quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

PL►Y: Wicked

Cynthia e Ariana: o hit presente no Oscar2025.

Acho que na história recente dos musicais da Broadway, Wicked deve ser um dos espetáculos mais populares, talvez até mais do que isso, seja um fenômeno do gênero. Baseado na obra de 1995 de Gregory Maguire sobre A História Não Contada das Bruxas de Oz, o musical chegou aos palcos em 2005 com músicas compostas por Stephen Schwartz e libreto de Winnie Holzman. A ideia de revisitar as entrelinhas do livro de Frank Baum, sob a perspectiva de entender melhor a figura da temida Bruxa Má do Oeste gerou um musical de enorme sucesso nos palcos e uma versão para o cinema era cogitada faz tempo - a pergunta era se a popularidade do musical renderia um sucesso de bilheteria. O musical não é um gênero muito querido do público atual, mas o sucesso de Wicked nos cinemas demonstra que é uma questão de ajustar alguns botões e entregar ao público o que ele deseja. O cineasta Jon M. Chu (que recebeu o Critic's Choice de melhor diretor pela obra) faz exatamente isso ao colocar a fantasia em primeiro plano (afinal estamos falando de uma trama que bebe em um dos clássicos do gênero) e deixar que os momentos musicais funcionem de forma mais fluente durante a narrativa. Além disso, conta com o trunfo de ter duas atrizes que cantam de verdade à frente do elenco. Uma delas é Cynthia Erivo (indicada ao Oscar de melhor atriz) no papel de Elphaba, uma personagem com poderes mágicos naturais e que causa estranhamento desde a nascença por sua pele verde, a outra é Ariana Grande (indicada ao Oscar de atriz coadjuvante) que vive Glinda. A primeira será futuramente a bruxa má do Oeste e a segunda será a Bruxa Boa do Sul. O filme explora o momento em que as duas se conhecem na escola de feitiçaria de Shiz e acabam sendo colegas de quarto. Elphaba parece mais do que acostumada a ser destratada devido à sua pele diferente, enquanto Glinda está acostumada a ter tudo o que quer. A dinâmica entre as duas funciona como se estivéssemos diante de uma comédia estudantil vista diversas vezes, mas que ganha novas camadas quando percebemos que naquele mundo de fantasia existe uma tensão crescente. Debaixo de todo o colorido, das canções (a maioria bastante bem humoradas) existe um subtexto sobre relações de poder e estratégias de dominação através de eleger um inimigo em comum (capaz de unir as pessoas e fazê-las perder o bom senso, ou seja, algo bastante atual). É interessante como o diretor trabalha os tons (coloridos e sombrios) desta narrativa e consegue ampliar a trama para personagens bem defendidos por um notável elenco de apoio que vive personagens como a diretora Madame Morrible (Michelle Yeoh), Oz (Jeff Goldblum) e o príncipe Fyero (Jonathan Bailey que parece surpreendentemente a vontade no seu primeiro número musical em tela). Particularmente achei o filme um tanto longo com suas duas horas e quarenta minutos, mas levando em conta que é só a primeira parte, ele consegue desenvolver bem a primeira parte da trama e deixar aquela sensação de ampliar ainda mais a história vista nos palcos. Não existe aqui a sensação de ser uma peça de teatro filmada, parece um projeto idealizado para a telona com bastante capricho. Lançado no final do ano passado, o filme se tornou um sucesso nas bilheterias e emplacou dez indicações ao Oscar. Para além das suas atrizes indicadas, ainda concorre a melhor filme, maquiagem e penteado, trilha sonora, efeitos especiais, montagem, design de produção, figurino e melhor som. Mesmo que não leve prêmio algum, será fonte de muitos espectadores assistirem ao Oscar2025.

Wicked (EUA-2024) de Jon M. Chu com Cynthia Erivo, Ariana Grande, Michelle Yeoh, Jonathan Bailey, Jeff Goldblum, Peter Dinklage, Ethan Slater e Keala Settle. ☻☻☻

4EVER: Gene Hackman

30 de janeiro de 1930 17 de fevereiro de 2025
 
Eugene Allen Hackman nasceu na Califórnia, Gene cresceu em uma família cujo o pai jornalista abandonou quando o ator tinha apenas treze anos. A mãe teve problemas com alcoolismo e o jovem Gene a deixou aos 16 anos para fazer parte do corpo de fuzileiros navais. Quando saiu foi estudar jornalismo na Universidade de Ilinois, mas abandonou a faculdade para fazer curso técnico de rádio e depois se tornou ator. Em 1964 o ator estreou na Broadway e em 1967 já era indicado ao Oscar de coadjuvante  por seu papel em Bonnie & Clyde (1966) e depois em 1970 por Meu Pai, Um Estranho. A estatueta de melhor ator veio mesmo no ano seguinte por seu trabalho no premiado Operação França, no entanto, Gene considera seu trabalho em A Conversação (1974) o seu melhor trabalho (e eu concordo). Hackman também foi responsável pela atuação mais icônica do vilão Lex Luthor no clássico filme Superman (1978). O ator também concorreu ao Oscar de melhor ator por Mississipi em Chamas (1988) e recebeu um Oscar de coadjuvante por Os Imperdoáveis (1992). O ator continuou atuando até 2004 e se aposentou por motivos de saúde. O ator foi encontrado morto em casa, ao lado da esposa e do cachorro, nove dias após o falecimento em circunstâncias que ainda são investigadas. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Premiados SAG Awards - 2025

Conclave: o melhor elenco do ano pelo Sindicato dos Atores.

Em uma temporada de prêmios em que tudo pode acontecer nas categorias principais do Oscar, ao menos o SAG, ou o Prêmio do Sindicato dos Atores, acalmou o coração de Kieran Culkin e Zoe Saldaña que permanecem nos postos de favoritos nas categorias de coadjuvante. Ao que parece, Demi Moore ainda é a favorita ao prêmio de melhor atriz (mas não despreze as chances de Mikey Madison pós BAFTA e da brasileira Fernanda Torres que não estava indicada por aqui). Quanto aos apontamentos para melhor filme, Conclave prova ainda está no jogo entre O Brutalista e Anora. Nas categorias televisivas, Xógum levou tudo que tinha direito. A seguir todos os premiados da noite de hoje: 

Melhor Elenco: Conclave

Atriz: Demi Moore (A Substância)

Ator: Thimothée Chalamet (Um Completo Desconhecido)

Ator Coadjuvante: Kieran Culkin (A Verdadeira Dor)

Atriz Coadjuvante: Zoe Saldaña (Emilia Pérez)

Melhor Performances de Dublês: O Dublê

Elenco de Série de Drama: Xógum

Ator em Série de Drama: Hiroyuki Sanada (Xógum)

Atriz em Série de Drama: Anna Sawai (Xógum)

Elenco em Série de Comédia: Only Murders in the Building

Atriz em Série de Comédia: Jean Smart (Hacks)

Ator em Minissérie ou Telefilme: Colin Farrell (Pingüim)

Atriz em Minissérie ou Telefilme: Jessica Gunning (Bebê Rena)

Dublês em série de TV: Xógum

domingo, 23 de fevereiro de 2025

INDICADOS AO OSCAR 2025: Direção

 Brady Corbet (O Brutalista) com 36 anos e três filmes no currículo, o diretor conseguiu sua primeira indicação ao Oscar (e também concorre na categoria de roteiro original e melhor filme, afinal, também assina como produtor). O estilo de narrativa que mistura o tom dos grandes épicos de Hollywood com uma certa modernidade fez toda a diferença entre os votantes da Academia. Cotado desde que o filme ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza, a indicação pode ser a guinada que faltava na carreira do cineasta. O longa custou dez milhões de dólares e impressiona pelo seu cuidado na produção. Brady levou o Globo de Ouro na categoria. Vale lembrar que Brady começou a carreira como ator em filmes como Melancholia/2011 e o remake de Funny Games/2007

Coralie Fargeat (A Substância) a diretora francesa não apenas se tornou parte do pequeno grupo de mulheres diretoras indicadas ao Oscar de Melhor direção (é apenas a nona em 97 edições do prêmio) como também quebrou paradigmas ao tornar seu longa metragem o primeiro filme de horror indicado ao Oscar em muito tempo. Com referências que vão de David Lynch, Kubrick e David Cronenberg, a esperta Fargeat construiu um verdadeiro manifesto contra o hetarismo e a ditadura da beleza (com a vantagem de ser totalmente fora da caixinha). A ousadia rendeu ainda indicações a roteiro original (que foi premiado em Cannes e no Critics Choice) e pela produção do filme. Este é o segundo filme da cineasta que promete longas interessantes. 

Jacques Audiard (Emilia Pérez) é outro francês que está no páreo. Fazendo filmes desde 1994, o cineasta já realizou verdadeiras obras-primas como O Profeta (2009) e Ferrugem e Osso (2012). Já ganhou a Palma de Ouro em Cannes com Dheepan (2015) e até migrou para Hollywood com o fracassado Os Irmãos Sisters (2018). Embora O Profeta tenha concorrido ao prêmio de filme estrangeiro (e perdido), curiosamente seu reconhecimento só veio com um dos piores filmes de sua carreira. Embora tenha qualidades técnicas visíveis, a trama sobre o traficante em busca de redenção em sua vida como mulher é bastante problemática. Audiard também concorre a melhor canção (por El Mal), melhor roteiro adaptado e pela produção do longa.
 
James Mangold (Um Completo Desconhecido) confesso que fiquei surpreso quando vi o diretor entre os indicados, o fato era que em listas de apostas o operário padrão Mangold não estava cotado. O diretor já fez de tudo em Hollywood desde que recebeu reconhecimento no cinema independente com Paixão Muda (1995). James já dirigiu suspense, dramas, franquias milionárias, filmes de ação, musical e biografias. Se ele já tinha levado para as telas a vida de Johny Cash em Johny & June (2005), agora ele investe nos primórdios da carreira de Bob Dylan (e concorre também pela produção e roteiro adaptado). Mangold é o único da categoria a ter uma indicação anterior ao Oscar, pela produção de Ford Vs. Ferrari (2020).
 
Sean Baker (Anora) faz um tempinho que Sean Baker precisava de uma indicação para chamar de sua no Oscar. O cineasta que tempos atrás teve que se contentar com  a indicação de Willem Dafoe em ator coadjuvante por Projeto Flórida (2017), agora desponta como favorito ao prêmio de direção depois de ganhar o prêmio do Sindicato dos Diretores e o Independent Spirit. Ao contar as desventuras da dançarina erótica Anora após se casar com um herdeiro russo, Sean faz seu estilo parecer mais caótico do que nunca - e recebeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes pelo serviço. Baker ainda concorre como produtor na categoria de melhor filme, roteiro original e montagem. 

O ESQUECIDO: Edward Berger (Conclave) o cineasta alemão é responsável por um dos filmes mais cotados para levar o Oscar de melhor filme, mas ficou de fora da categoria de direção. A atmosfera conspiratória na eleição do novo Papa é um dos grandes trunfos de Conclave, mas a Academia parece ter imaginado que era preciso algo mais para que o diretor fosse reconhecido. Berger tem uma indicação no currículo pelo roteiro adaptado do excepcional Nada de Novo no Front (2023), que foi indicado em nove categorias, ganhou autro e o deixou de fora da categoria de direção do mesmo jeito. Berger pode dar as mãos a Denis Villeneuve (Duna Parte 2) entre os ausentes do ano. 

Na Tela: O Brutalista

 Adrien Brody: um dos alicerces de um filme colossal.
 
Quando O Brutalista foi eleito o melhor filme do Festival de Veneza com sua estética exuberante, a narrativa ambiciosa gerada com um orçamento de apenas dez milhões de dólares (!!!) parecia nascer ali o grande favorito ao Oscar de melhor filme. Figurando em todas as grandes premiações da temporada de ouro e levando o Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama o filme demonstrou ter fôlego para se consagrar perante a Academia. Embora a polêmica em torno do uso de Inteligência Artificial tenha arranhado a imagem do filme (o diretor Brady Corbet disse ter usado o recurso para ajuste de sotaques na pós-produção), o fato é que a produção é um dos filmes mais impressionantes dos últimos anos. Sua duração (mais de três horas de duração) já o transformaria em um colosso cinematográfico, mas a forma como o filme preenche todo este tempo é o que faz toda a diferença. O longa conta a história do arquiteto Laszlo Tóth (Adrien Brody), que foge da Europa no pós-guerra de 1947 depois de sobreviver ao holocausto. Buscando uma vida melhor nos Estados Unidos (e as cenas iniciais retratam de forma tensa a chegada no sonho americano, com a célebre imagem da Estátua da Liberdade invertida). Se Laszlo gozava de algum prestígio em Budapeste, agora ele é um desconhecido que precisa da ajuda de um primo (Alessandro Nivola) que reconfigurou sua identidade para ser absorvido pela Terra do Tio Sam. É por conta do primo que o arquiteto conhecerá o milionário Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce) e se o primeiro encontro entre os dois terá consequências devastadoras para o protagonista, os reencontros não levarão esta relação para caminhos diferentes quando um novo projeto se anuncia. Van Buren quer criar uma obra majestosa em homenagem à sua mãe e... se contar mais estraga. Corbet ousa ao fazer um intervalo no meio do filme, mas o recurso faz toda a diferença para que a plateia respire frente à uma guinada emocional reservada para a segunda parte com a chegada da esposa de Laszlo, Erszébet (Felicity Jones), após sobreviver à devastação da guerra na Europa. A chegada da esposa funciona quase como um contraponto à primeira parte do filme, o torna mais rico e ajuda a modificar até mesmo nosso olhar perante a história contada. Se antes o filme já tinha uma narrativa robusta, ela agora se torna mais humanista e pesada, com mais camadas e nuances na relação entre os personagens e constrói situações que são de tirar o fôlego (incluindo aquele outro símbolo invertido antes do epílogo). A qualidade técnica de O Brutalista é impressionante! Fotografia, trilha sonora, figurinos, montagem, tudo é perfeito e emoldura o trabalho de um elenco impecável! Se Adrien Brody corre o risco de ganhar o segundo Oscar da carreira, eu aceitaria tranquilamente que Felicity Jones surpreendesse ao ser premiada. Com as poucas cenas que possui, ela constrói um impacto impressionante de sua personagem ao longo da sessão. Vale ressaltar que embora o diretor Brady Corbet tenha se inspirado em personagens reais para criar Laszlo Tóth, ele é um personagem fictício, o que só amplia o trabalho excepcional do diretor ao criar um filme com tanta complexidade.  Corbet começou a carreira como ator (teve destaque em Melancholia/2011 e o remake de Funny Games/2007) e foi apontado como um galã promissor, mas preferiu migrar paras trás das câmeras em 2015 com A Infância de Um Líder e três anos depois lançou Vox Lux (2018), no entanto, nenhum de seus trabalhos anteriores demonstram a escala épica vista em O Brutalista. A produção está indicada aos Oscars de melhor filme, direção, ator (Adrien Brody), atriz coadjuvante (Felicity Jones), Ator coadjuvante (Guy Pearce), roteiro, trilha sonora, fotografia, montagem e design de produção.  

O Brutalista (The Brutalist / EUA - Reino Unido - Canadá / 2024) com  Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Raffey Cassidy, Stacy Martin, Alessandro Nivola, Ariane Labed, Michael Epp e Isaach de Bankolé. ☻☻☻☻

PL►Y: Wallace & Gromit - Avengança

Gromit, o gnomo e Wallace: rumo ao Oscar mais uma vez. 

Existe uma tradição em indicar as animações da dupla Wallace & Gromit ao Oscar. A primeira vez que os amados personagens dos estúdios Aardman foram indicados pela Academia foi em 1991 na categoria de curta-metragem com A Grande Day Out. Eles só seriam premiados na próxima indicação a melhor curta com As Calças Erradas em 1994. O feito se repetiu em 1996 com A Close Shave e dez anos depois os dois foram indicados pelo seu primeiro longa-metragem, A Batalha dos Vegetais (2006) e levaram o prêmio de melhor filme de animação! Em 2009 foram indicados novamente a melhor curta (por Uma Questão de Miolo e Morte). Obviamente que colabora muito para o apelo das produções o fato de ser toda feita em stop motion, aquela técnica feita quadro a quadro movimentando bonecos, aqui feitos de massa de modelar, mas além disso, os personagens (criados em 1989 por Nick Park) possuem todo um universo que vai muito além dos títulos que foram reconhecidos pela Academia. O novo longa da dupla está disponível na Netflix e rendeu mais uma indicação ao Oscar para os personagens. A trama gira em torno do plano de vingança de Feathers McGraw, um aparentemente inofensivo pingüim, mas que é um dos vilões mais populares a desafiar a dupla. McGraw foi preso devido a ajuda de Wallace & Gromit no curta de 1994 e está prestes a bolar um plano para acabar com os dois sem precisar sair da cadeia. Ironicamente, ele utiliza a última invenção de Wallace para acabar com a reputação do pacato inventor. Para ajudar a cuidar do jardim,  Wallace inventou um gnomo dotado de inteligência artificial. Embora Gromit estranhe aquela invenção desde início, a coisa só piora quando McGraw tem acesso ao invento e o transforma em um gnomo maligno que irá comandar um verdadeiro exército para desespero não apenas da famosa dupla, mas de toda a vizinhança. Desta vez Nick Park conta com a ajuda de Merlin Crossingham na direção, o moço já dirigia episódios da série e de videogames da dupla e traz um novo tom para a narrativa. O filme transborda citações aos filmes de terror e suspense (além claro ao lendário vilão Pingüim do Batman), tudo costurado com muito bom humor em tiradas espertas sobre inteligência artificial e os temores que giram em torno dela. Rico em detalhes e com cores chamativas, a qualidade técnica do filme parece ainda melhor que antes! Sinceramente, acompanho os filmes de W & G faz tempo e confesso que considerei este o mais divertido de todos. O filme andava meio escanteado na disputa do Oscar de animação deste ano, mas depois que levou para casa dois prêmios BAFTA na semana passada, seus concorrentes ficaram bastante preocupados. Embora eu torça para Flow, se Avengança levar, eu saberei exatamente os motivos. 

Wallace & Gromit - Avengança (Reino Unido / 2024) de Nick PArk e  Merlin Crogssingham com vozes de Ben Whitehead, Peter Kay e Lauren Patel. ☻☻☻☻ 

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Ganhadores Film Independent Spirit Awards 2025

Alex Coco, Baker, Samantha Quan e Mikey: Anora é o grande premiado do Indie Spirit

 Se depender do fôlego que Anora recebeu nas últimas semanas, parece que estamos diante do favorito faltando uma semana para o Oscar. O filme de Sean Baker levou para casa três categorias importantes no Independent Spirit Awards: melhor filme, direção e atriz para Mikey Madison (será que a novata desbanca a favorita Demi Moore perante a Academia?). Parece que em sua reta final a temporada finalmente esquentou! Se levarmos em conta que nos últimos cinco anos o Oscar coincidiu com o Indie duas vezes... os concorrentes podem se preocupar (e eu gostava mais quanto a premiação era na véspera do Oscar) - eu também adorei ver o ganhador de filme internacional! Já nas categorias de TV, o elenco de Bebê Rena levou tudo! A seguir todos os ganhadores da premiação realizada tradicionalmente na praia de Santa Mônica na Califórnia:

Filme / Anora

Filme de Estreia / Didi

Direção / Sean Baker

Performance Principal / Mickey Madison (Anora) 

Performande Coadjuvante / Kieran Culkin (A Verdadeira Dor)

Roteiro / A Verdadeira Dor

Primeiro Roteiro / Didi

Artista Revelação / Maisy Stella (Meu Eu do Futuro)

Fotografia / Nickel Boys

Montagem / Setembro 5

Documentário /  Sem Chão

Filme Internacional / Flow

Nova Série de Ficção / Xógum 

Performance Principal em série / Richard Gadd (Bebê Rena)

Performance Coadjuvante em série / Nava Mau (Bebê Rena)

Revelação em série / Jessica Gunning (Bebê Rena)

Prêmio Robert Altman / As Três Filhas

Prêmio John Cassavetes / Girls Will Be Girls 

FESTIVAL DE BERLIM 2025

Dreams (Sex Love): o favorito do Festival de Berlim.
 
Um tanto apagado por conta de todo o burburinho em torno do Oscar da próxima semana o 75º Festival de Berlim chegou ao fim e com boas notícias para o cinema brasileiro, já que o filme "O Último Azul" de Gabriel Mascaro ganhou o Urso de Prata (espécie de segundo lugar do festival). O longa brasileiro chegou a ser cotado para receber o prêmio máximo por sua abordagem distópica da forma como a sociedade lida com os idosos. No fim das contas, o júri presidido pelo cineasta Todd Hayes, escolheu o norueguês Dreams (Sex Love) de Dag Johan Haugerud sobre a paixão de uma estudante por sua professora de francês.  A seguir os premiados no Festival:
 
    Urso de Ouro: “Dreams (Sex Love)”
    Urso de Prata – Grande Prêmio do Júri: “O Último Azul”
    Urso de Prata – Prêmio do Júri: “The Message”
    Urso de Prata de Melhor Diretor: Huo Meng, de “Living the Land”
    Urso de Prata de Melhor Atriz: Rose Byrne, de “If I Had Legs, I’d Kick You”
    Urso de Prata de Melhor Ator Coadjuvante: Andrew Scott, de “Blue Moon”
    Urso de Prata de Melhor Roteiro: “Kontinental ’25”
    Melhor Contribuição Artística: “La Tour de Glace”, de Lucile Hadžihalilović
Berlinale Documentary Award: “The Devil Smokes”, de Ernesto Martínez Bucio
    Urso de Ouro de Melhor Curta: “Lloyd Wong, Unfinished”, de Lesley Loksi Chan
    Urso de Prata de Melhor Curta: “Ordinary Life”, de Yoriko Mizushiri
Panorama: “Sorda”, de Eva Libertad   
Panorama Documentary: “Die Möllner Briefe”, de Martina Priessner

domingo, 16 de fevereiro de 2025

PREMIADOS BAFTA 2025

Conclave: o favorito do BAFTA 2025

 O efeito Ainda Estou Aqui é realmente impressionante, já que a indicação ao filme brasileiro na categoria de filme em língua não inglesa no BAFTA rendeu até a apresentação da premiação por aqui (algo que nunca ocorreu, embora seja uma prestigiada prévia do Oscar). No entanto, o filme perdeu mais uma vez para Emília Pérez e ainda fez o feito de fazer brotar outro nome forte para o Oscar de melhor atriz que se aproxima. Se antes Demi Moore era o nome mais forte no páreo com Fernanda Torres, agora, Mikey Madison sente o impacto do crescente favoritismo de Sean Baker ao Oscar. Na temporada sem um grande favorito, o Oscar do dia dois de março promete ser o mais surpreendente dos últimos tempos! A seguir todos os premiados do Oscar britânico:

Melhor Filme: Conclave

Melhor Diretor: Brady Corbet (O Brutalista)

Melhor Ator: Adrien Brody (O Brutalista)

Melhor Atriz: Mikey Madison (Anora)

Ator Coadjuvante: Kieran Culkin (A Verdadeira Dor)

Atriz Coadjuvante: Zoe Saldaña (Emília Pérez)

Estrela Ascendente: David Jonsson (Alien Romulus)

Elenco: Anora

Roteiro Original: A Verdadeira Dor 

Roteiro Adaptado: Conclave

Melhor Filme Britânico: Conclave

Filme em Língua Não Inglesa: Emília Pérez

Animação: Wallace & Gromit - Avengança

Filme para Família: Wallace & Gromit - Avengança

Documentário: Superman - A História de Christopher Reeve

Curta  Metragem: Rock, Paper Scissors

Curta Metragem de Animação: Wonder To Wonder

Trilha Sonora: O Brutalista

Britânico Estreante: Rich Peppiatt (Kneecap)

Design de Produção: Wicked

Edição: Conclave

Som: Duna - Parte2

Efeitos Especiais: Duna - Parte2

Fotografia: O Brutalista

Cabelo e Maquiagem: A Substância

Figurino: Wicked

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

4EVER: Cacá Diegues

19 de maio de 1940  14 de fevereiro de 2025

Carlos José Fontes Diegues nasceu em Maceió, Alagoas,  sendo o segundo filho de um antropólogo e uma fazendeira. Cacá Diegues se tornou um dos jovens cineastas responsáveis pelo movimento conhecido como Cinema Novo nas décadas de 1950 e 1960. Após trabalhar com curtas nos anos 1950, em 1964 ele lançou seu primeiro longa-metragem, Ganga Zumba. Depois ele realizou clássicos do cinema nacional como Xica da Silva (1976), Bye Bye Brasil (1976) e Dias Melhores Virão (1989). Durante o período da retomada do cinema brasileiro, fez sucesso nas telas com Veja Esta Canção (1994) e adaptou a obra de Jorge Amado, Tieta do Agreste (1996), para o cinema com Sônia Braga a frente do elenco e uma nova versão de Orfeu (1999), além disso, Deus É Brasileiro (2003) estrelado por Wagner Moura se tornou um dos seus filmes mais populares e deve receber uma sequência em breve. Sua carreira atravessa cinco décadas da História do Cinema Brasileiro. O cineasta faleceu em decorrência de uma parada cardiorrespiratória.

INDICADOS AO OSCAR 2025: Ator Coadjuvante

Edward Norton (Um Completo Desconhecido) é o único da categoria que já foi indicado ao Oscar. Em sua estreia (As Duas Faces de Um Crime/1996) ele foi indicado como coadjuvante e tempos depois voltou à mesma categoria por seu trabalho como o ator arrogante de Birdman (2014). Entre as duas indicações, ele concorreu como melhor ator pelo polêmico A Outra História Americana (1998) que o consagrou como um dos maiores nomes de sua geração. Embora trabalhe pouco no cinema, Edward ainda é bastante respeitado entre seus pares e conseguiu a quarta indicação da carreira ao encarnar o cantor folk Pete Seger nesta cinebiografia sobre o início da carreira de Bob Dylan. Será que Edward leva dessa vez?

Guy Pearce (O Brutalista) tem uma coleção de indicados ao Oscar em seu currículo, esteve em Priscila - A Rainha do Deserto (1994), Los Angeles: Cidade Proibida (1997), Amnésia (2000) e Guerra ao Terror (2009), mas nunca fora indicado por uma atuação. Afim de reparar este equívoco na carreira do australiano, a Academia finalmente reconheceu seu talento por seu trabalho por este épico com mais de três horas de duração. Guy interpreta um milionário que contrata o arquiteto do título para levantar uma construção que se tornará no verdadeiro legado de sua vida. No entanto, a delicada relação entre os dois sempre envereda por caminhos inesperados - e o ator está perfeito em cada cena!

Jeremy Strong (O Aprendiz) ficou conhecido por seu trabalho na série Succession (2018-2023) da HBO e faz um tempo que buscava um papel de peso no cinema, mas ele só surgiu mesmo quando caiu em seu colo o roteiro, do controverso filme, que explora a relação do jovem Donald Trump com o implacável advogado Roy Cohn na Nova York dos anos 1970. Se Trump já tinha dinheiro por conta da família, foi Cohn que ensinou ao atual presidente dos EUA como galgar posições cada vez mais altas de poder. Strong vive Cohn com notável habilidade. Sua indicação era uma grande dúvida durante  a temporada de prêmios, mas ao que parece caiu na graça de um número considerado de votantes no Oscar. Resta saber se tem fôlego para sair premiado. Esta é sua primeira indicação ao prêmio. 

Kieran Culkin (A Verdadeira Dor) também estava em Succession e foi premiado várias vezes pela série, ali, fez o público lembrar cada vez mais do talento do irmão de Macaulay Culkin, que também atua desde pequeno. Kieran começou no cinema aos oito anos de idade ao lado do irmão no sucesso Esqueceram de Mim (1990) e não parou mais de trabalhar! Sua primeira indicação ao Oscar veio por conta de seu trabalho como Benji, o caótico primo do protagonista que parte junto dele à uma viagem para a Polônia para conhecer as origens da família. Ocupando o posto de favorito da categoria, até aqui o momento em que esteve mais perto de uma indicação ao Oscar foi por seu trabalho em A Estranha Família de Igby (2002) que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor ator de comédia ou musical.
  
Yura Borisov (Anora) surpreendeu muita gente ao cravar sua indicação na categoria. O ator russo já coleciona mais de cinquenta produções no currículo desde que começou a carreira há mais de vinte anos em sua terra natal. Pelo seu papel no filme de Sean Baker, o ator chamou atenção de público e crítica por seu personagem sempre servir de contraponto para o que se vê na tela. Um misto de insatisfação, empatia e identificação com tudo o que acontece com a protagonista faz com que ele seja o ponto dissonante entre os capangas russos do filme. Para além disso, ainda tem aquela cena final que deixa a plateia com o coração apertadinho. Yura quase caiu no radar do Oscar anteriormente por Compartimento nº6, que tentou uma vaga pela Finlândia no Oscar de Filme Internacional em 2022.

Clarence Maclin (Sing Sing) muita gente considerava que a presença do ator era certa entre os indicados ao prêmio, mas conforme a temporada se tornava cada vez mais acirrada, seu nome acabou restrito às premiações voltadas para o cinema independente. Aqui, Clarence interpreta uma versão de si mesmo, um homem que cumpre pena na famosa prisão que dá nome ao filme e que encontra um novo rumo na vida por seu trabalho no projeto de teatro da prisão. Premiado no Gotham Awards pelo papel, ao menos, o ator está indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado por ter colaborado na escrita da produção que carrega muito de sua experiência pessoal.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Na Tela: Anora

Mark e Mikey: conto de fadas às avessas.

Ani (Mikey Madison) é uma dançarina erótica que ganha a vida em uma boate. Sua avó era russa e, por conta disso, quando um jovem daquele país aparece em seu local de trabalho, ela é chamada para atendê-lo e render-lhe um pouco de... digamos, diversão. Os dois irão se encontrar várias vezes naquela semana e diante da disposição sexual dos dois, Ivan (Mark Eydelshteyn), o tal rapaz, fará a proposta de ficarem juntos por uma semana. Diante do entusiasmo da rotina compartilhada, o moço a pede em casamento e os dois se casam em Nevada. Parece um conto de fadas? Pois o roteiro pegará isso e virará do avesso quando a família do rapaz descobrir o que ele acabou de fazer e fará de tudo para desfazer o ocorrido. Destinados a resolver a pendenga, são encaminhados dois capangas e um amigo da família pra anular o casamento. O problema é que quando Ivan foge e deixa Ani na mão dos seus compatriotas, a plateia percebe que o príncipe russo encantado, pode não ser tão encantado assim. Anora  surpreendeu ao ser o premiado com a Palma de Ouro do último Festival de Cannes, primeiro por se tratar essencialmente de uma comédia e segundo porque o estilo caótico de Sean Baker não costuma agradar tanto assim os votantes de festivais. Acompanho a carreira de Baker desde que ele lançou Tangerine (2015), filme que ficou famoso por ter sido filmado com iPhone5 e ser protagonizado por duas atrizes trans. Depois ele caiu no radar do Oscar com Projeto Flórida (2017) rendendo uma indicação de coadjuvante para Willem Dafoe para depois ser totalmente ignorado por Red Rocket (2021). Embora transite pelo território da comédia, as tramas de Baker sempre carregam doses generosas de drama em torno de seus personagens, geralmente pessoas marginalizadas que enfrentam uma dificuldade particular durante a trama. A narrativa sempre flui de forma caótica, fazendo você acreditar que é uma colagem de improvisações em cenas aleatórias, mas não é nada disso. Existe muito de Robert Altman no cinema de Baker e em Anora (o nome real de Ani) isso fica ainda mais evidente com seus personagens em momentos em que todos parecem falar ao mesmo tempo. Existe ainda um tom de comédia que beira o exagero em alguns momentos envolvendo personagens que você não consideraria os mais apropriados para elas. Indicado a seis Oscars (Filme, direção, atriz, ator coadjuvante, roteiro original e montagem) o filme parecia ter perdido fôlego na temporada de prêmios, mas ao receber na mesma semana o Critics Choice, o Prêmio do Sindicato dos Produtores (PGA) e o Prêmio dos Sindicato de Diretores (DGA), o filme começou a ser apontado como o favorito ao Oscar de melhor filme. Seria uma escolha inusitada, já que o longa é bastante ousado em sua primeira meia-hora com cenas da rotina sexual dos seus personagens (e que acho um tanto extensa demais esse primeiro ato), mas aos poucos ganha o coração da plateia ao ver a protagonista tentando agarrar a chance de mudar de vida para sempre. Mikey Madison faz por merecer sua indicação aos prêmios de atuação da temporada por fazer o coração do filme entre a ilusão e a negação de sua personagem em ver que suas ambições se desfazem da mesma forma como se construíram. Também é uma delícia ver Yura Borisov ser indicado como ator coadjuvante por um papel irresistível do capanga com um coração valoroso  escondido - e confesso que sou fã do moço desde que o vi em Compartimento nº6 (2021) que tentou uma vaga de filme estrangeiro no Oscar pela Finlândia e ficou de fora. A cena dos dois que encerra o filme partiu meu coração e deve ter influenciado muita gente na hora de votar nas premiações. Anora é um conto de fadas às avessas, se constrói e desconstrói num choque de realidade que pode ser doloroso, mas também um tanto necessário para seguir em frente. Em um ano sem grandes favoritos, não deixa de ser interessante ver o cinema indie de Baker fazer bonito nas premiações. 

Anora (EUA-2024) de Sean Baker com Mikey Madison, Mark Eydelshteyn, Yura Bosisov, Lindsey Normington, Vache Tovmasyan, Luna Sofía Miranda, Karren Karagulian e Darja Nikolajewna. ☻☻☻☻

CATÁLOGO: A Estrada Perdida

Patricia e Bill: labirinto sombrio entre imagens e identidades.

Em homenagem à carreira do David Lynch a Mubi disponibilizou em seu catálogo vários filmes do diretor que devem ficar em cartaz até o final desta semana, quem curte o trabalho do cineasta que nos deixou no no início de 2025 vai adorar reencontrar o universo de um dos diretores mais estilosos do cinema e, quem não tem muita familiaridade com sua linguagem, terá a chance de se deparar com a atmosfera única de filmes que sempre valem a pena ser revisitados. Quando Lynch lançou A Estrada Perdida ele estava em baixa por conta do fracasso comercial de seu filme anterior (Os Últimos Dias de Laura Palmer/1992, que ainda bebia no sucesso da cultuada série Twin Peaks). Fazia tempo que Lynch não trabalhava uma trama original para o cinema e uma nova geração de espectadores não sabiam exatamente do que o diretor era capaz. Esperto, Lynch embalou o filme com uma trilha sonora que chamou ainda mais atenção para  o lançamento da obra. Aos cuidados do (hoje oscarizado) Trent Reznor, a trilha mostra-se fundamental para estabelecer a atmosfera do filme desde a abertura ao som de David Bowie e seguindo por Nine Inch Nails, Rammstein e Marilyn Manson. A sonoridade entre o eletrônico e o hardcore cai como uma luva para a história de Fred Madison (Bill Pullman), um saxofonista de jazz que vive uma vida confortável ao lado da esposa, Renée (Patricia Arquette). Só que os dois começam a receber gravações externas da casa onde vivem e, logo depois, cenas internas da casa (incluindo até os dois dormindo). Fred começa a ter contato com um homem estranho que mais complica do que explica o que está havendo, a situação só piora quando um crime acontece e Fred é condenado à morte. Atormentado pelos acontecimentos, com uma enxaqueca constante, uma situação inusitada ocorre quando, em sua cela, o músico se transforma no jovem mecânico Pete Dayton (Balthazar Getty) - o coitado não faz a mínima ideia de como foi parar ali. A situação chama atenção da polícia, mas não existe uma explicação, resta liberar o rapaz e observa-lo por alguns dias. Se Pete retoma sua vida depois do ocorrido, a situação se enrola ainda mais quando ele se envolve com a misteriosa Alice (uma loura Patricia Arquette), a amante do poderoso Dick Laurent (Robert Loggia). Ao longo do filme, Lynch embaralha a vida e as identidades de seus personagens com um subtexto que permite muitas analogias sobre a relação entre imagem e identidade, com subtextos que podem dar um nó na cabeça do espectador. Qual a explicação para tudo aquilo? Por que as mulheres são tão parecidas? O que houve com Frank? Lynch capricha mais uma vez na atmosfera onírica de sua obra e envolve o espectador em um pesadelo por mais de duas horas sem perder o tom. A obra dividiu a crítica na época, que a considerou com mais forma do que conteúdo, no entanto, com o passar do tempo, mostrou-se um dos filmes mais cultuados do diretor, responsável por uma nova geração de fãs que no meio de suspenses protocolares de Hollywood se deparou com um verdadeiro enigma que desafia o tempo e as interpretações subjetivas da plateia. 

A Estrada Perdida (Lost Highway / EUA - França / 1997) de David Lynch com Bill Pullman, Patricia Arquette, Balthazar Getty, Robert Loggia, Richard Pryor, Robert Blake, Henry Rollins, Natasha Gregson e Gary Busey. ☻☻☻☻ 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

10+ Ralph Fiennes

Nascido em  22 de dezembro de 1962 em Sufolk na Inglaterra, Ralph Nathaniel Twisleton Wykeham-Fiennes é o filho mais velho de uma família de seis irmãos. Fiennes começou sua carreira como ator na Royal Academy of Dramatic Art chamando atenção em seus trabalhos em obras shakesperianas. No início dos anos 1991 fez seu primeiro trabalho na televisão começou a fazer trabalhos para a televisão e no ano seguinte estrelava uma versão de O Morro dos Ventos Uivantes ao lado de Juliette Binoche. Hoje com participação em quase cem produções, a carreira do ator é cheia de momentos marcantes - embora ainda não tenha um Oscar na estante. Essa lista é para lembrar os meus dez trabalhos favoritos do artista por ordem de preferência pessoal deste que vos escreve:

 
#10 "Spider" de David Cronenberg (2002)

#09 "O Jardineiro Fiel" de Fernando Meirelles (2005) 

#08 "Sunshine" de István Szabó (1999)  

 
 
 
#03 "O Paciente Inglês" de Anthony Minghella (1996)

#02 "A Lista de Schindler" de Steven Spielberg (1993)

Na Tela: Conclave

Fiennes: os bastidores da eleição do novo Papa. 

Quanto Conclave começou a ser exibido, muitos declararam que era a vez de finalmente Ralph Fiennes levar o primeiro Oscar de sua carreira. A indicação ele já conseguiu, mas tendo em vista a carreira do ator britânico, torna-se surpreendente que esta seja apenas a terceira indicação de uma longa carreira com atuações memoráveis (antes ele concorreu como coadjuvante por A Lista de Schindler/1993 e ator principal por O Paciente Inglês/1996). Em Conclave ele vive o Cardeal Laurence, que após a morte do Papa, torna-se responsável por conduzir o processo confidencial da escolha do próximo líder da Igreja Católica. Representantes da Igreja de todo o mundo vão ao Vaticano e ficarão isolados para realizar a votação até que um dos candidatos alcance o número necessário de votos para que seja o sucessor do falecido. Acontece que desde a morte do Papa, uma série de comentários e segredos começam a chegar aos ouvidos de Laurence, que logo percebe que o trabalho será muito mais árduo do que ele imagina. O diretor Edward Berger (do excepcional Nada de Novo no Front/2022) é muito bem ancorado pelo roteiro de Peter Straughan baseado no livro de Robert Harris. Para escrever sua obra, Harris realizou muita pesquisa entre padres, freiras e um cardeal que participou de uma votação, com isso criou uma trama cheia de subtextos e que chega às telas com tom de conspiração, o que pode incomodar alguns fiéis. No entanto, o que vemos na tela não é nada muito diferente entre os conflitos entre grupos mais conservadores e outros mais liberais que ocorre nos espaços de poder. Existe toda uma preocupação em torno da concepção de mundo que o próximo Papa possui, seja sobre divórcio, homossexuais, imigração, política, assim se revela uma rede de intrigas envolvendo nomes como os sacerdotes Bellinni (Stanley Tucci), Tremblay (John Lithgow), Tedesco (Sergio Castelitto), Adeyemi (Lucian Msamati), Wozniak (Jacek Koman) e Benitez (Carlos Diehz) e seus segredos mais ocultos virão a tona para influenciar nos votos de seus colegas. No meio de tanta disputa, Laurence se preocupa cada vez mais com o nome que será escolhido (e o temor que seja o dele próprio). Berger reuniu um elenco de respeito (que inclui ainda Isabella Rossellini em uma participação mais do que especial que lhe rendeu a primeira indicação ao Oscar da carreira) e constrói um clima de tensão que perpassa toda a narrativa mas, por vezes, a rede de intrigas se torna um tanto cansativa para sustentar duas horas de filme. No entanto, nada que diminua os méritos do filme que concorre em oito categorias no Oscar, incluindo Melhor filme, ator (Ralph Fiennes), atriz coadjuvante (Isabella Rossellini), roteiro adaptado, montagem, figurinos, design de produção e trilha sonora original. 

Conclave (Reino Unido - EUA / 2024) de Edward Berger com Ralph Fiennes, John Lithgow, Stanley Tucci, Isabella Rossellini, Sergio Castelitto, Lucian Msamati, Jacek Koman, Carlos Diehz e Thomas Loibl. ☻☻☻☻

FILMED+: Flow

Flow: uma obra-prima direto da Letônia.

Considero sempre interessante quando no meio das animações produzidas durante o ano aparece uma verdadeira joia de um país que não costumamos ter muito contato com a cinematografia. Eis que da Letônia apareceu um filme que muitos apontaram como a melhor animação de 2024. Celebrada em festivais, o filme foi o escolhido letão para representar o país na categoria de Filme Internacional o que chamou ainda mais atenção para a produção que cravou sua presença na categoria e também na de melhor animação do ano. Um presente duplo para o país que já havia tentado uma vaguinha no Oscar por 16 vezes anteriores e somente agora conseguiu o reconhecimento da Academia. Pode-se dizer que Flow é um filme irresistível, sua estética é diferente da que se tornou comum em Hollywood e seu roteiro não conta com diálogos, apenas com a fluência dos acontecimentos com a sonoridade à base de uma trilha sonora discreta e a precisa utilização dos sons (reais) dos bichos que vemos em cena. A trama gira em torno de um simpático gatinho preto que percebe que o mundo ao seu redor lida com um alagamento. É público e notório o medo que os gatos possuem da água, motivo pelo qual deixa o bichano ainda mais aflito. Ainda que os cenários demonstrem que houve presença de pessoas por ali, elas não estão mais por lá. O roteiro não explica o motivo de somente vermos os bichos naquela região ou o motivo da água invadir tudo, o que deixa para a plateia preencher as lacunas com a própria imaginação. Em sua jornada, o gatinho irá encontrar um grupo de cachorros não muito amistosos, uma capivara, um lêmure e um grupo de serpentários um tanto temperamentais. Na luta por não se afogar, o protagonista junto de outros bichos irão navegar em um barco e verão os traços de suas personalidades (ou seria puro instinto?) ajudar e atrapalhar em alguns instantes, o que ajuda a construir uma trama emocionante sobre empatia, amizade, sobrevivência e sacrifício. Vendo o gatinho lutando para não se afogar, lembrei daqueles momentos em que pensamos se vale a pena continuar remando contra a maré, mesmo quando não temos mais forças ou energias para tanto e a motivação vem de imaginar que pode haver muita coisa boa para além daquela adversidade. Em Flow existe um desfecho místico para toda aquela situação, uma bela sequência que me provocou um deslumbramento que foi logo seguido de uma certa melancolia por conta do desfecho de um dos seres mais misteriosos do filme. O longa é de uma perfeição tão singela que é impossível ficar indiferente e vale um elogio especial para o diretor Gints Zilbalodis que constrói a relação entre seus personagens de forma tão perfeita, que você pode jurar que ouviu a voz dos personagens durante o filme. Um trabalho excepcional que foi realizado com a ferramenta Blender e um orçamento de quatro milhões de dólares (só para ter uma ideia, Robô Selvagem custou 78 milhões e Divertida Mente2 teve o orçamento de 200 milhões). Flow já está na minha lista de filmes favoritos a estrearem por aqui em 2025. Uma obra-prima.

Flow (Straume / Letônia - 2024) de Gints Zilbalodis. ☻☻☻☻☻