Cinco filmes assistidos durante o mês que merecem destaque:
domingo, 31 de janeiro de 2021
§8^) Fac Simile: Nicolas Cage
Nicolas Kim Coppola |
§8^) Público e crítica costumam dizer que você tem feito muita coisa ruim nos últimos anos, isso não te incomoda?
Nicolas De forma alguma. Sei que muita gente faz filmes para ganhar prêmios, eu já passei desta fase. Faço filmes para pagar as minhas contas, que são muitas... se no meio tem alguma coisa legal que pode me trazer algum reconhecimento eu fico feliz. Às vezes é um desafio mesmo, pegar um roteiro mais ou menos e ter a chance de fazer parecer legal. Eu curto este tipo de coisa.
§8^) Você é um dos rostos mais conhecidos de Hollywood e faz parte da família Coppola, como é conviver com isso?
Nicolas Ser sobrinho do Francis (Ford Coppola), primo da Sofia, do Roman é tranquilo. Cuidar de um dos rostos mais conhecidos é bem mais complicado. Conforme o tempo passa você se olha no espelho e imagina "Meu Deus, onde isso vai parar?". Você tenta fazer algumas coisas para driblar o tempo, mas chega uma hora que é inútil e acaba ficando muito estranho...
§8^) E manter o peso é complicado?
Nicolas Nem me fale. Eu vejo minhas fotos antigas e imagino como ele era lindo. Físico de atleta... as pessoas olham pra mim hoje e dizem quem foi que me iludiu que eu era um símbolo sexual. Só olhar meus filmes da década de 1990... o público me amava! Hoje olho para minha aparência quando fiz Adaptação e fico realmente assustado... era quase premonitório, mas sei que algumas pessoas ainda tem uma espécie de fetiche por mim. Não ria, é verdade...
§8^) Desde 2017 você tem mantido uma rotina de lançar seis filmes por ano. Com a pandemia, você teve que mudar esta rotina impressionante, mas já está envolvido em seis projetos para este ano, não pensa em gastar sua imagem com tudo isso?
Nicolas Nada. O trabalho não gasta a minha imagem, o que gasta é o tempo. Acabei de completar 57 anos no último dia 7. Tenho que aproveitar e conseguir juntar o máximo dinheiro que puder enquanto tenho energia. Depois vou voltar a fazer filmes sérios, sem correria, perseguições, acidentes, lutas, tiros... serão filmes de arte e com pouca bilheteria. Serei indicado a prêmios e devo até ganhar alguns. Vão dizer que dei a volta por cima e blablabla... Por enquanto vou continuar trabalhando feito um doido e fazer meu pé de meia. Sei que no fim das contas ainda tenho fãs fiéis perdidos que me levam a sério por aí em algum lugar.
§8^) Você está no novo programa da Netflix sobre A História do Palavrão. Como a proposta chegou até você?
Nicolas É engraçado você falar isso, mas acho o programa a minha cara. Não que eu fale muito palavrão ou tenha cada de #@&%$, mas eles queriam algum rosto conhecido que pudesse exalar algo sério e cômico ao mesmo tempo. Quem mais seria capaz de uma §@!#*ª destas? Aí deixei a barba crescer, passei uma camada de tinta e ficou perfeito. Não é o tipo de programa recomendado para a família, mas eu nem ligo... e a grana foi boa também. Só acho que as pessoas que não entendem inglês vão perder muito da graça do programa, legendado ou dublado não é a mesma coisa. Os palavrões são expressões muito particulares de cada cultura é quase uma identidade local. Imagino que vocês brasileiros tem xingado muito ultimamente...
PL►Y: Cães Selvagens
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
4EVER: Cicely Tyson
A artista nasceu na cidade de Nova York e primeiro se tornou conhecida como modelo antes de se tornar atriz na década de 1950. Ao começar a atuar, fez uma promessa a si mesma de somente encarnar personagens fortes, o que se tornou sua marca registrada em uma carreira que por diversas vezes retratou questões raciais e de gênero diante das câmeras. Tyson foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por seu comovente trabalho no filme Lágrimas de Esperança (1972), mas recebeu sua estatueta somente em 2019 com o prêmio honorário da academia pelo conjunto de sua carreira. Ela também foi indicada 14 vezes ao Emmy, recebendo três vezes o prêmio, duas delas por A História de Jane Pittman (1974), sendo sua última indicação foi ano passado pelo trabalho na série How to Get Away with Murder. Ela também recebeu um Tony por seu trabalho na peça Viagem para Bointiful (2013). Desafiando estigmas e preconceitos, Cicely se tornou uma inspiração para muitas atrizes ao redor do mundo. A atriz faleceu por causas não reveladas aos 96 anos.
terça-feira, 26 de janeiro de 2021
INDICADOS INDEPENDENT SPIRIT AWARDS 2021
Uma das premiações que mais simpatizo é o Film Independent Spirit Awards e costumo penar procurando a transmissão desta celebração do cinema independente americano... Se a grande maioria dos indicados deste ano complicado não foi surpreendente, a organização resolveu criar algumas novidades. A primeira delas é incluir categorias televisivas, que respeita os critérios de orçamento mas que leva em consideração muito mais uma questão de estética e linguagem. Outra novidade é que a premiação costumava acontecer no sábado antes do Oscar e este ano preferiram escolher uma quinta-feira para realização. A seguir todos os indicados, lembrando que alguns devem aparecer bastante ao longo da temporada (e não é que Bacurau cravou uma vaga!):
CINEMA
domingo, 24 de janeiro de 2021
PL►Y: O Tigre Branco
sábado, 23 de janeiro de 2021
4EVER: Larry King
Pódio: Jamie Bell
Bronze: o jovem ator |
Prata: O supremacista arrependido |
Ouro: o menino bailarino |
sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
PL►Y: Skin
Jamie Bell estreou no cinema como o irresistível Billy Elliot (2000), o menino filho de carvoeiros que queria ser bailarino, pelo papel, Jamie recebeu aos quatorze anos o BAFTA de melhor ator. Desde então ele não parou mais de trabalhar e construiu um currículo bastante diverso, que inclui blockbusters (King Kong/2005), polêmicas (Ninfomaníaca: Volume 2/2013), filme de super-herói (Quarteto Fantástico/2015), romances (Jane Eyre/2011), dramas (Estrelas de Cinema Nunca Morrem/2017) e musical (Rocketman/2019), no entanto, me arrisco a dizer que viver o neonazista deste Skin deve ter sido um enorme desafio. Primeiro por conta dos lugares obscuros que precisou explorar para dar vida ao personagem e segundo por conta de sua caracterização física que é por si só bastante agressiva. Skin conta a história real de Bryon Widner, jovem que faz parte de um grupo de supremacistas brancos que ganha força no interior dos Estados Unidos. Bryon tem o corpo coberto por tatuagens com significados racistas, tem grande proximidade dos líderes do grupo (vividos por Bill Camp e Vera Farmiga) que o consideram um filho, além de participar do aliciamento de novos integrantes (geralmente jovens brancos em situação de vulnerabilidade social). Por seu envolvimento com crimes de ódio, Bryon torna-se procurado pelo FBI e sua situação só tende a piorar, pelo menos até ele conhecer Julie Price (a sempre competente Danielle MacDonald), ex-integrante do grupo que já passou por maus bocados com suas quatro filhas. Bryon se aproxima dela depois de envolver-se em mais um ato execrável com seus parceiros e começa a ser perseguido por um homem (Mike Colter) que acredita que ele pode mudar de verdade. A vida de Bryon foi retratada em um documentário e aqui ganha tratamento de drama independente que não foge muito dos padrões, todo mundo já sabe que Widner enfrentará problemas quando seu contato com a polícia começar a ser recorrente e o grupo desconfiar que ele possa falar mais do que é permitido. Afastar-se do grupo também é visto com maus olhos, mas se ele planeja ter sossego e mudar de vida junto à família que escolheu terá que assumir este risco. O diretor Guy Nattiv consegue construir uma atmosfera tensa durante o filme, exalando uma certa tristeza com a fotografia esverdeada e as paisagens que aparecem na tela. A trama é intercalada com as cenas de seu protagonista retirando as 53 tatuagens (14 no rosto e 39 pelo resto do corpo) como um marco de sua transformação pessoal, mas se o filme não traz novidades sobre o tema, ao menos consegue construir uma narrativa contundente sobre este tipo de personagem com a mesma desenvoltura de A Outra História Americana (1999), que se tornou um marco no gênero. Com o bom trabalho de seus atores, Skin pode ser chocante para os estômagos mais sensíveis, mas é extremamente necessário para conhecer um pouco mais sobre estes grupos que crescem assustadoramente no século XXI.
Skin (EUA-2020) de Guy Nattiv com Jamie Bell, Danielle MacDonald, Bill Camp, Vera Farmiga, Mary Stuart Masterson, Mike Coulter e Russell Posner. ☻☻☻☻
quinta-feira, 21 de janeiro de 2021
PL►Y: One Night in Miami
Nos últimos tempos Regina King se tornou um dos nomes mais influentes do entretenimento nos Estados Unidos, portanto fica ainda mais interessante a escolha do projeto para sua estreia como cineasta. One Night in Miami coleciona elogios desde que estreou no Festival de Veneza no ano passado. O filme é baseado na peça de Kemp Powers (que também assina esta adaptação) e parte de um encontro imaginário que faria história na época da luta pelos direitos civis nos EUA. O texto cria uma reunião entre o boxeador Cassius Clay (Eli Goree) antes de se tornar Muhammad Ali, o jogador de futebol americano Jim Brown (Aldis Hodge), o pioneiro da soul music Sam Cooke (Leslie Odom Jr) e o líder militante Malcolm X (Kingsley Ben-Adir) na noite do dia 25 de fevereiro de 1964 num quarto de hotel. Cassius acabava de se consagrar campeão de boxe e estava prestes a assumir sua conversão ao islamismo. Após aquela vitória histórica, ele e Malcolm se dirigem para o encontro com os amigos Sam e Jim, os dois também estão prestes a tomar decisões importantes para suas carreiras e a conversa com Malcolm pode afetar os rumos de suas vidas para sempre. Malcolm quer leva-los a pensar como eles podem utilizar sua influência na busca por igualdade racial na Terra do Tio Sam. A conversa entre os quatro personagens icônicos se desenrola facilmente, toca em alguns pontos polêmicos sobre identidade, empoderamento e representatividade, mas também tem momentos de espirituosos e bem humorados. Os atores demonstram boa química em cena e parecem que realmente são amigos, ainda que tenham personalidades distintas e divergências. O que achei mais interessante é o fato do filme não os tratar como divindades, mas como pessoas comuns, com ambições e inseguranças, qualidades e defeitos. Para quem conhece a trajetória dos personagens o filme tem um gosto ainda mais especial, já que também apresenta momentos de virada em suas carreiras, mas também podem reclamar por conta do filme deixar de fora muito da história particular de cada um, além do pouco destaque que Jim Brown recebe na história (ainda que Aldis Hodge tenha ótimos momentos na pele do personagem), quem não conhece os personagens também ficará bastante curioso para saber mais sobre a importância de cada um deles. Em sua estreia na direção Regina King transborda elegância, deixando evidente a admiração que tem pelos mitos que compõem a sua trama. Seu maior desafio aqui é envolver o espectador enquanto foge do aspecto de teatro filmado e pode-se dizer que ela alcança os dois objetivos com competência, além de embalar o filme num estilo bastante charmoso. A atriz que já tem um Oscar de coadjuvante por Se a Rua Beale Falasse (2018) tem chances reais de ser indicada na categoria de melhor direção pelo tom impresso em sua narrativa. Disponível no Prime Video, One Night in Miami termina com sabor de satisfação pelos temas que aborda no que parece uma conversa simples entre amigos, muito também por mérito do texto de Kemp Powers (que também assina o roteiro de Soul/2020) que sabe falar de temas complicados com uma leveza impressionante (e por estes trabalhos pode aparece duplamente indicado no próximo Oscar).
One Night in Miami (EUA-2021) de Regina King com Kingsley Ben-Adir, Eli Goree, Aldis Hodge, Leslie Odom Jr., Christain Magby, Lance Reddick, Joaquina Kalukango e Michael Imperiolli. ☻☻☻☻
PL►Y: I'm Your Woman
Antes de estrear no Amazon Prime Video, o filme I'm Your Woman era aguardado como a chance de ver Rachel Brosnahan entre as indicadas ao Oscar deste ano. No entanto, quando o filme estreou a temporada já tinha seus pesos pesados e suas chances diminuíram consideravelmente, o que não quer dizer que o filme não mereça atenção. Rachel ficou famosa (e premiada) por seu trabalho na série de comédia A Maravilhosa Srª Maisel e aqui prova que também merece um lugar na tela grande com uma atuação precisa em um personagem complicado. Complicado especialmente porque sabemos muito pouco sobre sua personagem, a Jean. Quando a conhecemos ela está pegando sol em seu quintal, com roupão, bebida, óculos de sol e jeito entediado. A história se passa nos anos 1970 e ela é apresentada dentro de um verdadeiro arquétipo dos filmes criminais desta década: a esposa do gangster. Estas personagens costumam ficar em segundo plano na história principal, mas aqui o destaque é todo dela. Quando seu esposo Eddie (Bill Heck) aparece pela primeira vez com um bebê nos braços e entrega à esposa como se fosse um presente, também sabemos muito pouco sobre ele, mas ficamos instigados sobre aquela realidade. Pouco se fala sobre o casamento dos dois até que Eddie não aparece mais e Jean é abordada por um desconhecido, Cal (Arinze Kené) que pede para que junte o que for essencial e fuja dali. Jean e o espectador não entendem muito bem o que está acontecendo, mas começa ali uma rotina de fugas que revela cada vez mais a realidade em que Eddie estava metido. Eddie é um criminoso e tudo o que sabemos é que algo saiu muito errado, colocando a vida de Jean e do bebê em risco, além de quem mais cruzar o caminho dos dois. É deste ponto de partida (que parece acontecer à margem da trama principal) que o filme se sustenta de forma bastante curiosa, acrescentando detalhes à sua história conforme a situação se complica e algumas surpresas surgem pelo caminho. Dirigido e escrito por Julia Hart (com colaboração no roteiro de seu esposo Jordan Horowitz), I'm Your Woman tem o mérito de nunca se contentar em ser apenas um filme marginal, lança um olhar curioso sobre a "o que aconteceu com a esposa do bandido?", além de tocar em algumas questões que tornam o recorte sobre uma personagem em uma trama interessante: a forma como ela lida com a maternidade, a questão de sobrevivência que a faz ter contato com o submundo habitado pelo esposo (e que sempre ignorou) e até as decisões corajosas que precisa tomar para sair desta situação. Entre momentos dramáticos e tensos, Rachel Brosnahan se sai tão bem como a diretora (o visual do filme é feito no capricho e a cena da boate é de uma precisão espetacular, aquele tipo de cena que dá vontade de voltar e assistir novamente várias vezes) e juntas alcançam o resultado de uma trama paralela que tem elementos suficientes para se tornar a trama principal. Para além de tudo isso, achei bem interessante a ambição de Julia Hart à frente do projeto, ela foi destaque no Ciclo Diretoras de 2018 aqui no blog com Miss Stevens (2016) e demonstra estar disposta a ser bastante eclética em seus trabalhos.
I'm Your Woman (EUA - 2020) de Julia Hart com Rachel Brosnahan, Marsha Stephanie Blake, Arinzé Kene, Frankie Faison, Jameson Charles, Justin Charles e Bill Heck. ☻☻☻☻
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
PL►Y: Você não Estava Aqui
PL►Y: O Caminho de Volta
domingo, 17 de janeiro de 2021
#FDS: A Trincheira Infinita
sábado, 16 de janeiro de 2021
#FDS Latinos para o Oscar: O Agente Duplo
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
#FDS Latinos para o Oscar: Ya No Estoy Aquí
Neste primeiro #FimDeSemana do ano irei postar comentários sobre três filmes latinos que concorrem a uma vaga na categoria de Filme Internacional no próximo Oscar. Lembrando, como sempre, que 2020 foi um ano bastante atípico para o cinema e a maioria dos países preferiram guardar suas produções para reabertura das salas, mas alguns optaram por vender para serviços de streaming e ganhar algum espaço perante o público. Vale lembrar que 93 países se inscreveram para a categoria da próxima edição (e obviamente que já existem favoritos). O de hoje foi selecionado para representar o México e está em cartaz na Netflix desde maio do ano passado. Ya no Estoy Aquí conta a história de Ulisses (Juan Daniel Garcia Treviño) tem dezessete ano e torna-se líder de um grupo de adolescentes periféricos da cidade de Monterrey, localizada no nordeste mexicano. O grupo de Ulisses se chama Los Terkos e a identidade do grupo é demarcada pelas roupas, pelo corte de cabelo e um estilo construído como um verdadeiro conceito baseado no ritmo musical da cumbia. No entanto, existe uma rivalidade agressiva entre os grupos e os amigos de Ulisses acabam vítimas de uma situação que faz com que o rapaz fuja ilegalmente para os Estados Unidos. Lá sua rotina é outra e percebemos aos poucos sua luta para manter a identidade em outro país e a dificuldade em lidar com este outro universo. Esta mudança insere novas camadas na história conduzida de forma quase documental pelo cineasta e roteirista Fernando Frias que mergulha nos conflitos destes dois mundos. Embora tenha bons momentos e seja impregnado de uma valorização cultural e identitária da periferia mexicana, o filme precisava ser melhor lapidado. Tem algumas cenas que são difíceis de engolir (a cena das mortes é tão tosca que parece de mentira), além disso o protagonista é de uma apatia pouco envolvente a maior parte do tempo. Com câmera estática e atuações que parecem improvisadas, o filme deixa a impressão que o tema renderia um ótimo documentário. O que salva o filme é o uso da sonoridade, das cores e a sua parte final, que consegue fechar toda a trama com o tom certo de melancolia para que fique remoendo em nossa mente por algum tempo. O México tem uma história bastante curiosa com o Oscar, já que três de seus mais conhecidos diretores já foram premiados como diretores, Alejandro González Iñárritu tem duas estatuetas de melhor diretor (por Birdman/2014 e O Regresso/2015), Alfonso Cuarón também tem duas (por Gravidade/2013 e Roma/2018) e Guillermo Del Toro tem uma (por A Forma da Água/2017), mas das oito vezes em que o país foi indicado na categoria de Filme Estrangeiro só levou mesmo por Roma - que também foi produzido pela Netflix. Ya no Estoy Aquí não é apontado como favorito para ter uma vaga na disputa, mas pode até surpreender caso os votantes queiram fugir da mesmice.
Ya No Estoy Aquí (México/EUA - 2019) de Fernando Frias com Juan Daniel Garcia Treviño, Yesica Silva, Xueming Angelina Chen e Sophia Metcalf. ☻☻
quinta-feira, 14 de janeiro de 2021
PL►Y: Seberg Contra Todos
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
PL►Y: The Souvenir
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
PL►Y: Ninguém Brinca com Jesus Quintana
É engraçado como O Grande Lebowski (1998) dos irmãos Coen não foi um grande sucesso em sua época de lançamento, mas com o passar do tempo se tornou uma das obras mais populares dos manos (graças as reprises dos canais por assinatura e os comentários positivos que atravessaram décadas). Boa parte da graça do filme está no grupo de personagens interessantes (e hilários) que gravitam em torno do protagonista vivido por Jeff Bridges. Entre eles está Jesus Quintana (John Turturro), craque do boliche e dono de uma aura pervertida que o precede. Como se aquela roupa lilás, a arrogância e a sensualidade brega não bastassem, ele ainda tem aquele hábito bizarro de lamber a bola de boliche com a ponta da língua antes de lança-la. É uma destas criaturas tão estranhas que você já imagina querer conhecer mais sobre ela e, desde então, o ator John Turturro insistia em reviver o personagem em um spin-off. Como os irmãos Coen não estavam interessados em retomar este universo, depois de muito tempo eles resolveram autorizar o amigo a fazer o longa que tanto queria. Vai entender o motivo de Turturro usar o personagem para refilmar Corações Loucos (1974) uma comédia francesa de Bertrand Blier bastante antiquada para os dias atuais. A ideia reduz as referências ao cultuado filme em que conhecemos Jesus Quintana e temos que nos contentar com uma história que caminha não se sabe para onde em tom de comédia sexual sem graça inserindo personagens como uma prostituta experiente (Sonia Braga), uma cabeleireira que não consegue ter orgasmos (Audrey Tautou) e uma ex-presidiária que está louca para fazer sexo (Susan Sarandon). Houvesse um roteiro bem amarrado que reunisse estas personagens não haveria problema, mas ele inexiste. O filme começa com Jesus Quintana deixando a prisão após um ato indecoroso diante de uma criança, ele logo reencontra seu parceiro Petey (Bobby Cannavale) e nem o roteiro sabe explicar direito o tipo de relação que existe entre os dois. Eles começam a se meter em confusões, aplicar pequenos golpes e a relação de Jesus com o boliche é reduzida à uma cena e um comentário. É só isso. O filme é desengonçado e não tem muita graça, padecendo por se render a um texto que envelheceu mal. Apesar de ser mais conhecido como ator, Turturro já dirigiu oito filmes (o meu favorito é Amante a Domicílio/2014, este sim um filme que sabia explorar tabus sobre sexualidade) e parecia que o Quintana estava em boas mãos. Um grande engano. Desperdiçando um bom elenco, Turturro trai o personagem e faz justamente o que o título em português tenta negar (mas o resultado é uma daquelas obras que você assiste e deseja apenas esquecer).
Ninguém Brinca com Jesus Quintana (The Jesus Rolls / EUA - 2019) de John Turturro com John Turturro, Bobby Cannavale, Audrey Tautou, Susan Sarandon, Jon Hamm, Pete Davidson, Christopher Walken e Tim Blake Nelson. ☻
PL►Y: A Assistente
Jane (Julia Garner) é a assistente de um grande executivo há cinco semanas. Ela costuma fazer de tudo, tirar cópias, organizar a agenda do chefe, pedir sanduíches para os colegas de trabalho, atende telefone, agenda viagens, entregas de malotes, prepara café, organiza a mesa do chefe, responde e-mails, escuta desaforos ao telefone... para dar conta do trabalho, chega ao escritório antes de todo mundo (antes do sol aparecer) e sai por último. Ela também costuma trabalhar no escritório nos fins de semana e esperançosa das possibilidades que aquele emprego pode lhe trazer, pode se perceber que ela faz mais do que o necessário para ter seu trabalho reconhecido - embora receba mais indiferença e reclamações do que algum reconhecimento. Quando o reconhecimento parece surgir, ele é bem menos convincente do que um elogio protocolar. Esta rotina massacrante de um ambiente de trabalho é a matéria-prima do primeiro longa de ficção da diretora Kitty Green, que filma um dia de Jane com o mesmo estilo impresso em seus trabalhos em documentários (ela que dirigiu o chocante Quem é JonBenet/2017 no catálogo da Netflix), sendo assim, muito do envolvimento que o espectador possui com o filme é devido ao bom trabalho de Julia Garner no papel principal. A postura e a expressão da atriz deixam claro como aquele ambiente é torturante, embora pareça aceitar resignada tudo o que acontece ao seu redor. Existe um bocado de situações ofensivas e abusivas em torno da personagem, dos colegas que pedem sua atenção lhe jogando bolinhas de papel, a exclusão das conversas, as intromissões em seu trabalho, as reclamações, tudo ajuda a compor um cenário um tanto desolador, mas Jane se incomoda mesmo é com a chegada de um nova assistente - que a fará repensar se vale a pena continuar calada. O roteiro de Kitty Green é um primor de sutilezas, o que pode construir um retrato tenso e realista da situação abordada, mas também entediar um bocado o espectador que aguarda uma reação mais enérgica da protagonista diante daquele universo, no entanto, a intenção da diretora é outro ao terminar deixando claro que aquele ciclo pode permanecer por tempo indeterminado. Ainda que sua cadência possa gerar estranhamento, A Assistente é uma construção interessante e deve aparecer em algumas premiações indies, embora não tenha fôlego para chegar ao Oscar como muitos alardearam, mas vale conferir o filme no catálogo do Prime Video. Vale destacar que para além de seu trabalho na série Ozark (que lhe rendeu dois Emmys de atriz coadjuvante nos últimos anos), Julia Garner deve receber cada vez mais destaque em produções no cinema. Atuando desde 2010, quando tinha quinze anos de idade, ela continua sendo uma das mais expressivas de sua geração. Ainda com aparência de adolescente ela prova aqui que consegue carregar um filme nas costas com força e desenvoltura sem precisar falar muito em cena.
A Assistente (The Assistant/EUA-2020) de Kitty Green com Julia Garner, Owen Holland, Jon Orsini, Rory Kulz, Noah Robbins e Clara Wong. ☻☻☻