia como cineasta aconteceu ao lado do amigo Gene Kelly em Um Dia em Nova York, onde já se percebia o seu caráter romântico, inovador e otimista - marcou época e o transformou num verdadeiro ícone do cinema. Apesar de seu talento inquestionável, Donen nunca foi indicado ao Oscar, recebendo um prêmio honorário em 1998. A causa da morte não foi divulgada pela família do cineasta.   

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

INDICADOS AO OSCAR 2019: Ator

Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela) ficou frustrado por ver seu sua estreia como cineasta concorrer a oito Oscars (incluindo melhor filme) e ele mesmo ficar fora do prêmio de diretor. Se levarmos em conta que ele tem uma das melhores atuações da carreira enquanto dirige um filme, seu prestígio se torna ainda maior. Na pele de um cantor decadente, o ator solta a voz e libera emoções mais sombrias do que estamos acostumados a vê-lo desenvolver na tela. Esta é a terceira indicação dele ao prêmio de Melhor Ator (concorreu por O Lado bom da Vida/2012 e Sniper Americano/2014), ele também já concorreu como coadjuvante por Trapaça (2013) e mesmo que não leve o Oscar neste ano, em breve terá um na estante.

Christian Bale (Vice) já levou o Globo de Ouro de ator em comédia e o Critic's Choice, entre outros prêmios pelo papel - e torna-se um dos favoritos da categoria! Com um Oscar de coadjuvante por O Vencedor (2010), ele agora pode levar o de melhor ator. Bale engordou um bocado para viver o ex vice-presidente americano Dick Cheney, que ficou famoso por suas decisões radicais. O ator galês realiza outro excelente trabalho, especialmente pela forma como vive um sujeito influente que sempre preferiu ficar nos bastidores - seu trabalho no filme segue esta arriscada linha também. Bale também já concorreu ao Oscar de melhor ator por Trapaça (2013) e como ator coadjuvante por A Grande Aposta (2015). 

Rami Malek (Bohemian Rhapsody) O astro da série Mr. Robot é o grande obstáculo pela frente de Christian Bale. Afinal, os dois praticamente empataram nos prêmios de atuações masculinas da temporada. Na pele do cultuado cantor Freddie Mercury, Malek já recebeu o Globo de Ouro de ator dramático, o SAG de melhor ator e recentemente foi reconhecido no BAFTA. Com estas credenciais, somadas aos elogios recebidos, o ator tem grandes chances de ser premiado nesta que é sua primeira indicação ao Oscar (ele é o único novato na categoria deste ano). O ator banha o icônico personagem de uma humanidade desconcertante. Não por acaso, foi eleito o melhor ator de 2018 aqui no blog!

Viggo Mortensen (Green Book) Fosse lançado meses atrás, Viggo teria fortes chances de levar o prêmio para casa, mas esta dramédia se envolveu em tantas polêmicas que as chances do ator diminuíram consideravelmente. O ator interpreta o ítalo-americano preconceituoso que passa a ser motorista de um músico negro e aos poucos aprende que o racismo é uma grande estupidez. Embora o ator cause estranhamento por sua caracterização, seu personagem se desenvolve de forma bastante coerente. Viggo já concorreu ao Oscar de ator lutando peladão em Senhores do Crime (2007) e ano passado surpreendeu ao ser indicado por Capitão Fantástico (2017). Esta é sua terceira indicação ao prêmio de Melhor Ator. 

Willem Dafoe (O Portal da Eternidade) Com todo o respeito que tenho pelos outros concorrentes, seria emocionante ver o veterano ator levar seu primeiro Oscar para casa pela interpretação como o pintor Vincent Van Gogh. Além de dar conta de um personagem complexo, repleto de camadas, faz tempo que Dafoe merece este reconhecimento da Academia (mas com Glenn Close tendo vitória certa, acho difícil que façam o mesmo na categoria de melhor ator).  Você sabia que somente agora, aos 63 anos, Dafoe conseguiu sua primeira indicação ao Oscar de ator? As outras três anteriores foram como ator coadjuvante (sendo por Platoon/1987, A Sombra do Vampiro/2000 - que ele merecia ter ganho - e Projeto Flórida/2017).

O ESQUECIDO: John David Washington (Infiltrado na Klan) A lista de atores que aguardavam uma indicação neste ano é enorme: Ethan Hawke (First Reformed), Steve Carell (Querido Menino), Lucas Hedges (seja por Ben Is Back ou Boy Erased), Hugh Jackman (The Front Runner)... mas se você observar os indicados deste ano, a maior ausência foi mesmo a do herdeiro de Denzel Washington como o policial que ousa investigar um dos grupos secretos mais assustadores dos Estados Unidos. O ator demonstra grande versatilidade ao misturar drama policial, comédia, suspense, sabendo equilibrar o cômico e o dramático por toda a sessão. Esta seria a primeira indicação de um ator que ainda dará muito o que falar.