quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

PL►Y: Sem Relação

Anna e Tom: Loki em sua estreia no cinema. 

A inglesa Joanna Hogg trabalha desde o final dos anos 1980, na década seguinte se dedicou a trabalhos para a televisão até se aventurar nos anos 2000 por um cinema mais autoral. Embora muita gente tenha conhecido seu trabalho quando The Souvenir (2019) caiu nas graças da crítica, e figurou em algumas listas de melhores do ano (tanto que o filme gerou uma sequência em 2021), Joanna estreou na telona com este Unrelated, um filme que fala sobre sentimentos complicados de uma mulher madura de quarenta anos.  A história acontece em alguns dias de férias em que Anna (Kathryn Worth) é convidada por uma amiga, Verena (Mary Roscoe), a passar alguns dias com ela em uma casa de campo na Itália, mais precisamente na Toscana. Enquanto Verena está ao lado do esposo (Michael Hadley), dos filhos, Archie (Harry Kershaw), Jack (Henry Lloyd-Hughes), Oakley (Tom Hiddleston) e Badge (Emma Hidleston) e mais um casal de amigos, à Anna cabe ter algumas conversas atravessadas com o esposo por telefone. Se por um lado Anna está muito calada, nas conversas ao telefone vemos que seu casamento não anda muito bem. O curioso é que esta sensação de um casamento ruindo lhe causa certo afastamento dos outros casais presentes na casa, mas gera uma certa proximidade com os filhos da amiga, especialmente com Oakley. Tanto este descolamento das pessoa maduras e a aproximação com o descompromisso da juventude estão marcadas nas entrelinhas do filme, já que Hogg é uma diretora que não gosta de ser explícita no que apresenta, prefere deixar que as cenas aconteçam de forma mais espontânea, quase improvisada como se não houvesse um roteiro, pelo menos até que um dilema se instaure. O dilema aqui está na atração que Anna começa a nutrir pelo charmoso primogênito da amiga, Oakley. Vale destacar um mérito inquestionável de Joanna Hogg, ela foi a primeira pessoa a confiar no apelo que Tom Hiddleston poderia ter  no cinema. Conhecido hoje por sua antológica performance como Loki, o deus da Mentira da Marvel, até então o ator estava restrito a papéis em programas de televisão sem muito destaque. Foi Hogg que percebeu como o ator poderia ser o objeto de desejo que a vida apática de sua protagonista precisava. Quando os dois estão juntos em cena, você pode sentir as faíscas entre os dois em uma narrativa que segue em uma ambientação morna, com uma paisagem bem mais (árida) e realista do que a que costumamos em ver em filmes sobre pessoas em férias paradisíacas. Talvez esta opção seja para dizer que ali não é o paraíso e tanto os conflitos entre Oakley com o pai, um acidente de carro e um amargo gosto de rejeição irão pairar a partir da metade do filme. Apesar do marasmo narrativo da primeira parte, Sem Relação se torna mais interessante conforme torna a viagem de seus personagens mais desconfortável, tão desconfortável quanto à realidade de Anna que precisa colocar os pés no chão e enfrentar uma realidade não desejada em sua volta para casa. A produção mostra-se então uma boa carta de apresentação de uma cineasta que possui um olhar sutil para fazer filmes sobre pessoas com histórias comuns e seus sentimentos complicados. 

Sem Relação (Unrelated / Reino Unido - 2008) de Joanna Hogg com Kathryn Worth, Tom Hiddleston, Mary Roscoe, Michael Hadley, Henry Lloyd Hughes, Harry Kershaw e Emma Hiddelston. ☻☻

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

4EVER: Marisa Paredes

03 de abril de 194612 de dezembro de 2024

María Luisa Paredes Bartolomé nasceu em Madrid e ao longo de sua carreira se consolidou como uma das grandes damas do cinema espanhol. Atuando desde os 14 anos de idade, a artista foi aclamada em vários momentos de sua carreira. Presença no cinema espanhol desde 1960, sua carreira ganhou apelo mundial a partir de sua primeira colaboração com o cineasta Pedro Almodóvar com o filme Maus Hábitos (1983), desde então se tornou uma das musas do cineasta, com quem trabalhou novamente em De Salto Alto/1991 (pelo qual foi premiada como melhor atriz no Festival de Gramado), A Flor do Meu Segredo/1995, Tudo Sobre Minha Mãe/1999, Fale Com Ela/2002 e A Pele que Habito/2011. Com presença marcante em mais de cem produções, entre os anos 2000 e 2003, Paredes presidiu a Academia Espanhola de Cinema e em 2018 recebeu o Prêmio Goya pelo conjunto da carreira. O último trabalho da atriz é o longa-metragem Saída de Emergência que encontra-se em pós-produção. Marisa faleceu após uma internação por problemas arteriais.

PL►Y: Longlegs

Maika: um serial killer das trevas.

Pode se dizer que entre todos os filmes que foram lançados durante o ano, o terror Longlegs se tornou o sucesso mais surpreendente do ano. Muito se deve à aura de mistério construída em torno do marketing em que nada era revelado sobre a trama. Tudo o que circulava era que se tratava de uma investigação sobre uma série de crimes mal resolvidos e, depois que o filme estreou, começaram a falar muito sobre a presença e Nicolas Cage em mais um daqueles trabalhos que só funcionariam se fosse feito por ele. Houve um hype tão grande em torno do filme que logo rendeu dez vezes o seu orçamento nas bilheterias mundiais (custou cerca de dez milhões de dólares, uma ninharia para os padrões de Hollywood). A plateia carente de um suspense envolvente e saturada de ideias recicladas, caiu de amores pelo filme de atmosfera estranha em torno de uma trama macabra que flerta com o fantástico em contraste com sua aparência realista. O responsável por conciliar este contraste complicado é Osgood Perkins (ou Oz Perkins para os íntimos), o filho de Anthony Perkins (ele mesmo, o próprio ator do clássico Psicose/1960). Até aqui, Oz era mais conhecido por ser uma figura dissonante em Hollywood, principalmente por curtir fazer filmes de terror mas não assiste os sucessos recentes do gênero - o que lhe garante uma estética bastante peculiar, distante do que está na moda. O moço trabalha como ator desde 1982, quando fez a versão mirim de seu pai em Psicose2 (1983) quando tinha apenas nove anos de idade. Desde então já participou de tudo quanto é tipo de séries e filmes, de Legalmente Loira (2001) até Star Trek (2009), mas aquele sujeito grandalhão e meio deslocado chamou atenção mesmo quando dirigiu seu primeiro filme, Enviada do Mal (2015), também conhecido como February ou The Blackcoat's Daughter. O filme (que visto hoje parece a versão diabólica do recente Os Rejeitados/2023) causou estranhamento assim que estreou e obteve relançamentos por conta de não saberem exatamente como vender o filme. Passado outros dois filmes sem muito sucesso, Osgood finalmente conseguiu construir uma história capaz de se comunicar com um público mais amplo, embora, muito de sua estreia para lá de sombria tenha semelhanças com a atmosfera construída por aqui. O filme acompanha Lee (Maika Monroe), uma novata agente do FBI que costuma ter intuições certeiras. Por conta de sua sensibilidade aguçada, ela é escolhida para auxiliar a desvendar uma série de crimes envolvendo famílias até então tranquilas. Ao que tudo indica, o pai da família é o responsável pelas atrocidades antes de tirar a própria vida. No entanto, no local dos crimes é deixada uma carta com códigos indecifráveis assinadas por Longlegs. Para não comprometer as surpresas, basta dizer que Lee irá começar a desvendar as entrelinhas dos crimes e se deparar com detalhes cada vez mais estranhos e alguns segredos que ela preferia não ter descoberto. É um filme de investigação carregado na rédea curta pelo diretor e que gerou comparações com o incomparável O Silêncio dos Inocentes (1991) pela forma como em boa parte das cenas, mais sugere do que mostra. Perkins constrói meticulosamente um verdadeiro universo em que tudo é incerto e o mal está sempre à espreita com as artimanhas mais cruéis. Transitando por tudo isso está um elenco perfeito, Maika Monroe está ótima como uma protagonista que também pode ser classificada como estranha (e perceba como ela muda de postura quando está "liberta" de sua própria maldição), a atriz realiza um trabalho sutil, que transpira desconforto a maior parte do tempo. Ela é seguida de perto pelo "chefe" Blair Underwood e da "mãe" Alicia Witt. Obviamente que em outro nível está Nicolas Cage, que deixa pairar sobre o filme um estranhamento ainda maior com as sandices que saem de sua boca em aparência grotesca. Fazia tempo que eu não assistia um filme em que não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo e que me deixasse tão apreensivo diante do que via. Para piorar, Oz se inspirou em um crime real sem solução para criar o filme e, ao conhecer a história verídica, tive a impressão que o cineasta lidou com seus próprios temores sobre o caso ao criar o roteiro. No fim das contas, o resultado é tão trevoso que o diretor faz a gentileza de deixar um gesto (visivelmente improvisado por Cage) para lembrar à plateia que é tudo é uma fantasia (embora seja das mais assustadoras). 

Longlegs: Vínculo Mortal (EUA - 2024) de Osgood Perkins com Maika Monroe, Blair Underwood, Alicia Witt, Michelle Choi-Lee e Dakota Daulby. ☻☻☻

domingo, 15 de dezembro de 2024

PL►Y: MaXXXine

Mia e Tabby Martin: a hora do pastiche.

Nos início de 2022, quando o cinema ainda tentava se recuperar da pandemia, a A24 lançou um filme de terror sem muito estardalhaço. Chamado apenas de X (e aqui recebendo o aposto A Marca da Morte), o longa contava a história de uma equipe responsável pelas gravações de um filme pornográfico dos anos 1970 que resolveu fazer locações em uma fazenda. Os donos da fazenda, eram idosos aparentemente inofensivos até que... começa a carnificina. Com referência nos slasher movies do período, o diretor Ti West chamou atenção de público e crítica pela criatividade com um filme que poderia ter sido mais do mesmo. A ideia deu tão certo que gerou uma sequência lançada no mesmo ano, Pearl (2022), ainda mais interessante ao centrar a narrativa na juventude de insana senhora Pearl Douglas, a velhinha dona da tal fazenda. Em ambos os filmes, ainda que em tempos diferentes, a idosa é interpretada magistralmente por Mia Goth, que alcançou status de estrela e ajudou West a dar forma ao roteiro da sequência, que se tornou um longa ainda mais robusto com referências aos clássicos do cinema. Vale lembrar que em X, Mia também era responsável por viver Maxine Minx, uma jovem estrela pornô que se tornava objeto de desejo de Pearl. Agora é Maxine que ganha um filme para chamar de seu, desta vez ambientado nos anos 1980 e que flerta com a atmosfera dos filmes policiais centrados na perseguição a um serial killer tão comuns no período. Maxine ainda vive atormentada pelos acontecimentos chocantes do primeiro filme, mas deseja largar o ramo de filmes para maiores e se tornar uma atriz respeitável em Hollywood. Obviamente que ela terá que superar  todo o conservadorismo (e a hipocrisia) que varreu os EUA durante os anos 1980 se quiser mudar de vida. Sorte que além de esperta, a jovem tem o talento dramático necessário para ser escolhida como protagonista de uma sequência de um sucesso do terror: A Puritana 2. Só que nada será fácil na vida da moça, já que alguém a persegue misteriosamente a acusando de ter cometido os assassinatos na fazenda na década passada enquanto a cidade vive atormentada com a presença de um serial killer. Mais uma vez Ti West investe na construção de uma atmosfera diferenciada pautado em uma referência temporal do horror para contar sua história, mas aqui ele precisa lidar com duas situações involuntárias: a primeira é toda aceitação que Pearl recebeu e que, as várias referências do terror dos anos 1980, fazem o filme ficar cada vez mais próximo do pastiche de um filme Z. Esta sensação acontece quase o tempo todo, especialmente quando entra em cena os policiais vividos por Michelle Monaghan e Bobby Canavalle (este mais canastra do que nunca), o detetive vivido por Kevin Bacon e até o grande vilão da história em seu ato final (que eu já imaginava quem era desde que a sinopse do filme foi anunciada, basta lembrar daquelas cenas finas de X). Tudo é exagerado e um pouco tonto por aqui, o que desperdiça toda a reconstituição de época cuidadosa, seja na fotografia granulada, nas cores, na trilha sonora ou no figurino. Ironicamente, é a primeira vez que Ti trabalha com tantos nomes conhecidos de Hollywood (ainda conta com Giancarlo Esposito, Lily Collins e Elizabeth Debicki), mas ninguém tem muito o que fazer em cena. Abandonando o foco que fazia os filmes anteriores serem tão eficientes, MaXXXine atira para todos os lados e acaba deixando até o filme dentro do filme de lado. Não por acaso o longa desagradou os fãs da franquia que notaram que o texto oferece menos à Mia Goth do que os filmes anteriores. Ouvi alguns comentários de que West tem ideias para outros filmes dentro deste universo, mas não sei se é uma boa ideia, melhor parar por aqui. 

MaXXXine (EUA- 2024) de Ti West com Mia Goth, Giancarlo Esposito, Kevin Bacon, Elizabeth Debicki, Bobby Cannavale, Michelle Monaghan, Lilly Collins, Sophie Thatcher, Moses Sumney e Simon Prest.

FILMED+: Os Rapazes da Banda.

O elenco: do teatro para as telonas.
 
Em 2020 a Netflix bancou uma versão em filme da peça The Boys in The Band de Matt Crowley lançada originalmente em 1968 e, somente após escrever meus comentários sobre o filme dirigido por Joe Mantello, descobri que havia uma outra versão, lançada em 1970 por William Friedkin. A peça se tornou um marco temporal ao se tornar a primeira com personagens homossexuais em destaque a se tornar um grande sucesso nos palcos. O sucesso foi tanto que choveram propostas a Crowley para uma adaptação cinematográfica. Ele recusou muitas por conta de um ponto que ele não abria mão: manter o elenco do teatro na versão cinematográfica e o diretor também (ideia da qual acabou abrindo mão). Quando aceitou que um grande estúdio bancasse o filme, Crowley foi convencido de que Friedkin seria um bom nome para a versão. O cineasta estava prestes a se tornar um grande nome do cinema (seu filme seguinte, Operação França/1971 foi indicado a oito Oscars, levando cinco para casa, incluindo filme e direção) e causou estranhamento no elenco quando insistiu para que ensaiassem seus papeis após um ano de sucesso nos palcos. Esta preocupação com a transposição para o cinema reflete-se na tela, já que Friedkin cuida minuciosamente dos detalhes das interpretações mais sutis, usa vários movimentos de câmera, capricha na montagem, nos planos, nos enquadramentos e closes. O resultado tem nada de teatro filmado, pelo contrário, mostra-se profundamente cinematográfico e real no tom cru que imprime ao grupo de amigos homossexuais que  se reúne na casa de um deles para comemorar um aniversário. O anfitrião é Michael (Kenneth Nelson), que vive um relacionamento com Donald (Frederick Combs), os dois estão naquela fase em que o passo adiante teima em não acontecer. O ótimo Kenneth Nelson dá conta de um personagem bastante complexo, já que o tempera uma essência amarga que se evidencia cada vez mais em sua relação com os demais convidados. Fazem parte da comemoração o casal Hank (Laurence Luckinbill) e Larry (Keith Prentice), o exagerado Emory (Cliff Gorman) e o discreto Bernard (Reuben Green), o único negro do grupo. Quem também participa da festa é Cowboy (Robert La Torneaux), um garoto de programa contratado para ser presente do aniversariante. Em contraponto existe Alan (Peter White), o ex-colega de quarto hétero de Michael que está de passagem por Nova York e resolve fazer uma visita no dia da festa. O  misterioso aniversariante é Harold (Leonard Frey), que recebe uma entrada triunfal em cena, já que é peça fundamental para fazer Michael repensar sua postura diante da vida. Os personagens se mostram uma coleção de arquétipos gays do período e, não por acaso, o encontro começa alegre, mas aos poucos o clima pesa com as conversas e alguns ressentimentos que começam a vir à tona baseado na trajetória de cada um. Impressiona o fato de como o texto ainda permanecesse atual e como a estética adotada por Friedkin soa mais realista do que a versão de 2020, como se fosse realmente um recorte de um momento daquelas vidas. Obviamente que o filme se beneficia muito da familiaridade que cada ator tem com seu personagem, isso faz toda a diferença naquela brincadeira do telefone (que aqui funciona muito melhor do que na refilmagem), com destaque para Peter White que sempre deixa um mistério constante sobre a sexualidade do personagem. Obviamente que, perante o conservadorismo da época, o filme não chamou atenção nas bilheterias e passou em branco nas premiações, o que não impediu que o tempo o tornasse um marco do cinema queer. Falecido no ano passado, Friedkin foi um dos grandes nomes responsáveis pela reinvenção de Hollywood entre meados dos anos 1960 e ao longo dos anos 1970. Responsável ainda pelo clássico O Exorcista (1973), o diretor também merecia maior reconhecimento por trabalhos mais recentes como Possuídos (2006) e Killer Joe (2011), mas ouso dizer que Os Rapazes da Banda está entre seus trabalhos mais notáveis, especialmente pela ousadia de conduzir um filme com esta temática em um tempo que a palavra gay era quase proibida no mainstream (e ele repetiu a proeza despertando ainda mais polêmica dez anos depois com Parceiros da Noite/1980). Vale dizer que a própria história do elenco, após o sucesso da peça, merecia outro filme. Composto em sua maioria por homossexuais, suas vidas representam muito os percalços da comunidade gay do período. Seja por preconceitos, ofertas de trabalho, dos romances secretos com celebridades, estigmas ou o advento da AIDS que vitimou alguns dos atores que vemos magistrais nesta produção.   
 
Os Rapazes da Banda (The Boys in the Band/ EUA - 1970) de William Friedkin com Kenneth Nelson, Leonard Frey, Peter White, Cliff Gorman, Reuben Green, Robert La Torneaux, Laurence Luckinbill, Keith Prentice e Reuben Green. ☻☻☻☻

PL►Y: A Garota da Vez

Kendrick: estreia promissora na direção. 
 
Anna Kendrick começou sua carreira no cinema aos dezoito anos sabendo utilizar sua aparência de amiga da vizinhança, foi muito por conta disso que ela chamou atenção de algumas pessoas como a amiga de Bella na saga Crepúsculo (2008). Quando quis demonstrar que era capaz de ser mais do que uma garota comum, ela foi indicada ao Oscar pelo trabalho em Amor Sem Escalas (2009) em que vivia a aprendiz especialista em demitir pessoas em reformas corporativas. Desde então Anna já trabalhou em diversos filmes, alguns fizeram sucesso, outros nem tanto, mas ela percebeu que estava na hora de dar um passo diferente na carreira. A Garota da Vez marca a estreia da atriz como cineasta e, embora o filme tenha seus tropeços, podemos afirmar que é um trabalho bastante promissor. A começar pela coragem de construir o filme com base em uma sinistra história real: a participação de um serial killer em um programa de namoro na TV. Parece absurdo, mas é um daqueles casos em que se fosse ficção você acharia que é algo inacreditável de acontecer, mas aconteceu de verdade. Além de dirigir, Anna vive Cheryl Bradshaw, uma jovem atriz que está cansada de ser recusada em testes. Como as contas não esperam, ela aceita a ideia de participar de um programa chamado The Dating Game em que uma garota faz perguntas para três candidatos (que ficam escondidos até o final do programa) afim de escolher um deles para uma viagem romântica. Entre os candidatos está Rodney Alcala (Daniel Zovatto que consegue trabalhar), um rapaz capaz de dar as respostas certas às perguntas como o disfarce perfeito para sua personalidade assassina - e, infelizmente, desde a primeira cena do filme, sabemos do que Rodney é capaz (e vale ressaltar que Daniel Zovatto realiza um bom trabalho, imprimindo sempre um ar sinistro às atitudes mais afáveis do personagem). Trabalhando como fotógrafo e sabendo o que dizer para ganhar a confiança e seduzir suas vítimas estima-se que ao todo ele tenha assassinado mais de cem pessoas. A montagem do filme mescla sua participação no programa com as atrocidades cometidas por ele e esta opção narrativa demonstra ser um dos pontos mais problemáticos do filme, já que torna-se bastante cansativas as cenas de violência ao longo de todo o filme - embora a diretora saiba trabalhar bastante com o poder da sugestão o que pode deixar a coisa ainda mais perturbadora. Kendrick também acerta no tom de tensão quando o programa termina e um inevitável encontro acontece para que Cheryl perceba que fez a escolha mais errada entre os candidatos do programa. Gosto muito da cena em que o plano aberto representa a sensação de medo e vulnerabilidade enquanto Cheryl tenta fugir, momento que considero o ponto alto do filme. O roteiro também tece algumas críticas pela forma tola e machista com que as candidatas do programa precisavam ser representadas diante da câmera, além da falta de critério para a escalação dos rapazes que participavam do programa, basta lembrar que o serial killer realmente participou do programa em 1978, mesmo com histórico de passagens pela polícia. Seu primeiro registro problemático foi aos 17 anos, por má conduta sexual e colapso nervoso enquanto servia ao exército, depois foi preso por 34 meses por conta de... cenas parecidas com a que vemos no filme. O número de vítimas de Rodney Alcala é extenso e Cheryl não fazia ideia do risco que correu ao aceitar participar do tal programa. Faz pouco tempo que o filme esteve em cartaz nos cinemas e já está disponível no Prime Video.

 A Garota da Vez (Woman of the Hour / EUA - 2023) de Anna Kendrick com Anna Kendrick,  Daniel Zovatto, Tony Hale, Nicolette Robinson, Pete Holmes, Matt Viser e Dylan Schmid. ☻☻

sábado, 14 de dezembro de 2024

10+ Filmes procurados no Blog em 2024

Ano passado inaugurei uma nova modalidade de lista por aqui, a relacionada aos textos postados durante o ano que mais chamaram atenção dos leitores. Assim como em 2023, tive gratas surpresas, a começar pelo pódio sem produções Made in Hollywood e liderado por um filme brasileiro (e não é aquele que você está pensando)! Temos ainda o primeiro filme de um diretor badalado, uma animação (que também não é a que você imagina), um clássico queer, um fracasso de bilheteria, uma das ousadias da temporada passada, um cult norueguês, o longa mais sem graça indicado ao último Oscar, um filme francês sem destaque nos cinemas e um terror underground (que não é o que você pensou).

Prontos para a lista mais surpreendente do blog?



 
 
 
 
 
 
 

PL►Y: Blitz

Soirse e Hefferman: separados pela guerra.

Havia bastante burburinho de que a irlandesa Saoirse Ronan entraria para o seleto clube das atrizes que são indicadas duplamente em uma cerimônia do Oscar. Motivos para isso são seus trabalhos em The Outrun (que lhe rendeu indicações ao British Independent e Gotham Awards) e neste Blitz, novo filme do badalado Steve McQueen. O contraste entre as duas personagens também ajudaria bastante a atriz, já que no primeiro ela vive uma mulher problemática e no segundo uma mãe separada do filho em meio à Segunda Guerra Mundial. Se a indicação sair (o que parece cada vez mais difícil com o congestionamento de interpretações femininas marcantes no ano), provavelmente ela não será por Blitz, que foi recebido com frieza por crítica e público que esperava um pouco mais do encontro do diretor do oscarizado 12 Anos de Escravidão (2013) com a atriz já indicada quatro vezes ao Oscar (nada mal para quem acaba de completar trinta anos). A recepção fria ao filme, que era a grande aposta da AppleTV para os prêmios deste ano, se deve principalmente a trama sem graça que é apresentada. Ambientado durante os bombardeios em  Londres, havia um programa de proteção para deixar crianças a salvo dos bombardeios na capital da Inglaterra. Para mantê-las em segurança, as mães as enviam para o campo até que um dos momentos mais críticos da guerra passasse. Para proteger o filho, George (Elliot Heffernan), a operária Rita (Saoirse Ronan) o envia de trem para o campo, mas o menino preferia ficar ao lado dela naquele momento difícil - tanto que a despedida entre os dois tem sabor de revolta. O menino resolve fugir do trem e voltar para casa, o que o coloca em situações perigosas em meio ao cenário de guerra. Ele acaba encontrando um grupo de outros meninos fugitivos, é protegido por um guarda de bom coração, se envolve com saqueadores, com as inundações do metrô e bombardeios. É estranho que enquanto o filme acompanha as desventuras do menino, deixa a sensação de que não sabe o que fazer com Rita para preencher seu tempo de tela, pelo menos até que ela descubra que o filho fugiu e siga fazendo nada de relevante no filme. Ainda que Saoirse seja uma ótima atriz, ela não consegue fazer milagre com uma personagem tão sem graça. Havia uma campanha para que o novato Elliot Hefferman concorresse ao Oscar de melhor ator, mas a situação do garoto complica ainda mais já que na maioria das vezes seu personagem é mais uma testemunha dos acontecimentos do que protagonista da narrativa. A fotografia em tons de marrom também não ajuda a prender a atenção em uma narrativa esquemática que ambicionava traçar um panorama daquele período. Falta vigor na trama e o verniz antirracista do filme também não consegue sair do lugar comum. Muitos já apontam o longa como o filme mais decepcionante de McQueen. Difícil imaginar que Blitz foi realizado pelo diretor indie que começou a carreira chamando atenção com os incomuns Fome (2008) e Shame (2011), aqui falta a assinatura do diretor que pode fazer muito mais do que vemos aqui. Existem bons momentos, mas são poucos se pensarmos nas ambições da produção. Por vezes tive a impressão que o longa se torna a versão aguada do tcheco O Pássaro Pintado (2019). Longe de mim querer que o George sofresse feito o pequeno Joska, mas custava fazer de Blitz um filme menos redundante?

Blitz (Reino Unido - EUA / 2024) de Steve McQueen com Saoirse Ronan, Elliot Hefferman, Harris Dickinson, Benajmin Clémentine, Paul Weller e Stephen Graham.

PL►Y: Coringa - Folie a Deux

Gaga e Phoenix: o filme mais odiado do ano.

Se  Coringa2 não for o maior fracasso de bilheteria de 2024, ele com certeza merece o título de filme mais odiado do ano. Muito por conta do fenômeno cultural que foi o primeiro filme (um filme baseado em HQ que foi Premiado no Festival de Veneza e rompeu a barreira do bilhão nas bilheterias com um drama sombrio e pessimista). O primeiro Coringa fez tanto sucesso que rendeu todos os prêmios daquela temporada para o colosso Joaquin Phoenix e levou ainda o Oscar de trilha sonora enquanto disputava outras nove categorias no maior prêmio do cinema americano - incluindo filme e direção para Todd Phillips. Ao que parece todo mundo gostou do sucesso de Coringa, menos o diretor. Phillips ficou famoso com a comédia Se Beber Não Case (2009) e disse em entrevistas ter feito seu Joker pensando em como dar risada pode ser considerado ofensivo nos dias atuais. Acontece que a interpretação que muita gente teve de seu vilão foi diferente do que ele imaginava e viu o personage ser considerado por muitos um herói incompreendido num mundo excludente - por mais que Phillips ressaltasse que seu protagonista era um assassino perigoso. Assim como Joker se tornou uma figura cultuada na trama por conta dos crimes que cometeu, o cineasta viu o mesmo acontecer na vida real. Diante do sucesso inesperado do primeiro filme, Todd foi convidado a realizar uma inevitável sequência, mas disse que faria apenas se fosse do seu jeito, sem que os produtores se metessem. Foi assim que ele torrou quatro vezes mais para desconstruir tudo o que muita gente venera no filme anterior. Pista de que isso aconteceria aconteceu quando divulgou que seria um musical e que teria Lady Gaga como a mítica Arlequina. Devo dizer que nenhum desses pontos me desagradou, ainda que os considerasse um bocado arriscados. Pista porque o musical deve ser o gênero menos apreciado ao redor do mundo, mas ainda assim temos ao menos um exemplo brilhante de como podem ser sombrios e assustadores (Sweeney Todd/2007 de Tim Burton, filme que eu adoro), por outro lado, por mais que Lady Gaga seja uma atriz competente, seu fã-clube é proporcional ao número de haters de olho em tudo o que ela faz. No fim das contas, tudo dependeria do roteiro assinado pelo diretor e Scott Silver. A bomba já se denunciava no Festival de Veneza em que o filme era um dos mais aguardados e recebeu críticas mornas. Aqui, Arthur Fleck (Phoenix) está internado no Asilo Arkham aguardando julgamento pelos cinco assassinatos que cometeu. Medicado, calado e controlado, ele mal faz ideia que fora dali tem uma legião de seguidores enquanto serve de chacota para os guardas do local. As coisas parecem melhorar quando ele conhece Harley Quinzel, mais conhecida como Lee (Lady Gaga), que idolatra a imagem insana daquele sujeito e o motiva a ser novamente o imprevisível Coringa. Aos poucos, Fleck volta a encarnar seu alterego e o filme segue em um julgamento que revisita situações e personagens do filme anterior. Com isso Folie a Deux (nome em francês para transtorno delirante induzido) se torna dependente demais do primeiro longa, com uma série de explicações que ninguém pediu. O filme se torna repetitivo em um roteiro que anda em círculos para terminar de forma bastante decepcionante. Todo o teor robusto de Joker não aparece aqui. A culpa nem é das músicas (logo no início o diretor já anuncia sua proposta em um programa de TV: quer provar como o musical pode servir ao drama dos personagens), também não me incomoda o fato de Joaquin não cantar bemm o que incomoda é que para um filme com mais de duas horas, o roteiro soa improvisado, com ideias inventivas que não foram bem desenvolvidas. Meu momento favorito do filme é aquele em que Puddles (Leigh Gill, perfeito!) vai depor e expõe todo horror de perceber que um amigo se transformou em um monstro (ou será que ele sempre foi?). Esta é a intenção de Todd Phillips, mostrar que o vilanesco Coringa não é digno de admiração e acho que este é o grande motivo de ódio perante o filme. De certa forma, ao ver Coringa2 a plateia sente-se tão decepcionada quanto Lee (e Lady Gaga que aparece pouco e subaproveitada com o potencial da personagem) e restou apenas reclamar do filme, que está longe de ser um desastre, mas também não é tão interessante quanto poderia ter sido. Acho que, no fundo, faltou ao diretor a ousadia de radicalizar suas ideias (algo que vimos recentemente em A Substância), distante de toda emulação scorsesiana, Todd deixou o filmeem cima do muro. Resta apenas apelar para o fanservice do desfecho para que se criem teorias a respeito do que acontece depois. Que aconteça nada, por favor. 

Coringa: Folie a Deux (EUA-2024) de Todd Phillips com Joaquin Phoenix, Lady Gaga, Brendan Gleeson, Catherine Keener, Zazie Beetz, Leigh Gill, Harry Lawtey e Steve Coogan.  

KLÁSSIQO: O Colecionador

Terence e Samantha: atuações premiadas.

Após assistir recentemente à Teorema de Pasolini (1968), eu lembrei de outro filme com Terence Stamp que sempre tive curiosidade de assistir, mas que demorei muito para assistir. Trata-se de O Colecionador, filme adaptado do livro de John Fowles, produção que recebeu reconhecimento em sua época de lançamento - basta lembrar que seu casal protagonista foi premiado por suas interpretações no Festival de Cannes, que a atriz ganhou o Globo de Ouro de atriz dramática daquele ano e que o Oscar lembrou do filme nas categorias de melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor atriz. O livro de Fowles está entre os meus favoritos e minha relação com ele é bastante particular por conta da atmosfera tensa que constrói ao longo da narrativa, seja na primeira parte em que o personagem masculino conta a história ou na segunda em que a personagem feminina assume a voz da narrativa. Trabalhar com pontos de vistas diferentes em uma mesma obra não é tarefa fácil, mas Fowles cumpre a proposta com louvor e gera um resultado impactante. O roteiro de Stanley Mann e John Kohn não cai na armadilha de fazer o mesmo em sua transição para o cinema e opta por criar uma linha narrativa única, com ênfase nos momentos em que os dois personagens estão em cena, o que gera um resultado bastante eficiente para os admiradores da obra. A trama conta a história de Freddie Clegg (Terence Stamp), um homem comum que coleciona borboletas e que recebe uma fortuna que muda sua vida para sempre. Freddie compra um casarão afastado da cidade, uma residência adequada para que sua ideia mais sombria seja posta em prática. Faz algum tempo que ele admira Miranda (Samantha Eggar) à distância. O que poderia ser apenas uma história de amor platônico torna-se um pesadelo quando ele resolve rapta-la. Ele a leva para o casarão e a instala no  porão, sem contato com o mundo exterior, ele espera convencê-la a se apaixonar por ele. A ideia absurda obviamente não dará certo e, enquanto ele segue o plano, ela tenta convencê-lo a deixa-la ir embora e retomar sua vida. A dinâmica entre os dois segue em tentativas dele agradá-la sem que sua mente doentia se dê conta de que a ideia de um "romance" já começa errada em sua raiz, ao mesmo tempo que ela procura negociar sua liberdade, mesmo que aos poucos ela tenha cada vez mais certeza que as insegurança daquele homem é motivada pela loucura. Para um filme lançado em 1965 pode se dizer que envelheceu muito bem na forma como constrói a narrativa cheia de suspense amparada pela dinâmica entre os dois personagens, interpretados de forma marcante por Terence e Samantha. Ele se torou um ícone por sua aparência de galã somada àquelas expressões mínimas que revelam um turbilhão de emoções por dentro, já Samantha não se contenta em interpretar uma mocinha indefesa, nutrindo sua personagem com a força e a inteligência necessárias para desafiar os planos daquele homem. O porão da casa remete claramente aos clássicos do terror e a narrativa sabe como alimentar a tensão claustrofóbica que existe na estranha relação dos dois. A única coisa que me incomoda é a trilha sonora persistente que por vezes se torna irritante, um pequeno problema perante um filme que, de vez em quando, aparece nas listas de melhores suspenses da história do cinema. Em tempos em que relacionamentos tóxicos e abusivos estão em pauta, O Colecionador permanece atual.

O Colecionador (The Collector / Reino Unido - EUA / 1965) de William Wyler com Terence Stamp, Samantha Eggar, Mona Washbourne e Maurice Dallimore. ☻☻☻

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

10+ Melhores Pôsteres de 2024

#10 "Saturday Night" de Jason Reitman

# 09 "Stopmotion" de Robert Morgan

#08 "Back to Black" de Sam Taylor-Johnson
 
#07 "A Verdadeira Dor" de Jesse Eisenberg
 

 


#02 "Abigail" de  Tyler Gillett e Matt Bettinelli-Olpin 

#01 "Anxiety Club" de Wendy Lobel

.Doc: Bruxas

Sankey: precisamos falar sobre psicose pós-parto.
 
Comecei a assistir o documentário Bruxas, presente no catálogo da MUBI, imaginando que veria um filme sobre como essas mulheres são representadas nos filmes e na cultura pop em geral. Esta ideia foi reforçada pelo início do filme, em que a montagem utiliza cenas de vários filmes famosos que possuem personagens envolvidas com bruxaria no ritmo do contexto traçado pela diretora Elizabeth Sankey. Aos poucos você percebe que Sankey quer nos guiar por um território mais vasto e assustador. Não por acaso, ela se inspira em uma situação bastante pessoal para dar início ao seu estudo sobre mulheres que foram classificadas como bruxas e traçar paralelos sobre situações sobre saúde mental que precisam ser esclarecidas. Ainda que ressalte que estas mulheres foram incompreendidas ao longo da história, que muitas eram curandeiras e parteiras, que foram perseguidas quando a medicina amparada pela ciência praticada pelos homens começou a ganhar mais espaço e desejava exclusividade, o filme envereda por um território ainda mais interessante e necessário quando começa a abordar questões de saúde mental vinculadas às mulheres, especialmente relacionadas à vida pós parto. Para além de toda a descarga hormonal no organismo feminino e a pressão sentida ao se ver diante de um recém-nascido, a cineasta não se satisfaz ao falar de depressão pós-parto, ela vai além, ao falar de um tema ainda pouco explorado: a psicose pós-parto. Um quadro gravíssimo que é mais comum do que se imagina e que se complica ainda mais pela falta de informação misturada ao receio de dizer o que se passa na cabeça das pessoas que sofrem com esta situação. Estima-se que a psicose pós parto atinja cerca de 1 ou 2 mulheres a cada mil, parece pouco, mas, quando falamos de mulheres com transtorno bipolar, o cenário muda: de 10% a 20% delas desenvolvem o transtorno. Elizabeth Sankey conta como percebeu que após ter seu primeiro filho como seus pensamentos trafegavam em sentimentos extremos em torno do bebê. Ao mesmo tempo que havia uma sensação de amor absoluto e necessidade de proteger o filho a todo custo, por outro lado, havia momentos em que faria de tudo para se livrar dele. Diante de todas as responsabilidades que a maternidade acarreta e mudanças na rotina (seja física ou em alterações em rotina de sono, alimentação e dinâmica de um casal), a diretora ressalta a ideia do que é perder-se de si mesma em meio a tudo isso. Sankey foi internada em uma instituição para tratamento psiquiátrico e descobriu outras mulheres na mesma situação que também são entrevistadas no documentário. Fica clara a necessidade de acompanhamento especializado para  voltar a tomar as rédeas da saúde mental. Fica evidente que é um processo longo e bastante doloroso, especialmente pela incompreensão que encontram no caminho (muitas vezes amparadas por preconceitos disfarçados de conhecimento). O documentário se sustenta pelos relatos contundentes e uma montagem que relaciona o que é dito com trechos de filmes famosos como Possessão (1981), As Bruxas de Eastwick (1987), Da Magia à Sedução (1998), A Bruxa (2015) e muitos outros de forma bastante atrativa, o que ajuda a suportar o peso de casos em que a psicose pós-parto gerou atitudes extremas que poderiam ter sido evitadas se houvesse maiores informações divulgadas em contraponto à imagem de uma maternidade vivenciada sem maiores conflitos. Para completar a costura de ideias, o filme ainda apresenta um momento arrepiante em que as entrevistadas lêem registros de visões e comportamentos de mulheres acusadas de bruxaria e que são muito semelhantes ao que estas vivenciaram durante o período delicado após o parto. Bruxas se prova então um documentário mais do que interessante, mas uma obra profundamente necessária que merece ser descoberta. 
 
Bruxas (Witches / Reino Unido - 2024) de Elizabeth Sankey com Elizabeth Sankey, Catherine Cho, David Emson, Sophia Di Martino, Shema Tariq e Marion Gibson. ☻☻  

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

INDICADOS AO GLOBO DE OURO 2025


Emilia Pérez: 10 indicações fazem um favorito?

Hoje foram divulgados os indicados ao Globo de Ouro 2025 e entre as surpresas (não considero a indicação de A Substância nas categorias de comédia porque já era divulgado a predisposição para isso e sim, considero que existem fatores que justificam isso), senti faltas da Danielle Deadwyler na categoria de coadjuvante (efeito Ariana Grande amparada pelo sucesso de Wicked?), mas o melhor foi ver Fernanda Torres indicada ao prêmio de melhor atriz dramática por Ainda Estou Aqui, que também concorre a melhor filme estrangeiro. Sobre isso é importante perceber que o indiano "Tudo que Imaginamos Feito Luz" cresceu muito nas últimas semanas no páreo de filme internacional, ao ponto de cravar uma indicação à melhor direção por aqui (algo que não era pensado até então), o que só reforça que se Emilia Perez era o maior obstáculo para o filme brasileiro na temporada de ouro, o concorrente indiano começou a se tornar uma ameaça de fato rumo ao Oscar. Quem também ganhou mais afeto dos votantes foram Selena Gomez (como coadjuvante no cinema e atriz em série de Tv), Kate Winslet (surpresa na categoria de atriz cinematográfica e nem tanto em categoria de Tv) e Sebastian Stan, indicado como melhor ator nas categorias de drama e comédia/musical em filme. A seguir todos os indicados à cerimonia que acontecerá no dia cinco de janeiro! Façam suas apostas: 

Melhor filme (drama)
“The Brutalist”
“Um Completo Desconhecido”
“Conclave”
“Nickel Boys”
“September 5”

Melhor filme (musical ou comédia)
“Anora”
“Emilia Pérez”
"A Verdadeira Dor"
“Wicked”

Melhor diretor (filme)
Jacques Audiard, “Emilia Pérez”
Sean Baker, “Anora”
Edward Berger, “Conclave”
Brady Corbet, “The Brutalist”
Payal Kapadia, “Tudo Que Imaginamos Como Luz”

Melhor ator de filme (drama)
Adrien Brody, “The Brutalist”
Timothée Chalamet, “Um Completo Desconhecido”
Daniel Craig, “Queer”
Colman Domingo, “Sing Sing”
Ralph Fiennes, “Conclave”
Sebastian Stan, "O Aprendiz"

Melhor atriz de filme (drama)
Pamela Anderson, “The Last Showgirl”
Angelina Jolie, “Maria”
Nicole Kidman, “Babygirl”
Tilda Swinton, “O quarto ao lado”
Kate Winslet, “Lee”

Melhor atriz em filme (comédia ou musical)
Amy Adams, “Nightbitch”
Cynthia Erivo, “Wicked”
Karla Sofía Gascón, “Emilia Pérez”
Mikey Madison, “Anora”

Melhor ator de filme (comédia ou musical)
Jesse Eisenberg, “A Real Pain”
Hugh Grant, “Heretic”
Gabriel LaBelle, “Saturday Night”
Jesse Plemons, “Kinds of Kindness”
Glen Powell, “Hit Man”
Sebastian Stan, “A Different Man”

Melhor ator coadjuvante em filme
Yura Borisov, “Anora”
Kieran Culkin, “A Verdadeira Dor"
Edward Norton, “Um Completo Desconhecido”
Guy Pearce, “The Brutalist”
Jeremy Strong, “O Aprendiz”
Denzel Washington, “Gladiador 2”

Melhor atriz coadjuvante de filme
Selena Gomez, “Emilia Pérez”
Ariana Grande, “Wicked”
Felicity Jones, “The Brutalist”
Isabella Rossellini, “Conclave”
Zoe Saldaña, “Emilia Pérez”

Melhor roteiro de filme
“Emilia Pérez”, Jacques Audiard
“Anora”, Sean Baker
“The Brutalist”, Brady Corbet, Mona Fastvold
“A Real Pain”, Jesse Eisenberg
“Conclave”, Peter Straughan

Melhor filme em língua não-inglesa
"Tudo Que Imaginamos Como Luz"
"Emilia Pérez"
"A Garota da Agulha"
"The Seed of the Sacred Fig"
"Vermiglio"

Melhor filme de animação
“Flow"
“Memoir of a Snail
“Moana 2”
“Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl”
“Robô Selvagem”

Melhor destaque nas bilheterias
“Beetlejuice Beetlejuice”
“Gladiador 2”
"Wicked"
“Robô Selvagem”

Melhor canção original (filme)
“Beautiful That Way” (The Last Showgirl)
“El Mal” (Emilia Pérez)
“Forbidden Road” (Better Man)
“Robô Selvagem” — “Kiss the Sky” (Robô Selvagem)
“Mi Camino” (Emilia Pérez)

 Melhor trilha sonora - Filme
“Conclave”
“The Brutalist”
“Robô Selvagem“
“Emilia Pérez”

Melhor série de TV (drama)
“The Day of the Jackal”
“The Diplomat”
“Mr. and Mrs. Smith”
“Shōgun”
“Squid Game” (Netflix)

Melhor série (comédia ou musical)
“Abbott Elementary”
“The Gentlemen”
“Hacks”
“Nobody Wants This”
“Only Murders in the Building”

Melhor série limitada, antologia ou filme feito para TV
“Disclaimer”
“Monsters: The Lyle and Erik Menendez Story”
“Pinguim”

Melhor ator de série - Drama
Donald Glover, “Mr. and Mrs. Smith”
Jake Gyllenhaal, “Presumed Innocent”
Eddie Redmayne, “The Day of the Jackal”
Hiroyuki Sanada, “Shōgun”
Billy Bob Thornton, “Landman”

Melhor atriz coadjuvante de série de TV

Melhor ator coadjuvante de TV
Tadanobu Asano, “Shōgun"
Javier Bardem, “Monsters: The Lyle and Erik Menendez Story"
Harrison Ford, “Shrinking”
Jack Lowden, “Slow Horses”
Diego Luna, “La Maquina”

Melhor atriz de TV (Musical ou comédia)
Kristen Bell, “Nobody Wants This”
Quinta Brunson, “Abbott Elementary”
Selena Gomez, “Only Murders in the Building”
Kathryn Hahn, “Agatha All Along”
Jean Smart, “Hacks”

Melhor atriz em série limitada, antologia ou filme feito para TV
Cate Blanchett, “Disclaimer”
Cristin Milioti, “The Penguin”
Sofía Vergara, “Griselda”

Melhor ator em série de TV (musical ou comédia)
Adam Brody, “Nobody Wants This”
Ted Danson, “A Man on the Inside”
Steve Martin, “Only Murders in the Building”
Jason Segel, “Shrinking”
Martin Short, “Only Murders in the Building”

Melhor ator em série limitada, antologia ou filme feito para TV
Colin Farrell, “The Penguin”
Kevin Kline, “Disclaimer”
Cooper Koch, “Monsters: The Lyle and Erik Menendez Story”
Ewan McGregor, “A Gentleman in Moscow”

Melhor atriz em série de TV (drama)
Kathy Bates, “Matlock”
Emma D’Arcy, “House of the Dragon”
Maya Erskine, “Mr. and Mrs. Smith”
Keira Knightley, “Black Doves”
Keri Russell, “The Diplomat”
Anna Sawai, “Shōgun”

Melhor stand-up para TV
Jamie Foxx, “What Had Happened Was”
Nikki Glaser, “Someday You’ll Die”
Seth Meyers, “Dad Man Walking”
Adam Sandler, “Love You”
Ali Wong, “Single Lady”
Ramy Youssef, “More Feelings”