sábado, 22 de março de 2025

Pódio: Lupita Nyong'o

Bronze: a poetisa sobrevivente

3º Um Lugar Silencioso: Dia Um (2024) Lupita Amondi Nyong'o nasceu na Cidade do México em 1983 e começou a carreira em Hollywood como assistente de produção. A atriz se tornou cada vez mais reconhecida por desaparecer nas personagens que interpreta, como é o caso de Sam, a paciente com câncer terminal que se depara com as criaturas de audição ultrassensível desta franquia milionária. Lupita carrega toda a dor da personagem no olhar desde a primeira cena, mas ao longo do filme a faz reencontrar a leveza de uma vida da qual deverá se despedir em breve. Um trabalho belo e sensível que demonstra mais uma vez  que a atriz é uma das melhores de sua geração. 

Prata: a mulher duplicada
2º Nós (2019) fazia um tempinho que Lupita não recebia um papel de destaque nos cinemas quando Jordan Peele a convidou para estrelar este filme de terror em que ela vive dois personagens. Uma é a mulher que precisa lidar com um trauma de infância, outra é o trauma personificado como seu duplo (e que quer tomar sua vida). A atriz tem uma performance assustadora na versão mais sombria da personagem e foi indicada ao Critic's Choice, People's Choice e ao SAG Awards por sua performance e ainda foi celebrada como melhor atriz do ano por alguns prêmios regionais da crítica. Se houvesse justiça, a atriz teria sido lembrada no Oscar de melhor atriz por suas performances distintas no mesmo filme. 
 
Ouro: a mulher escravizada.
1º Doze Anos de Escravidão (2013) Lupita fez história no Oscar ao se tornar a primeira mexicana a ganhar o prêmio de atriz coadjuvante (e se levarmos em conta sua cidadania queniana, ela também se tornou a primeira queniana a receber o prêmio). No ganhador de Oscar de melhor filme, ela vive uma escrava que sofre os abusos sexuais do dono da fazenda e sobrevive a todo tipo de maus tratos ao longo do filme. Uma performance sofrida e comovente que caiu nas graças dos votantes da Academia. A atriz ganhou as capas de revista com seu estilo fashionista e fez escolhas bastante criteriosas em sua carreira desde então. Mesmo tento menos ofertas de trabalho do que merece, Lupita sempre entregou performances dignas de nota desde sua premiação, honrando sua estatueta até hoje.

PL►Y: Um Lugar Silencioso - Dia Um

Quinn, Lupita e Frodo: um filme com coração.
 
Acho que já ficou claro que nada será comparável com o primeiro Um Lugar Silencioso (2018), o surpreendente filme dirigido e estrelado por John Krasinski e sua esposa, Emily Blunt (que estava estupenda em cena). Tive a honra de assistir ao filme no cinema e a sensação daquela necessidade de silêncio em uma sala escura era indescritível. Era interessante como o filme subvertia uma regra do cinemão de Hollywood: que o público odeia o silêncio nos filmes. Krasinski nos fez lembrar como o silêncio é necessário, sobretudo para ampliar a tensão de uma narrativa. O filme foi um sucesso, gerou uma sequência que contava os rumos da família após os acontecimentos do primeiro longa, mas também um pouco de como foram aquelas minutos iniciais com a chegada das criaturas sanguinárias de ouvidos ultrassensíveis. No entanto, enveredar por uma outra sequência poderia desgastar a fórmula antes do que deveria. Eis que tiveram a ideia de contar uma prequel, mas com outros personagens daquele universo. Diante da proposta de ampliar a franquia, considero que foi um grande acerto escalar Michael Sarnoski para escrever o roteiro e dirigir o novo filme. O rapaz foi responsável por uma das gratas surpresas de 2021, Pig (filme que provou sozinho que Nicolas Cage ainda era um baita ator). O cineasta já demonstrava ali que sabia lidar com cenas dramáticas sem errar a mão nos momentos de ação e aqui, não faz diferente. Aqui ele não exagera na correria e sabe exatamente onde colocar o coração do filme: nos personagens. Portanto, torna-se fundamental fazer escolhas certas e ele faz ao colocar Lupita Nyong'o como protagonista. Ela vive Sam, uma mulher que tem câncer em estado terminal. Desiludida e um tanto amarga, ela não tem esperanças de que sua situação melhore. Enquanto um grupo do qual faz parte vai para um teatro de marionetes em Nova York, Sam tenta convencer o enfermeiro responsável (Alex Wolff) a deixa-la comer uma pedaço de pizza em uma pizzaria específica da cidade. Antes que ela consiga convencê-lo, a cidade será atacada por aqueles monstrengos que já vimos nos filmes anteriores. Sempre acompanhada de seu gato, Frodo (um dos pets mais expressivos que apareceram nas telas recentemente), ela irá tentar manter-se viva, enquanto o mundo se torna um monte de ruínas ao seu redor. Ela poderia passar o filme somente com o seu gato, mas Eric (Joseph Quinn) cruza seu caminho implorando por ajuda. Ele veio para Nova York estudar direito, a família vive na Inglaterra e sem ter com quem contar, a sisuda Sam torna-se sua melhor opção. Os dois irão desenvolver uma amizade que garante ótimos momentos no filme. Sempre que vejo Lupita na tela, ela me proporciona um encantamento que me faz perguntar, como uma atriz deste quilate não aparece em mais produções? Ela carrega toda a tristeza da personagem no olhar desde a primeira cena e prossegue na construção de um arco narrativo comovente até o desfecho catártico. Quinn também está ótimo ao demonstrar, sem pudores, toda a vulnerabilidade do seu personagem e espero que continue aparecendo na telona com bons trabalhos. Também não posso esquecer do gatinho, que mantém a tradição de Sarnoski em abordar os laços entre seus personagens com animais de estimação e o que eles representam. Muita gente não se empolgou com o filme porque queriam explicações sobre os monstros (ai gente, precisa? Que diferença faz?), mas fiquei satisfeito com o que o longa tem a oferecer ao contar uma boa história de amizade e sobrevivência em meio ao caos. Isso é mais do que muito filme badalado teve a oferecer em 2024. 

Um Lugar Silencioso - Dia Um (A Quiet Place - Day One / EUA - 2024) de Michael Sarnoski com Lupita Nyong'o, Joseph Quinn, Alex Wolff, Djimon Housson e Alfie Todd. ☻☻

PL►Y: A Semente do Fruto Sagrado

Soheila e Mahsa: a semente mortal da desconfiança. 

Em um período de conflitos em Teerã, Iman (Missagh Zareh) é promovido a investigador na expectativa de futuramente ser um juiz. Sua empolgação com a nova função logo se estende para esposa, Najme (Soheila Golestani) que fica animada com as possibilidades de ter uma vida e melhor e finalmente conseguir uma casa que possa oferecer um quarto para cada uma de suas filhas. Rezvah (Mahsa Rostami) e Sana (Setareh Maleki) também se animam com a possibilidade, mas as meninas logo desanimam com todas as restrições que passam a ser expostas pela mãe a todo instante. Elas passam a sempre ouvir que precisam tomar cuidado com o que fazem nas redes sociais, com as pessoas que conversam, com as amizades, com as saídas de casa que precisam ser mais restritas, assim como as visitas que precisam ser ainda mais criteriosas e nunca, jamais, deverão sair de casa sem véu. A paranoia chega ao nível de Sadaf (Niousha Akhshi), uma amiga das garotas, ser vista cada vez mais com desconfiança por estar na universidade (até mesmo as sobrancelhas finas da jovem são dignas de comentários desconfiados). A empolgação de Iman diminui e ele começa a ficar mais calado perante as coisas que precisa fazer no trabalho, seus dilemas morais pioram ainda mais quando explodem manifestações em Teerã e ele precisa agir com mais rapidez, sem que possa pensar de fato sobre o que está acontecendo (e mesmo que discorde de algo, não pode agir diferente do que lhe exigem). A rotina da família muda, a atmosfera da casa também e a tensão entre os personagens chega às bordas da loucura quando a arma de Iman some e ele jura que sumiu dentro de casa. As desconfianças recaem sobre a filha mais velha e tal e qual a semente da figueira sagrada que dá nome ao filme (e que é explicada logo no início), a desconfiança fomentada por um regime opressor será plantada naquele lar e crescerá estrangulando uma árvore que parecia sólida até que seja capaz de destruí-la por completo. O filme de Mohammad Rasoulof concorreu à Palma de Ouro do Festival de Cannes no ano passado e recebeu o Grande Prêmio do Júri (espécie de segundo lugar do Festival), além de outros quatro (o AFCAE Award, o Fipresci, do Júri Ecumênico e o François Chalais) pela força de sua história e da forma como é narrada. As primeiras duas horas de filme são magníficas e  constroem a tensão gradativamente com aquela capacidade de fazer um drama se tornar um thriller psicológico envolvente, que se torna ainda mais arrepiante com as gravações de vídeo reais que perpassam a realidade da família. Além disso, o roteiro aborda brilhantemente as tensões de um regime totalitário sempre mesclando o microuniverso da família para o macro que está ao redor dela. A forma como as notícias são ouvidas e espalhadas sem criticidade, como pessoas que eram amigas passam a ser rotuladas como inimigas para que as relações de poder permaneçam intactas são elementos fundamentais para que se existam momentos de tensão indescritíveis ao longo do filme e eu só imaginava como aquilo tudo iria terminar. Particularmente, a partir do momento em que a família resolve se afastar da cidade, considero que o filme perde parte de sua força, mas continua funcionando em suas simbologias. No entanto, aquela parte da família se procurando entre as ruínas se estende mais do que deveria e por mais que eu saiba que aquilo representa as pessoas perdidas em meio a dogmas ancestrais e limitadores, o último ato me soou mais cômico do que deveria. Indicado ao Oscar de Filme Internacional pela Alemanha (que ajudou a financiar o projeto já que o filme foi filmado clandestinamente e jamais seria indicado pelo Irã uma vaga na premiação), o filme acabou ofuscado pela pendenga entre o francês Emília Pérez e o brasileiro Ainda Estou Aqui, no entanto o longa se tornou um dos filmes de língua não inglesa mais falados de 2024 e merece ser assistido. Atualmente está em cartaz no TeleCine. 

A Semente do Fruto Sagrado (Ane-ye Anjir-e Aa'abed / França - Alemanha / 2024) de Mohammad Rasoulof com Soheila Golestani, Missagh Zareh, Setareh Maleki, Mahsa Hostami,  Niousha Akhshi e Reza Akhlaghirad. ☻☻☻

sexta-feira, 21 de março de 2025

NªTV: Adolescência

Owen e Stephen: uma bomba relógio aos 13 anos. 

 Se ano passado a Netflix acertou em cheio com a minissérie Bebê Rena (que recebeu vários prêmios recentemente), parece que o feito irá se repetir com a minissérie Adolescência ao longo de 2025. A produção britânica de quatro episódios foi para o topo dos programas mais assistidos ao redor do mundo assim que entrou em cartaz na gigante do streaming. Existem vários motivos para esta proeza, já que o programa conta com um elenco impecável (que inclui um jovem ator que é um verdadeiro achado) uma narrativa tensa e urgente que ousa construir um plano sequência durante cada episódio. O que poderia ser visto apenas como um virtuosismo dos produtores se torna fundamental para dar veracidade à trama e, especialmente, aos sentimentos dos personagens com suas vidas registradas no ritmo da vida real. A trama começa com a polícia chegando à uma casa para prender o filho de 13 anos daquela família. Ninguém entende ao certo o que está acontecendo, apenas vemos o desespero daquelas pessoas e o menino dizer que não fez nada. O menino em questão é Jamie Miller (o prodígio Owen Cooper) que é levado à delegacia tendo o pai como companhia. Eddie Miller (Stephen Graham) acredita na inocência do filho, mesmo sem fazer ideia do que ele está sendo acusado. Quando os dois são apresentados à uma fita de vídeo, torna-se difícil acreditar que o garoto não matou uma colega da escola. A partir daí, cada episódio irá aprofundar os personagens envolvidos naquela situação.O segundo capítulo é dedicado à ida dos investigadores à escola e para além das provas que buscam, o que encontram é uma agressividade (mal) camuflada nas relações de todos ali dentro e (obviamente) encontra nas redes sociais uma extensão das relações tóxicas vivenciadas naquele espaço (some isso à identidade em formação com a intensidade hormonal da adolescência e você tem um território bastante fértil para construção de verdadeiras bombas relógios). O episódio torna ainda mais interessante os caminhos da série ao ampliar o universo em torno daquele crime, mas nada se compara ao terceiro episódio em que Eddie trava um verdadeiro duelo com a psicóloga responsável por acompanhá-lo (outro ótimo trabalho de Erin Doherty), ali percebemos muito da instabilidade do personagem e, mais ainda, a forma agressiva e ressentida com que lida com as mulheres. O capítulo é de perder o fôlego e já serve como desfecho para a parte criminal da história. Só que a minissérie tem outros interesses e o episódio final serve para retratar  as repercussões em torno do caso perante a família do acusado e sua relação com a comunidade em que vivem. Algumas pessoas irão estranhar a opção de fazer um desfecho tão intimista da trama, mas a intenção do programa é fazer com que se perceba que o crime si está longe de ser um fato isolado - e a ideia de um julgamento com condenação daria a impressão que o problema se resolveu, não é essa a intenção aqui. Existe todo um contexto perigoso que é apresentado sem que os adultos responsáveis tenham noção do que está se construindo, seja pelos compromissos com o trabalho, o efeito do cansaço cotidiano ou simplesmente por ignorar ou vivenciar um processo de negação diante do que se vê, a impressão é que existe um grupo de pessoas se construindo à deriva e buscando referenciais sombrios para lidar com o mundo e as frustrações presentes nele. Adolescência termina sem dar respostas e nem deveria, se as tivesse o mundo já seria um lugar quase perfeito. 

Adolescência (Adolescence / Reino Unido - 2025) de Stephen Graham e Jack Thorne com Owen Cooper, Stephen Graham, Ashley Walters, Faye Marsay, Christine Tremarco, Amelie Pease, Erin Doherty e Kaine Davis. ☻☻☻  

CATÁLOGO: Encaixotando Helena

Sands e Fenn: thriller erótico ou suspense bizarro?

Não estava nos meus planos escrever sobre este clássico das locadoras dos anos 1990, mas como planejei fazer uma retrospectiva de David Lynch ao longo do ano, achei que seria de bom tom comentar o filme de estreia de sua herdeira, a cineasta Jennifer Lynch. Jennifer atualmente trabalha de forma recorrente dirigindo episódios de séries de TV (como American Horror Story, Ratched e Capote Vs The Swans) e demonstrava desde o início um gosto e estilo bastante peculiares para contar histórias (que logo disseram ser influência do pai). Seu primeiro longa metragem chamou atenção antes mesmo de estrear por conta da desistência da estrela Kim Basinger em protagonizar o filme, foi alegada uma quebra de contrato que gerou um processo milionário. Vale a pena lembrar que o filme foi concebido em meio aos anos 1990 e com todo o sucesso de Instinto Selvagem/1992 (que Kim também rejeitou o papel que acabou ficando com Sharon Stone), todo mundo estava atrás de um thriller erótico para chamar de seu (até Madonna cometeu Corpo em Evidência/1993 no mesmo ano deste aqui e teria interpretado Helena se não tivesse Evita nos planos). Foi o período em que o puritanismo de Hollywood cedeu espaço ao erotismo em nome de bilheterias robustas, mas ao invés disso, muitos fracassos se seguiram (incluindo o filme seguinte de Sharon Stone, Invasão de Privacidade também de 1993 - um ano agitadíssimo como se percebe). Eis que Jennifer Lynch, com todo o peso de seu sobrenome, consegue tirar do papel seu roteiro (escrito ao lado de Phellipe Calland) sobre uma paixão obsessiva que motiva ações bizarras. Quando o filme começou a ser exibido a crítica o massacrou (e houve até aquele famoso comentário de que os nove milhões que Kim precisou pagar para sair do filme valeu cada centavo). A maioria das críticas se deve à audácia da diretora estreante de 24 anos contar uma história tão abusiva com um verniz tão sensual. A trama conta a história de Nick (Julian Sands), um médico cirurgião obcecado por Helena (Sherilyn Fenn), uma mulher com  quem manteve um relacionamento no passado. Só que Helena seguiu em frente e já possui até outro namorado (Bill Paxton), mas Nick ainda deseja reconquistá-la. Quando ele percebe que não tem chances, ele a sequestra e a leva para sua mansão. Até aí a trama lembra outras centenas que já vimos, a diferença é que para ela não ir embora, ele começa a amputar seus membros. A estratégia chocante do personagem é apresentada em contraponto com toda a ambientação do filme repleta de jardins, cortinas, velas, trilha sonora e fotografia luxuriante. Toda a estética do filme remete aos filmes eróticos que tentavam parecer chiques no período. Além da direção de arte referencial, não faltam cenas picantes para endossar semelhanças com o gênero impróprio para menores. O longa deu o que falar nos meus tempos de escola (imaginem, eu tinha menos de quinze anos na época que o filme foi disponibilizado por aqui) e a mistura de filme de terror (qual outro gênero falaria de amputação tão desavergonhadamente?), suspense e erotismo aguçava a curiosidade. Vale dizer que a performance de Sherilyn Fenn que segura o filme. A atriz (que ganhou fama pela beleza e por seu trabalho na série Twin Peaks concebida pelo pai de Jennifer), tem um trabalho marcante com todas as limitações físicas que possui no filme (e os efeitos especiais feitos em seu corpo são desconfortáveis de tão impressionantes). Visto com o distanciamento permitido nos dias de hoje, Encaixotando Helena mantém seus deslizes, mas traz elementos interessantes se não percebermos sua trama como algo literal, mas como uma metáfora para um relacionamento abusivo em que a vítima se percebe impossibilitada de se afastar do abusador. A dinâmica entre Nick e Helena torna-se ainda mais incômoda por conta da dependência que ela passa a ter de um sujeito sádico desequilibrado que a percebe como propriedade de seu desejo. Falando em desejo, Jennifer ousa mais ainda ao expor não apenas a nudez de suas atrizes, mas de seus atores também, com direito até a nu frontal de Bill Paxton (algo raro para o período). É um tema bastante sério tratado com uma atmosfera sexual inusitada e Jennifer Lynch pagou um preço alto por isso, voltando a dirigir outro filme somente quinze anos depois (com o policial Sob Controle/2008 que foi exibido no Festival de Cannes). O mais curioso é perceber que a Helena se relaciona com problemas de saúde enfrentados pela própria cineasta, já que Jennifer nasceu com uma deficiência nos pés que a impossibilitava de engatinhar, quando bebê, ela se arrastava e quando cresceu precisou de uma barra de metal entre os tornozelos para conseguir se locomover. Ela passou por quatro cirurgias e usava sapatos ortopédicos até os doze anos. Se a situação parecia resolvida, ela piorou novamente quando foi atropelada aos 19 anos, o que comprometeu sua espinha dorsal e a fez passar por novas cirurgias. Foi neste período que ela escreveu Encaixotando Helena e o impregnou de seus temores mesclado à sexualidade ainda latente da adolescência. Pelo filme, Jennifer Lynch ganhou o Framboesa de Ouro de pior direção daquele ano, mas ainda hoje aparenta orgulho de sua obra de estreia. Foi tão ousado e corajoso quanto estranho. Muito estranho. 

Encaixotando Helena (Boxing Helena / EUA - 1993) de Jennifer Lynch com Sherilyn Fenn, Julian Sands, Bill Paxton, Kurtwood Smith, Art Garfunkel, Betsy Clark e Nicolette Scorsese.

KLÁSSIQO: Eraserhead

 Jack Nance: alter-ego de David Lynch em estreia perturbadora. 
 
Acho que é lugar comum falar da estranheza nos filmes de Davi Lynch. O diretor que nos deixou no início de 2025, sempre fez questão de construir em seus filmes um tom sinistro, quase sempre pesadelesco, que servia de verniz para personagens que viviam em suas vidas comuns, geralmente com uma estética que lembrava muito o cinema feito antes dos movimentos de contracultura (mais ou menos por ali entre os anos 1950 e início dos 1960). Lynch criava assim uma espécie de choque imagético, uma característica que fez do seu cinema algo único, diferente, inusitado, surreal e brilhante (tanto no sentido de genialidade quanto na capacidade de ter o brilho próprio de se renovar a cada nova visita e releitura de uma obra). Esta marca já está evidente em seu primeiro filme, Eraserhead, que foi um fiasco de público justamente por romper com o realismo tão presente no cinema dos EUA. Imagina que você está em 1977, a nova Hollywood estava latente com nomes feito Spielberg, de Palma, Coppola, Scorsese e no meio dos lançamentos do primeiro Star Wars, das danças de Os Embalos de Sábado a Noite, dos efeitos de Contatos Imediatos do Terceiro Grau e da graça (posteriormente oscarizada) de Noivo Neurótico e Noiva Nervosa você de deparasse com um filme em preto e branco, com um homem de topete gigantesco às voltas com uma série de personagens estranhos, incluindo, um filho que nasceu parecendo tudo, menos um bebê? Revisitei recentemente Eraserhead porque sempre tive receios de escrever sobre ele, já que, posso dizer que é o filme mais estranho de Lynch (mais do que Império dos Sonhos/2006 que fica em um honroso segundo lugar e, ironicamente, é seu último longa) e sempre deixa a sensação de que nunca serei capaz de entendê-lo completamente (mas também acho que a graça está justamente aí, já que David odiava explicar seus filmes e deixava que os espectadores divagassem sobre o que se via na tela). O longa revela-se cada vez mais sensorial ao mesmo tempo que afasta-se de ser apenas um filme experimental de um estudante de cinema. O filme conta a história de Henry (Jack Nance), um homem que vive em um pequeno apartamento em uma área industrial abandonada. Ele engravidou a namorada e por conta disso teve que casar e, agora, os dois precisam cuidar de um bebê que chora o tempo inteiro e tem uma aparência, digamos, diferente do que se esperava. A narrativa é conduzida por todo o desconforto do protagonista em uma realidade completamente onírica e surrealista, com personagens estranhos que movimentam um filme anticonvencional, mas que traz simbologias que nos fazem perceber a relação daquilo tudo com a fertilidade, a paternidade, o destino de um filho e relações familiares. Lynch já era apaixonado por artes plásticas quando realizou o filme (com o apoio da American Film Institute, instituição em que estudava) e isso explica muito das texturas que o filme experimenta diante da câmera. Com o tempo, todas as ressalvas feitas ao filme em sua estreia garantiram uma curiosidade ao redor da produção e uma aura de filme cult, sobretudo quando ao longo do tempo vimos a forma como Lynch pensa seu cinema e as sensações que pretende despertar na plateia. Algumas marcas de seu cinema (os personagens misteriosos, o chão xadrez, as cortinas, o palco do inconsciente...) já aparecem por aqui e quem conhece a vida particular do diretor, relaciona Henry e seu filho com a própria situação do diretor perante um problema de saúde vivenciado por sua primogênita logo após o nascimento. O peso da responsabilidade e da insegurança devido àquela situação parece ter sido a maior inspiração para todos os temores que atravessam a narrativa (ternamente) perturbadora do filme. 
 
Eraserhead (EUA - 1977) de David Lynch com Jack Nance, Charlotte Stewart, Allen Joseph, Jeanne Bates, Leurel Near e Jack Fisk ☻☻   

segunda-feira, 17 de março de 2025

PL►Y: Baby

João e Ricardo: relação tumultuada na noite paulistana.  

Ouso dizer que dois diretores prometem colocar de vez o cinema queer brasileiro no mapa das premiações. Um é o goiano Daniel Nolasco, responsável pelas tintas surrealistas que deram ares diferenciados para Vento Seco (), o outro é o mineiro Marcelo Caetano, que já havia chamado atenção com Corpo Elétrico (2017) e foi exibido no Festival de Cannes no ano passado com seu novo filme, Baby. O filme conta a história do jovem Wellington (João Pedro Mariano), que acaba de sair do Centro de Detenção de São Paulo após criar problemas em sua antiga escola. De volta à sua antiga rotina, o rapaz não sabe muito o que fazer perante a família que não o vê com bons olhos, além disso, sem emprego e sem grana, o rapaz corre o risco de dormir nas ruas. Resta os encontros com sua galera na cidade (e a câmera de Caetano capta muito bem essa energia urbana). Em uma noite, quando o grupo busca por alguma diversão, vão até um cinema pornô e lá o protagonista encontra Ronaldo (Ricardo Teodoro), que lhe oferece abrigo, mas também se tornará parceiro de trabalho. Este é o ponto de partida de uma relação que perpassa todo o filme, mas que caminha para além do desejo entre os dois, já que a dinâmica apresente cumplicidade e proteção, mas também envolve aspectos complicados como ciúme e exploração. Ainda que o filme não se esquive de apresentar cenas apimentadas da rotina dos personagens, Marcelo Caetano está mais contido na condução do que o filme teria de mais sexual, se em seu filme anterior já havia o interesse em abordar as emoções de seus personagens, aqui, ele consegue ser ainda mais profundo no relacionamento entre os personagens. João Pedro realiza um bom trabalho apresentando a vulnerabilidade do personagem perante um mundo que ainda mexe com suas feridas pessoais, enquanto Teodoro rouba a cena como um homem que se prostitui há tempos e parece bem resolvido com isso, no entanto, sua ligação com o jovem pupilo sempre é atravessada por questões que fogem do seu controle, especialmente quando o submundo ameaça o que resta de integridade nos dois. Pela sensibilidade (surpreendente) de sua interpretação, Ricardo Teodoro ganhou um prêmio de ator revelação em Cannes no ano passado. Embora muita gente vá ver o filme em busca de cenas tórridas, haverá uma grande surpresa em ver que a narrativa privilegia os sentimentos entre Wellington e Ronaldo em uma paisagem urbana que teima em acentuar  a solidão de seus habitantes. 

Baby (Brasil-2025) de Marcelo Caetano com João Pedro Mariano, Ricardo Teodoro, Ana Flavia Cavalcanti, Bruna Linzmeyer, Luiz Bertazzo, Marcelo Várzea, Patrick Coelho e Sylvia Prado. ☻☻

4EVER: Émilie Dequenne

29 de agosto de 1981 16 de março de 2025

Nascida em Beloeil na Bélgica, Émilie Dequenne começou a estudar atuação aos doze anos de idade e logo começou a participar de um grupo de teatro em sua cidade. Cinco anos depois ela se tornava protagonista de Rosetta (1999) da dupla Jean-Pierre e Luc Dardenne. O filme foi o ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes e também concedeu à jovem atriz o prêmio de melhor atriz pelo papel da adolescente que parte em busca de um trabalho que garanta um futuro melhor para ela e para a mãe. O reconhecimento lhe garantiu uma carreira sólida no cinema europeu, interpretando papeis em produções aclamadas como O Pacto dos Lobos/2002, Perder a Razão/2012 (que lhe rendeu outro prêmio de interpretação no Festival de Cannes) e o belíssimo Close/2022. A atriz foi indicada cinco vezes ao Prêmio César, sendo premiada em 2022 por seu trabalho em Amores Infiéis. Emílie faleceu em decorrência de um tipo raro de câncer na glândula suprarrenal.  

domingo, 16 de março de 2025

PL►Y: Nosferatu

Lily: performance respeitável.

Com A Bruxa (2015) e O Farol (2019) o diretor Robert Eggers se tornou um dos nomes mais prestigiados do terror atual. Sua obsessão em construir uma narrativa moderna que reverencia os clássicos do gênero sempre lhe rendeu elogios, mas depois que ele se aventurou pelo incompreendido O Homem do Norte (2022), saber que ele faria uma nova versão do clássico Nosferatu já era um deleite. A história em torno do original de 1922 dirigido por F. W. Murnau já rendeu até um filme, A Sombra do Vampiro/2000 que rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante para Willem Dafoe. A trama gira em torno de Ellen Hunter (Lily Rose Depp), que é perseguida por uma entidade diabólica desde a adolescência. O tempo passa, a moça se casa com um corretor imobiliário, Thomas (Nicholas Hoult), e tudo parece estar na mais completa paz... até que Thomas é enviado para um serviço em terras longínquas e percebemos que tudo é um plano da tal entidade vampiresca (desta vez encarnada por Bill Skarsgård) para ter Ellen novamente para si. Já é público e notório que a história é inspirada no clássico Drácula escrito por Bram Stoker (motivo pelo qual cópias originais do filme foram destruídas por conta de direitos autorais) e isso compromete um pouco a experiência, já que involuntariamente eu mesmo imaginava o encadeamento da história com referência no Drácula feito por Coppola em 1992. A sorte é que Eggers vai para um caminho oposto, nada operístico e mais  gótico sem pudor de criar belas imagens sombrias e flertar com o gótico o tempo todo. O diretor capricha mais uma vez em sua produção com a direção de arte, figurinos e uma fotografia que impressiona no trabalho meticuloso entre luzes e sombras. Vale dizer que o elenco está mais do que eficiente, mas o destaque vai mesmo para Lily-Rose Depp com um trabalho corporal arrepiante (o que esta menina faz aqui meus caros, honra definitivamente o fato de ser a filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis e espanta de vez aquela mal agouro da série The Idol/2023). Falando nisso, é em torno da personagem que o filme constrói a sua nuance mais interessante em torno do desejo feminino como algo ameaçador. Em diversas cenas, o novo Nosferatu escancara a alusão à insatisfação sexual e a presença do vampiro como a personificação deste desejo proibido (a ideia da mordida no pescoço nunca me pareceu tão erótica em um filme do gênero, basta conferir os encontros ou os momentos em que Ellen sente a presença do dentuço). O filme poderia ser um pouco mais enxuto, já que por vezes ele parece estar enrolado em si mesmo, mas visualmente o filme se torna um verdadeiro espetáculo do horror. Se a ideia de refazer um clássico já soa como um mal presságio para muita gente, Robert Eggers demonstrou que ele dá conta do recado com bastante desenvoltura. 

Nosferatu (EUA - 2024) de Robert Eggers com Lily-Rose Depp, Bill Skarsgård, Nicholas Hoult, Aaron Taulor-Johnson, Emma Corrin, Willem Dafoe, Ralph Ineson e Simon McBurney. ☻☻☻

PL►Y: The Here After

Ulrick: o preço do crime é a punição constante.

John (Ulrick Munther) acaba de retornar para casa do pai após cumprir pena na prisão. Após cumprir o período de punição pelo crime que cometeu, o rapaz tem esperança de recomeçar a vida do ponto em que foi interrompida, no entanto, não demora muito para que ele perceba que ninguém esqueceu o ocorrido, nem mesmo sua família e, mais do que isso: ninguém o perdoou. Desde o momento em que retorna para a escola, fica visível a rejeição da instituição e de seus antigos colegas. Observado sempre com desconfiança e ressentimento, o jovem sofre agressões, xingamentos e exclusões perante a comunidade que o cerca e o faz imaginar se realmente vale a pena persistir em seguir em frente e deixar de lado os impulsos agressivos que o fizeram ser preso. The Here After é o filme de estreia do diretor sueco Magnus Von Horn que recentemente lançou A Garota da Agulha (2024), indicado ao Oscar de filme internacional. Eu fiquei tão impressionado com seu último trabalho que desejei conhecer mais de sua cinematografia. Ao contrário de seu último trabalho, a estética de The Here After é bastante simples e tradicional, deixando que a fotografia em tons de azul, os silêncios e os poucos diálogos expressem a triste história que acompanhamos. É interessante a opção do diretor em não deixar claro ao longo da sessão qual foi o crime que o garoto cometeu, o que nos deixa ainda mais tensos diante do calvário de ofensas e rejeição que sofre ao retornar para casa. Não por acaso o diretor explora bastante a imagem inofensiva de Ulrick Munther como seu ator principal, para que aos poucos possamos vê-lo como uma bomba relógio sob pressão constante. Aqui, Horn também utiliza a ideia de um rosto desconfigurado para provocar nossa percepção acerca do que seria um monstro e o que podemos esperar dele, mas assim como em A Garota da Agulha esta monstruosidade parece mais o reflexo em que se vê o horror do mundo ao redor. The Here After pode não ser narrativamente tão impressionante como sua premiada última obra, mas demonstra o pulso firme de um diretor que gosta de provocar a plateia a elaborar julgamentos perante (tod)os os personagens que vemos na tela. Para John, sua namorada, seu pai, irmão caçula, a diretora da escola e colegas agressivos, todos estão ali para dizer ao protagonista o quão mal visto ele é, sem se dar conta de como também podem ser nocivos. O filme foi indicado ao Golden Camera (voltado a diretores estreantes) no Festival de Cannes e merece uma conferida antes que saia do catálogo da Mubi.

The Here After (Efterskalv / Suécia - Polônia - França / 2015) de Magnus von Horn com Ulrik Munther, Mats Blomgren, Ellen Jelinek, Loa Ek, Inger Nilsson, Wieslaw Komasa e Oliver Heilmann. ☻☻

Pódio: Karine Teles

Bronze: A patroa megera. 

3º Que Horas Ela Volta? (2015) Nascida em Petrópolis em 1978 a atriz se tornou um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro. Ao longo de sua carreira já coleciona vários prêmios e produções relevantes na telona como atriz, roteirista e cineasta. Karine ficou mais conhecida do grande público quando viveu a patroa antipática de Regina Casé neste filme de Ana Muylaert. Sua personagem funciona em perfeito contraste com a protagonista e Karine sabe como fazer a personagem exalar sensações que na maioria das vezes não podem ser ditas. Pelo trabalho foi indicada na categoria de atriz coadjuvante no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e passou a chamar mais atenção do público. 

Prata: a ex-esposa.
2º Pantanal (2022) Nada como uma novela para dar projeção nacional a um talento que já estava consolidado em outras mídias. No remake da novela de Benedito Ruy Barbosa feita pela Globo, Karine viveu Madeleine, a ex-esposa do fazendeiro José Leôncio, na fase madura da personagem. A atriz ofereceu novas nuances à personagem e retirou dela a pose de vilã, dando-lhe mais leveza e tridimensionalidade. A personagem fez sucesso de público e crítica, gerando muitas solicitações que que o destino de sua personagem fosse alterado na nova versão. Infelizmente não foi o que aconteceu e a personagem morreu no meio da trama. Karine apresentou aqui um visual bastante diferente de seus outros trabalhos.  

Ouro: A mãe zelosa.
1º Benzinho (2018) Eleita melhor atriz no Festival de Gramado e no Grande Prêmio Cinema Brasil por seu trabalho neste filme, Karine despedaça o coração da plateia como a mãe e dona de casa que está prestes a ver seu filho adolescente partir para viver em outro país. Cheio de camadas e entrelinhas, o longa se consolidou como um dos melhores filmes brasileiros da década passada (e se tornou um dos meus favoritos). A atriz interpreta a personagem com uma verdade e doçura que poucas atrizes seriam capazes de conseguir. Pelo excelente trabalho, a atriz se consolidou como uma das melhores de sua geração e também recebeu prêmios por sua co-autoria no roteiro ao lado do diretor Gustavo Pizzi.

PL►Y: A Vilã das Nove

Karine e Laura:  minha vida daria uma novela.

Em um episódio da sexta temporada da série Black Mirror, uma mulher  tem sua vida virada de cabeça para baixo quando percebe que um programa de televisão a tem como personagem principal. A ideia (genial) serve para desdobramentos que envolvem questões que vão para além das questões entre o público e a privacidade, enveredando por discussões sobre inteligência artificial que se assemelham bastante às preocupações que provocaram a greve dos atores em Hollywood em 2023 (o mesmo ano em que foi ao ar o tal episódio). Um ano depois chegou aos cinemas brasileiros a comédia dramática A Vilã das Nove de Teodoro Poppovic, que tem um ponto de partida muito parecido com o visto na cultuada série da Netflix. No entanto, ao que parece, a ideia do filme brasileiro surgiu primeiro, mas com a morosidade para conseguir financiar o longa ele chegou às luz do público somente agora. O filme conta a história de Roberta (Karine Teles), uma professora de canto que se separou recentemente e vive com a filha, Nara (Laura Almeida) em um pacato apartamento. Nas cenas iniciais já vemos sugestões de que a vida tranquila da personagem pode esconder um segredo, já que o ex-marido, Cassio (Negro Leo) indaga sobre o passado da personagem e no início ela é confundida com uma tal de Eugênia enquanto passeia com a filha (gerando uma reação mais aguerrida do que se espera). O motivo para tanto mistério pode estar em uma novela de sucesso ancorada em seus segredos do passado. Motivada a saber o que está por trás disso, ela acaba se envolvendo com a atriz principal (Camila Márdila) e reencontrando pessoas importantes que deixou para trás. O ponto de partida do roteiro é interessantíssimo e segue por caminhos totalmente diferentes do tal episódio da série... se por um lado a trama segue um caminho mais novelesco, por outro, o filme perde a chance de fazer suspense sobre o que está acontecendo em torno de Roberta, afinal já deixa explicado desde o início o que pode estar havendo quando a personagem de Alice Wegman surge em cena. O fato do filme também curtir uma repetição "diferente" de cenas (momentos do passado de Roberta e depois a cena da novela que os reproduz, a discussão do início do filme e o linchamento da atriz da novela) também deixa o filme um tantinho previsível pelos caminhos que percorre. Achei interessante o filme estabelecer uma atração entre Roberta e a atriz que a interpreta na novela, mas o desenvolvimento da relação entre as duas é abandonado no meio do caminho como muitas outras possibilidades do roteiro que aos poucos perde o frescor e a esperteza. A sorte é que Karine Teles é uma ótima atriz e segura a complexidade de sua personagem com grande desenvoltura do início ao fim. A Vilã das Nove pareça mais novela do que cinema. Vale pela curiosidade. 

A Vilã das Nove (Brasil/2024) de Teodoro Poppovic com Karine Teles, Alice Wegman, Camila Márdila, Laura Pessoa, Antônio Pitanga, Negro Leo, Rodrigo García, Murilo Sampaio e Otto Junior. 

PL►Y: Robô Selvagem

Roz e seu filho: a doce maternidade robótica.

 O ano de 2024 foi ótimo para as animações, reflexo disso foram as indicações ao Oscar da categoria que conseguiu mesclar produções de apelo comercial impressionante (basta lembrar do fenômeno Divertida Mente2), com outras menos conhecidas que ganharam maior projeção com a indicação (Flow e Memórias de Um Caracol) - além disso, outros trabalhos interessantes acabaram ficando de fora do páreo este ano (como o elogiado Look Back). Robô Selvagem se encaixa no primeiro grupo, arrecadou uma fortuna nas bilheterias mundiais, agradou a crítica e chegou forte na categoria de melhor animação no Oscar, sendo apontado várias vezes como o favorito (e o fato de ter sido lembrado nas categorias de melhor som e trilha sonora colaboraram ainda mais para o aumento dessa expectativa). O filme conta a história de um robô inteligente chamado Roz (voz original de Lupita Nyong'o) que devido a um acidente vai parar em uma ilha desabitada. Ele se depara com um mundo totalmente diferente do qual foi projetado, sendo recebido com hostilidade pelos bichos que habitam o lugar e enfrenta desafios para lidar com o meio ambiente local. A solidão do personagem é atenuada pela companhia da esperta raposa Fink (Pedro Pascal) e a chegada de um bebê ganso que ficara sob seus cuidados até que o pequeno saiba cuidar de si mesmo... pena que apesar da relação afetiva que existe entre o robô e o bebê, alguns preconceitos entre os habitantes locais e a máquina podem comprometer a alegria de ambos. Já vimos diversas vezes filmes que robôs são capazes de ter sentimentos e aqui não é diferente. Cheio de boas intenções e lições calorosas, Robô Selvagem se desenvolve amparado por um visual belíssimo (muito da estética é inspirada na construção de cenários e uso de cores dos estúdios Ghibli) e uma trilha sonora adocicada, que ajuda ainda mais ao filme se tornar emocionante com seu apelo e analogias à maternidade (além de abordar um pouco como a I.A. pode ser ameaçadora também). Tudo isso torna o filme tão bonito quanto fofo, porém, apesar da estética e do ritmo fluente, tive a estranha sensação de já ter visto a mesma história diversas vezes. Esta falta de novidade em sua essência pode ter sido decisivo na hora dos votantes escolherem Flow como a melhor animação no Oscar deste ano.  

Robô Selvagem (Wild Robot / EUA - Japão / 2024) de Chris Sanders com vozes de Lupita Nyong'o, Pedro Pascal, Kit Connor, Bill Nighy, Matt Berry, Ving Rhames, Mark Hamill e Catherine O'Hara. ☻☻

sábado, 15 de março de 2025

PL►Y: O Reformatório Nickel

Ethan e Brandon: amizade em meio as atrocidades.

 Ninguém adapta um livro premiado com o Pullitzer sem ter grandes ambições. Depois de ser indicado ao Oscar de melhor documentário por seu trabalho em Hale County This Morning, This Evening (2018), o cineasta Ramell Ross escolheu premiado O Reformatório Nickel de Colson Whitehead para ser seu primeiro longa-metragem com atores. Whitehead recebeu o segundo prêmio Pullitzer de ficção de sua carreira com este livro (o primeiro foi por A Estrada Subterrânea/2016 que virou uma ótima minissérie no Prime Video) e provoca arrepios ao se basear em uma história real devastadora. O filme conta a história de dois adolescentes que se conhecem na instituição do título. Elwood (Ethan Herisse) era um jovem promissor que estava prestes a cursar faculdade quando acontece a infelicidade de pegar carona com a pessoa errada e é enviado ao reformatório. Lá ele conhece Turner (Brandon Wilson), que já conhece bastante a rotina daquele lugar e servirá não apenas de companhia ao novato, mas também de guia de sobrevivência por ali. Não demora para o espectador perceber a diferença no tratamento que era dado aos jovens brancos e aos jovens negros (e um jovem mexicano não se encaixa nem em um grupo nem no outro, vivendo numa espécie de limbo no trato recebido pelos funcionários). Ambientado no período de luta pelos direitos civis, a imagem de Martin Luther King surge como uma esperança para os protagonistas que precisam lidar com injustiças, discriminações e agressões físicas. No entanto, Ramell Ross opta por um caminho diferente da violência nua e crua ou estilizada, optando por cenas sugestivas para tornar a narrativa mais suportável. Falando em narrativa, o grande diferencial do filme é a opção do diretor por uma câmera em primeira pessoa, o que serve  para o espectador conhecer aquela história pelos olhos dos protagonistas. De início a ideia funciona, mas depois causa estranhamento pela sensação de estarmos diante de cenas soltas, até o ponto em que o filme consegue ajustar sua narrativa de forma mais imersiva. Existem momentos comoventes, outros arrepiantes e mas a sensação de indignação ao longo de toda a narrativa é a que mais se faz presente. Por conta da forma de conduzir a narrativa de forma diferentona, o diretor Ramell Ross chegou a ser comparado com Terrence Mallick (de A Árvore da Vida/2011). Porém, apesar de toda a verve do diretor, considero que o grande destaque o filme é o poder da dupla Ethan Herisse e Brandon Wilson, dois jovens atores que estão ótimos em cena e logo conquistam a plateia com seus personagens. Apesar de toda a trapalhada da Amazon com o lançamento do filme, ele foi lembrado em duas categorias importantes do Oscar (melhor filme e melhor roteiro adaptado), o que comprova a força da história apesar de toda a lambança feita pela distribuidora (basta lembrar que aqui no Brasil ele foi lançado na véspera do Oscar no catálogo do Prime Video). A trama é inspirada na história da Escola para Meninos Arthur G. Dozier, na Flórida. A instituição ficou famosa por ser o maior reformatório dos Estados Unidos e funcionou de 1900 até 2011, só que após o seu fechamento foi encontrado um cemitério clandestino em seu terreno e as atrocidades cometidas por ali vieram à tona. Uma história assustadora que merece ser dita e nunca esquecida. 

O Reformatório Nickel (Nickel Boys / EUA  - 2025) de Ramell Ross com Ethan Herisse, Brandon Wilson, Aunjanue Ellis-Taylor, Ethan Cole Sharp, Sam Malone, Najah Bradley e Hamish Linklater. ☻☻

PL►Y: Sebastian

Ruaridh e um date: personagem como disfarce para os desejos.  

Embora pareça mais jovem, Max Williamson (Ruaridh Mollica) é um jovem escritor de 25 anos que que vive em Londres e trabalha para uma revista online para pagar as contas. Enquanto o sucesso não vem ele atua como freelancer e atualmente está bastante animado com a possibilidade de entrevistar seu ídolo Bret Easton Ellis. Max está escrevendo uma obra que chama atenção dos editores ao seu redor, uma trama sobre um jovem trabalhador sexual e seus encontros com vários parceiros que o contrata. O que ninguém imagina é que para dar maior veracidade à história, Max vive todas aqueles experiências com o pseudônimo de Sebastian. Este é segundo filme do diretor e roteirista finlandês Mikko  Mäkela, que anteriormente lançou outro filme com temática queer (Amor Entre os Juncos/2017), apresenta aqui uma narrativa mais complexa do que a vista em seu filme anterior. Se antes ele explorava os preconceitos em torno de um relacionamento homoafetivo com um verniz sobre imigração, aqui, ele trabalha em torno de um personagem que precisa utilizar "um disfarce" para vivenciar suas fantasias e o conflito que se instaura quando encontra um romance em seu caminho (e a forma como isso altera a percepção de si e dos outros sobre seu livro). Embora o filme tenha várias cenas sexuais, Mäkela nunca perde de vista a história que quer contar, sobretudo sobre o protagonista que se esconde por trás de uma persona, mas que se perca nela mesma. É digna de aplausos a performance do italiano Ruaridh Mollica para dar conta das emoções de um personagem complicado, assim como seus parceiros de cena (geralmente muito mais velhos) que surgem ainda mais expostos fisicamente diante da câmera. Conforme a trama avança, as vidas do protagonista se misturam e saem do controle que apenas ele julgava ter. Assim,  o que era drama ganha ares de um suspense psicológico (e eu adoro quando isso acontece). Embora tenha elementos polêmicos em sua construção, Sebastian possui uma rigidez narrativa que nunca o deixa cair na apelação barata. Achei muito interessante a forma como o protagonista constrói sua relação com os homens que cruzam o seu caminho e como a cada encontro revela um pouco de si mesmo, sobretudo com Nicholas (Jonathan Hyde), que se torna um porto seguro para repensar algumas. Embora seja uma produção que será abraçada pelo público LGBTQIAPN+, o longa (em cartaz na Reserva Imovision) pode instigar outros públicos que se aventurarem pelos dilemas que o filme apresenta.

Sebastian (Reino Unido / Finlândia / Bélgica - 2024) de Mikko Mäkelä com Ruaridh Mollica, Hiftu Quasem, Jonathan Hyde, Ingvar Sigurdsson, Pedro Minas, Dylan Brady, Laurent Maria, Hiftu Quasem, Jonathan Hyde e Matthias Moret. ☻☻☻

PL►Y: O Aprendiz

Strong e Sebastian: indicados ao Oscar em filme polêmico. 

 Sebastian Stan pode dizer que 2024 foi o ano de ouro de sua carreira. Premiado no Festival de Veneza por sua interpretação em Um Homem Diferente, o mesmo filme lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor interpretação masculina em comédia ou musical. Reconhecido pelo trabalho em outras premiações independentes, Stan cogitava ser lembrado no Oscar pelo trabalho! Quando saíram as indicações ao maior prêmio de Hollywood, ele de fato estava lá, mas por outro trabalho o do jovem Donald Trump em O Aprendiz. O filme de Ali Abassi teve problemas de distribuição em solo americano e em outros países por conta de sua temática sobre a relação entre o jovem herdeiro do mercado imobiliário e o advogado e mediador político Roy Cohn (vivido aqui com grande estranheza por Jeremy Strong, que foi lembrado na categoria de ator coadjuvante) durante os anos 1970 e 1980. Obviamente que perante a recente eleição dos Estados Unidos, o filme poderia receber grande projeção (ou rejeição), além de uma promoção gratuita com todos os xingamentos que Trump e seus seguidores destinaram ao filme. Mais interessante do que ficar discutindo o que é verdade ou mentira nas situações apresentadas na produção é perceber no roteiro do estreante Gabe Sherman os sinais de como Trump se tornou dono de um império e mais tarde se tornou um nome presidenciável em seu país. A proximidade entre Cohn e Trump começa quase que por acaso e ganha contornos para além dos negócios, afinal, foi Cohn que influenciou o acordo nupcial de seu famoso casamento com Ivana Trump (vivida por Maria Bakalova). Strong representa Cohn de forma repulsiva, com todos os preconceitos e discursos que infelizmente ouvimos sair de figuras influentes da política atual como se fossem trivialidade. Fica perceptível como a proximidade entre os dois ajudou a moldar o discurso de Trump e, mais do que isso, fazer com que ele percebesse que existiam intenções e discursos políticos que não poderiam ser ditos claramente, mas que era capaz de agregar seguidores em sua jornada rumo a postos de poder. Abassi opta por uma narrativa quase documental, como se estivesse espionando o que se passa naqueles encontros e situações com uma câmera na mão e fotografia datada. O tom segue discreto, mas por vezes soa como um grande deboche no humor que brota de cenas desconfortáveis. Os pares devem ter apreciado a coragem de Sebastian Stan para encarnar um personagem real tão conhecido explorando justamente as suas nuances menos lisonjeiras e, em alguns momentos, eu realmente não parecia ver o ator de Soldado Invernal em cena, mas uma versão jovem do sujeito em questão. Quem também merecia algum reconhecimento na temporada de prêmios era Maria Bakalova, que está ótima como a esposa que funciona como contraponto do universo ao seu redor (e que sofre as consequências por conta disso).  Em alguns momentos eu parecia ver um versão às avessas do filme anterior do diretor, O Tigre Branco (2021) que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de roteiro adaptado. Embora seja menos esperto que sua obra lançada pela Netflix, O Aprendiz está totalmente imerso em polêmica, o que pode ofuscar seus méritos como cinema. 

O Aprendiz (The Apprentice / EUA - 2024) de Ali Abassi com Sebastian Stan, Jeremy Stron, Maria Bakalora, Martin Donovan, Charlie Carrick, Mark Rendall e Joe Pingue ☻☻☻

Na Tela: Mickey17

Mickey 17 e 18: Pattinson excelente (de novo).

Depois de uma pausa necessária perante a ressaca pós-Oscar carvalesco, finalmente retomo as atividades aqui no Blog. Para tanto, vou evitar neste primeiro momento comentar filmes indicados ao maior prêmio cinematográfico de Hollywood e falar de um filme que entrou fácil entre os filmes mais aguardados de 2025. Mikey 17 deve ser o primeiro grande lançamento do ano, assinado por Bong Joon Ho (diretor da obra-prima Parasita/2019 que se tornou a primeira produção em língua não inglesa a levar o Oscar de melhor filme para casa). No entanto, mesmo com todos os prêmios de seu filme anterior, Joon Ho teve problemas com a Warner quando resolveu finalizar seu novo filme. Dizem que a briga pelo corte final gerou grande tensão entre o cineasta e o estúdio, até que ele conseguisse manter o final que desejava para sua adaptação da obra de ficção científica de Edward Ashton lançada em 2022. Como dá perceber pelo tempo que separa o livro de sua versão cinematográfica, o diretor caiu de amores pela história assim que ele foi lançado e percebeu ali mais uma oportunidade de falar sobre o que mais lhe aflige: as diferenças sociais. No entanto, seria covardia exigir de qualquer filme o resultado que vimos em Parasita e Mickey 17 pode até não alcançar todas as notas que almeja, mas se torna um filme interessante e que prende a atenção, mesmo quando se perde em todos os temas que pretende abordar (e alguns são apenas arranhados na superfície). O filme conta a história de Mickey Barnes (Robert Pattinson), um jovem solitário que por conta de um amigo (Steve Yeun) contrai uma grande dívida, que poderia ser paga somente com sua própria vida. No entanto, ele se inscreve para um programa de exploração de um planeta distante bancado por um bilionário megalomaníaco. Como Mickey não percebe em si predicado algum, ele se candidata ao posto de Descartável, sem ao menos saber o que é isso. Isso significa que seu papel na exploração é colocar a vida em risco e morrer sempre que necessário. Sempre que morre, seu corpo é refeito em uma impressora 3D que recicla todo tipo de coisa (restos de comida, detritos, corpos mortos...) e ele volta a vida em uma nova versão. A ideia mais bem sacada é que cada versão carrega as memórias de Mickey, mas tem personalidade própria. Eis que um dia, o Mickey do título fracassa em uma missão e é dado como morto, o que gera uma nova versão e... vale destacar que Robert Pattinson está ótimo em cena, seja como o ingênuo e aterrorizado 17 ou como o instável 18 e os dois (?!) funcionam ainda melhor quando estão ao lado da namorada, Nasha (Naomie Ackie). Joon Ho (que já tem experiência em ficções científicas com os ótimos O Expresso do Amanhã/2014 e Okja/2017) ambienta toda a história em uma estética precisa e envolve o espectador, mesmo quando os personagens mais caricatos começam a irritar (e eles foram feitos para isso). Os caricatos ficam por conta de Mark Rufallo que vive o bilionário cultuado Kenneth Marshall e Toni Collette, que vive sua esposa obcecada por molhos. Os dois são fúteis, irritantes e empatam nos delírios de grandeza que inclui até o extermínio da espécie nativa do planeta que resolveram invadir. No entanto, embora Rufallo repita aqui os exageros vistos em Pobres Criaturas/2023, Joon Ho sabe exatamente para onde aponta ao criar personagens tão insuportáveis. O viés político da trama não apresenta disfarce algum com suas referências à eugenia, genocídio e outros delírios coletivos que assolam o mundo atualmente, mas se você perceber aqui somente uma trama sobre somo a vida se tornou descartável nos jogos de poder, o filme já valerá a pena. 

Mickey 17 (EUA-Coreia do Sul / 2025) de Bong Joon Ho com Robert Pattinson, Naomie Ackie, MArk Rufallo, Toni Collette, Steven Yeun, Patsy Ferran, Holly Grainger e Angus Imrie. ☻☻☻☻

segunda-feira, 3 de março de 2025

Ganhadores do Oscar 2025

Adrien, Mikey, Zoe e Kieran: elenco premiado. 

Ontem o cinema brasileiro fez história ao receber seu primeiro Oscar de Filme Internacional! Ainda Estou Aqui foi o quarto filme brasileiro indicado na categoria. O longa dirigido por Walter Salles deu uma verdadeira lição sobre promoção de um filme que pretende alcançar o reconhecimento na maior premiação de Hollywood, afinal, não basta ser bom, uma produção precisa ser divulgada para conquistar votos e, obviamente, para isso precisa de investimento dos distribuidores e tempo para campanha. O prêmio de melhor atriz não veio, gerando uma das grandes surpresas da noite, afinal, cogitava-se que Demi Moore (A Substância) era a favorita ao prêmio.  A disputa estava tão acirrada que foi a penúltima categoria anunciada só para manter o suspense. Outro momento emocionante da premiação foi o representante da Letônia (primeira indicação ao Oscar do país) levar a estatueta de melhor animação. Flow merecia! Sem grandes surpresas, a cerimônia confirmou o favoritismo crescente de Anora nas últimas semanas, o que tornou o longa o mais premiado da noite com cinco prêmios. Também não posso deixar de mencionar que Conan O'Brien entrou para o grupo de piores apresentadores do Oscar, com piadas sem graça (foi difícil acertar uma durante a premiação). A seguir todos os premiados da noite (com sinalizando meus acertos e o placar geral ao final) :

Melhor Filme
    'Anora' 

    Direção
    Sean Baker - 'Anora'

 Ator
    Adrien Brody - 'O Brutalista'
  
Atriz
    Mikey Madison - 'Anora'

   Ator Coadjuvante
        Kieran Culkin - 'A Verdadeira Dor' 

   Atriz Coadjuvante
     Zoe Saldaña - 'Emilia Pérez'

      Roteiro Adaptado
       'Conclave'
   
    Roteiro Original
   'Anora'

      Filme Internacional
        “Ainda estou aqui" 

   Animação
    'Flow'

      Figurino
       'Wicked'

    Maquiagem e cabelo
      'A Substância'

    Trilha Sonora
    'O Brutalista'
  
   Curta-metragem com atores
      'I am not robot'

    Curta-metragem Animado
     'In The Shadow of the Cypress'
 
    Canção original
    'El Mal' - 'Emilia Pérez'
  
    Documentário
       'No other land'
 
      Documentário de curta-metragem
    'The Only Girl in the Orchestra'

    Direção de Arte
      'Wicked'

    Montagem
     'Anora'
 
   Som
    Duna: Parte 2

    Efeitos Visuais
      Duna: Parte 2

  Fotografia
    'O Brutalista' 

Total de acertos:  
14 acertos em 23 categorias! Um vexame! Ano que vem preciso melhorar...
 
Placar dos premiados:
Anora: 05
O Brutalista: 03
 Wicked: 02
Duna - Parte 2: 02
 Emília Pérez: 02
Ainda Estou Aqui: 01 
A Verdadeira Dor: 01
Conclave: 01
A Substância: 01 
Flow: 01