Cinco filmes assistidos no mês que merecem destaque:
domingo, 31 de outubro de 2021
PL►Y: A Grande Mentira
Não e todo dia que podemos ver artistas do porte de Ian McKellen e Helen Mirren no mesmo filme e, somente a conjunção do talento destes dois gigantes ingleses já seria necessário para um filme chamar a atenção. Sorte que A Grande Mentira tem outros predicados. A começar pela direção de Bill Condon, que quando deixa as firulas de lado e se prende no trabalho dos atores, consegue entregar bons trabalhos (basta lembrar que esta é sua terceira parceria bem sucedida com McKellen), outro ponto positivo é a narrativa envolvente adaptada do livro de Nicholas Searle, que no final surpreendente corre um risco danado de cair no ridículo... mas, neste ponto, voltamos ao melhor ponto do filme: sua dupla de protagonistas (que são capazes de nos fazer relevar qualquer exagero que o desfecho possa apresentar). O filme começa com um casal da terceira idade procurando romance na internet, eis que Betty (Helen Mirren) e Roy (Ian McKellen) se conhecem e resolvem se conhecer um pouco melhor. Bem, se conhecer dentro do que Roy considera permitido, já que logo depois de se mostrar um homem encantador para Betty, ele revela para plateia uma índole bastante duvidosa. Acostumado a aplicar golpes milionários com a ajuda de seu comparsa Vincent (Jim Carter, o mordomo de Downton Abbey) parecem ter um plano para tomar de Betty o patrimônio que ela acumulou ao longo da vida. Betty parece realmente encantada com Roy, que diz ter um filho (com quem não se dá muito bem) e inventa estar com dores crônicas na perna (o que acaba rendendo o convite para passar um tempo na casa da pretendente). Existe de fato um joguinho de sedução entre os dois, o que torna a experiência ainda mais divertida para o casal de protagonistas. Se Ian dá um verdadeiro show em suas expressões faciais que mudam de uma hora para a outra perante os fingimentos do seu personagem, Helen é pura discrição como uma mulher esperta que deixa a plateia sempre admirada em como pode se deixar enganar de tal forma por aquele sujeito. Vale ressaltar que de nada adianta o neto dela (Russel Tovey) despejar toneladas de suspeitas sobre Roy: a avó parece realmente cega de afeição por ele, ao ponto de um grande segredo do passado daquele senhor não provocar arranhões nos sentimento que nutre por ele. Seria um SPOILER dizer que o título em português deveria estar no plural? Bem, melhor parar por aqui. Embora o filme sofra por apresentar uma carta oculta (nunca mencionada) em seu último ato, Ian e Helen já fizeram do filme uma obra mais interessante do que qualquer final surpresa.
A Grande Mentira (The Good Liar / Reino Unido - Alemanha - EUA / 2019) de Bill Condon com Ian McKellen, Helen Mirren, Russel Tovey, Jim Carter, Mark Lewis Jones, Laurie Davidson e Phil Dunster. ☻☻☻☻
PL►Y: Quarto 212
#FDS Halloween: A Mansão
sábado, 30 de outubro de 2021
#FDS Halloween: Maligno
sexta-feira, 29 de outubro de 2021
#FDS Halloween: Trilogia Rua do Medo (1994 | 1978 | 1666)
1978: A origem Slasher como referência. |
Rua do Medo - Parte 1: 1994 (Fear Strear - 1994 / EUA - 2021) de Leigh Janiak com Kiana Madeira, Olivia Scott Welch, Benjamin Flores, Jr., Julia Rehwald, Fred Hechinger, Ashley Zuckerman e Gillian Jacobs. ☻☻☻
PL►Y: O Espião Inglês
quinta-feira, 28 de outubro de 2021
10+ Denis Villeneuve
Nascido no Canadá em 1967, Denis Villeneuve caiu nas graças de Hollywood na última década após chamar atenção com seus dramas inventivos. Esta lista relembra os dez filmes que o diretor fez até agora de acordo com a minha ordem de preferência (e, confesso, que fiquei surpreso com a cotação de alguns filmes que aparecem no blog). Vale ressaltar que está lista é totalmente subjetiva, o que não impede que você discorde e tenha a sua ordem preferencial (se puder escrever a sua nos comentários, eu agradeço). Segue a lista por ordem de favoritismo e, ironicamente, começando do início da carreira do moço...
Na Tela: Duna
Duna, o livro de Frank Herbert, é uma obra-prima da ficção científica e, por conta disso, coleciona milhares de fãs desde o seu lançamento em 1965. Alguns deles resolveram fazer uma versão para o cinema em 1984 com direção de David Lynch, mas o filme foi um fracasso de bilheteria, se tornou motivo de piada por suas bizarrices e até recebeu o desprezo do seu próprio diretor. Afinal, reza a lenda que Lynch filmou uma versão de quatro horas para contar a história do herói Paul Atreides, mas que os produtores exigiram um corte de duas horas e ainda começaram a vetar as solicitações feitas por Lynch. Dito isso, não é surpresa que o filme foi um fiasco (como fã de Lynch eu tentei assistir, mas desisti antes da primeira meia-hora. Agora que o longa está em cartaz na Netflix, tentarei assistir novamente). Eis que passado o trauma, resolveram criar outra versão. Quase quatro décadas depois, convidaram o canadense Denis Villeneuve para a empreitada. Denis também tinha lá seus traumas quando a produção começou, já que depois do fracasso comercial do ambicioso Blade Runner 2049 (2017) chegou a considerar que não seria convidado para trabalhar novamente. Sorte que quem entende de cinema sabe que a sequência do filme de Ridley Scott é tão obra-prima quanto o primeiro filme e que o diretor merecia novas chances de construir mundos para a telona. Interessante que antes do sucesso de A Chegada (2016), era difícil imaginar que o diretor se tornaria o grande nome da ficção científica cinematográfica do século XXI (embora já demonstre sinais de saturação). Chegado a dramas intimistas na fase inicial de sua carreira, este deve ser o diferencial para dar alma ao corpo de efeitos especiais de suas obras no gênero. No fim das contas, parece que Duna curou os traumas de todo mundo. Tornou-se a maior bilheteria mundial desde a reabertura dos cinemas em tempos de pandemia e recentemente teve a sua sequência garantida - o que é muito importante para a apreciação do filme. Lembra do que houve com a versão de David Lynch? Pois é. Villeneuve também criou uma adaptação pensada para mais de um filme (na verdade pensou numa trilogia) e esta acaba se tornando a grande restrição do filme que, visivelmente, serve como espécie de introdução à trama. Falando em introdução, demora um bocado para o filme engrenar com toda a preocupação de tornar compreensível aquele universo construído por Frank Herbert. Haja nomes e palavras estranhas em torno da história do planeta Arrakis, que é constantemente explorado por conta da substância conhecida como "especiaria", uma espécie de droga alucinógena benéfica para quem a consome. Por ela as guerras são travadas, assim como jogos de poder e traições que movimentam a trama. O engraçado é que Villeneuve opta por ser bastante conciso em alguns momentos (como a introdução na voz de Zendaya que resume a história do planeta em poucas frases) e bastante moroso em outros. Em vários momentos Duna se arrasta em pura contemplação à grandiloquência do mundo construído para o filme. Dos imensos desertos habitados por vermes gigantescos, passando pelas naves impressionantes e os veículos que parecem libélulas mecânicas, a atenção a estes elementos parecem ter tanto peso quanto os personagens da trama. A história é centrada na família do Duque Atreides (Oscar Isaac), que casou com uma mulher ligada à bruxaria (Rebeca Ferguson) e tiveram um filho, Paul (Thimothé Chalamet), que parece predestinado a algo grandioso. No entanto, tão logo a família chega à Arrakis, existe um clima de conspiração no ar, já que o planeta e seus habitantes calejados rejeitam a ideia de um novo explorador. No entanto, existe outras figuras imponentes de olho na extração das especiarias... é estranho que dada a alardeada complexidade da obra literária, o filme pareça carregar uma história tão simples. Levando em consideração o didatismo do roteiro na apresentação daquele universo, personagens e ações (que às vezes transborda em exageros como os momentos como um personagem dizendo "vamos decolar" para no minuto seguinte a nave decolar ou de Jason Momoa trancando uma porta para no minuto seguinte uma personagem dizer que "ele trancou a porta") e ter tudo no lugar certo (atuações convincentes, efeitos especiais competentes, trilha sonora excelente e cenas de ação grandiosas para espantar o sono quando ele aparece), Duna termina com a sensação de ser uma longa introdução e, não é por acaso, que a personagem de Zendaya diga que "isso é apenas o começo" quando esta primeira parte está em seus minutos finais - pouco depois do franzino Paul de Chalamet demonstrar que está disposto a crescer e assumir seu papel neste conflito instaurado por outras instâncias. Não vou tecer muitos comentários sobre o trabalho do mocinho até que a sequência saia em 2023. Se o objetivo é apresentar a ideia ao espectador para que ele compre esta nova versão, o filme funciona, mas depende muito da segunda parte para justificar sua existência.
Duna - Primeira Parte (Dune/Estados Unidos - Canadá - Hungria - Noruega - Ìndia /2021) de Denis Villeneuve com Thimothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Jason Momoa, Zendaya, Javier Bardem, Dave Bautista, Josh Brolin, Charlotte Rampling, Stellan Skarsgård eDavid Dastmalchian. ☻☻☻
quarta-feira, 27 de outubro de 2021
PL►Y: Vento Seco
Selecionado para a Mostra Panorama do Festival de Berlim do ano passado, o brasileiro Vento Seco chamou a atenção não apenas por suas cenas homoeróticas (bastante) explícitas, mas também por ser um filme brasileiro ambientado em Goiás, mais precisamente na cidadezinha de Catalão, terra natal do diretor Daniel Nolasco. Em entrevistas o cineasta sempre ressaltou como as pessoas ficavam surpresas quando relatava as histórias do vivência homossexual em sua cidade e o filme é a sua forma de recontar os causos em formato cinematográfico. Entre histórias, points e personagens, Vento Seco se constrói entre a realidade, a fantasia e o fetiche, em cortes, narrações em off e uso bastante inventivo das cores para contar a história de Sandro (Leandro Faria Lelo), homem maduro que não assume a sua identidade sexual na vida real - mas a vivencia plenamente entre as árvores de eucalipto das redondezas e nos sonhos banhados de luxúria. Se por um lado ele se relaciona com um colega de trabalho (Allan Jacinto Santana), por outro lado, ele se sente cada vez mais atraído por um novo empregado da fábrica de fertilizantes em que trabalha (Rafael Teóphilo). Assim, mesmo sem se dar conta dos conflitos que carrega há tempos dentro de si, ele começa a mergulhar cada vez mais nos desejos mais escondidos. Pode se dizer que Nolasco é um cineasta ousado, sem pudores para mostrar o que o cinema convencionou considerar inadequado para a plateia, no entanto, imprime ao seu primeiro longa metragem a mesma estética já exibida em seus curtas. Existem muitos closes em partes específicas do corpo masculino, muita nudez e cenas afrontosas que não torna o filme recomendável para quem considera a anatomia masculina ofensiva na tela grande ou que considera sexo entre homens algo a não ser revelado em filmes que fogem à seara pornográfica. Debaixo das cenas tórridas (e acreditem, o diretor vai mais longe do que a maioria ousa ir), existe uma vasta gama de emoções a ser trabalhada. A não aceitação de si mesmo, a vergonha, o preconceito, a intolerância, o ciúme, a censura, a violência... o texto de Vento Seco constrói sua história e personagens através de elementos que já foram vistos em inúmeros filmes de temática LGBTQIA+, no entanto, os costura com personalidade, coragem e fluídos corporais. Em algumas cenas o filme parece evocar o estilo de David Lynch no que possui de mais onírico, embaçando o que é real e o que é imaginário, abraçando uma cadência imagética entre a rotina mais comum entre um sonho (ou seria pesadelo?) erótico. No entanto, para além do sexo como elemento narrativo, Nolasco apresenta várias ironias no seu texto que fazem a diferença e sustentam o filme em seu objetivo de ser levado a sério, são elas os comentários sobre o clima seco e a frieza noturna de doer os ossos, os lábios que se deterioram naquele ambiente, a ideia de um segredo proibido que deve ser mantido (mas que outras pessoas já conhecem faz tempo), a cena no parque de diversões ou o discurso no rodeio enquanto Sandro busca alguma satisfação com um desconhecido. No entanto, o filme peca em alguns cortes que retiram da edição final momentos que seriam importantes para a trama (a violência contra um dos personagens e o desfecho de Cezar), mas acho que a ideia de Nolasco é fugir de tudo que é convencional, já que o cenário escolhido já traria esta ideia de monótona normalidade. Vale destacar que o filme oferece ao protagonista Leandro Faria Lelo um grande desafio, mas que ele executa com bastante destreza. Da exposição corpórea às emoções que estão escondidas sob o rosto de pedra (que por vezes revela a vulnerabilidade em sua plenitude), o personagem se torna fácil um dos mais interessantes da cinematografia nacional, embora seja necessário ter maior de dezoito anos para conhecer sua história, real ou imaginária. Porém, definitivamente, não é para todos os gostos.
Vento Seco (Brasil/2020) de Daniel Nolasco com Leandro Faria Lelo, Allan Jacinto Santana, Renata Carvalho, Rafael Teóphilo, Leo Moreira Sá e Mel Gonçalves. ☻☻☻
terça-feira, 26 de outubro de 2021
4EVER: Gilberto Braga
1º de novembro de 1945✰ 26 de novembro de 2021 |
segunda-feira, 25 de outubro de 2021
PL►Y: Falsos Milionários
Gina, Richard e Evan: rumo ao trambique perfeito. |
Suspeita-se que Old Dolio (Evan Rachel Wood) recebeu este nome em homenagem a um idoso que estava à beira da morte e que seus pais acreditavam que ela herdaria tudo que era dele. Como esta ambição não se concretizou, restou este nome estranho para uma garota que precisou crescer sob a responsabilidade de um casal de trambiqueiros. Vivendo de pequenos golpes, Robert (Richard Jenkins) e Theresa (Debra Winger), criaram a filha de uma forma bastante peculiar. Educada desde pequena para ser cúmplice das tramoias, sobrou pouco tempo para sua educação sentimental, o que a tornou uma jovem distante e incapaz de demonstrar emoções ou saber digerir seus próprios sentimentos. Além disso, crescer sempre sob a ameaça de despejo, ainda que morem em um escritório com uma parede que sempre escorre espuma em determinado horário, torna a rotina da família ainda mais esquisita. Eis que diante da necessidade de pagar o aluguel, o trio conhece Melanie (Gina Rodriguez), que se tornará cúmplice em alguns golpes e irá mudar a sólida dinâmica instaurada naquela estranha família. É preciso deixar registrado que a direção e o roteiro do filme são de Miranda July que em seu status de artista multimídia pode ser acusada de tudo, menos de ser convencional. Escritora, diretora, atriz, cantora e artista performática digital ou ao vivo, Miranda curte pitadas de nonsense em sua obra e neste seu terceiro longa-metragem, talvez ela tenha alcançado o seu resultado mais próximo do "normal". Eu disse próximo. Kajillionaire (o nome original que se refere à ideia de prosperidade que aqui se tornou o enganoso Falsos Milionários) parece ser uma dramédia bizarra sobre uma família complicada, mas consegue ser um tanto mais do que isso, quando começa a fazer sua protagonista desconfiar que existe algo de muito equivocado em sua trajetória. A começar pelo curso de maternidade que começa a frequentar para ganhar alguns trocados e depois com a chegada da luminosa Melanie, que começa a lhe proporcionar um desconforto jamais experimentado. É possível notar que até determinado ponto, ela era vista menos como uma filha e mais como uma cúmplice, sujeita às ideias, mandos e desmandos dos pais, pelo menos até que ela comece a questionar o que ela deseja para si mesma. É neste ponto, lá pela segunda metade do filme que a história engata de vez, demonstrando como o desejo pode ser uma força transformadora. Nesta guinada, Miranda capricha na sutileza, deixando o espectador perceber aos poucos a mudança que esta acontecendo na personagem de Evan Rachel Wood, num caminho que aos poucos se torna até óbvia dentro de uma estrutura anticonvencional. Embora seja um filme repleto de esquisitices, Miranda transforma aquela relação que aos poucos ganha contornos quase inevitáveis o aspecto mais natural de seu filme. Em seus filmes anteriores (Eu, Você e Todos que Conhecemos/2005 e O Futuro/2011), Miranda também assumia o posto de protagonista, aqui ela preferiu ficar somente atrás das câmeras e com isso cedeu espaço para a atuação mais estranha de Evan Rachel Wood (que está mais robótica do que em Westworld) que se torna um ótimo contraste ao carisma de Gina Rodriguez, que muda diretamente o tom do filme (e o foco de interesse da história) assim que aparece. Tão ambicioso quanto estranho, o filme peca pelo excesso de artifícios bizarros em seu início, mas tão logo deixa de enfatiza-los a todo instante, torna-se uma produção interessante.
sábado, 23 de outubro de 2021
PL►Y: Honey Boy - O Preço do Talento
PL►Y: The Trip
terça-feira, 19 de outubro de 2021
NªTV: Maid
Margareth e Rylea: a vida é dura. |
Algumas produções tem o mérito de estrearem no momento exato para alcançar o sucesso desejado. Com todas as discussões atuais sobre relacionamentos abusivos, a minissérie Maid - que está em cartaz na Netflix se mostra um grande acerto ao se adequar à uma temática bastante atual através da história de Alex (Margareth Qualley), uma jovem que sonhava se tornar escritora mas engravida do namorado e embarca em um relacionamento bastante complicado, afinal, enquanto Alex tenta fazer o melhor que pode com os rumos que sua vida tomou, Sean (Nick Robinson), seu namorado, costuma buscar refúgio na bebida e, conforme Alex observa, ele se torna cada vez mais agressivo. É justamente quando ele cruza os limites daquela relação (e a frase "não quero tirar cacos de vidro do cabelo de minha filha novamente" ecoa um bom tempo em nossa cabeça), que ela foge com a menina (a fofa Rylea Nevaeh Whittet) sem saber muito bem para onde ir. Afinal, Alex tem um relacionamento complicado com a mãe (Andie MacDowell, mãe de Margareth na vida real), o pai sumiu faz algum tempo e ela não possui formação para exercer uma profissão rentável. Logo ela estará no meio do labirinto burocrático do Serviço Social do Tio Sam - e os momentos em que ela tenta entender a (i)lógica do sistema são bem interessantes -, ela também frequentará um abrigo para mulheres que sofreram com relações abusivas e encontrará um emprego de diarista que parece uma grande exploração. Entre brigas pela guarda da filha, promessas de uma vida melhor e várias outras situações que cruzam o seu caminho, é quase um milagre a forma como Maid consegue prender nossa atenção com a sucessão de dramas que recaem sobre sua protagonista. No entanto, a sua cadência parece tão realista, honesta e, sobretudo, esperançosa que torna-se uma empreitada envolvente para o espectador. Não por acaso, a minissérie é baseada em uma história real retratada no livro homônimo de Stephanie Land sobre a sua própria trajetória, talvez por isso, entre uma faxina e outra, a personagem demonstre sua sensibilidade literária para escrever crônicas sobre seus clientes (como "A Casa Pornô") ou divagar sobre um adolescente procurado pela polícia (após crescer em uma casa cheia de cadeados e um sótão assustador - que muda os rumos da narrativa). No entanto, a costura dos episódios seria completamente diferente se não contasse com Margareth Qualley na pele da protagonista. A estadounidense de 26 anos mostra-se cada vez mais interessante em cena e aqui apresenta sua performance mais cheia de nuances - e deve figurar nas premiações que se aproximam (acho que sua mãe seguirá pelo mesmo caminho na pele da instável Paula, mas eu também gostaria de ver Anika Noni Rose sendo lembrada pelo papel de Regina, mulher que vivencia uma transição muito interessante na história). Maid pode até não trazer grandes novidades, mas se constrói de forma bastante contundente perante os temas que aborda de forma sensível e realista.