Marta e Jules: nuances de um filho desaparecido. |
Elena (Marta Nieto) está em casa com a mãe quando recebe a ligação de Ivan, seu filho de seis anos de idade. O menino está viajando com o pai e está em uma praia na fronteira litorânea da Espanha com a França. Ivan está visivelmente nervoso, já que o pai foi até o trailer buscar os brinquedos do filho, mas o deixou sozinho na areia. Não há ninguém por perto. O pai está demorando. A bateria do celular do menino está no fim e no desespero de ambos ninguém sabe o que fazer. Quando o menino diz que um senhor se aproxima e o convida para se aproximar, a tensão só aumenta e essa é a trama do curta-metragem angustiante de 2017 feito pelo diretor Rodrigo Sorogoyen - que foi indicado ao Oscar na categoria de melhor curta-metragem em 2019. Mas o que teria acontecido ao menino diante daquela situação assustadora? Como a mãe seguiu a vida após aquela situação traumática? Dois anos após o lançamento do curta, Sorogoyen amplia a história neste filme homônimo que conta o que aconteceu com aqueles personagens dez anos depois. Elena agora trabalha em um restaurante na beira de uma praia, talvez na esperança de um dia ter pistas sobre o filho. Ainda que o tempo tenha passado, ela está visivelmente destroçada por dentro (e por fora), presa à uma busca que permanece sem respostas (e a cena curtinha do pesadelo que paira em sua cabeça, ilustra bem o horror que aprendeu a conviver ao longo dos anos). Mesmo em seu relacionamento com o compreensivo namorado Joseba (Alex Brendemühl), ela parece distante na dificuldade de criar laços após o trauma. Sua rotina é transformada quando conhece Jean (Jules Porier), um adolescente que passa férias no litoral junto aos pais e os irmãos. Elena percebe semelhanças entre o rapaz e Ivan e se aproxima cada vez mais, despertando a incompreensão da família do menino e instiga ainda mais os comentários na região de que "ela é a louca que perdeu o filho". É na relação de Elena e Jean que o filme avança, deixando muito nas entrelinhas para a interpretação do espectador e flerta aqui e ali com elementos da tragédia Édipo Rei, o que adiciona camadas ainda mais complexas às emoções e motivações da personagem. Para alguns espectadores a forma como Sorogoyen conduz a trama pode soar cansativa, mas a interpretação visceral de Marta Nieto compensa qualquer deslize. A atriz interpretou o mesmo personagem no curta e foi premiada no Festival de Veneza por seu trabalho aqui. Emoldurada pela belíssima fotografia e o cuidado do diretor na construção de sua cenas (ele utiliza planos sem cortes diversas vezes que dão um toque especial à narrativa), em Madre ela é a alma (desesperada) do filme.
Madre (Espanha - França / 2019) de Rodrigo Sorogoyen com Marta Nieto, Jules Porier, Alex Brendemühl, Anne Consigny, Frédéric Pierrot, Guillaume Arnault e Raúl Prieto. ☻☻☻☻