terça-feira, 31 de maio de 2022

HIGH FI✌E: Maio

 Cinco filmes assistidos no mês que merecem destaque:

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PL►Y: Volta pra Mim

Jenny e Charlie: planos hilariantes. 

Tem dia que dá aquela vontade de ver um filme para relaxar e não pensar muito enquanto a história se desenvolve diante dos seus olhos. O difícil é achar um que não insulta a sua inteligência e que traga alguma novidade que possa prender sua atenção durante a exibição. Foi num dia desses que encontrei no Prime Video a comédia romântica Volta Pra Mim, que foi lançado na plataforma no dia dos namorados do Tio Sam em fevereiro e se tornou uma das produções mais assistidas do serviço. Quem acompanha o blog sabe que não aprecio muito filmes do gênero, não por conta dele em si, mas por conta de ser um dos mais maltratados da história do cinema. Aqui a ideia começa com a já manjada "troca de favores". Um casal que acaba de ser rejeitado por seus respectivos parceiros, se conhecem meio que por acaso por trabalharem no mesmo prédio e fazem um acordo de arruinar o novo relacionamento dos ex. Assim, Emma (Jenny Slate) e Peter (Charlie Day), começam a tecer planos para que consigam recuperar aqueles que seriam suas almas gêmeas. Planos estes que exigem um bocado de cara de pau e uma índole que está muito longe das que possuem até ali. O grande diferencial do filme é a forma esperta como a produção conduz as trapalhadas do tal plano, que desde o início parece fadado ao fracasso e, obviamente, que os dois não irão perceber como os dois combinam entre si. Acho que já mencionei aqui o quanto gosto da Jenny Slate, seu carisma e voz característica já a fizeram chamar atenção em vários filmes, especialmente na pele de personagens coadjuvantes, mas aqui, ela prova mais uma vez que tem talento de sobra para carregar um filme nas costas (em outros tempos ela interpretaria uma personagem de Woody Allen e seria indicada ao Oscar, mas hoje em dia, com o diretor em baixa será difícil. No entanto, sempre penso que uma personagem de época a colocaria na mira da Academia). Aqui, além de render risadas com suas trapalhadas, ela também prova que pode ser uma pessoa bastante atraente e até irresistível. Já Charlie Day faz o de sempre, com seu tom nervosinho e cara de vizinho bacana que merece uma chance. O legal é que o filme não se contenta em desenvolver apenas os dois, mas consegue dar corpo aos seus ex-relacionamentos dos protagonistas, no caso o bonitão Noah (Scott Eastwood) e a ambiciosa Anne (Gina Rodriguez), além de seus novos amores, Ginny (Clark Backo) e Logan (Manny Jacinto). Pelas regras do gênero, sabemos que uma hora a verdade virá à tona, mas ela servirá para subverter um cadinho um dos princípios das comédias românticas: a separação. Aqui o rompimento serve para você perceber que talvez ele seja um passo importante rumo a encontrar novos caminhos em sua vida amorosa e, talvez, aquela nova pessoa que está por perto seja mais ideal do que você imagina. Volta pra Mim pode não reinventar a fórmula ou se tornar um clássico do gênero, mas diverte com criatividade, ironias e muito bom humor de uma dupla afiada de protagonistas. 

Volta Pra Mim (I Want you Back/EUA-2022) de Jason Orley com Jenny Slate, Charlie Day, Scott Eastwood e Gina Rodriguez. ☻☻

segunda-feira, 30 de maio de 2022

4EVER: Milton Gonçalves

09 de dezembro de 1933 ✰ 30 de maio de 2022

Milton Gonçalves nasceu em Minas Gerais, mas começou a carreira de ator em São Paulo. Deixou o trabalho gráfico para se dedicar ao teatro amador e logo depois ao teatro profissional. Participou da montagem "Ratos e Homens" no Teatro de Arena em São Paulo e iniciou sua carreira na televisão em 1960, onde realizou mais de quarenta trabalhos ao longo de sua carreira. Participou de clássicos como Irmãos Coragem(1970), O Bem-Amado (1973), Pecado Capital (1975), Tenda dos Milagres (1985) e Sinhá Moça (2006). No cinema participou de mais de setenta filmes, entre eles, os sucessos Macunaíma (1969), A Rainha Diaba (1974), Eles não Usam Black-Tie (1984), O que é Isso Companheiro? (1994), Carandiru (2003) e Carcereiros (2019). Seu último trabalho foi para a série Filhas de Eva (2021) lançado em um período em que começava a lidar com as consequências de um AVC. A vida de Milton também foi marcada por sua atuação política, seja como militante junto ao Movimento Negro ou em candidaturas como para governador do Rio de Janeiro em 1994. Em 2021, o ator foi homenageado pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz.

domingo, 29 de maio de 2022

#FDS Novos Clássicos: Sob a Areia

 
Charlotte: um trabalho impecável. 

Finalizando nosso #FimDeSemana dedicado a Novos Clássicos, está um dos filmes mais instigantes do cinema mundial. Sob a Areia deixou o público bastante inquieto mediante as especulações em torno da história da mulher que em uma temporada na casa de praia, perde seu marido após ele ir para um banho de mar. Ela não sabe se ele foi embora. Não sabe se ele se afogou ou até mesmo se tentou suicídio. A partir desta situação angustiante, Marie Drillon (a magnífica Charlotto Rampling) começa a tentar juntar pistas presentes no passado sobre os rumos que seu casamento tomava nos últimos tempos. Para cada teoria, o filme possui um conjunto de flashbacks capazes de fazê-la pensar no que pode ter acontecido. Dos silêncios do esposo, passando por uma conversa com a sogra, Marie busca uma resposta com a mesma intensidade que nega o que parece cada vez mais inevitável. No entanto, mais do que especular sobre o que teria acontecido, o roteiro (escrito pelo diretor François Ozon em colaboração com Emanuèle Bernheim e Marina de Van) explora outros pontos desta realidade assustadora. Marie tenta manter sua rotina, ao ponto de estranhamente continuar vivendo como se o esposo a esperasse em casa e dialogasse com ela como se nada houvesse acontecido. Tal comportamento causa estranhamento nos amigos, mas também começa a motivar problemas quando a chance de um novo romance se torna possível. Ainda que fuja da obviedade, dificilmente o filme funcionaria sem o talento de Charlotte Rampling ao destrinchar uma personagem tão complexa, com sentimentos tão conflitantes em torno das possibilidades que se apresentam. A atriz explora o que a história pode ter de trágico, de sensual, de irônico e até de cômico numa interpretação introspectiva que se tornou cada vez mais sua especialidade na longa carreira como atriz. A ideia funciona tão bem que eu já estava preocupado em como Ozon terminaria seu filme. Sempre costumo achar que os desfechos do cineasta não estão à altura de todo o resto, basta lembrar o que fez nos desfechos de Verão de 85 (2020) e Dentro da Casa (2012) - mas a ideia é tão bem costurada que o final não poderia ser diferente: se torna brilhante em sua simbologia dos anseios de sua protagonista. Sob a Areia é um filme tão interessante que serviu de divisor de águas para as carreiras de Ozon e Charlotte. François Ozon, depois de uma longa carreira dirigindo curtas-metragens engatava o ano definitivo de sua carreira. Depois de realizar dois longas que não receberam muita atenção, na virada do século ele realizou o provocador Gotas D'água em Pedras Escaldantes (2000) e este Sob A Areia (2000), dois filmes que não poderiam ser mais diferentes em seus temas e narrativas. Ozon apresentava a grande diversidade que marcaria sua carreira e a impressionante produtividade de lançar pelo menos um longa por ano. Já Charlotte Rampling, se tornou uma das atrizes mais respeitadas do cinema, com sua expressão enigmática, olhos gélidos e emoções contidas que tiram proveito da passagem do tempo em sua imagem de beldade que iniciou a carreira como modelo e estreou no cinema em Os Reis do Iê Iê Iê (1964) ao lado dos Beatles. Junto de 45 Anos (2015), que rendeu a ela sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz, e o clássico O Porteiro da Noite (1974), Sob a Areia completa o pódio de filmes mais emblemáticos da carreira da atriz. 

Sob a Areia (Sous Le Sable / França - 2000) de François Ozon com Charlotte Rampling, Bruno Cremer, Jacques Nolot, Alexandra Stewart e Pierre Vernier. ☻☻☻☻

sábado, 28 de maio de 2022

PREMIADOS FESTIVAL DE CANNES2022

Triangle of Sadness: segunda Palma de Ouro de Ruben Östlund

Juro que depois da inesperada vitória de Titane no ano passado, imaginei que as pessoas que abandonaram o body horror de David Cronenberg em Crimes of the Future era o parâmetro para o longa que ganharia a Palma de Ouro de 2022. No entanto, o júri presidido pelo ator de Titane, Vincent Lindon (acompanhado de nomes como Noomi Rapace, Joachim Trier, Ladj Ly e o sumido Jeff Nichols), optou por celebrar a nova obra do diretor sueco Ruben Östlund (Palma de Ouro em 2017 com o provocativo The Square e já aclamado no Festival com Força Maior em 2014) e repartir prêmios para os demais. Confesso que fiquei ainda mais curioso com este novo projeto de Östlund após este prêmio. A seguir todos os premiados da discreta 75ª edição do Festival. 


Palma de Ouro
“Triangle of sadness” de Ruben Östlund

Grand Prix
“Stars at noon”de Claire Denis e “Close” de Lukas Dhont

Melhor diretor
Park Chan-Wook (“Decision to live”)

Melhor ator
Song Kang-Ho (“Broker”)

Melhor atriz
Zar Amir Ebrahimi ("Holy spider”)

Prêmio do Júri
“Le otto montage” de Charlotte Vandermeersch e Felix van Groeningen
“Eo” de Jerzy Skolimowski

Melhor Roteiro
Tarik Saleh (“Boy from heaven”)

Melhor Primeiro Filme
“War pony” de Riley Keough e Gina Gammell

Melhor Curta-Metragem
“The water murmurs” de Jianying Chen

Prêmio de Aniversário da 75ª edição
“Tori et Lokita” de Jean-Pierre e Luc Dardenne

Mostra Un Certain Regard
“The worst ones" de Lise Akora & Romane Gueret

#FDS Novos Clássicos: Os Amantes do Círculo Polar

 
Fele e Najwa: as coincidências do destino. 

Em meio ao sucesso da série La Casa de Papel, muita gente ficou intrigado com aquela personagem grávida que despertava o ódio do público que torcia a favor do professor e sua trupe de assaltantes. O talento da atriz Najwa Nimri soltava aos olhos e se destacava em uma seara de personagens consolidados interessantes. Fiquei realmente surpreso quando revi o espanhol Os Amantes do Círculo Polar e me dei conta de que a atriz do filme de Julio Medem era a própria Najwa, que pelo papel levou para casa o Goya de melhor atriz pelo filme. Apesar do nome diferente (de origem na Jordânia), a atriz nasceu na cidade de Pamplona na Espanha e costuma marcar seus personagens com bastante intensidade. Além da presença irresistível da atriz, o filme de Medem bebe na fonte das comédias românticas, mas a constrói de forma completamente diferente. Cheio de acasos e coincidências, o filme se ampara na crença de que o destino sempre age na construção de histórias de amor. Aqui, no caso, se trata da aproximação de Otto e Ana, que possuem o primeiro contato meio que por acaso e depois, aos oito anos de idade, começam a perceber que o destino teima em aproximá-los, embora, vez por outra, os dois se afastem. Ambos estudam na mesma escola e os pais deles logo irão se conhecer. Com isso irão crescer juntos, para logo depois se afastarem e se perseguirem paralelamente a romances que parecem destinados a não dar certo. Se as coincidências por aqui já parecem exageradas no roteiro, a coisa só se intensifica quando descobrimos a origem do nome do Otto e o motivo de ambos irem parar lá na Finlândia em busca do reencontro que parecem desejar a tanto tempo. Julio Medem faz seu filme com delicioso lirismo, investindo em uma montagem bastante dinâmica, bom humor e uma certa ingenuidade. Colabora ainda mais para o filme funcionar as atuações do casal Fele Martinez e Najwa Nimri, que nos convencem do amor legítimo que existem entre os dois (e toda a teimosia presente nos encontros e desencontros que perpassam esta história de amor). Não vale contar muito sobre a trama para não estragar as surpresas do caminho, mas vale ressaltar que o filme se tornou um sucesso de bilheteria, além de firmar um novo parâmetro para a comédia romântica em língua espanhola. Em um tempo em que todo mundo queria soar como um novo Almodóvar, Medem foge disso e consegue criar uma bela narrativa, que poderia ser ainda melhor se não tivesse aquela cena final. Ainda assim, cenas como aquela em que O Círculo Polar ganha um significado nunca antes mostrado no cinema, valem cada minuto do filme que revela-se circular de verdade. 

Os Amantes do Círculo Polar (Los Amantes Del Círculo Polar/Espanha-França) de Julio Medem com Fele Martinez, Najwa Nimri, Nancho Novo, Sarta Valiente, Maru Valdivielso e Pep Munné. 

sexta-feira, 27 de maio de 2022

#FDS Novos Clássicos: Priscilla, A Rainha do Deserto

 
Terence, Guy e Hugo: figurino inigualável. 

O que faz de algo um clássico? Pela etimologia da palavra, um clássico seria algo de primeira classe, primeira ordem ou de elite. Entre os significados do termo, também é ressaltado sua relação com os paradigmas e o que se torna modelo para um determinado gênero (uma referência consagrada dentro da arte). Paralelo a isso, penso naqueles dias em que você procura algo para assistir na variedade de produções presentes no streaming e você opta por algo que não é uma novidade, mas que você sabe que ao assistir, lhe trará a mesma satisfação de antes. Foi assim que nasceu este #FimDeSemana Novos Clássicos, com três filmes que assisti recentemente e que, já calejados por algumas décadas, ainda são referências de um determinado gênero. Para começar, escolhi o australiano Priscilla, A Rainha do Deserto que trouxe a cultura drag para a cultura pop ao redor do mundo. É estranho imaginar que na última década, personagens homossexuais ainda eram vistos com desconfiança pelos estúdios, mas um grupo de filmes tentavam romper este estigma. A maioria dos filmes era relegada a um público bastante específico preso ao underground cinéfilo, sendo preciso a exuberância estética de um revigorado cinema australiano para colocar  as plumas e paetês no catálogo de Hollywood. A Austrália tinha alcançado o sucesso recente com Vem Dançar Comigo (1992) de Baz Luhrman e O Casamento de Muriel (1994) com Toni Collette também gerava boas bilheterias sem medo de soarem bregas. Quando Stephan Elliott resolveu explorar o colorido da cultura drag em uma comédia, calcou a trama em um road movie, com um ponto de partida bastante comum no gênero: um pai que precisa reencontrar o filho por conta de adversidades da vida. No entanto, para não cumprir a jornada sozinho, convida duas parceiras drag queens para lhe fazer companhia. Assim, enquanto Mitzy, ou melhor, Anthony (Hugo Weaving) fica tenso em encontrar seu herdeiro (e imaginar como ele irá encarar o pai que não vê há muito tempo), a recém viúva Bernadette (Terence Stamp, um galã das antigas que faz bonito num papel bem diferente do habitual) tem que lidar com a acidez de Adam (Guy Pearce) e sua espevitada alter-ego, Felicia. Enquanto a trilha sonora capricha em clássicos hinos GLBTQIA+, os figurinos de Lizzy Gardiner e Tim Chappel vão além de tudo o que já foi visto numa tela de cinema (seja em material, textura, combinação de cores e desafios à gravidade) em seu contraste com as paisagens do deserto australiano ou bares decadentes. Em suas andanças, o trio irá encontrar um bocado de incompreensão e abordam questões que até hoje permanecem atuais. Seja na ideia de "família tradicional" que paira sobre a história de Anthony, nas maldades presentes nos comentários ofensivos de Felicia ou na personalidade trans de Bernadette, uma personagem que introduz um conceito que nem era comentado no cinema em meados dos anos 1990. São estes pontos que fazem de Priscila um verdadeiro clássico, um filme bem humorado, sem perder o verniz dramático quando necessário e sinônimo em nosso imaginário coletivo quando se fala em produções de gênero. Você jamais ouvirá I Will Survive do mesmo jeito (ou a melosa I've Never Been To Me que é bem mais sacana do que aparenta) e acredite, aqueles figurinos são inesquecíveis. 

Priscilla, A Rainha do Deserto (The Adventures of Priscilla, The Queen of the Desert / Australia - 1994) de Stephan Elliot com Hugo Weaving, Guy Pearce, Terrence Stamp e Bill Hunter. 

quinta-feira, 26 de maio de 2022

4EVER: Ray Liotta

 
18 de dezembro de 1954  26 de maio de 2022

Raymond Allen Liotta nasceu em Nova Jersey e foi adotado aos seis meses de idade por um casal formado por um casal de origem italiana e escocesa. Ray começou a carreira de ator no teatro e nos anos 1980 começou a fazer séries e filmes para a televisão. Embora já tenha realizado um trabalho para o cinema em 1983, seu primeiro filme de grande repercussão foi em 1986 com Totalmente Selvagem de Jonathan Demme. Após sua participação em O Campo dos Sonhos (1989), o ator recebeu seu papel de maior destaque no clássico Os Bons Companheiros (1990), sendo o protagonista no drama mafioso de Martin Scorsese. Em meio a papéis de vilões e filmes de ação, demonstrou ser capaz de atuações mais singelas em Corina, Uma Babá Perfeita (1994), em que apresenta irresistível química com Whoppi Goldberg. Nos anos 2000 ele pareceu ter sido redescoberto em produções de sucesso como Hannibal (2001), Identidade (2003) e o recente História de um Casamento (2019). A causa da morte do ator ainda não foi divulgada e ele estava envolvido em cinco projetos que estreariam nos próximos anos. 

quarta-feira, 25 de maio de 2022

PL►Y: In Natura

 
Ole Giæver: homem ao natural. 

Aos que podem se escandalizar com a foto que ilustra esta postagem, vale a pena dizer que ela é a que ilustra o pôster deste filme norueguês dirigido pela dupla Ole Giæver e Marte Vold, que honra o título de forma bastante instigante. Vale dizer que o cara da foto é o próprio Ole, que estrela a produção e assina o roteiro que é um estudo de personagem feito com bastante frescor (sem trocadilhos), toques de humor e existencialismo. Mas não imagine que se trata de um filme cabeça, denso e pesaroso, existem realmente questões importantes abordadas ao longo dos enxutos oitenta minutos de produção, mas que dão conta de dar ao longa uma atmosfera bastante autêntica e honesta aos roteiros que colocam um personagem em contato com a natureza. Mais do que realizar uma longa trilha acompanhado somente da natureza ao seu redor, o filme abraça as reflexões do personagem em torno de sua vida até ali, das possibilidades deixadas para trás e as que poderiam acontecer dali em diante. Martin (Ole Giæver) parece ter um casamento que caiu na mesmice com Sigrid (Marte Magnusdotter Solem), os dois possuem uma rotina aparentemente segura ao lado do filho, Karsten (Sivert Giæver Solem) - e os sobrenomes parecem indicar que trata-se realmente de uma família fora da tela. No entanto, Martin parece cada vez mais distante, especialmente na forma como se despede da família rumo à sua jornada naqueles dias frios que só a Noruega parece proporcionar. Enquanto caminha, ele pensa sobre o casamento, seu relacionamento com o filho, pensa em divórcio, no relacionamento com o seu pai, mostrando que aquele sujeito certinho se descasca perante à câmera cena após cena. Quase baseado naquela música do Capital Inicial ("o que você faz quando ninguém te vê fazendo"?), ele literalmente se despe perante a câmera, não apenas fisicamente, mas também em suas emoções e desejos. Faz tempo que não vejo um filme que apresenta um homem solitário em contato, digamos, consigo mesmo de forma tão natural e espontânea. Embora muita gente ainda se choque, vale dizer que as cenas de nudez masculina são mostradas de forma natural e, na maioria de forma cômica, seja na fracassada cena de autossatisfação com a chegada inesperada de outra pessoa ou o banho gélido após aquele sonho enganoso de quando você deveria ter levantado e ido ao banheiro. Pode ser que exista um bocado de exibicionismo no trabalho de Ole Giæver (que admite não ser um David Beckham), mas também existe um bocado de coragem somada à simpatia com que carrega o filme nas costas. Entre fantasias, lembranças e reflexões sobre o rumo que vida toma (incluindo algumas cenas bastante metafóricas, com a do pé preso na lama ou aquela em que o personagem se enterra vivo e parece renascido para o desfecho), In Natura se torna interessante por não ser apenas sobre a relação do homem com a natureza, mas a forma como este contato pode nos fazer refletir sobre quem somos em um contexto mais amplo e significativo. É o microuniverso de Martin se perdendo em si para se reencontrar no macrouniverso do qual faz parte. Para quem se interessar, o filme está em cartaz na MUBI e se despedirá nos próximos dias. 

In Natura (Mot Naturen / Noruega - 2024) de Ole Giæver e Marte Vold com Ole Giæver, Marte Magnusdotter Solem, Sivert Giæver Solem e Rebekka Nystabakk. ☻☻

sábado, 21 de maio de 2022

PL►Y: Caça-Fantasmas - Mais Além

 
Rudd e o novo elenco: renovação de fôlego.

Os dois filmes originais de Os Gaça-Fantasmas estão entre os mais queridos de Hollywood de todos os tempos. É verdade que o primeiro é inigualável, o segundo não é tão bom, mas a magia manteve a magia da saga que encerrou precocemente sem que um terceiro acontecesse. Por muito tempo se pensou em fechar uma trilogia, mas problemas com roteiro, elenco e produtores nunca viabilizaram a empreitada. Na crise criativa que assola Hollywood há algum tempo, voltaram os olhos novamente para a franquia e realizaram aquela versão estapafúrdia (me recuso a chamá-la de feminista, ok) estrelada por comediantes que tentavam salvar um roteiro sofrível e sem graça. O notável desarranjo sepultou qualquer chance de revigorar a franquia nos anos seguintes e acharam melhor passar uma borracha fingindo que aquele filme nunca existiu. Fingir que filmes nunca existiram e apertar o botão de reboot se tornou uma outra especialidade na Hollywood recente - mas talvez num futuro próximo inventem um multiverso misturando os filmes, já que está na moda. Diante do desastre exorcizado de Paul Feig, resolveram apelar para a nostalgia regada com um bocado de apelo emocional. A nostalgia fica por conta de reverenciar os filmes originais com seus conceitos e personagens clássicos em participações especiais, dando uma certa continuidade aos filmes que todo mundo já deve ter assistido ao longo dos quase quarenta anos do primeiro filme. O apelo emocional transcende a relação dos fãs com o filme e rendeu a escalação do diretor, Jason Reitman, filho do diretor do longa original, Ivan Reitman. Se Ivan sempre foi chegado às comédias de estúdio, Jason sempre manteve uma postura mais indie, que de vez em quando cai na graça das premiações (vide Juno/2007 e Amor sem Escalas/2009). A escolha de Jason faz toda a diferença, já que para além do tom de aventura e terror de brincadeirinha, ele possui a habilidade necessária para transformar aqueles personagens em carne e osso com seus problemas de verdade. Além disso, existe ali um espectro paternal latente, seja na personagem Callie (Carrie Coon) que teve problemas com o pai do qual herdou uma casa considerada abandonada e considerada mal assombrada pelos moradores de uma cidadezinha perdida no mapa, seja na ausência de um pai na família ou na figura zelosa de um professor. O roteiro tenta deixar um mistério acerca de quem seria o pai da personagem, remetendo diretamente ao quarteto que caçava fantasmas em Nova York na década de oitenta. Quem começa a desvendar o passado misterioso do falecido é a menina Phoebe (a sempre ótima McKenna Grace), uma pequena nerd que adora física e que ainda precisa se adaptar à vida na nova cidadezinha ao lado do irmão, Finn (Finn Wolfhard). Logo os dois terão poucas amizades e a ajuda de um atencioso professor, Grooberson (Paul Rudd) para depois se darem conta que a cidade está prestes a explodir em atividades fantasmagóricas. Cheio de referências aos primeiros filmes, bom humor e um roteiro simples (mas não simplório), o filme alcança um bom desenvolvimento em seu tom de aventura infanto-juvenil (que bebe muito na vibe da série Stranger Things do qual Finn participa). Vale destacar que além do tom certinho impresso pelo diretor, a produção acertou em cheio na escalação do elenco carismático que alcança uma boa sintonia em cena.  Curiosamente, meu maior problema com o filme foi a cena em que a clássica formação de Caça-Fantasmas (desfalcada pela morte de Harold Ramis) aparece de maneira desanimada. Embora siga a cartilha nostálgica de hoje em dia, a empreitada reconfigura a franquia para uma nova geração de fãs, mas sem decepcionar os antigos - é verdade que alguns vão reclamar de transformarem a franquia em filme "infantil", mas garanto que estes curtiam o desenho-animado que passava nas manhãs da Globo. Hora de esperar o passo além desta nova fase. 

Caça-Fantasmas: Mais Além (Ghostbusters - Afterlife / EUA -2021) de Jason Reitman com McKenna Grace, Carrie Coon, Paul Rudd, Finn Wolfhard, Dan Aykroyd e J.K. Simmons. 

quinta-feira, 19 de maio de 2022

PL►Y: Tempo

 
Perdidos na Praia: perda de tempo. 

O diretor que começou a carreira chamando atenção de todo o mundo com o sucesso colossal de O Sexto Sentido (1999) chegou a ser chamado de novo Steven Spielberg (regado a todo o exagero que a imprensa americana adora quando um novo nome desponta no mainstream). Em seus projetos seguintes as ideias interessantes continuaram por meia década, depois a coisa começou a desandar. Suas tramas de mistério casadas com a estética arrojada careciam de roteiros mais lapidados e sua carreira quase naufragou na década passada. A carreira ganhou novo fôlego quando tirou da cachola uma trilogia que ninguém esperava de Corpo Fechado (2000) com  Fragmentado (2017) e Vidro (2019), que encerrou despertando o ódio de muita gente. Ano passado ele voltou com a ideia intrigante de Tempo, onde um grupo de desconhecidos está preso em uma praia paradisíaca e percebem que o tempo começa a passar diferente por lá. Quando o filme começa com foco no casal em crise Guy (Gael Garcia Bernal) e Prisca (Vicky Krieps) chegando num resort com os filhos, a coisa parece começar bem com um clima de Ilha da Fantasia (a série, não o filme tosco de 2020), mas quando o filme começa a apresentar os outro personagens já começa a incomodar com seu didatismo (colocar um menino que pergunta o nome e a profissão de cada personagem é uma das saídas mais preguiçosas que já vi). Quando todos se vêem presos na praia a coisa desanda de vez, os mistérios começam a se acumular de forma igualmente preguiçosa em soluções fáceis para que a história continue seguindo em frente no tranco rumo ao desfecho decepcionante. Os toques de terror e suspense não compensam o clima sem graça e desinteressante de ver os personagens ficando mais velhos sem saber muito bem o que fazer por quase duas horas, repetindo as mesmas falas e expressões de perplexidade. Uma ideia que parece interessante se torna cada vez mais sonolenta e, ironicamente, uma grande perda de tempo. Baseado na Graphic Novel chamada Sandcastle de Pierre Oscar-Levy e Frederick Peters, a melhor sensação que o filme me proporcionou foi a de não ter ido assistir no cinema. Esperando sua disponibilidade no streaming, tive a chance de cochilar várias vezes e persistir, retornando ao ponto em que dormi e constatar que a culpa não era do meu cansaço, mas do filme mesmo. Tenho a impressão que M. Night Shyamalan é um cineasta que quer receber o título de mais cansativo de todos os tempos. Seu vício em tramas cheias de mistérios e surpresas no final soam cada vez mais saturados.

Tempo (Old / Estados Unidos - Japão / 2021) de M. Night Shyamalan com Vicky Krieps, Gael Garcia Bernal, Rufus Sewell, Alex Wolff, Ken Leung, Aaron Pierre e Thomasin Mckenzie.

terça-feira, 17 de maio de 2022

FESTIVAL DE CANNES 2022

Abrindo a temporada de Festivais de 2022 está o Festival de Cannes que inicia hoje e termina no sábado dia 28 com o anúncio dos premiados do Festival. O cartaz de divulgação do Festival é uma homenagem O Show de Truman (1998) de Peter Weir que completa 24 anos de sua estreia. Muitos costumam dizer que Cannes tem seu grupo de diretores favoritos que se revezam através dos anos na mostra competitiva - mas sem abrir mão de nomes interessantes que surgem ao redor do mundo. Neste ano, entre os veteranos do festival estão Claire Denis, Michel Hazanavicius, Ruben Ostlund, os irmãos Dardenne, David Cronenberg e Park Chan Wook (acho que não precisa dizer que muitos deles estão entre os favoritos à Palma de Ouro e uma vaga à temporada de Ouro que chega com o final do ano cinematográfico). Também não podemos perder de vista as pomposas estreias do novo Top Gun e os novos projetos dos australianos Baz Luhrman e George Miller. A seguir todos os filmes que estão presentes no Festival:

Filme de abertura
Z, de Michel Hazanavicius
 
Concorrentes à Palma de Ouro
Holy spider, de Ali Abbasi
Les amandiers, de Valeria Bruni Tedeschi
Crimes of the future, de David Cronenberg
The stars at noon, de Claire Denis
Frere et soeur, de Arnaud Desplechin
Tori and Lokita, de Jean-Pierre & Luc Dardenne
Close, de Lukas Dhont
Armageddon time, de James Gray
Broker, de Hirokazu Kore-eda
Nostalgia, de Mario Martone
R.M.N., de Cristian Mungiu
Triangle of sadness, de Ruben Ostlund
Decisions to leave, de Park Chan-Wook
Showing up, de Kelly Reichardt
Leila’s brother, de Saeed Roustayi
Boy from heaven, de Tarik Saleh
Tchaikovsky’s wife, de Kirill Serebrennikov
Hi-Han (Eo), de Jerzy Skolimowski
 
Mostra "Um Certo Olhar"
Les Pires, de Lise Akoka & Romane Gueret
Burning days, de Emin Alper
Metronom, de Alexandru Belc
Retour a Seoul, de Davy Chou
Sick of myself, de Kristoffer Borgli
Domingo y La niebla, de Ariel Escalante Meza
Plan 75, de Hayakawa Chie
Beast, de Riley Keough & Gina Gammell
Corsage, de Marie Kreutzer
Butterfly vision, de Maksym Nakonechnyi
Volada land, de Hlynur Palmason
Rodeo, de Lola Quivoron
Joyland, de Saim Sadiq
The stranger, de Thomas M. Wright
The silent twins, de Agnieszka Smoczynska
 
Estreiam em Cannes
Outside night, de Marco Bellocchio
Nos frangins, de Rachid Bouchareb
Irma Vep, de Olivier Assayas
Dodo, de Panos H. Koutras
 
Exibições fora de competição
Top gun: Maverick, de Joseph Kosinski
Elvis, de Baz Luhrmann
Three thousand years of longing, de George Miller
November, de Cédric Jimenez
Masquerade, de Nicolas Bedos
 
Sessões da meia-noite
Moonage daydream, de Brett Morgen
Smoking makes you cough, de Quentin Dupieux
Hunt, de Lee Jung-Jae
 
Exibições especiais
The natural history of destruction, de Sergei Loznitsa
Jerry Lee Lewis: Trouble in Mind, de Ethan Coen
All that breathes, de Shaunak Sen

domingo, 15 de maio de 2022

Na Tela: O Homem do Norte

 
Alexander: interpretação anabolizada. 

Um príncipe vê seu pai sendo morto pelo tio que logo toma sua mãe como esposa. Ele jura se vingar e salvar a mãe enquanto encontra o amor de uma jovem. Parece Hamlet de Shakespeare, mas não é. Trata-se de história de Amleth, um verdadeiro clássico ancestral que inspirou o bardo inglês a escrever uma de suas obras mais famosas. Diante desta fonte inspiradora, Robert Eggers fez sua produção mais recente que se viu presente em dez entre dez listas de filmes mais aguardados do ano. O Homem do Norte chegou ao Brasil essa semana e deixou muita gente curiosa sobre o apelo que a primeira superprodução (90 milhões de dólares gastos na produção) de Eggers terá junto ao público. O cineasta  é um dos nomes mais elogiados no cinema americano nos últimos anos, desde que lançou seu filme de estreia, o terror A Bruxa (2015), seu talento já se tornou público e notório. Tudo que se viu em seu primeiro lançamento foi reafirmado em O Farol (2019), suspense psicológico com atuações arrebatadoras de Willem Dafoe e Robert Pattinson. Detalhista com a estética de seus filmes e um verdadeiro mestre na condução dos atores, faltava somente a grana necessária para que ganhasse a projeção que só um projeto ambicioso bancado por um grande estúdio é capaz. A Universal comprou a ideia e cada segundo de The Northman deixa claro todo o rigor do cineasta na tela perante tão alta quantia. Se ele já fazia milagres com os orçamentos modestos dos longas anteriores, aqui ele faz a festa em uma escala macro da concepção de um verdadeiro épico nórdico. Se até agora você pensou que já viu esta história de vingança contada um milhão de vezes, garanto que em nenhuma delas houve o rigor cru arrebatador de Eggers. Aqui estão marcas que já se tornaram próprias de sua obra, a fotografia cinzenta (que só ganha cores com o verde das belas paisagens da Islândia), a presença do horror ao desconhecido e o apreço pela veracidade histórica da trama. Na pele de Amleth, o dinamarquês Alexander Skarsgård deixa para trás todos os personagens bonitinhos e elegantes que já fez. Com a musculatura inchada e expressão dura, o ator alcança aqui seu melhor trabalho e consegue se destacar em um elenco impecável que conta com Nicole Kidman (chega a ser  divertido que a atriz, que foi sua esposa na série Big Little Lies, interprete sua mãe no filme), Klaus Bang (como o tio traiçoeiro), Ethan Hawke (como o pai falecido), Anna Taylor Joy (revelada por Eggers em A Bruxa e aqui não se contenta em ser apenas o par romântico do protagonista, apresentando outro trabalho marcante) e até a cantora Björk (já distante de todo trauma vivido com LarsVon Trier em Dançando no Escuro/2000 que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz em Cannes) tem uma participação impressionante. Haja urros, uivos, sangue e violência nas duas horas e vinte minutos de duração do filme que sonha ser a versão definitiva da cultura viking nas telonas. Caminhando ao lado da sede de vingança estão alguns segredos (que quem conhece Hamlet já imagina quais sejam) e uma história de amor que pode servir de redenção para Amleth. Não vou dar spoilers, mas fiquei bastante impressionado com o resultado. Identifiquei aqui e ali momentos me lembram a barbárie de Valhalla Rising/2009 e da forma como se constrói uma lenda vista no recente A Lenda do Cavaleiro Verde/2021. Resta saber se toda as expectativas em torno do filme irão colocá-lo em outras listas, aquelas destinadas aos melhores do ano. Além disso, o resultado nas bilheterias pode fazer a Universal identificar aqui seu trunfo para a próxima temporada de ouro. 

O Home do Norte (The Northman /EUA - 2022) de Robert Eggers com Alexander Skarsgård, Klaus Bang, Nicole Kidman, Annya Taylor Joy, Ethan Hawke e Björk. 

sábado, 14 de maio de 2022

Na Tela: Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

 
Gomez, Wong e Benedict: boas ideias em roteiro capenga. 

Antes de tudo quero deixar registrado que o texto a seguir é fruto de muita reflexão nos últimos dias. Pois é minha gente, não bastasse os boletos, o trabalho exaustivo durante a semana (que permanece deixando pouco tempo para que eu escreva mais por aqui) eu ainda encontro tempo para ficar pensando sobre os rumos dos filmes da Marvel no cinema. Acho que já escrevi por aqui que ando preocupado com esta nova fase do estúdio. Desde do sucesso arrebatador de Vingadores: Ultimato (2019), já foram lançadas seis programas de TV, destes, cinco dão continuidade ao que vimos anteriormente nas telonas. Também foram lançados quatro filmes que não dialogam entre si e este novo Doutor Estranho é o quinto que segue a mesma linha (ok, os benevolentes  dirão que ele remete ao Homem-Aranha anterior, mas... nem tanto como deveria). A nova aventura de Strange, demonstra que, talvez daqui para frente, quem não assistir aos programas disponíveis no Disney+ possa sentir-se um tanto perdido no que está acontecendo (e talvez até quem assistiu sinta isso). Aqui, Doutor Estanho (Benedict Cumberbatch com sua competência habitual) já tem plena certeza dos estragos que mexer com o Multiverso pode causar - e a coisa só complica quando ele conhece uma garota capaz de atravessar multiversos - mas que não sabe lidar com suas habilidades. Eis que para resolver umas pendengas, Estranho decide procurar Wanda (Elisabeth Olsen) que depois de suas traumáticas experiências de manipulação da realidade em Westview (em Wandavision/2021), demonstra interesse em utilizar os poderes da garota para ter seus filhos de volta. Este é o ponto de partida do filme que dará voltas e mais voltas para voltar sempre ao mesmo lugar. Wanda aqui está mais para Feiticeira Escarlate do que para a aliada que estávamos acostumados nos  filmes anteriores e o diretor Sam Raimi se diverte com as possibilidades que tem nas mãos. Originário do terror, Raimi entrou para história dos filmes de super herói com os primeiros filmes do Homem-Aranha (2002) e aqui homenageia suas origens com cenas e citações que ambicionam construir o primeiro filme de terror na Marvel. Sim, existem cenas feitas para dar medo, mas não avançam tanto pelo tom de diversão (e não há problema nisso), seja quando Strange habita seu cadáver de outro multiverso ou quando Wanda sai de um reflexo como se estivesse acabando de ver O Chamado. Se a estética do diretor ajuda a dar corpo ao filme, a alma escorrega pelo roteiro através de soluções sempre rápidas e práticas para problemas que são apresentados como difíceis de resolver. Ok, cinema é entretenimento, mas cuidado e capricho com o desenrolar da trama não faz mal a ninguém. São tantos atalhos tomados ao longo da sessão que se torna um tanto cansativo (e, particularmente também estou cansando com as participações especiais de outras eras da Marvel no cinema feitas para ganhar gritinhos no cinema e que terminam sem ir a lugar algum). A sorte é que Benedict é tão bom ator que parece até um milagreiro, também ajuda o fato dele estar muito bem acompanhado por Elisabeth Olsen (que aqui faz lembrar mais uma vez seu potencial revelado em Martha Marcy Mae Marlene/2011), seus talentos somados à desenvoltura de Sam Raimi valem o ingresso, mas, ao final da sessão, meu receio recorrente sobre esta nova fase da Marvel permanece. Que venha Thor4...

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (Doctor Strange in the Multiverse of Madness/EUA - 2022) de Sam Raimi com Benedict Cumberbatch, Elizabeth Olsen, Benedict Wong, Chiwetel Ejiofor, Xochitl Gomez, Rachel McAdams e Hayley Atwell. 

PL►Y Joachim Trier: "Reprise" | "Oslo, 31 de Agosto"

Lee e Høiner: a magnífica estreia de Joachim Trier. 

Conheci o trabalho do norueguês Joachim Trier em Mais Forte que Bombas/2015, filme que ficou entre os meus favoritos daquele ano e lhe valeu o posto de  melhor diretor daquele ano em minha modesta opinião. Era seu primeiro trabalho em língua inglesa (e único por enquanto) e trazia um elenco internacional. Depois, descobri Joachim havia lançado dois longas anteriormente (mas difíceis de encontrar por aqui). Depois veio toda a expectativa de Thelma (2017) e o elogiado A Pior Pessoa do Mundo (2021) e minha estima pelo diretor somente cresceu. Eis que nas últimas semanas a MUBI me concedeu o agrado de disponibilizar os dois primeiros filmes do diretor em seu catálogo. O primeiro deles é o cultuado Reprise (que recebeu nome de novela das seis por aqui: Começar de Novo), o debut do cineasta que desde aquele momento demonstrava seu apreço por personagens que enfrentam situações que redefinirão suas vidas. O filme (escrito por Trier e seu eterno parceiro Eskil Vogt) conta a história de dois jovens amigos que decidem ser escritores (e gosto de imaginar que isso não é coincidência). A apresentação de ambos é feita de forma bastante dinâmica, sem perder tempo com o que não interessa. A colagem de curiosidade sobre os personagens deixa claro que tão logo suas primeiras obras são lançadas, as repercussões são opostas. Enquanto Phillip (Anders Danielsen Lee) alcança elogios e sucesso, a obra de Erik (Espen Klouman Høiner) passa praticamente despercebida. No entanto, o efeito na vida de ambos é oposta ao imaginado. Erik segue em busca de algum reconhecimento, já Phillip, na mistura entre fama e o relacionamento com Kari (Victoria Winge) despertam no rapaz a sua psicose. O filme acompanha o reencontro dos dois amigos após este período tempestuoso e a forma diferenciada como acabam enxergando o mundo. Se Phillip se torna mais melancólico (e insiste em realizar contagens regressivas ao longo dos dias, criando uma sugestiva tensão na mente do espectador), Erik segue em caráter mais solar em busca de reconhecimento, mas sem perder de vista as fragilidades do amigo (pelo menos até a cena em que Phillip lhe pede opinião sobre um novo texto). Trier costura situações na vida dos dois amigos com sua peculiar habilidade narrativa, existem situações divertidas (como a foto de Phillip ao lado do escritor favorito de ambos), irônicas (os casamentos no final da sessão) e reflexivas (como a amizade com pessoas completamente diferentes de você). Merece destaque no filme a performance intimista de Anders Danielsen Lee (que estreou aos onze anos de idade no premiado drama Herman/1990 de Erik Gustavson e retomou sua carreira aqui após dezesseis anos e quase se formar em medicina).

Oslo, 31 de Agosto: o segundo filme de um grande diretor. 

Lee é um ótimo ator que se tornou a marca registrada do que mais tarde se tornou conhecida como a trilogia Oslo feita pelo cineasta, que teve sua segunda parte na obra seguinte: Oslo, 31 de Agosto (2011). Desta vez Danielsen Lee interpreta Anders, um rapaz que nunca soube muito bem o que fazer da vida e que se tornou usuário de drogas. Agora, depois dos trinta anos (e sobreviver a dez anos de vício em substâncias variadas), ele precisa retomar sua vida. Anders sabe que será algo difícil e uma das primeiras cenas do filme deixa isso bem claro. A história é quase toda centrada em um único dia, em que o personagem caminha pelas ruas de Oslo reencontrando amigos, interesses amorosos, procurando emprego e precisa lidar com comentários que funcionam como verdadeiros gatilhos para sentimentos sobre o período que passou. A narrativa parece simples, mas se constrói nas ondulações feitas por períodos de aparente tranquilidade e outros em que os diálogos cortam feito uma navalha. Ao longo da história a emblemática cena do personagem no rio se torna uma ameaça sempre presente perante a sensação de inadequação a um mundo que mudou e que parece rejeitá-lo. Cenas emblemáticas são o que não faltam no filme (a da cafeteria em que tudo parece remeter à história do personagem ou aquela em que ele dorme no parque e acorda sozinho com o dia próximo do fim traz a exata sensação de que uma lacuna temporal que não consegue ser recuperada). Se Reprise consegue ser bem humorado em meio à tensão de algumas situações, o humor quando surge em Oslo, 31 de Agosto é sempre incômodo e serve apenas para enfatizar o drama do protagonista. É um filme mais lento e pesaroso, mas que funciona como bom contraponto na tal "trilogia Oslo" recentemente concluída com A Pior Pessoa do Mundo (cuja atriz Renate Reinsvie faz uma pequena participação nesta segunda parte, tendo apenas uma fala em toda a projeção). Calcado em torno de jovens que ainda buscam o rumo de suas vidas, a trilogia Oslo funciona bem pelas emoções complicadas que evoca e seus desfechos sempre diferentes em torno de personagens tão bem lapidados que podem existir em qualquer lugar do mundo. 

Reprise (Noruega/2006) de Joachim Trier com Anders Danielsen Lee, Espen Klouman Høiner, Victoria Winge, Pål Stokka e Christian Rubeck. ☻☻

Oslo, 31 de Agosto (Oslo, 31. August / Noruega - Dinamarca - Suécia / 2011) de Joachim Trier com Anders Danielsen Lee, Hans Olav Brenner, Ingrid Olava, Marlin Crépin e Kjærsti Odden Skjeldal. ☻☻

4EVER: Breno Silveira

 
05 de fevereiro de 1964 ✰ 14 de maio de 2022

Breno Silveira nasceu em Brasília e começou sua carreira no cinema como assistente de fotografia em Bete Balanço (1984). Depois, se tornou diretor de fotografia de filmes importantes na retomada da produção cinematográfica brasileira, tendo seu trabalho amplamente conhecido com os sucessos de Carlota Joaquina (1995) e Eu, Tu, Eles (2000). Era um dos nomes mais requisitados da Conspiração Filmes, ganhando fama e reconhecimento também na produção de clipes e no mercado publicitário. Breno estreou na direção em 2005 com o sucesso Dois Filhos de Francisco, filme que conta a história do início da carreira da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. O longa se tornou um enorme sucesso, conquistando mais de cinco milhões de espectadores nos cinemas. Breno retomou seu gosto por cinebiografias com Gonzaga - de Pai para Filho (2012), no mesmo ano em que lançou À Beira do Caminho, longa baseado em canções de Roberto Carlos. O cineasta sempre citou a emoção como fator preponderante em sua obra. Breno Silveira faleceu de um infarto fulminante enquanto filmava seu novo filme (Dona Vitória) em Pernambuco. 

domingo, 8 de maio de 2022

4EVER: Fred Ward

30 de dezembro de 1942  08 de maio de 2022

Fred Joe Ward nasceu na Califórnia e sua aparência traz algo  da descendência dos nativos Cherokees. A experiência na força aérea dos Estados Unidos, como lutador de boxe (que o fez quebrar o nariz três vezes) e lenhador no Alaska, ajudaram a moldar sua imagem que transbordava  testosterona. Ward estudou interpretação em Roma, na Herbert Berghof Studio, começando na atuação através de dublagens e trabalhos de mímico nos anos 1970. Durante este período fez alguns programas para a televisão e teatro experimental. Seu primeiro trabalho de destaque foi ao lado de Clint Eastwood em Fuga de Alcatraz (1979) e logo depois fez outros filmes de sucesso como Silkwood (1983), Os Eleitos (1983), o famigerado Ataque dos Vermes Malditos (1990) e chegou a interpretar o erótico Henry Miller em Henry & June (1990). Com trânsito entre filmes de ação, dramas e comédias, se tornou um dos atores favoritos de Robert Altman, com quem trabalhou em O Jogador (1992) e Short Cuts (1993). Nos últimos anos ele ficou mais conhecido por suas participações em séries como Plantão Médico (2006), United States of Tara (2009) e True Detective (2015). A causa de sua morte não foi revelada. 

domingo, 1 de maio de 2022

NªTV: Heartstopper

 
Jenny, Corinna, Joe, Kit, Gao e Yasmin: irresistível diversidade. 

Embora a Netflix tenha sofrido uma queda em suas ações por conta do cancelamento na assinatura de milhares de assinantes, vale dizer que embora nos últimos anos ela tenha privilegiado quantidade ao invés de qualidade em suas produções, a gigante do streaming ainda tem lá seus acertos entre a ampla oferta de títulos que oferece (e nem vou entrar na polêmica de Ataque dos Cães/2021 que merecia realmente aquele Oscar de Melhor Filme)  Recentemente, embora muita gente não tenha gostado da segunda temporada de Bridgerton (que teve menos cenas de sexo que a anterior - e não senti a mínima falta de mais cenas calientes), eu ainda curti aquele universo de época mais diverso e apimentado. Outro título que desponta como destaque da programação nas últimas semanas é Heartstopper, a adaptação da cultuada graphic novel de Alice Oserman que colabora na construção do roteiro da série. De primeira achei que a série seria mais uma variável que bebe no sucesso de Sex Education (assim como Eu Nunca...), mas a série consegue se desvencilhar das comparações ao construir uma atmosfera diferente, mais introspectiva e até ingênua perante as descobertas de seus personagens. O programa tem como protagonistas os adolescentes Charlie (Joe Locke) e Nick (Kit Connor). Ambos estudam em uma escola só para meninos, enquanto Charlie é assumidamente gay e está em crise com  Ben (Sebastian Croft) que não assume o relacionamento que existe entre eles, Nick é do segundo ano, joga no time de rúgbi e faz sucesso com as meninas que morrem de amores por ele. Um dia os dois se aproximam e se tornam amigos, até que percebem que começa a existir a faísca de algo mais entre eles. Enquanto Nick tenta entender o que está acontecendo em sua sexualidade, Nick precisa lidar com seus fantasmas (do bullying sofrido no ano passado por sair do armário às mágoas recentes criadas por Ben) para permitir os próximos passos em sua vida amorosa. Conforme os laços entre os dois personagens se fortalecem, a plateia conhece outros personagens como o casal formado por Tara (Corinna Brown) e Tori (Jenny Walser) que sofrem preconceito em uma escola só para meninas, a jovem trans Elle (Yasmin Finney) que se descobre apaixonada pelo amigo Tao (William Gao), o introspectivo Isaac (Tobie Donovan) e o insuportável Harry (Cormac Hyde-Corrin) que recebem muito mais destaque ao longo dos episódios do que nos livros da série. O resultado agradou os fãs que se preocupavam com a fidelidade à história e a forma com que lida com os dilemas de seus personagens de forma bastante envolvente marcada pelas inseguranças da adolescência e a força dos hormônios. O clima de descobertas típicas da adolescência recebe aqui um tratamento sincero e honesto, preocupado no desenvolvimento dos personagens e questões em torno de amor e amizade. No entanto, se por um lado a representatividade da trama funciona muito bem, por outro, a série pode ser acusada de ser uma fantasia por compor um grupo de características sexuais tão distintas. Em outros tempos, séries adolescentes de sucesso com grupos formados somente com héteros brancos como Barrados no Baile (1990-2000) e Friends (1994-2004) eram vistas com naturalidade e não causavam estranhamento ao ponto de serem consideradas fantasias, hoje Heartstopper é saudada como uma série que fez falta nas décadas finais do século XX, mas dificilmente esta ideia receberia sinal verde para sua produção. Neste ponto, a Netflix merece elogios por investir em programas que seriam impensáveis tempos atrás. Embora possa parecer feita para adolescentes, Heartstopper é capaz de prender a atenção de todas as faixas etárias que já superaram seus preconceitos e buscam um bom programa para assistir. Acredito que muito do sucesso da trama se deve ao bom trabalho do elenco, principalmente da dupla formada pelo estreante Joe Locke e de um crescido Kit Connor (que foi o jovem Elton John em Rocketman/2019 indicado à revelação daquele ano aqui no blog), tendo como brinde a participação especial de Olivia Colman como a mãe de Kit. A cena em que Kit conversa com a mãe sobre o que sente por Charlie é uma das mais comoventes já protagonizadas pela atriz e apenas um dos momentos em que Heartstopper demonstra que é mesmo uma série sobre sentimentos - e existe algo mais universal do que isso?

Heartstopper (Reino Unido - 2022) de Alice Oseman com Kit Connor, Joe Locke, Corinna Brown, Jenny Walser, William Gao, Yasmin Finney, Olivia Colman, Tobie Donovan e Sebastian Croft. ☻☻

PL►Y: A Crônica Francesa

Tilda, Owen e a trupe de Wes: apenas bonitinho. 

Previsto para ser exibido no Festival de Cannes de 2020, o último filme de Wes Anderson teve que lidar com adiamentos e o crescimento da expectativa do público durante a pandemia até que entrasse em cartaz em 2021. Ser esnobado nas grandes premiações deixou claro que o filme não obteve o apelo que desejava, nem de público, nem de crítica. Seria até redundante elogiar toda a famosa estética do diretor mais uma vez. Seu gosto pelos tons pastéis, detalhes de cenário, simetria e figurinos permanecem intactos. Faltou apenas criar uma história que envolvesse a plateia que assiste tudo que surge na tela com um incômodo distanciamento. É verdade que o diretor ousa ao construir seu roteiro como se estivesse apresentando uma revista e seus autores, mas o conjunto de histórias costuradas parece mais um conjunto de curtas colados com a participação do Bill Murray, que interpreta o editor da publicação que dá título ao filme. Wes declara seu amor ao jornalismo contando a história de uma revista que nasceu no Kansas e se mudou para Enui, na França, mas que agora sofre com a morte de seu editor. Perante seu último desejo no testamento, a equipe da revista prepara sua edição de despedida. O filme é composto por cinco crônicas escritas por seus jornalistas, mas que são capazes de despertar emoções distintas no espectador. Na primeira, Herbsaint Sazerac (Owen Wilson) apresenta a cidade de Enui e as mudanças que sofreu nos últimos 250 anos (um deleite para quem curte o design de produção dos filmes do diretor), na terceira conhecemos a história de um artista (Benicio Del Toro) que está internado em um sanatório e faz de uma enfermeira (Léa Seydoux) sua grande musa, tudo contado com a narrativa inspirada de Tilda Swinton. Na terceira conhecemos um estudante (Timothée Chalamet) envolvido com o movimento estudantil dos anos 1960 e que se envolve com a jornalista vivida por Frances McDormand. Por último, um jornalista (Jeffrey Wright) conta o confuso sequestro do filho de um comissário. A irregularidade dos contos que surgem na tela comprometem o ritmo da narrativa e o texto mais truncado da carreira de Wes não ajuda. Quem acompanha os filmes do cineasta  conhece como ele sabe fazer graça da formalidade presente não apenas nos diálogos, como também nas interpretações  de seu elenco, mas aqui o resultado parece satisfatório somente na história do artista apaixonado por sua musa. Ali, o filme encontra o ponto certo entre o humor e a acidez ao contar as ironias das relações de poder e do mundo da arte, sendo original e divertido na medida certa. Quando o filme termina, ficamos com a impressão de ter visto um filme bonitinho, mas não muito mais do que isso. A Crônica Francesa é cheia de ideias, mas nem todas conseguem se conectar e construir uma conexão interessante.  

A Crônica Francesa (The French Dispatch / EUA-Alemanha / 2021) de Wes Anderson com Bill Murray, Owen Wilson, Tilda Swinton, Benicio Del Toro, Léa Seydoux, Jeffrey Wright, Frances McDormand, Timothée Chalamet, Mathieu Almaric e Bob Balaban. 

MOMENTO ROB GORDON: Personagens de Bruce Willis

Depois de um mês de merecidas férias, as atividades no blog estão de volta. Acho que este mês vou passar o tempo escrevendo sobre os filmes e séries que assisti no mês de março, mas eu não poderia deixar em branco uma notícia que pegou a nação cinéfila de surpresa. A aposentadoria de Bruce Willis por conta do diagnóstico de Afasia aos 67 anos. Antes do anúncio oficial, ouvi alguns boatos sobre problemas de saúde do astro, principalmente após a criação da categoria de Pior Filme de Bruce Willis no Framboesa de Ouro deste ano, em que todos os lançamentos de 2021 com participação do ator (oito!!! para ser exato) foram indicados. Willis andava fazendo todo tipo de filme, muitos deles não chegaram aos cinemas e a justificativa era que aproveitava seus últimos anos de trabalho para juntar o máximo de dinheiro que pudesse (e existe a previsão de mais oito lançamentos até que seu filme de despedida, já gravado, seja lançado). O ator que foi um dos maiores astros de Hollywood nos anos 1990 tem uma cota de filmes clássicos e personagens icônicos que valem ser lembrados em homenagem aos anos de trabalho prestados ao entretenimento. Esta lista lembra cinco personagens que entraram para a história graças ao talento e carisma de Willis: 

Eu sei que muita gente irá estranhar o papel de Willis no filme de Wes Anderson para abrir a lista, mas o zeloso e bem intencionado Capitão Sharp foi o último papel em que o ator ousou fazer algo completamente diferente em sua carreira. Cotado para ser o adorável pai adotivo do escoteiro Sam, Willis teve até campanha para o Oscar de ator coadjuvante, mas infelizmente, ficou de fora da lista final. Um herói diferente na carreira do ator. 

#04 Doutor Malcolm Crowe (O Sexto Sentido/1999)
A primeira parceria de Bruce com o diretor M. Night Shyamalan foi indicada a seis categorias no Oscar (incluindo filme, direção e roteiro original) e ganhou a torcida dos espectadores que transformaram o filme em um  sucesso mundial. Não vale dar spoiler, mas é o trabalho do ator como o psicólogo que ajuda no tratamento de uma criança (Haley Joel Osment, perfeito!) que vê gente morta que dá ao filme o tom que ele precisa até chegar na sua surpresa final. O papel deu novo fôlego à carreira do astro na virada para o século XXI. 

#03 David Dunn (Corpo Fechado/2000)
Dificilmente M. Night Shyamalan teria lançado O Sexto Sentido se Willis não houvesse embarcado no projeto - e o astro não se importou nem um pouco de pairar em torno de um ator mirim naquele projeto para que tudo funcionasse. Talvez por gratidão, Shyamalan fez outro filme com Willis, desta vez ele interpreta David Dunn, um homem que depois de um acidente de trem descobre que é um tanto incomum... muitos consideram este o melhor filme do diretor, especialmente pela forma como conta sua história como se fosse uma graphic novel. Deu tão certo que anos mais tarde o diretor retomaria o personagem em uma trilogia formada ainda por Fragmentado (2016) e Vidro (2019).

#02 David Adinson Jr. (A Gata e o Rato/1985-1989)
Minha irmã (que fez aniversário ontem, a propósito) e eu assistíamos religiosamente a série sobre uma ex-modelo e um detetive que se envolvem em investigações inusitadas. Os episódios bem bolados, o bom humor e o charme dos protagonistas fizeram do programa um sucesso, mas... embora Willis e Cybil Shepherd transbordassem tensão sexual na telinha, nos bastidores os dois se estranhavam muito, especialmente pelo ciúme da estrela com um rapaz desconhecido que ganhava cada vez mais atenção do público. Vindo de pontas em programas de TV, Willis estava prestes a ganhar o mundo. 

#01 John McClane (Duro de Matar/1988)
O papel que transformou Willis definitivamente em astro foi um dos projetos mais arriscados de Hollywood no final dos anos 1980. Assistindo à intacta energia do filme, ninguém imagina que a produção natalina (isso mesmo) quase foi cancelada pela ideia absurda de lançar um filme de ação num período em que os filmes família imperavam. Some isso a ter um astro de televisão como protagonista (hoje o trânsito entre as mídias é comum, mas naquele tempo era raro um astro de TV migrar para o cinema) e a coisa só piora. Lançado o filme, Willis provou que John McClane estava destinado a ser um personagem icônico regado com seu humor debochado e um tanto de vulnerabilidade. Nunca um pai de família sofreu tanto para passar o Natal com a esposa...