terça-feira, 3 de dezembro de 2024

PL►Y: Madre

Marta e Jules: nuances de um filho desaparecido.

Elena (Marta Nieto) está em casa com a mãe quando recebe a ligação de Ivan, seu filho de seis anos de idade. O menino está viajando com o pai e está em uma praia na fronteira litorânea da Espanha com a França. Ivan está visivelmente nervoso, já que o pai foi até o trailer buscar os brinquedos do filho, mas o deixou sozinho na areia. Não há ninguém por perto. O pai está demorando. A bateria do celular do menino está no fim e no desespero de ambos ninguém sabe o que fazer. Quando o menino diz que um senhor se aproxima e o convida para se aproximar, a tensão só aumenta e essa é a trama do curta-metragem angustiante de 2017 feito pelo diretor Rodrigo Sorogoyen - que foi indicado ao Oscar na categoria de melhor curta-metragem em 2019. Mas o que teria acontecido ao menino diante daquela situação assustadora? Como a mãe seguiu a vida após aquela situação traumática? Dois anos após o lançamento do curta, Sorogoyen amplia a história neste filme homônimo que conta o que aconteceu com aqueles personagens dez anos depois. Elena agora trabalha em um restaurante na beira de uma praia, talvez na esperança de um dia ter pistas sobre o filho. Ainda que o tempo tenha passado, ela está visivelmente destroçada por dentro (e por fora), presa à uma busca que permanece sem respostas (e a cena curtinha do pesadelo que paira em sua cabeça, ilustra bem o horror que aprendeu a conviver ao longo dos anos). Mesmo em seu relacionamento com o compreensivo namorado Joseba (Alex Brendemühl), ela parece distante na dificuldade de criar laços após o trauma. Sua rotina é transformada quando conhece Jean (Jules Porier), um adolescente que passa férias no litoral junto aos pais e os irmãos. Elena percebe semelhanças entre o rapaz e Ivan e se aproxima cada vez mais, despertando a incompreensão da família do menino e instiga ainda mais os comentários na região de que "ela é a louca que perdeu o filho". É na relação de Elena e Jean que o filme avança, deixando muito nas entrelinhas para a interpretação do espectador e flerta aqui e ali com elementos da tragédia Édipo Rei, o que adiciona camadas ainda mais complexas às emoções e motivações da personagem. Para alguns espectadores a forma como Sorogoyen conduz a trama pode soar cansativa, mas a interpretação visceral de Marta Nieto compensa qualquer deslize. A atriz interpretou o mesmo personagem no curta e foi premiada no Festival de Veneza por seu trabalho aqui. Emoldurada pela belíssima fotografia e o cuidado do diretor na construção de sua cenas (ele utiliza planos sem cortes diversas vezes que dão um toque especial à narrativa), em Madre ela é a alma (desesperada) do filme. 

Madre (Espanha - França / 2019) de Rodrigo Sorogoyen com Marta Nieto, Jules Porier, Alex Brendemühl, Anne Consigny, Frédéric Pierrot, Guillaume Arnault e Raúl Prieto. ☻☻☻

PREMIADOS GOTHAM AWARDS2024

Adam Pearson e Sebastian Stan: melhor filme no Gotham Awards. 
 
Por muito tempo o Gotham Awards foi uma referência para o cinema indie dos Estados Unidos, desde o ano passado, resolveram diversificar e abrir as suas categorias para produções de estúdio que tivessem um orçamento mais modesto. Um outro diferencial da premiação são seus diversos prêmios especiais  (só nesta edição homenagearam Zendaya, Angelina Jolie, Denis Villeneuve, Timothée Chalamet, James Mangold, Franklin Leonard e o elenco de Piano de Família), que aponta quem está em alta na temporada, mas que também funciona como um pedido de desculpas para artistas e produções celebradas que poderia sair com as mãos abanando. Transmitido pelo Youtube, a premiação tem um jeitão meio improvisado, mas que serve como o início da temporada das grandes premiações que culminam no Oscar. Falando em Oscar, o ganhador de melhor filme do ano surpreendeu, já que apesar de seu prêmio de melhor ator no Festival de Veneza, o filme não parecia ter fôlego para cair nas graças da Academia. Diante do que vimos no Gotham, Um Homem Diferente ganhou crédito para cravar algumas indicações aos careca dourado. Porém, o melhor momento da noite foi Vera Drew ser premiada por sua versão alternativa de Coringa em The People's Joker e no discurso não conter a ironia ver seu filme premiado apesar de todos os impedimentos promovidos pela Warner (que viu Coringa2 naufragar nas bilheterias).  A seguir todos os premiados da noite de ontem: 

Melhor Filme: Um Homem Diferente

Melhor Diretor:  RaMell Ross (Nickel Boys)

Melhor Interpretação Principal: Colman Domingo (Sing Sing)

Melhor Interretação Coadjuvante: Claren Maclin (Sing Sing)

Artista Revelação: Brandon Wilson (Nickel boys)

Cineasta Revelação : Vera Drew ( The People's Joker)

Melhor Roteiro: Azazel Jacobs (As Três Filhas)

Melhor Documentário: No Other Land

Melhor Filme Estrangeiro: "All We Imagine As Light" (Índia)