terça-feira, 30 de novembro de 2021

HIGH FI✌E: Novembro

 Cinco filmes assistidos em novembro que merecem destaque:

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PL►Y: Annette

Adam e Marion: amor e maldição. 

Com dois nomes badalados em Hollywood no alto dos créditos, Annette de Leos Carax era um dos filmes cotados para o Oscar que se aproxima. Particularmente não consigo imaginar um filme de Carax sendo indicado ao Oscar ao longo de todo o milênio, mas o empenho de Adam Driver em fazer o filme ser produzido (depois de tantos percalços financeiros) já valeria um prêmio. Indicado à Palma de Ouro do Festival de Cannes, o longa levou para casa os prêmios de Melhor Diretor e Trilha Sonora para os roteiristas (Ron Mael e Russell Mael, mais conhecido como o duo Sparks) deste musical diferentão como tudo que Leos já fez na vida. O francês não dirigia algo desde Holy Motors (2012) que se tornou cult ao longo da década e, por isso mesmo, seu novo filme era bastante aguardado. Se compararmos estas duas obras, veremos que Annette chega a ser bastante convencional, embora siga caminhos que a maioria dos musicais rejeitaria. A história gira em torno de Henry McHenry (Adam Driver), um comediante de stand up que se apaixona pela cantora lírica Ann (Marion Cotillard), a mídia enlouquece com aquele romance que, aparentemente, envolve duas celebridades de estilos completamente diferentes. Aos olhos da mídia e do público eles irão casar, terão uma filha (que dá nome ao filme e resulta numa das escolhas mais estranhas do filme... embora seja justificada na cena final) e conforme a carreira de Henry perde a graça, o gosto dele pelo álcool instaura uma crise no casamento. Embora seja um filme cheio de recursos narrativos e estilo, Annette tem muito de teatral, especialmente de operístico. Alguns cenários, as cenas passadas nos palcos e algumas cenas remetem diretamente à magia teatral e a habilidade de Leos lidar com isso é evidente, no entanto, algumas repetições ao longo do primeiro ato poderiam ter ficado de fora do corte final (duas horas e vinte minutos de duração, não era para tanto...). No segundo ato, o filme segue a pequena Annette e seu pai, que a transforma em uma celebridade após uma tragédia familiar  e será apenas questão de tempo para que Henry mostre mais uma vez seu lado mais sombrio, especialmente pela companhia do instrumentista (vivido por Simon Helberg) velho conhecido de Ann. A música em Annette nunca segue um caminho simples, por vezes são apenas diálogos musicados, em outros são corais, depois se tornam melodias mais elaboradas, mas as letras geralmente são irônicas e provocativas, além de plenamente inseridas na cadência da história. Este musical que mistura romance, drama, terror e até erotismo (eu não diria que existe comédia no filme, mas.... vai que) resulta de encher os olhos, mas tem alguns momentos em que se torna bastante morno em suas repetições. Não vai figurar no Oscar, mas a prestigiada Cahiers du Cinéma o elegeu o segundo melhor filme de 2021 (atrás apenas de First Cow que assim como Annette está disponível na MUBI). Foi uma boa escolha.

Annette (França-Bélgia-Alemanha-EUA-Japão-México-Suíça / 2021) de Leos Carax com Adam Driver, Marion Cotillar, Simon Helberg, Devyn McDowell e Julia Bullock. ☻☻

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Pódio: Idris Elba

Bronze: o gênio complicado. 
3º Luther (2010-2019) Eu sei que Luther não é um filme, mas como ignorar o trabalho do ator nesta série do Reino Unido? Inicialmente lançada em 2010, a série ganhou novas temporadas em 2013, 2015 e 2019 e dizem que em breve o detetive John Luther deve estar de volta com novos episódios. Idris dá um tempero todo especial a este personagem genial em seu ofício, mas um tanto problemático em sua vida pessoal - o que por vezes o faz ser visto como um problema para seus superiores. Pela série o ator já foi indicado quatro vezes ao Emmy, quatro vezes ao Globo de Ouro (ganhou em 2012), uma vez ao BAFTA e ganhou um SAG Awards. Papel de respeito!

Prata: o Nelson Mandela. 
2º Mandela - O Caminho para Liberdade (2013) Adaptado da autobiografia de Nelson Mandela, o filme de Justin Chadwick segue à risca a cartilha das cinebiografias (a começar pela duração: duas horas e vinte minutos). Na pele do líder da África do Sul e sua luta contra o Apartheid, Idris Elba tem o desafio de viver vários anos da vida desta personalidade mundial. Atravessando décadas na pele do personagem, Idris está tão bem que foi cotado para o Oscar de melhor ator, mas acabou indicado somente ao Globo de Ouro de ator em filme dramático. Aqui, Idris provou conseguir carregar um filme nas costas (ainda que com auxílio de Naomie Harris na pele de Winnie Mandela).

Ouro: o comandante sanguinário. 
1º Beasts of no Nation (2015) Se hoje um filme da Netflix aparece cotado para o Oscar e participa de festivais importantes, se deve a  este longa metragem que marcou a estreia da gigante do streaming na produção de filmes exclusivos. Dirigido por Cary Joji Fukinaga, a história de menino soldado na guerra civil de um país africano não identificado alcança um resultado aterrorizante. Na pele do sanguinário comandante do exército mirim, Idris Elba está assustador! Mais assustador ainda é imaginar que por puro preconceito à Netflix o filme foi completamente ignorado pelo Oscar depois de indicações ao Globo de Ouro, SAG e Film Independent. Pelo seu trabalho marcante, o londrino Elba levou o prêmio de melhor ator coadjuvante do ano nestas três premiações. Uma verdadeira mancha na história da Academia. 

PL►Y: Vingança e Castigo

Regina, Idris e Lakeith: elenco de encher os olhos. 

Aos poucos um certo revisionismo histórico começou a fazer efeito em Hollywood e faroestes protagonizados personagens negros começam a se tornar mais recorrente. Ainda que esbarre no pé atrás que os estúdios possuem com o faroeste em si por conta das bilheterias modestas, imaginar que podemos ter mais filmes com um naipe de talentos como vemos em Vingança e Castigo é uma promessa tentadora. Figurando entre as produções mais caras já bancadas pela Netflix, o filme de Jeymes Samuel (que já se aventurou pelo estilo no média-metragem They Die by Down/2013, título parecido com o deste The Harder They Fall e que tem algumas semelhanças na escolha de personagens) parte da ideia interessante de misturar figuras reais do velho oeste em um encontro que é pura ficção. O filme começa com o verdadeiro massacre da família do pequeno Nat Love pelo bando de Rufus Buck (Idris Elba). Quando Nat cresce (e se torna Jonathan Majors) ele busca exatamente o título, especialmente ao descobrir que Rufus Buck estava preso, mas acaba de ser resgatado de um trem por sua dupla de comparsas, Trudy Smith (Regina King) e Cherokee Bill (LaKeith Stanfield). Obviamente que os dois irão duelar, mas até que os dois se encontrem, algumas roupas sujas ainda serão lavadas pelos dois rivais e seus seguidores - sobrando até para a namorada de Nat, Marie Fields (Zazie Beetz). Como já estava previsto desde o anúncio de que o filme é uma obra de ficção, não vale tentar levar a sério o que se vê na tela, já que o filme não está nem um pouco interessado em seguir a cartilha dos faroestes tradicionais. A começar pelos diálogos e a trilha sonora anacrônica, que insere não apenas estilo à produção como também uma atmosfera quase postiça em sua embalagem. Some isso ao colorido e o aspecto limpinho dos cenário e a sensação que tudo não passa de uma grande brincadeira dos envolvidos se fortalece. Jeymes Samuel tem ideias interessantes, mas peca quando tenta ser Tarantino em suas gracinhas... mas nada que o elenco não compense - já que alguns parecem se divertir bastante (especialmente a oscarizada Regina King em uma personagem bastante diferente da que costuma fazer e Lakeith com mais sex appeal que de costume). Admito que em alguns momentos tanto "estilo" deixou a história um tanto artificial em seu andamento, mas nada que prejudique a ideia de entreter a plateia. Diferente do que muita gente pensava, o filme não é para figurar no Oscar, mas para passar o tempo sem remorsos. 

Vingança e Castigo (The Harder They Fall / EUA 2021) de Jeymes Samuel com Idris Elba, Jonathan Majors, Regina King, Zazie Beetz, Lakeith Stanfield, Edi Gathegi, Damon Wayans Jr e Danielle Deadwyller. ☻☻

domingo, 28 de novembro de 2021

#FDS Made In Japan: A Partida

 
Yamasaki e Motoki: preparando a despedida. 

Para fechar o nosso #FimDeSemana dedicado ao cinema japonês, escolhi uma obra premiada com o Oscar. Em 2009 dois filmes dividiam o favoritismo entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O primeiro era Entre os Muros da Escola de Laurent Cantet, que depois da Palma de Ouro no Festival de Cannes colecionou prêmios e sucesso ao redor do mundo, o outro era o israelense Valsa com Bashir de Ari Folman, um documentário em formato de animação sobre as memórias de um veterano da Guerra do Líbano - produção que também foi indicada ao prêmio máximo do Festival de Cannes e levou para casa o Globo de Ouro de filmes estrangeiro (derrotando o concorrente francês). Eis que a disputa chegou fermentada no Oscar e quando o ganhador foi anunciado, ninguém imaginava que o japonês A Partida seria o premiado da noite. Embora o filme tenha feito sucesso em pequenos festivais e premiações orientais, sua vitória despertou mais raiva do que celebração ao longo do tempo, o que é um bocado injusto. Embora seus concorrentes citados ainda figurem entre as obras mais relevantes da década passada, o japonês também tem seus méritos. A começar pelo fator que fez com que obtivesse mais votos naquele noite: a universalização do seu tema. Embora sejam obras memoráveis, seus concorrentes abordavam temáticas que carregavam em si muito dos conflitos de seus países de origem, o que não costuma cair muito na graça da Academia. Assim, no fim das contas, a maioria dos votantes se comoveu mais com uma trama em torno da morte e seus rituais de despedida. Sim, A Partida é um filme sobre a morte, mas também sobre os tabus que gravitam em torno da temática, também ajuda o fato do protagonista ser um personagem sem rumo na vida. Daigo Kobayashi (Masahiro Motoki) acaba de perder o emprego com a destituição da orquestra em que fazia parte tocando violoncelo - instrumento que o fez contrair uma enorme dívida. Vivendo na cidade ao lado da esposa Mika (Ryôko Hirosue) sem maiores perspectivas, ele resolve voltar para o interior e morar na casa deixada pela sua mãe falecida. Na cidadezinha, ele se candidata a um emprego sem saber muito bem do que se trata. Surpreso com salário que receberá, ele até se acostuma com a ideia de que será responsável por preparar os mortos para seus funerais. Ciente do estranhamento que sua nova profissão provoca, ele prefere guardar segredo e até mentir para a esposa sobre seu novo ofício. Aos poucos, Daigo começa a se acostumar com o trabalho e muito se deve às instruções do patrão, Sr. Sasaki (Tsutomo Yamasaki), que o faz notar a importância daquele trabalho em respeito aos mortos e seus familiares em um momento tão doloroso. O cineasta Yôjirô Takita surpreendeu muita gente em sua terra natal com este filme, uma vez que sua carreira era marcada por filmes de muito erotismo e aqui ele capricha na sensibilidade e na plasticidade na composição das cenas, tornando A Partida mais um exemplo de como o cinema japonês é capaz de abordar a morte misturando leveza, drama e até humor. Embora todo o elenco esteja bastante correto, o simpático Masahiro Motoki é o grande destaque, compondo um homem comum de forma irresistível. O histórico do cinema japonês no Oscar de filmes estrangeiro é curioso, ao todo o país concorreu 19 vezes ao prêmio, o levando quatro vezes para casa. No entanto, três destes premiados foram lançados nos anos 1950, sendo A Partida o único prestigiado posteriormente na categoria, quebrando um jejum de 52 anos. 

A Partida (Okuribito/ Japão - 2008) de Yôjirô Takita com Masahiro Motoki, Tsutomo Yamasaki, Ryôko Hirosue e Kimiko Yo. ☻☻☻

sábado, 27 de novembro de 2021

#FDS Made in Japan: Creepy

 
Hidetoshi e Kagawa: estranhos vizinhos. 

Depois de uma investigação que obteve um desfecho sangrento na delegacia, o policial Koichi (Hidetoshi Nishijima) se aposentou. Em busca de uma vida sossegada, ele agora se dedica ao magistério em uma faculdade local e se mudou para a tranquilidade do subúrbio com a esposa Yasuko (Yūko Takeuchi). Embora os vizinhos sejam bastante reservados e pouquíssimo simpáticos, o casal considera que fizeram uma ótima escolha em mudarem o estilo de vida para a calmaria. No entanto, Koichi encontra muita dificuldade para deixar de se interessar pelas investigações de um amigo policial e... isso basta para que os dois mundos do ex-policial comecem a se misturar. Se no início começam a suspeitar que existe algo de errado com o estranho vizinho, Nisihino (Teruyuki Kagawa), a situação só piora quando começam a desconfiar de que ele é um assassino procurado pela polícia há tempos. Pode se dizer que Creepy é composto por quatro atos bastante distintos em sua eficiência. O primeiro apresenta um mundo estranho em que o crime e a crueldade humana parece além da compreensão. No segundo, a busca pela tranquilidade se choca com a hostilidade da vizinhança e a sensação de que ninguém está muito disposto a fazer amigos, mas logo depois o filme começa a compor uma atmosfera investigativa com elementos aparentemente triviais do cotidiano. Assim, a nossa mente remete logo ao primeiro ato e suspeita que algo de ruim irá acontecer. Esta atmosfera é tão bem construída que me lembrou a série Mindhunter (quando sairá a terceira temporada, hein Netflix?) e sua tentativa de estudar os serial killers em sua habilidade de se camuflarem enquanto pessoas comuns antes do surto. Roteiro, direção e elenco fazem tudo direitinho para nos deixar instigados rumo ao que está prestes a ser revelado - e parece ter relação com as estranhas relações de Nisihino com sua família - afinal a esposa nunca é mostrada e a filha parece sempre estar escondendo algo. Eis que o terceiro ato surge e provoca os arrepios prometidos pelo título em inglês. Um jogo de manipulação e chantagens se instaura (ainda que tenha um elo fraco com a trajetória de Yasuko) . Quando o submundo da casa do estranho vizinho é revelado o filme custa a ficar de pé e tudo parece um tanto forçado e sem muita coerência. Parece o mergulho em um pesadelo urbano surreal que deixa toda a elegância do ato anterior para trás até que surge o desfecho. O curioso é que enquanto o filme se leva a sério, ele se garante numa boa em suas doses cavales de suspense, mas na segunda metade a busca por reviravoltas depende muito da boa vontade do espectador para continuar comprando a ideia. O problema é que na primeira parte a narrativa é tão boa que fica difícil manter o nível até o final, pelo menos  o rumo dos fatos é tão imprevisível que é impossível ficar indiferente ao que se vê no decorrer da história. Tivesse um roteiro mais lapidado em sua segunda parte, Creepy poderia ser um verdadeiro clássico da paranoia urbana. 

Creepy (Japão - 2018) de Kiyoshi Kurosawa com Hidetoshi Nishijima, Yūko Takeuchi, Teruyuki Kagawa e Masahiro Higashide. ☻☻

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

#FDS Made in Japan: Aya e a Bruxa

Aya: aprendiz de bruxa.

Resolvi dedicar o último Fim de Semana do mês para comentar alguns filmes japoneses que assisti recentemente. O motivador para este #FDS foi esta animação dos Estúdios Ghibli, chamado por aqui de Aya e A Bruxa. Antes mesmo de entrar em cartaz na Netflix o filme já se envolveu em uma polêmica, já que em setembro apareceu rapidamente no catálogo do streaming para sair logo em seguida. Parece que houve um erro na disponibilização do filme na plataforma e o mesmo aparecia somente com dublagem e legendas em inglês. Resolvido o problema, o novo filme de Goro Miyazaki (filho do cultuado Hayao Miyazaki) já está disponível para quem desejar contemplar a primeira animação em 3D do estúdio. O filme conta a história da menina órfã Aya, que é deixada em um orfanato quando ainda era apenas um bebê. Ela cresce por lá tendo um gosto especial por coisas assustadoras e, devido a amizade com o menino Pudim, não tem muita pretensão de ser adotada. O problema é que quando um estranho casal visita o orfanato e a escolhe para ser filha deles, ela não demora muito para descobrir que aquele casal é formado por dois seres ligados à bruxaria (e podem ter uma ligação com o seu passado). O filme é baseado no livro Tesourinha e a Bruxa da escritora Dyana Wyne Jones (mesma autora de O Castelo Animado/2004 que ganhou versão para o cinema pelas mãos de Hayao), mas encontra alguns problemas em sua transição para a telona. O roteiro é bastante simples e sem muita lapidação, o que compromete na hora de desenvolver o contato da pequena Aya com os elementos que demonstram uma ligação daquele estranho casal com seu passado, assunto desenvolvido de forma um tanto precária no texto, mas o maior problema mesmo está no desfecho abrupto como se houvesse acabado o dinheiro da produção e tudo terminasse antes de uma conclusão satisfatória. Este parece ser um reflexo da produção problemática que cercou o filme, uma vez que Goro recebeu dinheiro para a produção, mas não contou com a ajuda dos animadores experientes na empreitada, contando com uma equipe de novatos neste tipo de trabalho e enfrentou várias críticas pela forma como desenvolveu o projeto (cuja inexperiência no ramo 3D fica visível em vários momentos). O longa  acabou estreando na TV por conta da pandemia, mas não empolgou muito a crítica, ainda que estivesse entre os candidatos à uma vaga ao Oscar de Animação deste ano. Considerado por muitos o pior filme do estúdio Ghibli, Aya e a Bruxa tem seus tropeços, mas capricha no uso das cores e tem momentos divertidos quando Aya envereda pelo mundo da bruxaria - e pode causar certa antipatia por sua habilidade em manipular quem está ao seu redor. No entanto, está longe de ter a beleza marcante do estúdio e trazer uma história inesquecível. Esta não é a primeira vez que Goro desagrada ao assinar uma animação, seu controverso Contos de Terramar (2006) está até hoje entre os filmes menos queridos do estúdio. Talvez no futuro a própria relação entre Goro e Hayao gere um filme no futuro, já que o peso do sobrenome e a vontade de sair da sombra do pai é uma constante na carreira do rapaz. O problema de Aya é ser um filme que explora bem menos do que deveria as possibilidades que possui.

Aya e a Bruxa (Earwig and The Witch / Japão - 2020) de Goro Miyazaki com vozes de Gaku Hamada, Kokoro Hiasawa e Myiuki Sahaku.  

4EVER: Stephen Sondheim

22 de março de 1930 26 de novembro de 2021

Nascido em Nova York em 1930, Stephen Joshua Sondheim foi um dos mais importantes compositores e letristas de musicais nos Estados Unidos. Sondheim aprendeu a arte do teatro musical quando era apenas um adolescente com ajuda do letrista Oscar Hammerstein II (de A Noviça Rebelde)e ao longo de sua carreira se tornou o mais premiado na história do Tony Awards (seis prêmios), além de ter recebido vários Grammys, um Pulitzer e um Oscar por uma de suas composições para o filme Dicky Tracy, a antológica "Sooner or Later" que foi cantada por Madonna em uma das apresentações mais famosas do Oscar. Várias obras do compositor foram transformadas em filmes de sucesso, como West Side Story (que em breve terá uma nova versão dirigida por Steven Spielberg), Sweeney Todd e Into de Woods. Considerado uma pessoa bastante introvertida em sua vida particular, Sondheim se tornou mentor de vários jovens artistas como Jonathan Larson, como vimos no recente Tick Tick Boom. O compositor faleceu de causas naturais em sua residência aos 91 anos. 

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

PL►Y: Coquetel Explosivo

Karen e Chloe: meninas contra meninos. 

Em cartaz no Prime Video, Coquetel Explosivo chama atenção pela sanguinolência e as cenas de ação um tanto surreais, o que acaba deixando toda a metáfora sobre mulheres-lutando-contra-a-opressão-do-patriarcado em segundo plano. O filme acompanha a assassina profissional Sam (Karen Gillan, a Nebula de Guardiões da Galáxia/2014) que logo no início consegue escapar de uma enrascada inacreditável. O verdadeiro massacre (que nem é mostrado) poderia torná-la uma lenda no mundo do crime, mas, no meio de todos os oponentes liquidados por ela, havia o filho de um homem poderoso do submundo (o sempre bom Ralph Ineson), que agora quer se vingar de Sam. No meio de toda esta confusão, Sam acaba contraindo o efeito colateral de outro serviço, no caso, fica responsável por impedir que algo de ruim aconteça à pequena Emily (Chloe Coleman), filha de uma de suas vítimas. Como todo o universo criminal voltado contra ela - e categorizado como A Firma administrada por Nathan (Paul Giamatti) -, a forma como o filme do israelense Navot Papushado conta sua história em um universo paralelo ao mundo real, lembra muito o que é feito na franquia John Wick, afinal, os personagens transitam em uma lanchonete frequentada por assassinos variados, se consultam em um hospital próprio para a clientela e até frequentam uma biblioteca organizada por um trio arrasador (Angela Basset, Michelle Yeoh e Carla Gugino) que se torna o grande achado do filme, no entanto, o filme segue por uma linha diferente (mais cômica e exagerada), com direito até a um massacre orquestrado por uma pessoa com os braços dormentes. Papushado até procura colocar um verniz dramático na história de sua personagem, que desde a adolescência foi treinada para ser uma máquina de matar, além de ter que conviver com a ausência da mãe (Lena Headey), mas acho que ninguém verterá lágrimas pelo teor dramático da história (ainda que toque Somtehing in Your Mind de Karen Dalton, uma das músicas mais tristes da história). O forte do diretor são as cenas de ação, geralmente colocando homens e mulheres em lados opostos, seria inadequado dizer que com um elenco destes, o charmoso trio formado por Basset, Yeoh e Gugino merecia até uma aventura solo? Quando à escocesa Karen Gillan ela não é uma má atriz, mas poderia ser menos robótica na pele da personagem principal, estranho que na pele de sua personagem no universo Marvel ela parece ser mais humana do que aqui. No entanto, Coquetel Explosivo ainda se apresenta como uma produção que possui todos os ingredientes para cair na graça dos fãs do gênero. 

Coquetel Explosivo (Gunpowder Milkshake / França - Alemanha - EUA/ 2021) de Navot Papushado com Karen Gillan, Paul Giamatti, Chloe Coleman, Lena Headey, Angela Bassett, Michelle Yeoh, Carla Gugino, Ralph Ineson e Ed Birch. ☻☻

terça-feira, 23 de novembro de 2021

PL►Y: 7 Prisioneiros

Rodrigo e Malheiros: quando o oprimido se torna opressor. 

Na seleção do representante brasileiro para categoria de filme estrangeiro do Oscar de 2022, muita gente apostava que Sete Prisioneiros seria o escolhido, a seu favor tinha uma distribuidora do porte da Netflix e o sucesso de crítica ao abordar uma história tão incômoda quanto atual. Se o posto de indicado para a academia ficou com Deserto Particular de Ary Muritiba (que estreia neste fim de semana em circuito nacional em tempos ainda pandêmicos), Sete Prisioneiros de Alexandre Moratto se destaca entre os filmes mais assistidos da Netflix desde que foi lançado no dia cinco de novembro. Em comum, Muritiba e Moratto possuem o mérito de serem dois realizadores jovens e aclamados por suas obras anteriores. Moratto, por exemplo, viu Sócrates (2018), seu longa de estreia, ganhar prêmios e fama mundial - o que lhe rendeu três indicações no prestigiado Film Independent Awards nos Estados Unidos (concorrendo na categoria John Cassavetes Awards, Ator com Christian Malheiros e ganhou o prêmio de Diretor Revelação). Por conta disso, seu novo filme era mais do que aguardado e Moratto não decepciona. Sete Prisioneiros conta a história de quatro rapazes de origem humilde que saem do interior de São Paulo para a cidade grande sob a promessa de ganharem muito dinheiro e ajudarem suas famílias a superarem a pobreza. Assim, Rodiney (Josias Duarte), Mateus (Christian Malheiros), Bianchi (Clayton Mariano) e o tímido Ezequiel (Vitor Julian) vão parar na grande metrópole para trabalhar num ferro velho administrado por Luca (Rodrigo Santoro). Se o dormitório em que se alojam já parece um mal sinal, as coisas só pioram quando ao longo dos dias são privados de tomar banho, de se comunicarem com os familiares e se tornam proibidos de voltarem para seus lares por conta da dívida contraída com Luca (que a cada dia torna-se maior). Os rapazes de percebem presos a um trabalho escravo e uma rede de corrupção que torna a saída daquele lugar cada vez mais difícil. Sofrendo em uma relação repleta de violências (físicas e psicológicas), Mateus tenta se aproximar de Luca e ganhar a confiança dele em troca de um acordo pela liberdade de todos e a partir daqui é melhor não comentar muito o que acontece. O texto de Moratto e Thayná Mantesso capricha nas relações banhadas em uma realidade social desigual, em que os personagens marcados pela pobreza são seduzidos pela promessa de um futuro melhor e caem numa verdadeira armadilha - mas esta é apenas uma, já que aos poucos Mateus também começa a pensar diferente sobre toda aquela situação e vivencia um dilema moral que torna o filme ainda mais interessante. Com narrativa crua e pesada, o filme funciona como um pesadelo urbano em pleno Brasil do século XXI. Christian Malheiros já provou ser um ótimo ator e aqui está excelente nas ambiguidades de seu personagem, chegando a ofuscar até o celebrado Rodrigo Santoro que está convincente, embora um tanto caricato. O mais interessante contudo é a forma como o filme apresenta aquela situação toda em uma grande cidade, cercada de prédios e pessoas que não enxergam o que acontece aos rapazes. Os quatro que chegam ao ferro velho é apenas um pedaço de uma realidade cruel sobre tráfico humano nas grandes cidades neste filme que assusta e, por isso mesmo, deve ter perdido o posto de representante nacional numa possível indicação ao Oscar. 

Sete Prisioneiros (Brasil/2021) de Alexandre Moratto com Christian Malheiros, Rodrigo Santoro, Josias Duarte, Vitor Julian, Clayton Mariano, Cecília Homem de Mello e André Abujamra. ☻☻☻

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

PL►Y: Piedade

Giannis e o cachorro: em busca de piedade. 

O cinema grego pode ser considerado um dos mais interessantes do cinema atual, mas também carrega consigo a pecha de um dos mais estranhos do mundo. O motivo disso é a chamada "nova onda" construída por cineastas do país, basta ver como Yorgos Lanthimos estava prestes a se tornar mundialmente conhecido com a indicação ao Oscar por Dente Canino (2009), ou os prêmios que Miss Violência (2013) recebeu ainda que causasse protestos pela frieza com que contava uma rotina de abusos e até a poesia encontrada no recente Fruto da Memória (2020) que merecia uma vaguinha no Oscar de filme estrangeiro deste ano. É daquela terra de deuses e filósofos que também veio Piedade, outro longa com críticas sociais partindo de uma premissa que beira o absurdo e, talvez por isso mesmo, se torna tão contundente. O filme conta a história de um advogado (Giannis Drakopoulos) que vê a esposa (Evis Saoulidou) em coma já a algum tempo. Sua rotina de trabalhar, cuidar do filho e do cachorro começa geralmente com um choro pela manhã. Nesta rotina, o protagonista repete várias vezes a triste situação que se abateu sobre a família, recebendo mensagens de incentivo de quem cruza seu caminho, olhares de solidariedade e até bolos matinais de uma vizinha compadecida. No entanto, toda esta tristeza constrói um verdadeiro vício no personagem, que passa a utiliza-la como algo constituinte de sua própria identidade (tanto que ele proíbe ao filho tocar músicas alegres ao piano, afinal, vai que os vizinhos acham que eles podem estar felizes). Esta exacerbação da lógica do "coitadinho" recebe contornos ainda mais irônicos depois que sua esposa começa a se recuperar e o que era para trazer alegria, coloca sua rotina em risco, logo ele percebe que toda aquela tristeza precisa ser mantida para que ele continue recebendo o apoio a que se acostumou nos últimos tempos. Deste ponto em diante, o protagonista passa a construir suas próprias tragédias para que a piedade permaneça em seu universo, ainda que para isso ele siga um caminho cada vez mais doentio e que resvala num desfecho chocante que destoa do que vimos ao longo do filme. Misto de drama, comédia e suspense, o filme é pontuado por frases bem marcadas sobre  a interpretação que este personagem possui sobre a piedade e leva a marca das interpretações minimalista lavadas de emoção (marca característica do cinema grego recente), que permite as situações falarem por si, curiosamente flertando com a tragédia e a comédia mais obscura. Enquanto a plateia rir nervosa, o cinema grego funciona que é uma beleza!

Piedade (Oiktos / Grécia - 2018) de Babis Makridis com Giannis Drakopoulos,, Makis Papadimitriou,  Tzortzina Hryskioti, Evdoxia Androulidaki, Costas Xikominos e Costas Kotoulas. ☻☻☻

PL►Y: Tick, Tick... Boom

Andrew: encarnando um gênio dos musicais. 

O ator, compositor, produtor, dramaturgo, cantor e letrista Lin-Manuel Miranda olhou para o seu currículo e considerou que estava na hora de acrescentar mais uma experiência artística em sua carreira. Com Tick Tick...Boom ele estreia como cineasta e, como não poderia deixar de ser, o filme é um musical. Considerado um dos maiores talentos do cenário teatral dos Estados Unidos na atualidade, câmeras. A produção conta a história de Jonathan Larson, criador do premiado musical Rent, mas que teve uma morte precoce antes que seu maior sucesso chegasse aos palcos. Vítima de um aneurisma aos 35 anos, ele passou os últimos anos de sua vida procurando espaço e reconhecimento na Broadway. O filme carrega o título da obra anterior de Larson, Tick Tick... Boom que carregava traços autobiográficos e começou a chamar atenção para o talento do rapaz. Baseado nesta obra, entrevistas com familiares e amigos de Jonathan, o roteiro de Steven Levenson e a direção de Miranda optam por um recorte bastante conciso de um período específico da vida do protagonista, apresentando um senso de urgência (que pode parecer até premonitório) para que o trabalho de Larson fosse reconhecido - o próprio título pode fazer uma alusão a isso em sua contagem regressiva. Vivido por Andrew Garfield com bastante energia, conhecemos a rotina de Larson que trabalhava como garçom no bairro SoHo em Nova York, mas assim como sua namorada (Alexandra Shipp) e amigos (destaque para Michael vivido por Robin de Jesus), buscava um lugar ao sol no mundo do entretenimento. Apresentado como alguém que construía músicas e melodias com bastante facilidade. O filme consegue demonstrar com bastante eficiência como nem sempre talento é algo suficiente para ter os holofotes voltados para si. Além de todo o trabalhoso processo criativo, todo o caminho até que um projeto chegue aos palcos é mostrado com um detalhamento raro, algo que só poderia ser apresentado desta forma por pessoas que já o vivenciaram com propriedade. Além disso, o filme também destaca os conflitos de Larson com o mundo dos anos 1990, onde os musicais ainda passariam por uma modernização e o combate à propagação da AIDS ainda era um desafio para a sociedade. A narrativa é construída com cenas de palco, momentos da vida de Larson e números musicais inseridos de forma bastante orgânica. Em termos de fluência, Tick Tick... Boom é o melhor filme do gênero lançado em muito tempo. Conta pontos para isso a desenvoltura do elenco e o esmero de toda a produção em homenagear o legado do rapaz. Quem não curte musicais achará tudo meio exagerado, mas ainda assim ficará instigado em conhecer mais sobre o protagonista. Lançado pela Netflix de olho nas premiações de fim de ano, Andrew Garfield torna-se um grande destaque na produção e pode aparecer na temporada de ouro no páreo de melhor ator. Lin-Manuel Miranda estreia no cinema em grande estilo. 

Tick, tick... Boom (EUA-2021) de Lin-Manuel Miranda com Andrew Garfield, Alexandra Shipp, Robin de Jesus, Vanessa Hudgens, Joshua Henry, Ben Ross e Bradley Whitford. ☻☻☻

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

PL►Y: Identidade

Ruth e Thessa: amigas de infância.

A Netflix tomou gosto por entrar na corrida das premiações e isso mais do que a estabelece como uma produtora de prestígio mas também como uma distribuidora cobiçada dentro da indústria. Devido a visibilidade que proporciona à filmes que dificilmente teriam apelo ao grande público pelo número reduzido de salas em que seriam exibidas, muitos diretores e produtoras percebem a plataforma de streaming como um aliada na visibilidade de suas produções. São estes motivos que fizeram Passing ser comprado pela Netflix após sua aclamação no Festival de Sundance de 2021. Ambientado nos anos 1920 (quase cem anos atrás), o filme conta a história do reencontro de duas amigas de infância a partir do olhar de Irene (Tessa Thompson), uma afro-americana que em um dos seus passeios pelo lado branco da cidade se depara com Claire (Ruth Negga). Se no início Irene não a reconhece, após um verdadeiro espanto, ela se dá conta de que aquele pessoa que não via a tanto tempo se reinventou para que pudesse deixar de enfrentar os preconceitos sofridos pelo seu tom de pele. Claire ostenta uma pele diferente, assim como seu cabelo, seu jeito de falar, o jeito como se veste e se move na verdadeira construção de um disfarce - o que a faz transitar por espaços que geralmente não seriam permitidos a um afro-descendente na Terra do Tio Sam em tempos muito anteriores da luta pelos direitos civis. Tanta desenvoltura lhe permitiu o casamento com um banqueiro racista (Alexander Skarsgaard) que não faz a mínima ideia das origens de sua esposa. O reencontro entre Irene e Claire é apenas o ponto de partida para uma série de reflexões que este Identidade é capaz de gerar, especialmente por associar a construção subjetiva daquelas duas mulheres em meio à uma realidade segregadora, além disso, o roteiro insere outros elementos nas entrelinhas daquela relação. Existe uma tensão entre as duas que está além do julgamento do que fizeram de suas vidas - e esta tensão transborda para quem gravita em torno de ambas, seja o esposo de Irene, Brian (André Holland) e a empregada (Ashley Ware Jenkins), por exemplo - inserindo novas camadas a uma história que é aparentemente simples. A narrativa lenta e contemplativa ajuda ainda mais ao espectador construir esta narrativa enquadrada em formato 4:3 e com uma estética muito próxima de produções clássicas daquela década -  um elemento complicado que a diretora estreante Rebecca Hall optou por utilizar (assim como a fotografia em preto e branco envelhecida) e que pode por vezes soar afetado, mas funciona. Rebecca defendeu seu interesse pela adaptação do livro de Nella Larsen por se interessar por histórias de "passing" por seu avô ter um história semelhante à de Claire, mas podemos perceber o nascimento uma cineasta de olhar bastante sensível para o drama daquelas mulheres. Tessa Thompson está bem diferente em cena e consegue transparecer a rigidez de sua personagem sem dificuldades, mas é Ruth Negga que rouba a cena com seus olhos brilhantes em favor da ambiguidade necessária de quem finge ser quem não é (algo que pode lhe custar muito caro).  Ruth está cotada para o Oscar de coadjuvante deste ano (ela já foi indicada anteriormente por Loving/2016) e indicada na categoria no Gotham Awards2021, que indicou o longa ainda nas categorias de diretora estreante, melhor produção, roteiro e melhor atriz (Tessa). 

Identidade (Passing / EUA - 2021) de Rebecca Hall com Tessa Thompson, Ruth Negga, André Holland, Alexander Skarsgaard, Bill Camp, Ashley Ware Jenkins e Antoinette Crowe-Legacy. ☻☻☻


terça-feira, 16 de novembro de 2021

PL►Y: Cachorros não Usam Calças

Krista e Strang: alívios inesperados. 

De vez em quando um filme se aventura pelo mundo BDSM e as polêmicas já começam a se formar em torno dele, muitas vezes por conta da incapacidade da produção explorar este universo com a complexidade que deveria (nem vou citar o que fizeram em Cinquenta Tons de Cinza/2015). O finlandês Cachorros Não Usam Calças resolve seguir um caminho diferente e acerta ao inserir camadas dramáticas na relação de um homem com a sua dominatrix, bem, na verdade, o filme é muito mais sobre as sensações que os encontros entre os dois proporcionam a ele... são justamente estas sensações que conseguem dar sustentação dramática ao filme. Juha (Pekka Strang) é um médico viúvo que ainda sofre com o suicídio da esposa. O impacto da perda foi tão grande que Juha parece estar anestesiado emocionalmente desde então, o que impede até um relacionamento mais próximo com a filha - que tinha quatro anos quando se tornou órfã e agora já é uma adolescente (vivida por Ilona Huhta). Se ela é a pessoa mais próxima de Juha e podemos perceber o abismo que existe entre os dois, você pode imaginar a situação emocional do protagonista. Eis que por acaso, o moço encontra a entrada para uma sala para práticas de BDSM e... o que poderia ser apenas um encontro acidental, com a dominatrix Mona (Krista Kosonen) e seus apetrechos, se torna a porta de entrada para um mundo que se torna uma espécie de obsessão para ele. O interessante é que ao invés de contar mais uma história de alguém que se torna adepto do sadomasoquismo, o roteiro do diretor J.P. Valkeapää ao lado de Juhana Lumme prefere mergulhar no inconsciente de Juha enquanto desfruta daqueles encontros. A começar por aqueles episódios em que parece voltar no tempo e se reencontra com a esposa, além da ideia de que a dor física é capaz de fazer com que sua mente esqueça a dor emocional do luto eterno que se abateu sobre ele. Ao lidar com estes dois aspectos, o filme adiciona a sensação de "alívio" em meio a dor que o personagem sente nas cenas mais desconcertantes do filme. O curioso é como o filme cria para si uma lógica que subverte o que seria esperado de uma história neste universo, a começar pelo início em uma ambientação paradisíaca para inserir a dor de uma tragédia pessoal e a sensação de satisfação na ambientação sombria dos encontros com Mona. Falando nisso, se Pekka Strang (de outro sucesso finlandês sobre sexualidade, Tom of Finland/2017, o selecionado da Finlândia ao Oscar daquele ano - e que jamais seria indicado) está bastante convincente na pele de um personagem complicado, Krista Kosonen está ótima ao encarnar Mona, já que a atriz sabe dosar nas reações de sua personagem quando sua lógica perde o equilíbrio ao conhecer Juha em sua necessidade de ir mais longe do que os "cachorros" costumam desejar. A relação entre os dois personagens é o ponto alto do filme que entra na lista de casais mais inusitados da história do cinema. No entanto, o ponto negativo do filme é o desenvolvimento da filha de Juha, que recebe pouco destaque na história e lhe resta apenas estranhar a mudança nos hábitos o pai sem maior aprofundamento desta relação marcada pela perda em comum. Cachorros não Usam Calças é o segundo longa metragem de J.P, que demonstra ser um nome para se ficar de olho no cinema nórdico. 

Cachorros Não Usam Calças (Koirat eivät käytä housuja/Finlândia - 2019) de J.P Valkeapää com Pekka Strang, Krista Kosonen, Ilona Huhta e Jani Volanen. ☻☻

PL►Y: Alerta Vermelho

Ryan, Rock e Gal: duzentos milhões por um pastel de vento. 

Quero deixar claro que não tenho nada contra filmes feitos para passar o tempo, só que às vezes o meu organismo acha melhor passar o tempo dormindo enquanto alguns são exibidos. Dito isso, meu corpo precisa de algo que o motive a assistir até o final filmes como Alerta Vermelho, o filme de ação mais caro bancado pela Netflix até hoje (cerca de duzentos milhões de dólares). Reza a lenda que a ideia partiu de Dwayne Johnson e seu amigo cineasta Rawson Marshall Thurber. Repetitivo em seus filmes e papéis, The Rock achou que era uma boa ideia aparecer num mesmo filme com Ryan Reynolds e Gal Gadot. Com um trio destes num trailer que promete ação e gracinhas, não há quem resista. Até eu que não sou fã do The Rock fui seduzido por esta armadilha. No entanto, Alerta Vermelho tem o gosto de um grande pastel de vento. O filme até foi exibido nas salas de cinema devido ao apelo do seu trio protagonista, mas a ideia era que fosse logo depois para o streaming. O trio em si não faz nada que realmente altere o status que desfrutam hoje em Hollywood, mas o roteiro é um desastre. A trama gira em torno de um policial (Dwayne Johnson) que ajuda a Interpol a capturar um ladrão (Ryan Reynolds) de artefatos valiosíssimos (no caso, os Ovos de Cleópatra), mas que acaba vítima de um golpe realizado um bandido mais esperto que ambos,  o lendário Bispo (que na verdade é uma mulher, a personagem da Gal Gadot). A partir daí os três irão se meter em uma sucessão de encontros e desencontros, brigas, cenas de ação, explosões e o que mais um filme de ação possa oferecer em diversas locações ao redor do mundo. Só faltou criar uma história que prestasse. O problema principal do filme é a costura de tudo isso, que se transforma uma verdadeira bagunça sem  que exista preocupação alguma com seus personagens. The Rock parece estar no automático para criar o contraste de seu personagem durão com o paspalho vivido por Ryan Reynolds (que já foi um ator dedicado, mas agora acha que todo filme é Deadpool e não precisa fazer outra coisa na vida, acho até que a decisão dele dar um tempo na carreira veio depois que ele viu este filme e começou a pensar na vida...). Já a Gal Gadot é rotineiramente considerada uma atriz limitada, funciona bem como Mulher Maravilha e aqui tenta fazer um tipo mais maldoso, seu trabalho não chega a mudar o que seus detratores pensam sobre ela, mas pode se dizer que ela tira leite de pedra com o material que tem em mãos. Alerta Vermelho poderia ser uma colagem esperta de vários outros filmes que você já assistiu, mas  resultado final parece colado com cuspe. Triste é ver que toda a ambição de ser levado a sério do diretor de Usina de Sonhos (2008) foi para o ralo. 

Alerta Vermelho (Red Notice / EUA -2021) de Rawson Marshall Thurber com Dwayne Johnson, Ryan Reynolds, Gal Gadot e Ritu Arya. 

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

PL►Y: Verdade e Justiça

 
Pearu e Andrés: como desconstruir um galã. 

Na Estônia do final do século XIX, Andrés (Priit Loog) investe seu suado dinheiro nas terras localizadas nos cafundós do seu país. No meio do nada, ele sonha construir seu patrimônio e deixar para seus herdeiros. Ele e a esposa Krõõt (Maiken Pius) farão de tudo para cuidar da terra úmida e de pedaços pantanosos para e torná-la produtiva. Não bastasse o trabalho árduo do casal, eles possuem um vizinho grosseiro, Pearu (Priit Võigemast), que terá vários anos de embate com Andrés. A briga entre os dois irá parar nos tribunais várias vezes, muitas delas por conta de mentiras e provocações de Pearu. Diante desta realidade, logo Andrés começará a ver o mundo de uma forma diferente, como se as palavras do título entrassem em confronto e constituísse uma dicotomia em sua cabeça. Pelas duas horas e quarenta e cinco minutos, não acompanhamos somente as desventuras destes dois homens, mas também de suas famílias e também de alguns agregados. Trata-se de uma saga familiar que se estende por mais de uma década (e que por aqui renderia uma novela de Benedito Ruy Barbosa dos bons tempos), com Andrés e Krõõt tendo várias filhas enquanto perseguem um herdeiro do sexo masculino e apresentando o endurecimento do seu protagonista na busca de seus objetivos. Se a esposa parece ser o ponto de equilíbrio de Andrés, logo, ele perderá o rumo e ficará cada vez mais parecido com o vilão da história dado ao seu distanciamento dos filhos e os acontecimentos que acabam envolvendo a personagem Maria (Ester Kuntu) na segunda parte da história. Narrado de forma contemplativa, não faltam acontecimentos dramáticos no filme, mas que são contados de forma bastante sensível pelo cineasta Tanel Toom, sobretudo nas transições vividas pelos personagens e nos momentos trágicos que se esquivam do sentimentalismo com competência. Outros destaques da produção é a forma como valoriza a fotografia na mudança das estações e os planos abertos revelando a beleza daquele lugar inóspito, assim como o trabalho alinhado dos atores. A leveza de Maiken Pius cria alguns dos melhores momentos do filme (a cena em que ela chama os porcos para seu lado da cerca é de uma simplicidade comovente) enquanto coube ao grandão Priit Loog a tarefa árdua de mostrar a mudança brusca de Andrés ao longo dos anos. Existe ainda no filme um aspecto que o título não revela, em vários momentos a religião aparece tendo um peso importante sobre os personagens. A ideia do pecado e do castigo se fazem presente em vários momentos, por vezes de forma assustadora, mas o texto não aproveita este recurso por mais de um terço de sua longa duração. Escolhido pela Estônia para concorrer a uma vaga no Oscar de filmes estrangeiro de 2020, o filme acabou ficando de fora dos indicados. É curioso perceber que o filme tem aquele jeitão clássico que a velha guarda da Academia adora. Na história do Oscar, apenas uma vez a Estônia marcou presença no Oscar, foi em 2015 com o excelente Tangerinas de Zaza Urushadze.

Verdade e Justiça (Tõde ja õigus / Estônia - 2019) de Tanel Toom com Priit Loog, Maiken Pius, Priit Võigemast, Ester Kuntu, Simeoni Sundja e Indrek Sammul. ☻☻

PL►Y: Exército de Ladrões - Invasão da Europa

 
Matthias: adorável ladrão de cofres. 

Faz tempo que enfrento dificuldades para assistir Army of the Dead/2021 do Zach Snyder. Desde que o filme estreou em maio na Netflix, já tentei assistir até o final umas três vezes e... sempre cochilo. É uma dificuldade bastante pessoal, que não sei se já citei por aqui, geralmente os filmes de ação tem efeito de sonífero na minha atenção. Parece brincadeira, mas não é. Assim, tão logo este novo filme (que narra os acontecimentos anteriores ao de Snyder chegou na plataforma de streaming) eu não fiz muita questão de assistir. Sorte que uma amiga disse que o filme é bem diferente do anterior e que torna-se muito divertido ao narrar as desventuras do personagem Ludwig Dieter (Matthias Schweighöfer), o genial arrombador de cofres daquele filme. Falar de Ludwig era inútil, já que eu nem cheguei à parte que ele aparece em Army of the Dead... mas, como é uma amiga de confiança eu assisti Army of Thieves sem esperar muita coisa e fiquei surpreso com a energia esperta que o filme possui. Se de fato o cara apareceu no filme anterior como um sujeito capaz de abrir os cofres mais difíceis do mundo, que são inspirados na obra do compositor Richard Wagner (1813-1883), realmente o moço merecia um filme para chamar de seu. A ideia fica ainda melhor quando descobrimos que Ludwig nem é o nome verdadeiro do moço, que ele era somente um admirador dos famosos cofres criados pelo engenheiro Hans Wagner (Christian Steyer) quando postou um vídeo na internet falando sobre eles. Dieter nem imaginava que seria convidado para arrombá-los (convidado pela única pessoa que visualizou seu vídeo na internet). Assim, o jovem alemão que lidava com um emprego tedioso tem a chance de demonstrar que é capaz de muito mais, ainda que seja enveredando pelo mundo do crime. Um tanto nervoso e neurótico, o moço vai parar na gangue liderada por Gwen (Nathalie Emmanuel) menina rica que resolve criar assaltos elaborados para passar o tempo ao lado do namorado Brad Cage (Stuart Martin). Eles contam com a ajuda de uma hacker brasileira (Ruby O. Fee) e o amigo Rolph (Guz Khan), formando o quarteto que é chamado de exército do título - e que vai dar um trabalho danado para o detetive Delacroix (Jonathan Cohen) que os perseguirá a cada novo assalto. São três cofres a serem arrombados e a mistura de ação e humor funciona em perfeito equilíbrio, com a vantagem de ter menos zumbis e mais personagens interessantes. Ao que parece, o que move Gwen e Dieter é mais a conquista de arrombar os lendários cofres (cuja a localização era até secreta) do que propriamente roubar o dinheiro. Vale destacar que Matthias Schweighöfer está luminoso no papel principal e, mais do que isso, ele também é o responsável pelo ritmo envolvente que a narrativa segue do início ao fim. Se os filmes de roubos a cofres pode ser considerado um gênero, seu personagem está entre os melhores por ser um sujeito comum que desde a infância sonhou em desvendar os segredos destes mecanismos, só lhe falta a experiência para lidar com o mundo do crime.  Por ser diversão garantida, Exército de Ladrões - Invasão da Europa é um dos casos em que o derivado consegue ser ainda melhor do que a produção de origem (e deixa até a vontade de tentar ver Army of Dead por inteiro da próxima vez - eu já tentei novamente depois deste aqui, mas não consegui... foi mal Snyder). 

 Exército de Ladrões - Invasão da Europa (Army of Thieves / Alemanha - EUA / 2021) de Matthias Schweighöfer com Matthias Schweighöfer, Nathalie Emmanuel, Ruby O. Fee, Stuart Martin, Guz Khan, Jonathan Cohen, Noémie Nakai e Christian Steyer. ☻☻

domingo, 7 de novembro de 2021

Na Tela: Eternos

Eternos: bem-vinda diversidade. 

Eu confesso que fui ver Eternos da Marvel com expectativa lá embaixo. Eu li tantas críticas negativas sobre o filme que já estava imaginando que seria um verdadeiro desastre. Sorte que eu ainda sou devoto de São Thomé e só acredito vendo com meus próprios olhos e... para minha surpresa eu gostei! Mas antes é preciso fazer um outro esclarecimento: eu não fazia a mínima ideia de onde a Marvel tirou a ideia de colocar a Chloé Zhao para dirigir o filme, já que em sua filmografia ela não demonstrava qualquer indício de que renderia fazendo uma produção de super-herói. Para piorar (ou seria melhorar?) a Chloé se tornou a segunda mulher a levar um Oscar de direção por seu trabalho em Nomadland/2020 na última edição do Oscar, o que a tornou de ilustre desconhecida à cineasta da vez perante o público. No entanto, imaginar que o filme seria igual aos seus três longas anteriores era um verdadeiro delírio (já que o ritmo e estilo impresso por ela nunca rendeu um sucesso de bilheteria). Zhao foi convidada para dirigir o longa depois da aclamação de Domando o Destino/2017 (que considero o seu melhor trabalho), especialmente por seu gosto por narrativas mais intimistas, capacidade de introduzir atores no meio de pessoas comuns e a forma como filma em planos abertos em paisagens naturais. Estes três elementos são os que se fazem mais presentes nesta história que atravessa mais de sete mil anos. É preciso dizer ainda que a saga dos Eternos é bastante complicada, já que os heróis criados por Jack Kirby se tornou uma espécie de antigo testamento da Marvel, que explica como aquele universo de heróis foi construído por seres gigantescos, Os Celestiais, espécie de robôs para o qual Os Eternos trabalham em missões por vários planetas no universo. Apresentados como heróis do Planeta Olympia, os dez personagens são enviados à Terra para proteger a humanidade dos monstros chamados Deviantes. Estando completamente proibidos de intervir em outras situações (e o filme mostra em vários flashbacks como tiveram que lidar com guerras, massacres e aquele estalar de dedos de Thanus). Com uma história de sete mil anos para contar e condensar em duas horas e meia, o filme até que funciona bem. Conforme os Deviantes deixaram de ser uma ameaça, os Eternos passaram a viver entre nós aguardando o retorno para seu planeta, pelo menos até descobrirem que ainda teriam uma outra missão por aqui. Com dez personagens para desenvolver ao longo do roteiro, o protagonismo ficou para Sersi (Gemma Chan), que deixou o seu poder de transformar a matéria um pouco de lado quando resolveu ser professora. Ela tenta levar uma vida comum perto de Duende (Lia McHugh), eterna presa no corpo de uma adolescente e que consegue criar ilusões com suas mãos. Sersi viveu um longo romance (por volta de cinco mil anos) com o fortão Ikaris (Richard Madden), mas agora ela está mais tranquila com o namorado mortal Dane Whitman (Kit Harrigton), mas alguns conflitos permanecem. No entanto, quando um Deviante resolve aparecer, o trio terá que reunir a família novamente. Então descobrimos o que aconteceu com a guerreira Thena (Angelina Jolie), o grandão Gilgamesh (Don Lee), a velocista Makkari (Lauren Riddloff), o artista de Bollywood - Kingo (Kumail Nanjiani), o inventor  Phastos (Bryan Tyree Henry), o controlador de mentes Druig (Barry Keoghan) e a matriarca Ajak (Salma Hayek). Com um time destes, a Marvel constrói seu time mais diverso na telona com variadas etnias, biotipos, idades, sexualidades e uma personagem surda e, por incrível que pareça, a ideia soa bastante convincente dentro do roteiro. Muita gente reclama que o filme é lento como se fosse um defeito, mas o filme tem o ritmo certo para lidar com o volume de informações que possui e precisa ser visto como a fórmula Marvel dentro de um formato épico no sentido histórico. Tem cenas de ação, efeitos especiais, conflitos e a introdução de uma trama que deve prosseguir nos próximos filmes do estúdio. No entanto, quem espera um filme igual aos outros da Chloé Zhao irá se decepcionar e quem espera Os Novos Vingadores, também. Parece que o primeiro passo da nova fase da Marvel foi finalmente dado e resta aguardar o que vem por aí. 

Eternos (Eternals / EUA - 2021) de Chloé Zhao com Gemma Chan, Richard Madden, Salma Hayek, Angelina Jolie, Kumail Nanjiani, Bryan Tyree Henry, Barry Keogham, Lia McHugh, Lauren Riddloff, Don Lee, Kit Harrington e Harry Stiles. ☻☻

10+ Apostas para o Oscar 2022 (Parte 1)

Sim meus caros leitores, o Oscar2022 já gera especulações com a chegada dos lançamentos mais aguardados no final do ano. Com os cinemas voltando à normalidade aos poucos na Terra do Tio Sam (prova disso são as bilheterias de filmes como Duna), os filmes que pretendem fazer bonito na temporada de ouro já começaram as suas campanhas por lá. Esta lista é dedicada a dez filmes que devem cravar indicações nas principais categorias e está organizada por ordem alfabética (no fim do mês prometo postar outra lista com mais dez produções que almejam uma vaga entre os favoritos do careca dourado). Que comecem as apostas: 

#01 "Belfast" de Kenneth Brannagh
Começando pelo filme a ser batido na temporada até o momento. Muitos apontam que o filme mais pessoal de Brannagh (sim, é baseado na infância do ator e diretor) deve chegar como o favorito na temporada de ouro com a história de um menino e sua família de classe trabalhadora nos tumultuados anos 1960. O longa deve aparecer nas categorias de melhor filme, direção, roteiro original, fotografia, edição... além de render indicações para Caitriona Balfe e Judy Dench na categoria de atriz coadjuvante. O páreo vai ser duro já que terá que bater os filmes que estão abaixo...

#2 "House of Gucci" de Ridley Scott
Lady Gaga quer provar que não foi sorte de principiante sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz por Nasce Uma Estrela (2018) e quer mais uma indicação para a sua lista. Ela agora interpreta uma personagem real, Patricia Regianni, a mulher que mandou matar o ex-marido, Maurizio Gucci (Adam Driver), um dos herdeiros do império da moda que dá título ao filme. Amparado pelos barracos da famosa família italiana, o filme investe pesado para aparecer nas categorias principais e o elenco estelar (que ainda conta com Jared Leto, Jeremy Irons, Al Pacino, Salma Hayek...) também quer indicações. 

#03 "King Richard" de Zach Bailyn
Não sei bem o motivo, mas ando sentindo um cheirinho de Oscar para Will Smith em 2022. O ator já foi indicado duas vezes como melhor ator ao longo de sua carreira, já comprovou ser um dos mais queridos de Hollywood e faz um tempo que o Oscar não dá muita bola para seus trabalhos. Na pele de Richard Williams, o pai mais que motivador das tenistas Serena e Venus Williams, ele tem recebido muitos elogios e dificilmente ficará de fora dos indicados. Pela história de forte apelo emocional, o filme deve aparecer na categoria principal, render indicações para o elenco,  para roteiro, fotografia e edição. 

#04 "Licorice Pizza" de Paul Thomas Anderson
Ainda não se sabe muita coisa sobre o novo filme do diretor que será lançado em poucas salas ao final deste mês e terá estreia ampliada ao final de dezembro, sabe-se apenas que será um filme sobre a passagem para a fase adulta estrelado pelo filho do finado Phillip Seymour Hoffman. O jovem Cooper Hoffman irá se apaixonar por Alana (Alana Haim) e se ele aparece na lista de apostas é por conta do nome do cineasta no alto dos crédito, mas, na pior das hipóteses deve ser indicado somente ao prêmio de roteiro original. No elenco ainda estão Tom Waits, Bradley Cooper, Maya Rudolph, Ben Stiller...

#05 "Mass" de Fran Kranz
Sabe aquele filme independente modesto e bem realizado que vai ganhando destaque diante dos pesos pesados até aparecer no Oscar? Este posto deve ser ocupado por este longa que recebe cada vez mais destaque em festivais. O filme conta a história de dois casais que se encontram em lados opostos de uma tragédia. Denso e bem conduzido, o filme traz boas atuações de todo o elenco. Estrelado por Jason Isaacs, Reed Birney, Ann Dowd e Martha Plimpton, são as duas atrizes que devem se destacar nas categorias de interpretação da temporada. 

#06 "O Beco do Pesadelo" de Guillermo Del Toro
Depois dos prêmios por A Forma da Água/2017, nenhum filme carrega o sobrenome del Toro impunemente. O longa é uma releitura de um clássico noir, o famoso O Beco das Almas Perdidas (1947), mas, como o trailer revela, investe mais ainda nos aspectos pesadelescos da trama envolvendo um jovem vigarista e uma psiquiatra pouco confiável. Com visual exuberante, o filme deve aparecer em várias categorias técnicas, mas ambiciona aparecer nas categorias principais e render indicações para o elenco formado por Bradley Cooper, Cate Blanchett, Rooney Mara, Toni Collette e Willem Dafoe. 

#07 "Spencer" de Pablo Larraín
Não adianta reclamar, Kristen Stewart é a grande favorita ao Oscar de melhor atriz no próximo ano pelo seu trabalho como a Princesa Diana. Cm direção do escolado diretor chileno, o roteiro faz um recorte temporal das festas de fim de ano de um período crucial para a vida de Lady Di. Sufocada pelas restrições da família real e presa a um casamento infeliz, Kristen conquista elogios por onde passa e deve chegar forte na premiação da Academia. O filme ainda deve concorrer nas categorias de figurino, maquiagem e penteados, edição e fotografia. 

#08 "The Lost Daughter" de Maggie Gyllenhaal
"Olivia Colman no Oscar, de novo?!", pois é, exatamente! A atriz que levou a estatueta de melhor atriz por A Favorita/2018 deve emplacar sua terceira indicação. Ela será Leda, professora divorciada que resolve tirar umas férias no litoral da Itália, ela só não imaginava que ao conhecer uma família por lá, ela revisitaria suas escolhas e traumas do passado. A atriz Maggie Gyllenhaal escolheu adaptar o livro de Elena Ferrante na sua estreia na direção e colhe elogios, sobretudo pelo trabalho de seu elenco (que ainda conta com Jessie Buckley e Dakota Johnson), que podem ser indicadas, assim como o roteiro adaptado. 

#09 "The Power of the Dog" de Jane Campion
Faz tempo que um filme de Jane Campion não entra no páreo do Oscar, mas ao que tudo indica este jejum deve terminar com esta adaptação do livro de Thomas Savage. Na pele do sedutor Phil Burbank, Benedict Cumberbatch poderá levar seu primeiro Oscar para casa, assim como Kirsten Dunst que vive a viúva com a qual ele se envolve e até Kodi Smith-McPhee pode surpreender como ator coadjuvante. O relacionamento entre estes três personagens é emoldurado com uma produção de encher os olhos e deve concorrer em categorias como filme, direção, fotografia, roteiro adaptado, figurino, montagem...

#10 "The Tragedy of Macbeth" de Joel Coen
Queridos pela academia, Denzel Washington e Frances McDormand devem aparecer novamente entre os indicados por suas interpretações nesta nova adaptação do texto mais sombrio de William Shakespeare. A trágica ascensão de Macbeth ao reinado da Escócia é contada aqui em preto e branco e com todo o virtuosismo dos manos Coen. Elogiado em sua passagem por festivais, o filme deve ser indicado nas categorias principais e técnicas, sobretudo nas de interpretação num elenco que ainda conta com Brendan Gleeson, Harry Melling e Alex Hassell.