quinta-feira, 30 de março de 2023

PL►Y: Holy Spider

 
Zar: uma jornalista contra um serial killer. 

Na cidade sagrada de Mashaad no Irã, entre oq os anos 2000 e 2001 um serial killer foi responsável por assassinar 16 mulheres. Em comum, todas elas eram prostitutas. Na mente do assassino, ele estava em uma missão divina de limpar a cidade do pecado. As autoridades pareciam não estavam muito interessadas em encontrá-lo e a mescla de uma pretensa supremacia masculina, com ideologias religiosas e demais ideias distorcidas contribuíam para que ele prosseguisse a "missão" que lhe rendeu o apelido de Spider Killer. O diretor Ali Abassi (responsável pelo excelente Border/2019) resolveu contar essa história sem cair no suspense da caça a um assassino, tanto que desde o início revela a identidade dele: Saeed (Mehdi Bajestani), temente a Alá, empregado, casado e que aproveita a ausência de sua família para cometer as atrocidades dentro de sua própria casa. Pensando que "está no caminho certo", ele assume muitos riscos a cada crime cometido e se aproveita da negligência das autoridades para continuar. Quem  irá colaborar para sua captura é uma jornalista, Rahimi (Zar Amir-Ebrahimi, eleita a melhor atriz no Festival de Cannes no ano passado pelo papel), que começa a seguir pistas e indícios deixados pelo caminho por Spider Killer. Embora tenha cenas de violência bastante explícitas, Ali Abassi está mais preocupado em construir uma crônica assustadora sobre uma estrutura social em que assassinatos brutais podem ser considerados missões divinas em nome da moral e dos bons costumes, algo que se reflete não apenas na postura de Saeed como também nos obstáculos encontrados por Rahimi, uma mulher, em busca da verdade em uma sociedade opressora dominada por autoridades masculinas. As ameaças e assédios sofridos por Rahimi funcionam como um contraponto à forma como o mundo se comporta com a postura de um réu confesso  que alguns exaltam como se fosse um verdadeiro herói. Abassi faz um filme tenso, áspero e necessário que acabou ficando de fora da disputa do Oscar de filme estrangeiro desse ano (e que safra maravilhosa nós tivemos hein?) provavelmente por suas alfinetadas desagradáveis em um mundo em que teima em ver mulheres como seres a serem subjugados. Embora o destino de Saeed soe como a promessa de um futuro melhor com menos impunidade, a cena final deixa claro que enquanto as ideias que o motivaram permanecerem, a história tende a se repetir.

Holy Spider (Dinamarca/Alemanha/França/Suécia/Jordânia/Itália - 2022) de Ali Abassi com Zar Amir-Ebrahimi, Mehdi Bajestani, Arash Ashtiani, Sina Parvaneh, Forouzan Jamshidnejad, Mesbah Taleb e Nima Akbarpour. 

Pódio: Aubrey Plaza

Bronze: a louca do Insta.

3º Ingrid vai para o Oeste (2017) Nascida em Delaware nos Estados Unidos em 1984, a atriz começou a chamar atenção enquanto comediante nos primeiros anos do século XXI, mas aos poucos soube impor seus expressivos olhos castanhos em papéis mais dramáticos como  nessa comédia ácida em que interpreta uma jovem obcecada por uma celebridade do Instagram. A busca por curtidas e adoração em rede sociais se transforma numa verdadeira doença para a personagem e cria na plateia um misto de estranhamento e empatia. O filme de estreia do diretor Matt Spicer é uma assustadora (e deliciosa) alfinetada aos dias atuais. 

Prata: a esposa esperta.
2º White Lotus - Segunda Temporada (2022) A atriz foi indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante pelo seu excelente trabalho como a advogada Harper Spiller que vai passar férias ao lado de seu esposo e um casal de amigos (dele) num resort na Itália. O problema é que ela é esperta demais para se deslumbrar com todo aquele estilo de vida e o seu casamento acaba sendo colocado em risco. Se existiam dúvidas de que Aubrey daria conta de um personagem mais dramático, elas se dissiparam completamente com sua atuação segura e que por diversas vezes não precisa de palavras para dizer o que se passa na mente da personagem. Simplesmente sensacional. 

Ouro: a golpista endividada.
1º Emily, A Criminosa (2022) Indicada ao Independent Spirit e Gotham Awards de melhor atriz,  Aubrey provou em 2002 que é uma atriz de músculos dramáticos bastante confiáveis. Sua performance como a mulher com uma dívida de 70 mil dólares que se mete em um perigoso esquema para ganhar dinheiro é memorável. A força que ela atribui à personagem desde a primeira cena se liberta no decorrer da trama e chega a patamares surpreendentes. Em entrevistas a atriz (que mistura genes alemães, irlandeses, ingleses e porto-riquenhos) disse que sua vontade é fazer filmes dos quais as pessoas irão falar por muito tempo. Esse, com certeza, é um deles. 

PL►Y: Emily, a Criminosa

Aubrey: performance memorável. 

Quem já assistiu ao documentário Torre de Marfim (2014) sabe que a situação dos créditos estudantis nos Estados Unidos é complicada para quem está começando a carreira após a graduação. Afinal, após formado, você recebe junto ao diploma uma dívida a ser quitada. A situação complica ainda mais se, por alguma armadilha do destino, você não consegue concluir o seu curso e a dívida permanece com seus juros ao longo do tempo. Hoje a dívida acumulada nos EUA está em mais de um trilhão e seiscentos milhões de dólares. No meio dos devedores estaria Emily (Aubrey Plaza), que devido a problemas pessoais e familiares precisou interromper os estudos e nunca mais conseguiu voltar para a universidade. Sem conseguir um diploma, ela trabalha como contratada em um serviço de entrega de quentinhas e que não consegue nem calcular o quanto ela precisa trabalhar para quitar sua dívida de setenta mil dólares. Com a conta sempre no vermelho, ela divide um apartamento com um casal que não chega a ser de amigos e tem uma amiga que funciona mais como um contraponto de tudo que sua vida poderia ter sido. Enquanto procura por um emprego melhor, ela tem problemas com uma passagem pela polícia que faz com que as pessoas olhem para ela como uma criminosa. Eis que um dia, Emily se depara com uma oportunidade inusitada: ganhar dinheiro com uma organização clandestina através de cartões clonados. É ilegal. É arriscado... mas rentável. Aos poucos a protagonista nota que leva o maior jeito para a coisa e a aproximação do carismático Youcef (Theo Rossi) só azeita ainda mais seu envolvimento com o submundo. No entanto, obviamente, as coisas se complicam e chama atenção de outros espertalhões das redondezas, trazendo ainda mais complicações para Emily. Dirigido com garra pelo estreante John Patton Ford, Emily, A Criminosa tem uma montagem invejável que sabe como sustentar uma tensão crescente. Isso o torna um desses filmes indies cheios de energia e que se beneficia muito da escalação perfeita do elenco. Aubrey Plaza está maravilhosa como Emily, uma garota em que logo se vê estampado no rosto as dificuldades que atravessa e, não por acaso, verá a situação e que se mete como uma perigosa forma de autoafirmação. Ela tem uma química irresistível com Theo Rossi, o que se torna fundamental para os rumos dos acontecimentos no último ato da produção. Embora as atitudes de ambos estejam longe de ser recomendáveis, o filme consegue desenvolver um roteiro em que conseguimos entender as motivações de ambos para se meterem naquela presepada e, surpreendentemente, torcer pelos dois. Celebrado em premiações indies, o filme foi lembrado em três categorias do Independent Spirit (melhor produção, atriz e filme de estreia), cravou uma lembrança no National Board of Review e o diretor foi indicado a melhor diretor estreante pelo Sindicado de Diretores. Uma pequena joia que merece ser descoberta presente no catálogo do TelecinePlay. 

Emily, a Criminosa (Emily The Criminal - EUA/2022) de John Patton Ford com Aubrey Plaza, Theo Rossi, Bernardo Badillo, Megalyn Echikunwoke e Gina Gershon. 

terça-feira, 28 de março de 2023

4EVER: Ryuichi Sakamoto

 
17 de janeiro de 1952   28 de março de 2023

Riyuchi Sakamoto nasceu na cidade de Tóquio no Japão e estava destinado a ser um dos maiores ícones culturais de seu país. Riuychi estudou na Universidade Nacional de Música e Belas Artes de Tóquio nos anos 1970 sempre demonstrando interesse pela música eletrônica. O gosto pelo sintetizador o fez participar do grupo de synthpop Yellow Magic Orchestra, chamando atenção nas paradas britânicas junto aos artistas de techno e acid house ao final dos anos 1980. Em seu trabalho com a música, fez parceiras com artistas do mundo todo, incluindo DJ Dmitri, Caetano Veloso, Iggy Pop e David Byrne. Ao lado de Byrne e Cong Su, ganhou o Oscar de melhor trilha sonora pelo filme O Último Imperador (1987) filme de Bernardo Bertolucci (com quem trabalhou novamente na trilha de O Pequeno Buda/1993). Sakamoto também fez trilhas para Almodóvar, Oliver Stone, Brian de Palma, Alejandro González Iñáritu e ainda atuou em alguns filmes, o mais célebre deles foi Furyo: Em Nome da Honra (1983) numa química incandescente com David Bowie, além de ter aparecido no clipe Rain de Madonna. O ator, professor, compositor, músico e produtor faleceu em decorrência de um câncer no pulmão. 

domingo, 19 de março de 2023

PL►Y: Entre Mulheres

 
Claire, Jessie, Rooney e suas colegas de cena: elenco de peso. 

Se tudo acontecesse certo, eu teria escrito sobre o novo filme da canadense Sarah Polley antes a cerimonia do Oscar, mas como a vida é cheia de imprevistos, acabo escrevendo agora, depois que o filme já recebeu o Oscar de melhor roteiro adaptado - pelo menos eu pude apostar certeiramente nas chances do texto assinado por Polley (baseado no livro de Mirian Toews) como o melhor trabalho de adaptação da noite. A trama é baseada numa história real de um grupo de mulheres que, cansadas dos abusos sofridos em uma comunidade religiosa afastada dos centros urbanos, precisa decidir se permanecem por comunidade: se reagem perante a realidade que vivem ou vão embora para outro lugar. Parece uma decisão simples, mas existem alguns complicadores, as mulheres não sabem ler ou escrever, não conhecem o mundo distante daquele lugar e a ainda foram doutrinadas para acreditar que sair dali significa nunca ganhar o reino dos céus. Além disso, a ideia do perdão está muito presente quando se deparam com a insatisfação perante tudo o que acontece. Todos os prós e contras aparecem nas discussões que acontecem num celeiro enquanto os homens foram para a cidade para libertar um sujeito que foi pego em flagrante após abusar sexualmente de uma das moradoras do lugar. A forma como cada uma das mulheres observam a situações é que movimenta a trama. Se a grávida Ona (Rooney Mara) possui menos ressentimentos que suas colegas, Salome (Claire Foy) está disposta a fazer justiça por conta própria para evitar que sua filha passe pelas mesmas situações a que ela foi obrigada. Por outro lado, Mariche (Jessie Buckley) está cansada de tudo aquilo, mas sua raiva não permite que veja muitos caminhos além de voltar para casa e cuidar dos filhos ao lado do marido autoritário. Entre mulheres mais jovens e mais velhas, existe ainda o professor August (Ben Wishaw) que ajuda o grupo a registrar seus dilemas, enquanto ele mesmo se sente um peixe fora d´agua naquele ambiente de masculinidade tóxica. O filme é exatamente o que o título em inglês promete, são quase duas horas de mulheres dialogando sobre sua realidade opressora e tentando buscar um caminho diferente. As atrizes citadas tem trabalhos irrepreensíveis e a diculdade de escolher apenas uma nas votações para prêmios deve ter custado uma preciosa indicação para qualquer uma delas na temporada de ouro, por outro lado, Ben Wishaw erra o tom em algumas cenas, mas quem conhece o ator e observa sua última cena pode imaginar o motivo dele ter sido escolhido para dar camadas diferentes (e nunca ditas) ao personagem. Muito se falou sobre Polley merecer um lugar no páreo de melhor direção por driblar o caráter teatral da ambientação com algumas cenas externas, uma boa desenvoltura com a câmera e a edição que provam que ela sabe exatamente o que está fazendo. Além disso, dá um gosto especial à situação anacrônica ocorrida em 2010!! Para todas as qualidades do filme e apenas duas indicações ao Oscar, o filme ajudou a levantar um debate importante em Hollywood: vale a pena lançar filmes de qualidade ambiciosos somente ao final do ano para estarem “frescos” na memória das votações das premiações? Entre Mulheres foi colocado em vários festivais desde setembro, rendendo comentários positivos sobre ele, mas o lançamento no final de dezembro não ajudou para que tivesse a repercussão que merecia. Em uma ano que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Elvis e Top Gun: Maverick haviam sido lançados em meados de 2022 e contou com a torcida do público para chegar ao Oscar, será que Entre Mulheres teria maiores chances se tivesse mais tempo para ampliar sua importância perante o público? Provavelmente sim. 

Entre Mulheres (Women Talking / EUA -2022) de Sarah Polley com Rooney Mara, Jessie Buckley, Claire Foy, Ben Whishaw, Judith Ivey, Sheila McCarthy, Liv McNeil e Frances McDormand.  

sexta-feira, 17 de março de 2023

4EVER: Lance Reddick

07 de junho de 196217 de março de 2023

 Nascido em Baltimore nos EUA, Lance Solomon Reddick. Antes de se tornar ator, Lance investia na carreira de músico, chegando a se tornar bacharel em música e mais tarde concluiu seu mestrado em Belas Artes na Yale School of Drama em 1994. O ator começou a trabalhar no cinema em 1998, mas já tinha realizado alguns papéis em séries de TV. Recebeu papel de destaque nas séries The Wire (2002-2008) e Fringe (2008-2013) sendo recentemente anunciado para o papel de Zeus na versão televisiva da série de livros Percy Jackson. No cinema, apesar de suas participações em vários filmes, seu grande destaque foi como o porteiro Charon da cinessérie John Wick (iniciada em 2014) que terá seu quarto filme lançado no final desse mês nos Estados Unidos. Famoso pelo ar imponente de seus personagens, Reddick faleceu de causas naturais em Los Angeles.

PL►Y: O Mundo Atrás de Nós

Aurélien e Louise: romance de seres comuns. 

O jovem Labidi (Aurélien Gabrielli) escreveu um conto tão elogiado que ganhou aclamação da crítica e um prêmio literário. Anos depois, tantos elogios não lhe renderam o sucesso e o dinheiro que imaginava. Ele agora trabalha fazendo entregas através de aplicativo, divide um apartamento minúsculo com o melhor amigo Aleksei (Léon Cunha Da Costa) e tenta dar prosseguimento ao seu romance sobre a Guerra da Argélia. Os dois ambiciosos primeiros capítulos de seu romance chamam a atenção de uma editora que pretende publicar o livro, mas o escritor precisa terminar a obra em seis meses. Ele considera que é capaz de cumprir o prazo. Eis que um dia ele visita seus pais em Lyon e conhece, Elisa (Louise Chevillotte), jovem estudante por quem se apaixona e passa a nutrir sonhos de uma vida a dois. Embora o amor preencha os dias do jovem com aquela sensação inebriante que lhe faltava na rotina cansativa de antes, o maior problema de Labidi permanece: as contas no vermelho e a dificuldade de escrever na correria do dia a dia. O filme de estreia de Louda Ben Salah-Cazana não reinventa o gênero, mas traz um certo frescor que falta a muitos filmes que pretendem construir o recorte da vida real de personagens de carne e osso. Os problemas vividos por Labidi e Elisa são universais e podem acontecer em qualquer lugar do mundo e recebem aqui um tratamento sincero e afetuoso. Mesmo nos momentos de crise encontrados pelos personagens, seja por conta da grana sempre curta, da vergonha por não alcançar as expectativas que os outros tinham sobre ele ou a insegurança de sair da casa do pai para viver um novo relacionamento, tudo soa bastante verossímil. Labidi constrói um personagem tão crível e com uma doçura que somos capazes de entender o desespero que o faz realizar seus golpes em determinado momento da história, assim como também confere à Elisa as camadas necessárias para compreender suas inseguranças à vida que avista para os dois. Há de se ressaltar ainda o trabalho encantador de Saadia Bentaïeb e Jacques Nolot como os pais muçulmanos do protagonista, que ganham a vida administrando um pequeno café em Lyon. Com uma fotografia que procura não embelezar o cotidiano dos personagens e uma edição sem pressa, Louda Ben Salah-Cazana contrói um filme sem sobressaltos, mas envolvente sobre um casal entre seus sonhos e a realidade. Resta dizer que o título faz alusão à guinada do livro de Labidi, que toma o rumo de uma reflexão sobre a sua própria identidade de filho de imigrantes na França e seus problemas socioeconômicos. Uma pequena pérola do cinema independente francês. 

O Mundo Atrás de Nós (Le monde après nous / França - 2021) de Louda Ben Salah-Cazana com Aurélien Gabrielli, Louise Chevillotte, Saadia Bentaïeb, Jacques Nolot e León Cunha da Costa.  

segunda-feira, 13 de março de 2023

GANHADORES OSCAR 2023

Quan, Michelle, Brendan e Jamie: A24 domina a premiação.

Digam o que for, mas ver uma cerimonia em que uma obra original como Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo se consagra como o mais premiado da noite é algo altamente positivo depois da ressaca deixada pelo Oscar do ano passado. Depois de premiar No Ritmo do Coração em um ano em outros três concorrentes eram versões repaginadas de sucessos do passado, o Oscar2023 parece estar atento para novidades. Além disso, fez história ao consagrar pela primeira vez uma atriz asiática como Melhor Atriz (sei que os fãs de Cate Blanchett estão arrasados, mas Cate já tem duas estatuetas e terá chances de levar novas estatuetas no futuro, já para Yeoh a coisa complica), além disso houve dois comebacks irresistíveis entre as atuações (Brendan Fraser que já parecia cansado de fazer discursos emocionantes e emocionado) e Ke Huy Quan (que completou a noite reencontrando seu amigo Indiana Jones). Já Jamie Lee Curtis roubou a cena mais uma vez de Angela Bassett, confirmando a vitória que o SAG já anunciava. Acho que também vale perceber a lição que fica para a Netflix que com um candidato forte como Nada de Novo no Front resolveu investir na campanha de uma diversão ligeira feito Glass Onion (que acabou só indicado à roteiro adaptado e perdeu), enquanto o longa alemão levou quatro prêmios para casa. Parece que o mal estar deixado pela derrota de Ataque dos Cães no ano passado fez a gigante do streaming perder um pouco a noção das coisas, pelo menos não fez o mesmo que a Amazon que tinha o ótimo Argentina, 1985 na manga e preferiu investir em campanha para 13 Vidas que nem apareceu nas premiações. No fim das contas, quem saiu ganhando mesmo foi a A24, o estúdio famoso por produções alternativas saiu com nove estatuetas da festa, sendo o grande vencedor da temporada. A seguir os ganhadores da noite e meus acertos tradicionalmente marcados com  :

MELHOR FILME

MELHOR DIREÇÃO

MELHOR ATOR
Brendan Fraser (A Baleia

MELHOR ATRIZ

MELHOR ATOR COADJUVANTE

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Entre Mulheres 

MELHOR FOTOGRAFIA

MELHOR TRILHA SONORA

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
"Naatu Naatu" (de RRR

MELHOR EDIÇÃO

MELHOR FIGURINO

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

MELHOR CABELO & MAQUIAGEM

MELHOR SOM

MELHORES EFEITOS VISUAIS
Avatar: O Caminho da Água 

MELHOR ANIMAÇÃO EM LONGA METRAGEM

MELHOR ANIMAÇÃO EM CURTA METRAGEM
The Boy, the Mole, the Fox and the Horse

MELHOR CURTA METRAGEM EM LIVE-ACTION
An Irish Goodbye

MELHOR FILME INTERNACIONAL
Nada de Novo no Front (Alemanha) 

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM LONGA METRAGEM
Navalny

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA METRAGEM
The Elephant Whisperers 

Acertos:
17 acertos em 23 categorias... um a menos que ano passado!!!

Placar:
A Baleia - 02
Avatar: O Caminho da Água - 01
RRR - 01
Entre Mulheres - 01

domingo, 12 de março de 2023

PALPITES OSCAR 2023

Os dez mais: Quem leva?

Peço desculpas aos fãs do blog, mas o mês teve tantos imprevistos que não foi possível escrever sobre os concorrentes ao Oscar da forma como eu gostaria. Faltaram os posts de melhor filme e melhor direção e, agora, em cima da hora, vou postar os meus tradicionais palpites sobre a cerimonia. Vou colocar a lista de todos os indicados e destacar quem eu acho que sairá premiado em cada categoria, cruzando os dedos para bater meu recorde de acertos. Seguem os indicados da noite de hoje e quem eu acho que sairá premiado (embora nas categorias de atuação o páreo esteja duro entre atores e atrizes):

MELHOR FILME
Avatar: O Caminho da Água
Entre Mulheres

MELHOR DIREÇÃO
Martin McDonagh (Os Banshees de Inisherin)
Steven Spielberg (Os Fabelmans)
Todd Field (Tár)
Ruben Östlund (Triângulo da Tristeza)

MELHOR ATOR
Austin Butler (Elvis)
Colin Farrell (Os Banshees de Inisherin)
Brendan Fraser (A Baleia)
Paul Mescal (Aftersun)
Bill Nighy (Living)

MELHOR ATRIZ
Cate Blanchett (Tár)
Ana de Armas (Blonde)
Andrea Riseborough (To Leslie)
Michelle Williams (Os Fabelmans)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Brendan Gleeson (Os Banshees de Inisherin)
Brian Tyree Henry (Passagem)
Judd Hirsch (Os Fabelmans)
Berry Keoghan (Os Banshees de Inisherin)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Hong Chau (A Baleia)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Living
Entre Mulheres

MELHOR FOTOGRAFIA
Bardo: Falsa Crônica de Algumas Verdades
Império da Luz

MELHOR TRILHA SONORA
Babilônia

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
"Applause" (de Tell it Like a Woman)
"Hold My Hand" (de Top Gun: Maverick)
"Naatu Naatu" (de RRR)
"This is a Life" (de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)

MELHOR EDIÇÃO

MELHOR FIGURINO
Babilônia
Sra. Harris Vai a Paris

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
Avatar: O Caminho da Água
Babilônia

MELHOR CABELO & MAQUIAGEM

MELHOR SOM
Avatar: O Caminho da Água

MELHORES EFEITOS VISUAIS
Avatar: O Caminho da Água

MELHOR ANIMAÇÃO EM LONGA METRAGEM
Marcel the Shell with Shoes On
Gato de Botas 2: O Último Pedido
A Fera do Mar

MELHOR ANIMAÇÃO EM CURTA METRAGEM
The Boy, the Mole, the Fox and the Horse
The Flying Sailor
Ice Merchants
My Year of Dicks
An Ostrich Told Me the World is Fake and I Think I Believe It

MELHOR CURTA METRAGEM EM LIVE-ACTION
An Irish Goodbye
Ivalu
Le Pupille
Night Ride
The Red Suitcase

MELHOR FILME INTERNACIONAL
Nada de Novo no Front (Alemanha)
Close (Bélgica)
EO (Polônia)
The Quiet Girl (Irlanda)

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM LONGA METRAGEM
All That Breathes
All The Beauty and the Bloodshed
Fire of Love
A House Made of Splinters
Navalny

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA METRAGEM
The Elephant Whisperers
Haulout
How do You Measure a Year?
The Martha Mitchell Effect
Stranger at the Gate

sábado, 11 de março de 2023

FILMED+: Fire of Love

 
Maurice e Katia: amor em lava quente. 

Posso dizer que tenho meu favorito na categoria de Melhor Documentário no Oscar deste ano, o melhor é que ele está disponível no Disney+,  o pior é o título que deram por aqui (Vulcões: a Tragédia de Katia e Maurice Krafft). Produzido pela National Geographic, a diretora Sara Dosa faz um trabalho fantástico com os inúmeros registros que o casal de Katia e Maurice para contar o interesse que os uniam: o estudo dos vulcões.  Embora tenham especialidades diferentes, os dois perceberam que seus estudos eram complementares para compreender aquela força da natureza e, sobretudo, serem capazes de entender suas erupções e evitar tragédias ao redor do mundo. O mais interessante é que a diretora consegue costurar o estudo de ambos com a cumplicidade que existia entre  os dois, especialmente quando se arriscavam cada vez mais para que houvesse maiores avanços em seus estudos (obviamente temperadas por curiosidade e um gosto pelo perigo, afinal, o que mais explicaria o dia em que Maurice resolveu navegar com um bote em um lago de ácido sulfúrico?). O casal se tornou bastante popular por seus estudos e o respeito por suas pesquisas cresceu tanto quando o tom mítico que pairava sobre eles. O filme ajuda a compreender um pouco mais a personalidade de ambos e os causos que existiam ao redor deles (como as especulações sobre a forma como se conheceram), mas o mais saboroso é o corte e a costura dos vídeos feitos pelo casal, que por vezes parecem saídos de um filme de Wes Anderson (em alguns momentos, o senso de humor das cenas são idênticos ao estilo do cineasta responsável por Os Excentricos Tenenbaums/2001), cenas  como os dois caminhando sobre os vulcões em roupas que parecem de astronautas ou  os momentos em que contemplam as explosões como se estivessem num parque de diversões (sob uma temperatura inimaginável) beiram o surreal. Além de explorar estes dois personagens históricos de forma bastante emocional, o filme ainda traz cenas tão belas quanto assustadoras. São espetáculos visuais marcados pela destruição, mas também pela transformação de nosso planeta. O uso de animações e da narração meiga de Miranda July ajudam a construir uma cadência irresistível para este registro biográfico de dois cientistas que pereceram fazendo o que mais gostavam. O último registro de ambos é um dos momentos mais tocantes (e assustadores) do filme. Não me surpreenderia se algum diretor já estiver pensando qual par de atores escalar para viver os dois em uma cinebiografia.  

Vulcões: A tragédia de Maurice e Katia Krafft (Fire of Love / EUA - Canadá / 2022) de Sara Dosa com Maurice Krafft, Katia Frafft e Miranda July.  

PL►Y: Noites Brutais

Long e Georgina: prisioneiros de uma casa cheia de segredos. 

Acho que só recentemente tive a ideia de como 2022 foi um ótimo ano para os filmes de terror. Foram tantos títulos celebrados que ficou até difícil acompanhar todos os lançamentos elogiados que chegaram até o público. O fato é que a maioria deles demonstra a preocupação em construir uma estrutura narrativa mais complexa do que a de um serial killer que resolve matar um grupo de pessoas, se no meio de tudo isso ainda houver um comentário social, o filme ganha mais alguns pontos. Este é o caso de Noites Brutais que está em cartaz no Star+ cujo o título em português me assustou mais até do que o filme. O Barbarian do título original faz mais sentido do que o escolhido por aqui, mas nada que prejudique o engajamento da plateia em uma história que a cada meia hora promove uma reviravolta  sem que o espectador faça a menor ideia do que acontecerá a seguir. A ideia é aparentemente simples: Tess (Georgina Campbell) chega à cidade de Detroit para uma entrevista de emprego e aluga uma casa pelo Airbnb para passar a noite. Acontece que ao chegar lá, ela percebe que a casa já estava alugada para outra pessoa, Keith (Bill Skarsgård), que também está na cidade para um serviço e, passando as desconfianças iniciais, eles decidem passar a noite na tal casa. Acontece que durante  a noite, os dois já começam a desconfiar que dividir o espaço entre eles é o menor de seus problemas. Tess começa a ouvir barulhos e tem a impressão que existe outra pessoa na casa e não demora para descobrirem que o porão daquela casa esconde segredos bizarros. O filme dirigido e escrito por Zach Cregger sabe beber nas paranoias urbanas, tanto que colabora muito para a tensão do filme a ambientação quase pós-apocalíptica de Detroit com seus bairros abandonados de casas vazias em decorrência do caos econômico que assolou a cidade na crise de 2008. No entanto, o filme tem mais a oferecer quando subitamente seu roteiro é cortado para um segundo ato às voltas com uma celebridade (Justin Long) e demais revelações sobre o histórico mórbido daquela casa. Construindo e desconstruindo as expectativas da plateia em seu tom sombrio, conforme as peças se encaixam, Noites Brutais se apresenta como um filme arrepiante sobre um tema bastante em pauta atualmente (e não vou dizer mais nada para não estragar as surpresas). Embora seja enxuto em sua duração, alguns minutos a mais não fariam mal para dar conta das pontas que ficam um tanto soltas pelo caminho - o que não chega a ser um defeito, mas uma estratégia, já que Cregger já possui ideias para uma sequência. Eis um filme de terror que foge do óbvio de forma bastante interessante. 

Noites Brutais (Barbarian / EUA - 2022) de Zach Cregger com Georgina Campbell, Bill Skarsgård, Justin Long, Matthew Patrick Davies, Richard Brake e Jaymes Butler.  

PL►Y: A Ilha de Bergman

 
Vicky e Tim: passeio cult. 

Um casal de cineastas resolvem viajar para a ilha de Faro, local que ficou famoso pelos filmes de Ingmar Bergman e por ser o lugar escolhido para que ele passasse parte de sua vida recluso. Os dois vão para explorar o turismo local, mas também para buscar inspiração para seus novos trabalhos. Obviamente que os dois são fãs do diretor sueco e, de vez em quando, aparecem algumas divergências sobre o gosto de ambos quanto à vida e obra do cineasta (seja a dificuldade de escolher um filme da vasta obra do artista ou o diálogo sobre os cinco casamentos de Bergman e os nove filhos que passaram a vida aos cuidados das esposas). No entanto, as coisas começam a complicar quando Tony (Tim Roth) começa a criar seu novo roteiro e Chris (Vicky Krieps) não consegue ter tantas ideias assim. Assim, os dois acabam seguindo caminhos distintos por ali, de forma que se ele segue passeios turísticos e ela acha mais interessante conversar e ir para a praia com um jovem cineasta que passa as férias por ali. A cineasta Mia Hansen-Løve parece arranhar aqui e ali sobre o que seu filme quer explorar, se esquiva de fazer um filme sobre os pesares de ser a esposa cineasta de um diretor mais famoso, parece se aproximar do estranhamento das ideias que rondam a cabeça de seu parceiro (como o bloco de anotações que possuem desenhos que se assemelham à tortura), assim como a busca por uma voz própria. São ideias interessantes, mas que parecem deixadas pelo meio do caminho quando a narrativa se rende à história criada por Chris (protagonizada por Mia Wasikowska e Anders Danielsen Lie) e nos deparamos com uma história de reencontros amorosos e conflito com as escolhas feitas. Cabe ao espectador explorar a história como se fosse um retrato das angústias de Chris e estabelecer até que ponto aqueles sentimos são reais ou apenas fruto de sua criatividade. Quando o filme borra realidade e ficção a coisa fica ainda mais frouxa, até que a cena final deixa a sensação de que Hansen-Løve não sabia muito bem o que fazer com seus personagens na locação que escolheu. Com várias ideias deixadas pelo meio do caminho, o filme deixa apenas o gosto de tudo que poderia ter sido, mas escolheu ser apenas um agrado aos fãs de Bergman que podem conhecer um pouco da ilha e suas curiosidades cinemáticas. 

A Ilha de Bergman (Bergman Island / França - 2021) de Hansen-Løve com Tim Roth, Vicky Krieps, Mia Wasikowska, Anders Danielsen Lie e Hampus Nordenson. 

sexta-feira, 10 de março de 2023

INDICADOS AO OSCAR 2023: ATOR COADJUVANTE

Barry Keoghan (Os Banshees de Inisherin) Ganhador do BAFTA por seu trabalho, o ator irlandês chega com algumas chances no páreo por sua interpretação de um rapaz que sofre abusos do pai, é tido como um idiota pelos vizinhos e ainda é apaixonado pela irmã do amigo. É um trabalho complicado, mas que Barry faz com uma leveza comovente. Ao cair no radar do Oscar muita gente resolveu pesquisar a vida do moço que cresceu em lares adotivos, perdeu a mãe para as drogas e aprendeu a interpretar vendo o comportamento de animais na TV. Hoje Barry é casado, pai de um bebê e celebrado como um dos maiores talentos de sua geração desde que apareceu em O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017)

Brendan Gleeson (Os Banshees de Inisherin) Ele já foi o favorito da categoria quando o filme foi lançado, mas com o tempo sua campanha para o Oscar perdeu força, muito por conta da ideia de divisão de votos com seu colega de cena Barry Keoghan. O fato é que pelo papel do ex-amigo um tanto rabugento do protagonista (capaz de fazer loucuras para evitar o convívio com seu antigo amigo) rendeu a primeira indicação ao Oscar para o veterano ator, que aos 67 anos finalmente caiu nas graças da Academia. Vale dizer que o irlandês é o ator favoritos dos irmãos McDonagh que, sempre que podem, dão papel de destaque ao ator (como em Na Mira do Chefe/2008 e O Guarda/2011)

Brian Tyree Henry (Passagem)  foi aos poucos que o ator começou a chamar atenção em Hollywood. Depois de sua participação contundente em Se a Rua Beale Falasse (2018), ele conseguiu trabalhos de destaque em grandes produções como Eternos (2021) e Trem Bala (2022). Portanto, já seria difícil a Academia ignorar seu trabalho neste filme feito para celebração de Jennifer Lawrence, mas é Henry que rouba a cena como um homem cheio de feridas a serem curadas. Esta é a primeira indicação ao Oscar do ator de 40 anos que se formou em arte dramática e tem mestrado na Yale School of Drama. Ainda veremos muito o rosto de Brian por aí. 

Judd Hirsch (Os Fabelmans) se muita gente se surpreendeu com a indicação de Henry na categoria, o que dizer da Academia votar em um veterano que aparece em menos de dez minutos em um filme? Acho que nem mesmo Judd Hirsch acreditou na indicação por sua participação especial como um primo distante da família que dá título ao filme. Tido como excêntrico pela família, o personagem é um tanto fora da caixinha e espanta o marasmo do filme baseado na vida de Spielberg. De todos os concorrentes da categoria é o único que já foi indicado ao Oscar anteriormente, sendo lembrado como coadjuvante pelo seu trabalho em Gente como a Gente (1980)

Ke Huy Quan (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo) o favorito na categoria promove uma verdadeira celebração pelo retorno de um astro mirim que andava esquecido. Quan ficou famoso por seus trabalhos inesquecíveis nos clássicos Indiana Jones no Templo da Perdição (1984) e Os Goonies (1985), mas depois os papéis foram rareando e ele acabou trabalhando em outros setores da indústria. No papel do marido de diversas vivências no multiverso, seu trabalho tem o mérito de ser tão multifacetado quanto de sua parceira de cena, Michelle Yeoh. Pelo trabalho Quan já levou para casa o SAG, o Globo de Ouro, o Critic's Choice, o Independent Spirit e já conseguiu papel na nova temporada da série Loki da Marvel. 

O ESQUECIDO: Paul Dano (Os Fabelmans) Estou começando a acreditar que a Academia não gosta muito do Paul Dano. Ele já foi esquecido por dois ótimos trabalhos, seja como coadjuvante (pelo jovem pastor de Sangue Negro/2007) ou como protagonista (por viver Brian Wilson em Love & Mercy/2015 ), agora ele foi e esquecido pelo zeloso pai da família Fabelman no celebrado filme de Steven Spielberg. Embora a atuação dele seja bastante discreta, o ator torna visível todas as emoções do personagem que tem lá sua cota de frustrações e sempre parece disposto a estar bem perante seu clã. Sei que tem gente que queria ver Mark Rylance (Até os Ossos) no páreo, mas se nem um pai bonzinho agradou a academia, imagina um canibal arrepiante...