Cinco filmes assistidos no mês que merecem destaque:
domingo, 31 de março de 2024
sábado, 30 de março de 2024
PL►Y: Wonka
Chalamet: mais docinho que nunca. |
Sou de uma geração que assistia A Fantástica Fábrica de Chocolate em sua versão clássica na Sessão da Tarde. Eu nem imaginava que aquele filme foi lançado oito anos antes de eu nascer. O fato é que o longa dirigido por Mel Stuart se tornou um daqueles filmes que habita a cultura pop por décadas. Stuart fez o filme pouco depois de ter sido indicado ao Oscar pelo documentário Quatro Dias em Novembro (1965) sobre o assassinato de John Kennedy, o que só aponta a ligação inusitada de seu nome ao projeto. Confesso que Willy Wonka (vivido por Gene Wilder) sempre me deixou um tanto assustado em sua relação com aqueles visitantes e os Oompa Loompas. Talvez a obra de Roald Dahl provoque arrepios em alguns guris ainda hoje. Mais de trinta anos depois, Tim Burton investiu em uma versão repaginada estrelada por Johnny Depp. O resultado mais colorido fez sucesso nas bilheterias e, apesar das esquisitices, alcançou um resultado menos denso que o anterior. Foi nessa época que começaram a especular sobre uma produção que contasse as origens do estranho Willy Wonka. Quase vinte anos depois a ideia saiu do papel e chegou aos cinemas conquistando elogios. Wonka conta a história do jovem sonhador Willy Wonka que sonha em fazer sucesso com os seus chocolates peculiares. No entanto, ele descobre que vencer no ramo é algo repleto de desafios. Além de ter que lidar com um verdadeiro cartel de fabricantes de chocolate, Willy ainda precisa lidar com um casal de aproveitadores que pretendem lhe arrancar cada centavo que receba. Vivido por Thimotée Chalamet, o jovem Wonka é dotado de uma ingenuidade irresistível e ganha torcida da plateia desde a primeira cena em que chega na cidade armado somente com seu sonho de produzir chocolates. É difícil reconhecer ali o personagem um tanto bizarro que já vimos em outros filmes, especialmente quando o filme começa a revelar sua verve musical com músicas engraçadinhas e momentos bem orquestrados pelo diretor Paul King (do fofo As Aventuras de Paddington/2014 e sua continuação de 2018). No entanto, conforme a história avançae as maldades em torno do personagem se acumulam, percebi que talvez o que o filme nos revele é como aquele jovem com maior jeito de mocinho de conto de fadas, se tornou num produtor amargurado de chocolates. É neste ponto que retorno ao que me assusta no personagem relatada no início dessa postagem, alguns momentos cruéis trouxeram um grande contraste com a embalagem colorida e adocicada que o filme traz. Esse contrasta acontece muitas vezes nas cenas musicais que parecem embaladas pelos delírios de grandeza de Willy e a realidade maldosa que o cerca, mal comparando, lembrei um pouco da sensação que assistia aos delírios musicais de Dançando no Escuro (2000). No entanto, Wonka pretende ser um filme para cima e otimista, sabendo camuflar o que já de amargo na sua trama. Chalamet me surpreendeu ao encarnar um personagem bastante diferente do que já fez até aqui e acho que posso dizer o mesmo de Hugh Grant como o Oompa Loompa pioneiro. O filme poderia ser um pouco mais enxuto e não se embolar nos mistérios que cria, mas tem magia suficiente para segurar o interesse até o desfecho que deixa a sensação que novos filmes devem ser lançados nos próximos anos. No entanto, só fiquei pensando nas viradas que o personagem poderá ter em suas próximas incursões para o cinema.
Wonka (EUA - Reino Unido - Canadá / 2023) de Paul King com Thimotée Chalamet, Olivia Colman, Calah Lane, Jim Carter, Keegan-Michael Key, Hugh Grant, Sally Hawkins e Matt Lucas. ☻☻☻
sexta-feira, 29 de março de 2024
4EVER: Louis Gossett Jr.
27 de maio de 1936✰ 29 de março de 2024 |
Louis Cameron Gossett Jr. nasceu em Nova Iorque, filho de um carregador e uma enfermeira. Ele começou a atuar aos 17 anos de idade após uma lesão comprometer sua carreira em atividades esportivas. Ao terminar o Ensino Médio, foi estudar na Universidade de Nova York. Com 1,93 de altura, ele poderia ter investido no basquete, mas estava mais interessado em atuar. Foi por sugestão de um professor que ele fez um teste para Broadway e foi selecionado para seu primeiro espetáculo no teatro profissional. Após participar de vários musicais, no final dos anos 1950, o ator começou a realizar trabalhos na TV. Sua estreia no cinema aconteceu em 1961 no filme O Sol tornará a Brilhar, mas na TV ele participou de séries cultuadas como Mod Squad, Bonanza, Os Pioneiros e O Homem de Seis Milhões de Dólares. Embora tenha realizado alguns trabalhos com destaque no cinema, a consagração veio somente em 1982 como o oficial militar que atormenta o mocinho de A Força do Destino. O papel fez história ao lhe tornar o primeira ator negro a receber o Oscar de ator coadjuvante na história da premiação. Após o prêmio, o ator recebeu papéis de prestígio em filmes como (eu adoro) Inimigo Meu (1985), Um Diretor Contra Todos (1987) e a franquia Águia de Aço (1986). Com mais de cinquenta anos de carreira e participação em mais de duzentas produções, seu último papel importante foi na nova versão de A Cor Púrpura lançada no ano passado.
terça-feira, 26 de março de 2024
PL►Y: Dogman
Calleb: talento que merece reconhecimento. |
PL►Y: Nosso Amor
Liam e Lesley: casal impecável. |
Sabe aquele filme que quando lançam você fica interessado em assistir, mas com o tempo ele fica difícil de achar e você acaba esquecendo que ele existe? Isso aconteceu com Nosso Amor, filme estrelado por Liam Neeson (dando uma pausa nos filmes de ação que acumulam em sua carreira atualmente) e uma atriz que gosto muito, embora seus trabalhos sejam raros no cinema, a Lesley Manville (de Um Ano a Mais/2010 e Trama Fantasma/2017 . No último sábado chuvoso, eu procurava algo para ver naquele preguiça de depois do almoço e o encontrei quase de presente na televisão. O filme é dirigido pela dupla Lisa Barros D'Sa e Glenn Leyburn de forma bastante sensível ao acompanhar um casal com décadas de relacionamento e agora às voltas com um tratamento contra um câncer. Joan (Lesley) e Tom (Liam) já passaram por muitas coisas juntos e quando ela descobre um caroço no seio, a rotina de exames, tratamentos e cirurgias se tornam constante na rotina do casal que tenta levar os dias mantendo o companheirismo e bom humor. O filme opta por uma abordagem sincera daquela situação, abordando medos, inseguranças, dores e enjoos. Existe a inevitável cena da queda de cabelo, algumas discussões e pessoas que encontram pelo caminho que precisam lidar com o temor a respeito do que virá pela frente, algo que aflige também os dois. O casal de veteranos está excelente em cena, Liam encarna o esposo que disfarça suas inseguranças com piadas a todo instante, enquanto Lesley é a mulher serena com pé no chão que precisa lidar com o desconhecido. O filme segue sem firulas narrativas e sabe manter todo o sofrimento da situação na rédea curta, evitando exageros. Sabe dosar as cenas que deixam claro que existe um amor forte construído ao longo do tempo entre aqueles dois personagens (de forma que a ideia de um perder o outro se torna um temor para o próprio espectador). É um tipo de filme que se torna diferente justamente pela abordagem que se propõe sobre a vida de um casal que viveu muitos tempo junto e que pretende passar ainda mais tempo um do lado do outro. Um filme discreto, bonito e sincero que é uma raridade nos tempos atuais e que revela como seus atores são ótimos quando tem um bom material nas mãos.
Nosso Amor (Ordinary Love / Reino Unido - 2019) de Lisa Barros D'Sa e Glenn Leyburn com Lesley Manville, Liam Neeson, Esh Alladi, Maleanie Clark Pullen, David Wilmot e Amit Sha. ☻☻☻
segunda-feira, 25 de março de 2024
KLÁSSIQO: Mephisto
Klaus: A arte de ser repulsivo. |
domingo, 24 de março de 2024
PL►Y: Segredos de um Escândalo
Natalie e Julianne: brilhantes em estranha dinâmica. |
#FDS Diretoras: Pedágio
Kauan e Maeve: pecados pelo caminho. |
Pedágio (Brasil/2023) de Karolina Markovicz com Maeve Jinkins, Kauan Alvarenga, Thomas Aquino, Isac Graça, Aline Marta Maia e Erom Cordeiro. ☻☻☻☻
sábado, 23 de março de 2024
#FDS Diretoras: Anatomia de Uma Queda
Sandra Hüller e Swan Arlaud: entre a verdade e o sensacionalismo. |
Enquanto nutria minha vontade gigante de assistir Anatomia de Uma Queda, realizei uma retrospectiva dos filmes anteriores de Justine Triet. Antes de ser premiada com a Palma de Ouro no Festival de Cannes, a cineasta francesa havia realizado outros três longa metragens, todos também escritos por ela e seu esposo, Arthur Harari (ambos premiados com pelo último Oscar de roteiro original de Anatomia de uma Queda). O mais interessante é perceber que vistos em ordem cronológica, seus filmes revelam pontos em que uma produção revela um ponto de inspiração para seu sucessor, no entanto, nada realizado anteriormente pela diretora se compara ao brilhantismo que ela exibe aqui, seja na escrita ou no controle da narrativa. O mais interessante é que o filme nasce de uma ideia fixa na filmografia de Trier: casais em crise. Se em Na Cama com Vitória (2016) a relação do casal acaba parando nos tribunais, aqui, o que está em julgamento parece ser o próprio casamento dos personagens. O filme conta a história de uma escritora, Sandra (a excelente atriz alemã Sandra Hüller, indicada ao Oscar pelo papel) que vive afastada com esposo (Samuel Theis), filho (Milo Machado-Graner) e cachorro (Messi, um achado) nos alpes franceses da cidade em que o seu esposo nasceu. Quando o filme começa, ela tenta ser entrevistada enquanto marido coloca uma música altíssima para embalar a reforma do sótão. A entrevista é interrompida. O filho vai passear com o cachorro e ao voltar, ele se depara com pai morto sob a neve. Sandra escuta os gritos do filho e o que aparentemente era um acidente chega aos tribunais com a suspeita de que Sandra pode ser responsável pela morte do esposo. A partir daí, momentos bastante pessoais daquela casal começam a ser destrinchados e impostos para justificar um assassinato ou a tentativa de um suicídio. Aspectos pessoais da vida de Sandra (sua sexualidade, nacionalidade, profissão e obra) começam a impulsionar narrativas que questionam cada vez mais a sua inocência, num labirinto de versões e inferências sobre fatos que por vezes nem mesmo o espectador sabe mais o que pensar. Anatomia de uma Queda se torna assim um verdadeiro estudo sobre a construção da verdade, da difícil tarefa de chegar ao que de fato aconteceu quanto uma série de informações são apresentadas e manipuladas para chegar a um objetivo: a inocência ou a condenação de Sandra. Justine Triet conduz o filme com maestria ancorada por um roteiro excepcional e uma montagem esperta (também indicada ao Oscar), que sempre revela o necessário para manter a interrogação na mente do espectador. O filme é uma verdadeira aula de como manter o interesse do espectador com base nos diálogos encadeados e, por vezes, confrontados ao longo de duas horas e meia de narrativa. Anatomia de Uma Queda se constrói como quebra-cabeça, mas no fim não saberemos se todas as peças estão no lugar certo, especialmente depois do testemunho final deixado na interpretação do prodígio Milo Machado-Graner. É um daqueles filmes que faz você pensar por muito tempo e pode até se tornar uma referência para os surrados filmes de tribunal. O filme, que concorreu a cinco Oscars, incluindo o de Melhor Filme já está disponível no Prime Video.
Anatomia de Uma Queda (França / 2023) de Justine Triet com Sandra Hüller, Milo Machado-Graner, Swann Arlaud, Samuel Theis, Antoine Reinartz e Anne Rotger. ☻☻☻☻☻
sexta-feira, 22 de março de 2024
#FDS Diretoras: Priscilla
Priscilla e Elvis: conto de fadas do avesso. |
Enquanto Baz Luhrman ainda desfrutava de todo sucesso de seu filme Elvis (2022), Sofia Coppola divulgou que contaria a história de Priscilla Presley, a esposa do Rei do Rock. Houve quem torcesse o nariz para a ideia, mas houve um grupo que considerou que seria interessante ver o outro lado da história que foi contada pelo exuberante diretor pelas mãos de uma cineasta de estilo completamente diferente como Sofia. Se a própria Priscilla havia elogiado o filme de Baz, ela agora se tornava produtora do filme de Coppola com seu roteiro adaptado de sua famosa autobiografia chamada "Elvis e Eu" lançada em 1985. A obra já havia sido adaptada para um telefilme em 1988 (que por aqui foi exibida no SBT), mas isso não era obstáculo nenhum para o trabalho de Sofia. Dona de um estilo único, vale lembrar que ela se tornou a primeira cineasta nascida nos Estados Unidos indicada ao Oscar de direção por Encontros e Desencontros (2003) e, desde então, seguiu uma carreira que não se curva perante os parâmetros da indústria de Hollywood. Priscilla é mais um exemplo disso, ela consegue ser o total oposto do brilho colorido glamouroso do longa de Baz Lurhman e se torna um filme bastante introspectivo ao criar um retrato bastante íntimo da personagem que se apaixona pelo maior astro da música mundial - quando era uma adolescente de dezesseis anos. Este deve ser o ponto mais incômodo do filme e a escolha de Cailee Spaeny ressalta ainda mais a diferença de idade entre Priscilla e seu futuro esposo, já que ela consegue ser muito convincente como alguém muito jovem, assim como a mulher madura que se torna. A protagonista morava em uma base militar na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, no mesmo período em que Elvis foi para a guerra. Obviamente que a garota ficaria fascinada com a chance de conhecer o ídolo de todas as garotas de sua idade e Elvis também ficou visivelmente atraído por ela. Não demora muito para que ambos fiquem debaixo do mesmo teto, ou melhor, para que ela se mude para casa dele enquanto ele cumpre seus compromissos de astro do rock. Durante a maior parte do tempo, Priscilla passa seus dias sozinha, indo para a escola, convivendo com as rápidas visitas de seu amado e as famosas oscilações de humor de seu futuro esposo. Muita gente reclama que o filme se arrasta nessa rotina da personagem, mas são justamente estes momentos que fazem do filme uma obra bastante incômoda sobre a realidade desta personagem real. Fico imaginando uma menina de dezesseis anos que é escolhida para ser a esposa de um homem mais velho e é tratada como uma espécie de propriedade preciosa, mas que precisa lidar com todos os percalços da personalidade complicada de seu parceiro. Cailee está ótima em cena e foi considerada a melhor atriz no Festival de Veneza do ano passado com justiça. Em sua interpretação podemos ver a montanha russa de emoções que se tornou a vida daquela adolescente, que precisou se tornar mulher à sombra das vontades de um dos homens mais famosos do mundo. Por outro lado, temos Jacob Elordi que não se parece com Elvis, mas consegue emanar um magnetismo irresistível, além de saber dosar os destemperos do cantor longe das câmeras na privacidade do lar. Existe algo de realmente angustiante nesta trama de conto de fadas virado do avesso, algo que o faz ser um filme complementar ao filme de Baz Luhrman. Pode não ser um filme perfeito, mas é um exercício narrativo instigante proposto pela diretora. O filme está em cartaz na MUBI.
Priscilla (EUA - Itália / 2023) de Sofia Coppola com Cailee Spaeny, Jacob Elordi, Ari Cohen, Dagmara Dominczyk, Tim Post, Lyne Griffin e R. Austin Ball. ☻☻☻
FILMED+: Monster
Hinata e Soya: nada é o que parece. |
Talvez com a idade (44 anos e contando...) o tipo de filme que eu mais aprendi a gosta seja seja o drama que é contado como se fosse um suspense. Não sei se chega a ser um gênero, mas é algo que sempre prende minha atenção ao ponto que os olhos (cansados após um dia de trabalho) consigam ficar ligados na tela enquanto a trama se desenvolve. Caso eu tivesse conseguido assistir Monster de Hirokazu Kore-eda no ano passado, provavelmente o filme teria ficado entre os meus favoritos do ano passado. Lançado em novembro nos cinemas brasileiros, o filme chegou a pouco nos streamings e pode ser visto no TelecinePlay. O roteiro foi premiado no Festival de Cannes pela forma como o diretor costura a história de dois meninos sobre o olhar de outros dois personagens. Primeiro conhecemos Saori (Sakura Ando) que cuida sozinha do filho, Minato (Soya Kurokawa). Nas primeiras cenas (que apresentam um prédio em chamas causando alvoroço na cidade que servirá de marco zero para os atos do filme), vemos que mãe e filho se entendem e convivem super bem. No entanto, com o passar dos dias, o comportamento do menino se torna cada vez mais estranho e arredio. Ações e frases sem muito sentido começam a deixar a mãe preocupada e ao que tudo indica, o responsável por tudo isso é o jovem professor responsável pela turma do menino. Na parte seguinte, somos apresentados ao ponto de vista do professor (Eita Nagayama) sobre o que acontece com Minato, ganhando ênfase a relação do menino com um colega da escola, Yori (Hinata Hiiragi) que é perseguido e rejeitado pelos demais. Assim, descobrimos novas pistas sobre os dois meninos e o roteiro se constrói das bordas para o centro - que é apresentado no terceiro ato totalmente protagonizado pelos dois meninos. O texto de Yûji Sakamoto é mais do que eficiente ao nos mostrar que nossa subjetividade (representada na tela pela mãe e o professor) afeta mais do que o desejado na hora de criarmos nossas conclusões sobre o que está diante dos nossos olhos. Sorte que no cinema pode ser apresentado diversos pontos de vista sobre uma mesma história e a plateia se comove quando o filme chega ao seu desfecho tão poético quanto triste. Na vida real, com as barreiras criadas por nossa inabilidade em reconhecer o querer e a dor do outro, o que existe é a incompreensão que paira sobre os dois meninos que estão crescendo e descobrindo sentimentos que ainda não sabem explicar, mas sabem que podem trazer consequências repressoras para ambos. Talvez por conta disso o filme tenha recebido comparações com o belga Close (2022), que no ano anterior também foi apresentado no Festival de Cannes e saiu de lá com o Grande Prêmio do Júri. Monster (e o título, "monstro" se torna polivalente ao se encaixar em várias leituras ao longo da história) pode ser visto por alguns como o que teria acontecido aos meninos de Close se seguissem por outro caminho. Seja como for, Kore-eda demonstra mais uma vez que está no auge de sua carreira ancorado em sua capacidade de universalizar temas pelo viés da sutileza. Se antes seus filmes primavam pelas emoções de situações corriqueiras (como vistas em Pais e Filhos/2013 e Depois da Tempestade/2016), agora ele demonstra que pode ser bastante denso sem perder seu estilo introspectivo. Monster é um filme sensível, mas também pode ser tão doloroso quanto um soco no estômago.
Monster (Kaibutsu / Japão - 2023) de Hirokazu Kore-eda com Sakura Ando, Soya Kurokawa, Eita Nagayama, Hinata Hiiragi, Nakamura Shidō II e Yüko Tanaka. ☻☻☻☻☻
PL►Y: O Astronauta
Sandler e o amigo aracnídeo: reflexões sobre a vida na Terra. |
(Querido diário... faz semanas que comecei a escrever essa resenha, mas andei tão ocupado que cheguei a pensar em parar de escrever aqui no blog. De vez em quando esta vontade aparece, mas escrever por aqui ainda é um dos meus momentos favoritos nas horas vagas - o problema é que elas são cada vez mais raras). Acho que todo mundo já disse tudo o que devia sobre este filme da Netflix, mas acho que ainda vale a pena postar meu texto.) Embora não seja grande fã de Adam Sandler, devo reconhecer que o ator sabe tirar muito bem o proveito de seu contrato com a Netflix. Afinal, com suas comédias que caem na graça dos fãs de sempre, ele aumentar o catálogo da gigante do streaming e ainda aumenta sua popularidade. Ao mesmo tempo, encontra espaço aqui e ali para se aventurar por alguns trabalhos diferentes. Foi assim com Joias Brutas (2019) e Arremessando Alto (2022), estes projetos podem até não cair no agrado da maioria dos fãs do moço, mas lhe garante algo muito importante para um senhor de 57 anos que permanece firme e forte na indústria Hollywoodiana: ser levado a sério, tanto que lhe garantiu vagas em algumas premiações. O último título em que o ator demonstra saber fazer mais do que graça é O Astronauta, que entrou no catálogo da Netflix enquanto todo mundo só falava dos filmes indicados ao Oscar, e conseguiu alcançar bom público com uma ficção científica intimista que conta com direção do sueco Johan Renck. Renck pode não ser um nome muito conhecido no cinema, mas foi responsável por uma das melhores produções televisivas de todos os tempos, a minissérie Chernobyl (2019) da HBO. No cinema ele não fazia nada desde sua controversa estreia com Distúrbios de Prazer (2008), longa que garantiu à Maria Bello algumas indicações a prêmios do cinema independente. Experiente em clipes de artistas como Madonna, New Order e Suede, Renck demonstra aqui mais uma vez que possui ótimo domínio estético ao adaptar para o cinema o livro de Jaroslav Kalfar que explora a solidão de um astronauta no espaço em suas reflexões sobre a vida na Terra. Sandler encarna Jakub Procházka, que cresceu órfão no interior da República Tcheca e se torna o primeiro astronauta de seu país. Embora o revele que ele se torna uma espécie de símbolo, a missão passa por alguns problemas técnicos e piora mais ainda quando o casamento de Jakub entra em crise com a esposa grávida, Lenka (Carey Mulligan). Enquanto a equipe na Terra procura contornar esse problema doméstico, Jakub passa a ter companhia de uma criatura (com voz de Paul Dano) que o faz ponderar ainda mais sobre sua vida e suas escolhas. Renck opta por uma atmosfera contemplativa que funciona no início, mas se perde no meio do caminho por não saber muito bem para onde ir, muitas vezes se tornando repetitivo, deixando à cargo de Sandler e Dano envolverem o espectador com as reflexões do personagem. Qualquer um poderia imaginar que um filme em que Sandler passa boa parte do tempo conversando com uma aranha gigante poderia cair no ridículo, mas os envolvidos conseguem evitar que isso aconteça pegando emprestado alguns recursos já vistos em outras produções do gênero. Embora considere que o filme perca seu ritmo lá pela metade, confesso que achei interessante interessante a abordagem das crises vividas por uma odisseia espacial em crise financeira e pessoal. É um filme que exige um pouco de paciência do espectador e que não alcança todas as notas que almeja, mas ainda assim merece atenção, nem que seja pelo seu elenco.
O Astronauta (Spaceman / EUA - 2024) de Johan Renck com Adam Sandler, Carey Mulligan, Paul Dano, Isabella Rossellini e Kunal Nayyar. ☻☻☻
segunda-feira, 11 de março de 2024
Premiados Oscar 2024
Downey Jr, Da'Vine, Emma e Cillian: poucas surpresas. |
Pela qualidade das produções envolvidas, pode se dizer que foi o melhor Oscar dos últimos anos. Parece que pela primeira vez a alardeada diversidade dos novos membros da Academia finalmente demonstrou efeito ao escolher seus indicados e até alguns premiados. É verdade que desde o início sabíamos que Oppenheimer era o grande favorito da noite, restava saber em quantas categorias seus oponentes conseguiriam se sobrepor. Pena que Assassinos da Lua das Flores do Scorsese com suas dez indicações não conseguiu cravar uma estatueta sequer, nem mesmo da categoria de melhor atriz - em que o páreo acirrado de estava entre Lily Gladstone e Emma Stone que acabou entrando para o seleto clube das atrizes com dois Oscars de atriz principal na estante, enquanto Lily entrou para a História como a primeira atriz indígena a concorrer ao Oscar de melhor atriz. Apesar da cerimônia ter fluído de forma ágil, não curti a apresentação de Jimmy Kimmel, sorte que os números musicais ficaram interessantes, sobretudo Ryan Gosling no momento histórico de I'm Just Ken um dos hits da trilha sonora de Barbie. A seguir os ganhadores da noite com ☻marcando meus acertos da noite.
Filme
Oppenheimer ☻
Anatomia de uma Queda ☻
O Menino e a Garça ☻
Zona de Interesse (Reino Unido) ☻
20 Dias em Mariupol ☻
A Última Loja de Consertos
War is Over ☻
Zona de Interesse ☻
Godzilla Minus One ☻
sábado, 9 de março de 2024
MINHAS APOSTAS PARA O OSCAR 2024
Oppenheimer? Emma? Lily? Barbie?: Quem leva o Oscar 2024? |
Não tem jeito, fazer as apostas para o Oscar é algo irresistível! Além disso é um baita exercício de objetividade versus subjetividade, afinal, adivinhar quem leva muitas vezes significa esquecer seu gosto pessoal e adivinhar o que os dez mil membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas preferem em sua maioria! Marcado para acontecer amanhã a partir das 20h da noite, transmitido por aqui pela TNT e também ao vivo pelo streaming do HBOMax, o ápice da temporada de ouro chegou! Já fez as suas apostas? A seguir a lista de quem eu acho que leva o careca dourado para casa:
Filme
Oppenheimer
O Menino e a Garça
Zona de Interesse (Reino Unido)
20 Dias em Mariupol
Nai Nai & Wai Po
War is Over
Zona de Interesse
Godzilla Minus One