Cinco produções vistas no mês que merecem destaque:
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
PL►Y: A Hipnose
Asta e Herbert: efeito colateral de uma hipnoterapia. |
André (Herbert Nordrum) e Vera (Asta Kamma August) são namorados e parceiros na construção de um aplicativo para saúde feminina. Diante da invenção, os dois agora procuram por investidores para bancar o projeto e precisam saber vender a ideia. Ambos podem ser craques em tecnologia, mas desde a primeira cena fica evidente o quanto Vera é tímida e André é formal demais para conquistar a simpatia de possíveis investidores. No meio de tudo isso, Vera tem hora marcada com uma hipnoterapeuta para que consiga parar de fumar. No primeiro encontro do casal após o procedimento, fica evidente que algo mudou na personalidade da moça (e não se trata do uso dos cigarros). Vera está completamente desinibida (será que o alívio da tensão proporcionado pelo cigarro evitava que demonstrasse tal comportamento?). Capaz de soltar gritos de alegria em público, dançar com a música alta antes de dormir, brincar em momentos indevidos e contar histórias totalmente descabidas. No início o novo comportamento até ajuda a vender a ideia, o problema é que ela parece cada vez mais destrambelhada. A Hipnose é um filme dirigido pelo sueco Ernst de Geer e parte de uma brincadeira bem humorada com a lógica das startups, mas investe cada vez mais na forma como lidamos com os códigos das relações sociais e do valor de uma falsa autenticidade como moeda social. Existe um tanto de como era mais cômodo para o casal que Vera ficasse à sombra do sócio namorado e como o fato dela chamar mais atenção que ele começa a incomodá-lo, mas a ideia de ter alguém de comportamento imprevisível em uma reunião de negócios ou um jantar com investidores pode ser bastante complicada - assim como toda a formalidade de André por vezes também gera encontros desconfortáveis para ele e o grupo (como naquela cena em que ele aparece em uma reunião para qual não foi convidado e não consegue se encaixar). Obviamente que o importante é alcançar um meio termo nessas relações, do que se é e o outro espera que você faça, mas enquanto o tal equilíbrio não vem, André realiza uma atitude bastante questionável que pode comprometer não apenas o seu namoro como os negócios também. A Hipnose é uma comédia romântica europeia, o que funciona sempre bem quando não tenta seguir a cartilha hollywoodiana do gênero. Investindo no humor pela via do desconforto e da vergonha alheia, o filme consegue ser divertido com toda sua casca formal em contraste com os absurdos de algumas cenas (e talvez seja a de André as mais absurdas em cena). Herbert Nordrum (que vimos em A Pior Pessoa do Mundo/2022) está convincente no papel do nerd que quer se aventurar pelo mundo dos negócios, mas é Asta Kamma August que rouba a cena com a guinada surpreendente de sua personagem. Quando o filme terminou eu fiquei imaginando que não ficaria surpreso se num futuro próximo gerasse uma remake em inglês com Emma Stone e Adam Driver nos papéis principais (e claro que aquele último ato seria alterado para ficar menos, digamos, ousada...).
A Hipnose (The Hypnosis / Noruega - Suécia / 2023) de Ernst de Geer com Herbert Nordrum, Asta Kamma August, David Fukamachi Regnfors, Moa Niklasson, Andrea Edwards e Simon Rajala. ☻☻☻
Combo: Dignas de Oscar
Neste Halloween, em homenagem à campanha de Demi Morre para o Oscar por A Substância, resolvi tirar da tumba o Combo no blog, só para lembrar cinco atrizes que mereciam o reconhecimento da Academia e acabaram de fora do páreo de melhor atriz. Quatro são de obras recentes e a primeira colocada é a prova irrefutável de que o Oscar tem problemas com ótimas performances em filmes de terror.
PL►Y: A Substância
Demi: musa desconstruída em filme controverso. |
Diante de toda a controvérsia podemos afirmar que A Substância é (de longe) um dos filmes mais interessantes de 2024. O longa foi exibido como quem não quer nada na última edição do Festival de Cannes e saiu de lá com o prêmio de melhor roteiro e a consagração de ser um dos mais falados do evento. A francesa Coralie Fargeat fez um filme de grande impacto e difícil de rotular (tanto que compreendo os motivos que o colocaram no páreo por uma vaga na categoria de melhor comédia no Globo de Ouro). Apesar dos exageros e dos risos nervosos da plateia, o que se esconde por trás de todo alardeado horror corporal da produção está uma crítica social que apresenta muito mais camadas do que parece. O roteiro de Fargeat é esperto ao ponto de retratar a ascensão da musa Elizabeth Sparkle (uma colossal Demi Moore) apresentando somente sua estrela na calçada na fama. A atriz consagrada que já ganhou até um Oscar (algo que nunca aconteceu com Demi) atravessou décadas à frente de um programa de ginástica na TV, mas agora que completa mais uma aniversário, a direção da emissora (personificado por Denis Quaid) considera que ela está mais do que ultrapassada. Diante dos insultos que escuta acidentalmente, Elizabeth fica transtornada. Sofre um acidente e recebe um convite para ser usuária de um produto revolucionário (e clandestino). A tal substância do título faz com que Elizabeth dê origem à Sue (Margareth Qualley), uma mulher algumas décadas mais jovem e que pretende ocupar a vaga de sua "matriz" na televisão. Acontece que existe uma série de regras para que o procedimento dê certo e, por mais que Elizabeth tenha consciência do que deve ser feito, o complicado é convencer sua versão jovem deslumbrada a fazer a mesma coisa. A relação de Elizabeth e Sue é bastante complexa, principalmente pelas analogias que podem ser feitas em todos os procedimentos que envolvem a substância. A forma como Elizabeth deseja tanto ser jovem novamente, mesmo que seja outra pessoa, ou a maneira como Sue despreza cada vez mais sua matriz podem gerar várias leituras sobre uma sociedade que é mais do que hetarista, mas obcecada pela juventude na mesma medida como despreza o envelhecimento. Em determinadas cenas, o embate entre as duas versões da protagonista passa a ser o conflito entre o velho e o novo, a experiência e a impaciência, entre reconhecer o espaço de quem veio antes e sua importância. Para Sue, não faz sentido ter que se preocupar com Elizabeth, à sua matriz caberia somente aguardar a morte. No entanto, existe certa realização em Elizabeth ao ver as conquistas de Sue, pelo menos até aquele momento em que ela percebe ser tarde demais para voltar atrás. Se parece filosófico demais, Fargeat faz tudo isso embrulhado em uma experiência sensorial hipnotizante, com cores, ruídos, closes absurdos e ângulos estranhos. Sim, existe muito exagero, muito sangue, muito gore, especialmente no desfecho que se rende totalmente ao absurdo de tudo aquilo, ou melhor ao exagero de uma sociedade que canibaliza a beleza e a juventude. Depois de uma ótima repercussão nos cinemas, A Substância está em cartaz na Mubi que, pela primeira vez, está investindo em uma campanha para o Oscar. Ficaria muito feliz de ver Demi Moore no páreo de melhor atriz. Seu trabalho corajoso nesta produção deixa claro que ela deve ter vivido maus bocados ao longo de sua carreira no cinema. Sempre com a beleza colocada em primeiro plano, poucas vezes ela coletou elogios tão calorosos à sua atuação. Ótima em cena, ela amplia ainda mais a potência do tapa na cara que o filme oferece, resta saber se a Academia irá engolir seus preconceitos e aceitar que filme de horror possuem performances arrebatadoras. Vale destacar que este é o segundo filme de Coralie (o primeiro foi o também controverso Vingança/2017 que está na Netflix), mas que de certa forma revisita algumas questões de um curta feito por ela, o Reality+, feito em 2014 e que está em cartaz na MUBI, mas também pode ser visto no Youtube. A cineasta é um nome que merece toda nossa atenção.
A Substância (The Substance / EUA - Reino Unido - França) de Coralie Fargeat com Demi Moore, Margareth Qualley, Dennis Quaid, Hugo Diego Garcia e Gore Adams. ☻☻☻☻
terça-feira, 29 de outubro de 2024
4EVER: Teri Garr
11 de dezembro de 1944✰29 de outubro de 2024 |
quarta-feira, 23 de outubro de 2024
4EVER: Antonio Cicero
06 de outubro de 1945✰23 de outubro de 2024 |
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
Palpites para o Oscar 2025 - PARTE I
Cá estamos especulando mais uma vez sobre o ápice da temporada de ouro do cinema. Até o momento já tivemos contato com algumas produções que devem tentar alguma indicação. Provavelmente Duna 2 irá aparecer no Oscar novamente, assim como Divertida Mente2 tem lugar garantido entre os favoritos à melhor animação. Existe uma grande torcida para que A Substância quebre preconceitos e seja lembrado pelos votantes do Oscar, a torcida do longa estrelado por Demi Moore se tornou maior que a de Rivais, Guerra Civil e Assassino por Acaso tem sua ala de torcedores. No entanto, os pesos pesados da temporada começam a se revelar somente agora nos Estados Unidos. A seguir os filmes inéditos por aqui que cobiçam votos da Academia:
Se a cerimônia do Oscar fosse hoje, provavelmente o ganhador seria este drama com três horas e meia de duração! O filme conta a história de Lászlo Toth (Adrien Brody), um visionário arquiteto que foge da Europa ao lado de sua esposa (Felicity Jones) no pós-guerra de 1947 para os EUA, mas o destino de ambos é mudado por conta de um misterioso cliente. Com a maior cara de cinemão clássico banhado nos fantasmas da Segunda Guerra Mundial, o filme tem tudo para ser o grande filme do próximo Oscar. Com produção impecável o filme de três horas e meia de duração impressiona por ter custado menos de dez milhões de dólares!!! Presença certa na categoria de melhor filme, direção, roteiro, ator, fotografia, figurino e montagem... o filme deve ser aquele que os demais devem temer.
Com tantas mudanças entre o corpo votantes da Academia, não seria surpresa se o ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes chegasse como o favorito para levar a estatueta no dia dois de março do ano que vem. O filme conta a história de uma garota de programa (Mikey Madison) que se casa com um grande herdeiro, mas que a família não recebe bem a notícia e deseja anular o casamento. Feito com atores desconhecidos e com o senso de dramédia habitual de Sam Baker, temos aqui a chance do diretor cair de vez nas graças da Academia (antes ele conseguiu somente aquela indicação de coadjuvante de Willem Dafoe por Projeto Flórida/2017). O longa parece ter lugar garantido nas categorias principais, incluindo filme, direção, roteiro e atriz principal.
PL►Y: O Menino e a Garça
Mahito e a Garça estranha: morte e legado aos olhos de Myiazaki. |
Ganhador do Oscar de melhor animação em 2024, O Menino e a Garça está em cartaz na Netflix (assim como um vasto acervo de obras do Estúdio Ghibli). O filme conta a história de Mahito (voz de Soma Santoki), um menino que depois de perder a mãe durante na guerra, muda-se para o campo junto com o pai e a madrasta, passando a ser cuidado por um grupo de senhoras empregadas de seu pai. O garoto tem tem problemas de relacionamento com outros moradores locais e em meio à exuberante natureza local, o menino percebe que existe uma garça sempre por perto - e o pássaro terá importância fundamental quando a madrasta do menino desaparecer. Este é o primeiro acontecimento de uma série de situações estranhas que irão levar Mahito de encontro com um mundo fantástico, que pode revelar segredos de sua própria história, como o destino de sua mãe e o paradeiro da madrasta desaparecida. Em se tratando do Estúdio Ghibli é redundante falar do capricho visual, das escolhas das cores e o traço inconfundível do mestre Hayao Myiazaki que já anunciou a aposentadoria três vezes e sempre retorna para o delírio dos fãs. Esta produção, embora baseada na obra de Genzaburo Yoshino lançada em 1937, quatro anos antes do nascimento de Hayao, que presenciou desde muito pequeno o Japão destroçado pela Guerra. Este é é um dos pontos que demonstra que esta é a obra mais pessoal do cineasta. Embora guarde semelhanças com outras obras do mestre (incluindo o meu favorito A Viagem de Chihiro/2001), O Menino e A Garça tem fortes elementos sobre o dilema atual de Hayao sobre sua carreira e legado junto ao estúdio Ghibli. Uma apreciação mais detalhada destes aspectos podem ser vistos no vídeo dedicado ao filme do canal Minutos de Sanidade Sanidade do Youtube, que explora camadas surpreendentes da relação entre o autor e sua obra. Se você tem a sensação de que o filme repete a fórmula de outros filmes do estúdio e apresenta mais do mesmo em sua narrativa, você irá se surpreender. Toda fantasia presente no filme o carrega de analogias sobre a criação e a morte, basta pensar na figura do Tio avô, que construiu um mundo mágico, mas que está preocupado em quem irá herdar tudo o que realizou, da mesma forma existe o luto do menino por sua mãe, que talvez encontre conforto na aceitação de que ela se foi e resta-lhe conviver com quem está presente em sua vida naquele momento. Visto em todas as suas simbologias, o filme se torna bastante complexo e talvez mereça ser visto outras vezes para que se possa absorver todas as intenções do cineasta.
O Menino e a Garça (Kimitachi wa dô ikiru ka/ Japão - 2023) de Hayao Myiazaki com vozes de Soma Santoki, Kô Shibasaki, Yoshino Kimura, Aimyon, Masaki Suda e Takuya Kimura. ☻☻☻☻
domingo, 20 de outubro de 2024
NªTV: Slow Horses - 4ª Temporada
Os pangarés: espantando o sossego. |
Confesso que enrolo o máximo possível para terminar de ver uma temporada de Slow Horses, afinal, fico com aquela sensação de vazio quando termina uma temporada enquanto crio expectativas para a temporada seguinte (religiosamente anunciada em um trailer após a season finale). O trailer sobre esta quarta temporada deixava no ar a sensação de que um dos agentes desprezados de Lamb (Gary Oldman) iria se despedir do programa e... quem conhece as artimanhas do programa já deve imaginar as surpresas que irão aparecer depois da sensação de luto do primeiro episódio. Como de praxe, a série inspirada nos livros de Mick Herron gosta de surpreender o espectador em desdobramentos capazes de revelar um pouco mais sobre os personagens e prender a atenção dos espectador ao longo de seus oito episódios. Desta vez, os pangarés rejeitados do MI5 precisam lidar com mais problemas, agora em torno da família de River Cartwright (Jack Lowden) - que parece ter uma ligação estranha com um atentado realizado em um shopping nos arredores de Londres. Mais uma vez o trabalho pouco estimulante na Slough House (o escritório de arquivos para qual são destinados os agentes fracassados do serviço secreto inglês) recebe novos personagens que tentam provar seu valor em um universo que os rejeita. Obviamente que também reencontramos personagens que já possuem nosso respeito, como Guy (Rosalind Eleazar) e Catherine (Saskia Reeves), que recebem mais destaque nessa temporada e não podemos esquecer de Diana Taverner (Kristtin Scott Thomas), que precisa lidar novamente com a incompetência de seus superiores na alta cúpula do MI5. Mais uma vez, conforme a temporada avança em sua narrativa, a tensão cresce e a série nos oferece cenas de ação que não fazem feito em comparação a que vimos na excelente terceira temporada, a diferença é que existe aqui um emaranhado emocional ainda maior a ser resolvido, até mesmo entre a dupla Shirley (Aimee-Ffion Edwards) e Marcus (Kadiff Kirwan). Para manter a tradição, a quinta temporada recebe um trailer ao final do último episódio e deixa claro que o programa ainda vai manter sua ótima fórmula em desenvolver os laços entre os melhores piores agentes da Inglaterra enquanto todo o marasmo do serviço burocrático é espantado mais uma vez (para alegria deles e nossa também). Ampliando cada vez mais seu leque de personagens interessantes, Slow Horses ocupa cada vez mais o posto de minha série favorita do momento.
Slow Horses - 4ª Temporada (Reino Unido - EUA / 2024) de Will Smith com Gary Oldman, Jack Lowden, Kristtin Scott Thomas, Saskia Reeves, Rosalind Eleazar, Hugo Weaving, Christopher Chung, jonathan Pryce, Ruth Bradley, Tom Brooke, Naomi Wirthner, Aimee-Ffion Edwards e Kadiff Kirwan. ☻☻☻☻☻
KLÁSSIQO: Possessão
Sam e Isabelle: a separação como um filme de terror. |
Certa vez em uma conversa sobre toda a confusão que foi para Andrzej Zulawski finalizar seu ambicioso O Globo de Prata (1988), um amigo comentou como era ingrato que um diretor de um filme premiado no Festival de Cannes ter que passar por tudo aquilo. O filme premiado em questão era Possessão, que concedeu à Isabelle Adjani o prêmio de melhor atriz em 1981. Aquela foi a primeira vez que ouvi falar do filme de terror dirigido pelo diretor que recebeu status de cult ao longo do tempo. Recentemente começaram a falar de um remake estrelado por Robert Pattinson e as reclamações de que a nova versão ficaria aquém do original começaram a borbulhar. Obviamente que minha curiosidade em torno do filme se tornou incontrolável nas últimas semanas, mas confesso que foi difícil encontrar o filme para assistir e, após encontrá-lo, foi preciso de um preparo especial para encarar uma produção de intensidade impressionante na abordagem de um casamento em crise. Mark (Sam Neill) volta de viagem e percebe que sua mulher não está mais disposta a manter o casamento. Cansada dos longos períodos em que cuida da casa e do filho pequeno sozinha, ela percebeu que deseja algo mais para sua vida. No entanto, o esposo não se conforma e tenta discutir a relação com a mulher, que sequer consegue olhar para ele. A presença dele já parece ser um gatilho para Ana, que está à beira de um surto. Só piora quando Mark imagina que ela possui um amante e o ciúme começa a deixa-lo cada vez mais agressivo. As discussões são constantes e se intensificam com gritos, ofensas, violência física e automutilzação. Zulawski constrói uma atmosfera densa, claustrofóbica e sufocante com a interação entre seus dois atores e o horror daquele relacionamento entre pessoas que parecem realmente possuídas, esse drama de emoções descontroladas já daria conta de fazer do filme um clássico do terror, mas existe algo mais. Sempre com uma estranheza no ar e olhares sinistros de Ana, existem pistas de que não se trata apenas de um relacionamento que chegou no limite. Quando um detetive é contratado para seguir Ana, o roteiro entrega que existe algo realmente de outro mundo afetando a trama. A estupenda Isabelle Adjani está assustadora no filme (e após o prêmio em Cannes recebeu o César de Melhor Atriz) com um domínio físico invejável. A atriz oscila as expressões entre o diabólico e o vulnerável e tem uma das cenas solo mais assustadoras da história do cinema na famosa cena do metrô. Até hoje, sua performance é bastante perturbadora e, se o Oscar não tivesse tanto preconceito com os filmes do gênero, ela teria sido indicada e premiada com sua primeira estatueta. Sam Neill também está ótimo em cena, com pinta de galã com tendência ao surto, ele está bastante convincente como o esposo que tenta entender o que acontece com a esposa enquanto se perde pelo caminho.O filme evita o colocar no papel de marido bonzinho, fazendo com que seus defeitos acentuem ainda mais as causas daquele casamento em frangalhos. Zulawski buscou inspiração nos efeitos de seu próprio divórcio para construir o filme, mas ao invés de lavar a roupa suja, criou uma obra que vai além, abordando a separação em outras esferas. Não por acaso o filme é ambientado na Alemanha ainda separada pelo muro de Berlim e suas neuras, além disso, os próprios personagens aos poucos se separam de si mesmos (ao ponto de gerar enigmáticos "duplos" ao longo da sessão). Com tanta estranheza, o filme não escorrega nem quando apresenta o verdadeiro amante da protagonista, mas erra a mão quando envereda por cenas de ação que não combinam em nada com resto da narrativa.
Possessão (Possession / França - Alemanha Ocidental) de Andrzej Zulawski com Isabelle Adjani, Sam Neill, Heuinz Bennent, Margit Carstensen, Carl Duering e Johanna Hofer. ☻☻☻☻
sábado, 19 de outubro de 2024
PL►Y: O Mal não Existe
Hitoshi Omika: a natureza é o maior atrativo. |
Depois de uma breve passagem pelos cinemas brasileiros, no novo filme do cineasta japonês Ryusuke Hamaguchi chegou na Mubi recentemente. Depois de todo prestígio e prêmios de Drive My Car/2021, quem for assistir sua nova obra esperando algo parecido poderá se frustrar. No recente O Mal Não Existe, a trama gira em torno de uma comunidade que vive na vila de Muzubike, em Tóquio. Todos vivem em harmonia com a natureza por lá, apreciando as árvores, o convívio com os animais, a água potável direto da fonte... mas tudo isso pode estar ameaçado com o projeto de instauração de um glamping por lá. Eis que os idealizadores do projeto são obrigados a fazer uma audiência pública com os moradores para apresentar o projeto e são surpreendidos com muitas críticas e sugestões para que o impacto sobre o meio ambiente da localidade seja amenizado. Os construtores não parecem muito preocupados com o bem estar do local, mas com o tempo que possuem para tirar o projeto do papel e não perder o investimento. Para defender o projeto usam todos aqueles jargões sobre os benefícios para a comunidade, o aumento de lucros locais e novos empregos por ali. Não convencem. Então, eles precisam de uma nova estratégia para conseguir amenizar a insatisfação local. Eu não fazia a mínima ideia sobre o que era glamping, mas descobri que é uma espécie de camping mais glamouroso, com instalações luxuosas e tudo mais, o que não impede que o projeto apresentado tenha seus problemas (especialmente relacionado com a poluição da fonte d'água local). PAra agregar confiança ao projeto, eles tentam convencer um morador local a se envolver com o projeto. Eles escolhem Takumi (Hitoshi Omika), um morador local que ocupa o cargo de "faz tudo" da região. Ele vive sozinho com a filha, Hana (Ryô Nishikawa) e em determinado momento, um acontecimento com a menina conduzirá a trama. Embora o filme comece de forma bastante hipnótica com a câmera em movimento em meio às árvores e a trilha sonora magnífica de Eiko Ishibashi, o que vemos a seguir não consegue sustentar nossa atenção por muito tempo, os momentos em que pretendem demonstrar a sintonia da população local com a natureza é bastante arrastada. Quando se instaura o conflito dos moradores com as mudanças anunciadas, o filme se apoia em um lugar comum dos filmes que abordam o tema do desenvolvimento regional com sustentabilidade, mas depois não sabe muito bem o que fazer. Tive a impressão que diante de toda a complexidade de Drive my Car, Hamaguchi quis fazer um filme de menor escala, mas o roteiro parece ter sido apenas um esboço das intenções do cineasta. Mais uma vez o diretor investe na poesia das imagens, agora para explorar o lugar do homem na natureza, e, de fato, ela é a personagem principal de toda a narrativa. Embora eu ache a última parte a mais interessante (emulando sutilmente a ideia de que a natureza tem seus meios de reagir e se tornar até ameaçadora), considero pouco para um filme de uma hora e quarenta minutos. O Mal não Existe seria um dos meus curtas favoritos se tivesse uma hora a menos de projeção. Da forma como está, soa como um exercício de paciência disfarçado por toda a beleza natural filmada por Hamaguchi.
O Mal Não Existe ( Aku wa sonzai shinai/ Japão - 2023) de Hyusuke Hamaguchi com Hitoshi Omika, Ryô Nishikawa, Ayaka Shibutani, Hazuki Kikuchi e Hiroyuki Miura. ☻☻
CATÁLOGO: Um Caso de Amor
Russell e Jack: pai e filho em comédia romântica australiana. |
De vez em quando eu procuro um filme que ouvi falar tempos atrás e que nunca assisti. Quando é uma raridade, sinto como se eu ganhasse uma estrelinha na vida cinéfila (quando se trata de um clássico... é como se eu recebesse uma medalha). Dia desses eu recebi uma estrelinha por ter encontrado o australiano Um Caso de Amor, filme estrelado por Russell Crowe quando ele tinha 30 anos e nem imaginava que iria fazer carreira nos Estados Unidos. Crowe já tinha chamado atenção em A Prova (1991) e estava em alta por lá com seu trabalho como o skinhead de Romper Stomper (1992) e decidiu fazer um trabalho totalmente diferente. Ele interpreta Jeff, um bombeiro hidráulico que vive com seu pai, Harry (Jack Thompson), desde o falecimento da matriarca da família. Harry não se importa que o filho seja homossexual, pelo contrário, ele gostaria muito de ser apresentado a algum parceiro do rapaz que é extremamente discreto com sua vida amorosa. Faz um tempo que Jeff pretende ter um relacionamento sério, mas a situação é mais complicada do que ele imagina. Eis que um dia ele conhece Greg (John Polson) e a coisa parece seguir por um caminho diferente, porém, o pretendente enfrenta problemas em se assumir para a família o que o causa um desconforto ainda maior quando é tratado com plena naturalidade por seu futuro sogro. Harry também está procurando uma namorada e o receio da forma como ela lidar com a sexualidade de seu filho pode ser um problema. O filme dirigido por Geoff Burton e Kevin Dowling é bastante leve e espirituoso, apresentando a cumplicidade entre pai e filho sem exageros, assim como envereda pelo território da comédia romântica driblando alguns clichês. O longa ainda ganha um ar moderninho quando os personagens quebram a quarta parede e conversam com o espectador como se fôssemos amigos de longa data - muitas vezes o recurso é utilizado para contar a história da avó materna de Greg, que na terceira idade investiu em um relacionamento com uma mulher. Intercalando a vida amorosa de seus personagens, o filme flui sem problemas até mesmo quando um golpe do destino modifica a dinâmica entre pai e filho - e o que poderia escorregar para o melodrama segue sem maiores tropeços. Russell Crowe e John Polson estão muito convincentes em cena. Quem está acostumado a ver o Gladiador Crowe em papéis mais agressivos, irá se surpreender com a desenvoltura em suas cenas com John Polson (o que deve ter impedido o filme a passar na Sessão da Tarde nos anos 1990). No fim das contas, Um Caso de Amor (o título nacional meio equivocado para o original A Soma de Nós) é um filme sobre a busca pela cara metade como tantos outros que são lançados todos os anos, porém, ver um filme de 1994 (trinta anos!!!) lidando com tanta naturalidade com a homossexualidade de seu protagonista nos faz repensar onde foi que a coisa desandou para os tempos conservadores em que vivemos. Vale lembrar que este foi o último filme da fase australiana de Crowe, no ano seguinte ele já era contratado pela produtora Sharon Stone para ser um dos pistoleiros de Rápida e Mortal (1995) e o resto da história todo mundo sabe. Curiosidade, o filme tem uma mensagem totalmente oposta de Boy Erased (2018), filme em que Crowe vive um pai que acredita na cura gay de seu filho.
Um Caso de Amor (The Sum of Us/Austrália - 1994) de Geoff Burton e Kevin Dowling com Russell Crowe, Jack Thompson, John Polson, Deborah Kennedy, Joss Moroney, Mitch Mathews, Des James e Julie Herbert. ☻☻☻
NªTV: Mary e George
Nicholas e Julianne: conspirações em torno do amante do rei. |
PL►Y: Não Me Ame
Christos e Eleni: planos quase perfeitos. |
Outro diretor grego que se aventurou por Hollywood foi Alexandros Avranas. Depois dos prêmios recebidos pelo (mais que) incômodo Miss Violence (2013), o cineasta se aventurou pela terra do Tio Sam dirigindo um suspense com Jim Carrey (Crimes Obscuros/2016 que pouca gente assistiu). Como o resultado não foi o esperado, ele voltou para seu país e continuou fazendo seus filmes que não pretendem agradar muita gente. Não Me Ame não fez o mesmo sucesso da obra que o revelou para o mundo, mas o dom para incomodar a plateia permanece intacto. O filme conta a história de um casal (Eleni Roussinou e Christos Loulis,) que leva uma vida confortável, mas que lamenta não ter tido filhos. Eles acabam contratando uma jovem (Célestine Aposporis) para ser uma espécie de barriga de aluguel. Espécie porque os dois resolvem a situação por conta própria, levando a moça para morar junto com eles durante a gestação, aplicam injeções nela (que imaginamos ser para fertilidade) e, digamos, a concepção será feita da forma tradicional mesmo. No entanto, a interpretação dos atores segue o estilo do novíssimo cinema daquele país (mais conhecido como "estranha onda do cinema grego"), bastante contidas e deixando muito para a interpretação da plateia. Por conta disso, as expressões de Eleni Roussinou parecem construir uma máscara para a personagem com seus olhos enormes e um sorriso sempre enigmático no rosto, enquanto Christos Loulis soa sempre alheio ao que acontece. O trabalho do casal deixa a impressão que os dois estão escondendo alguma coisa, que só se revela no segundo ato da história. Particularmente fiquei decepcionado com a guinada que a história cria nesta parte, imaginando que veria mais um filme de golpistas sendo mais espertos que os outros personagens. Avranas conduz a segunda parte da narrativa deixando o espectador pensar que está diante de mais do mesmo, até que o casal recebe a visita de um cão e seu dono. Começamos a imaginar que o casal terá que inventar um novo plano para se livrar dele, mas antes que isso aconteça o filme oferece mais uma virada, esta mais agressiva, violenta e incomoda do jeito que Avranas adora. Porém, ela prende a atenção quando começamos a especular sobre quem seria aquele senhor desconhecido que invade a vida do casal - e que parece conhecê-los tão bem. O terceiro ato é tão difícil de assistir que muita gente acusou o filme de ser misógino, mas há quem também observe um conto moral sobre a forma como as mulheres são usadas nos jogos estabelecidos em uma sociedade patriarcal, são duas leituras antagônicas que podem modificar completamente a leitura do filme. Imagine o que ele possui de simbólico e ele pode ficar até mais interessante. O fato é que Avranas faz mais uma vez um filme capaz de chocar a plateia, especialmente com aquela cena final que dói na alma dependendo da leitura que você faz do que virá a seguir. A minha é a pior possível.
Não Me Ame (Love Me Not / Grécia - 2017) de Alexandros Avranas com Eleni Roussinou, Christos Loulis, Célestine Aposporis, Maria Skoula, Stefanos Kosmidis e Manos Vakousis. ☻☻
quinta-feira, 17 de outubro de 2024
Pódio: Jesse Plemons
Bronze: o marido encrencado. |
3º Fargo - 2ª Temporada (2015) Embora tenha chamado atenção das premiações só recentemente, o texano atua no cinema desde 1998, quando tinha dez anos de idade. Com vários trabalhos no cinema e na TV, ele se tornou um artista marcado pela versatilidade em viver tipos cômicos, dramáticos e assustadores (por vezes, ao mesmo tempo). Na hora de escolher seus três trabalhos favoritos lembrei muito de sua participação em séries como Black Mirror (e 2017) e Breaking Bad (entre 2012 e 2013), mas a medalha de bronze vai para sua antológica participação na segunda temporada de Fargo como Ed Blomqvist, o marido apaixonado e dedicado que se complica em crimes cada vez mais ao lado da esposa (Kirsten Dunst). A química da dupla acabou rendendo um casamento na vida real!
Prata: o filho dedicado |
Ouro: o vizinho estranho. |
PL►Y: Tipos de Gentileza
Emma e Jesse: contos entre a comédia e a tragédia. |
Depois de A Favorita (2018) li muitos comentários de que o cineasta Yorgos Lanthimos havia se vendido. Com Pobres Criaturas (2023) ganhando o prêmio máximo do Festival de Veneza os comentários só aumentaram. Juntas, as produções somam cinco estatuetas e impressionantes 21 indicações ao Oscar. Em comum, ambos premiaram suas atrizes principais junto à Academia, possuem um cuidado estético impressionante e voltagem dramática elevada conjugada com o senso de humor peculiar que Lanthimos ostenta desde que caiu no radar da Academia com seu Dente Canino (2009) na concorrência em Filme Estrangeiro em 2011. Yorgos não levou o Oscar para seu país, mas carimbou seu passaporte para Hollywood. Aquele filme se tornou um marco referencial sobre a estranha onda grega, ou o novíssimo cinema grego composto por filmes independentes com roteiro alinhado com a crise social e econômica do país. Com o orçamento miúdo para fazer filmes, os diretores investiram em um estilo econômico tanto na grana quanto nas interpretações minimalistas dos atores (que funcionam em contraste com as tramas que carregam as tintas no absurdo). O resultado colocou o cinema grego novamente no mapa cinéfilo mundial. Com os orçamentos robustos para brincar na terra do Tio Sam, os fãs mais radicais queriam que Yorgos permanecesse fazendo o mesmo cinema com restrições orçamentárias de antes. Eis que entre as filmagens de Pobres Criaturas, Lanthimos realizou um outro filme em esquema independente, com alguns atores do mesmo elenco e outros convidados, o resultado estreou no Festival de Cannes. O longa dividiu opiniões, mas rendeu o prêmio de atuação masculina para Jesse Plemons no início do ano. A trama é composta por três histórias que lembram muito os tempos de pindaíba do diretor, com histórias bizarras, cheias de metáforas sobre as relações humanas e (assim como o Sacrifício do Cervo Sagrado/2017) traz um toque de tragédia grega. Na primeira história um homem (Plemons) precisa executar uma tarefa para o patrão (Willem Dafoe), mas entra em uma crise de consciência que o faz repensar os limites da relação que existe entre os dois. Na segunda, um policial (Plemons) aguarda o retorno de sua esposa (Emma Stone) que desapareceu em uma expedição. Quando ela é resgatada, ele suspeita que não seja ela, o que gera situações que funcionam como um teste sobre a identidade daquela mulher. No terceiro, uma mulher (Emma Stone) é contratada por um milionário (Dafoe) para procurar uma pessoa capaz de curar doenças e ressuscitar os mortos, tudo por conta do filho do ricaço que está doente (Plemons). Não cabe contar muito para não estragar as surpresas de cada trama, mas existe aqui ecos da excitação mórbida de Kinetta (2009) , o primeiro filme autoral de Yorgos, e um tanto da devoção cega de alguns personagens que lembra o que vimos em Alpes (2011). Quem conhece a fase grega do diretor vai perceber várias semelhanças no desenho dos personagens, no entanto, o maio problema do filme não é essa repetição, mas a impressão de que é composto por três ideias que poderiam render três longas, mas que não conseguiram ser desenvolvidas para tal. Coladas em quase três horas de sessão, gera um certo cansaço de acompanhar as histórias carregadas do estilo absurdista do diretor em tramas que giram em torno da morte. Minha trama favorita é a primeira, a outras são apenas medianas. A sorte é que no streaming (o filme está no Disney+, pois é... tire as crianças da sala!) as três tramas podem ser vistas separadas e satisfazer os fãs até que o lançamento de Bugonia, o próximo longa do diretor, mais uma vez estrelado por Emma Stone. A relação entre os dois é digna de uma análise mais profunda, já que a atriz mostra-se bastante a vontade com as ideias do diretor, percebendo que a oscilação entre o drama e a comédia cai como uma luva para gerar boas (e complicadas) atuações . Particularmente considero o trabalho dela mais interessante do que o de Jesse Plemons por aqui, vale dizer que Dafoe e Margareth Qualley também estão bem em cena. Seja como for, Tipos de Gentileza é Lanthimos dizendo que debaixo de seus filmes mainstream ainda existe a mesma mente assustadora de antes.
Tipos de Gentileza (Kinds of Kindness/ EUA - 2024) de Yorgos Lanthimos com Emma Stone, Jesse Plemons, Margarteh Qualley, Joe Alwyn e Hunter Schafer. ☻☻
quinta-feira, 10 de outubro de 2024
PL►Y: Planeta Janet
Julianne e Zoe: um verão de mãe e filha. |
Janet (Julianne Nicholson) é uma mãe solo que vive com a filha, Lacy (Zoe Ziegler), de onze anos. Elas vivem na zona rural de Massachussetts, juntas, as duas levam uma rotina bastante comum que é atravessada por algumas pessoas que cruzam a vida de ambas. São as pessoas que surgem no meio da narrativa que dão título às partes que compõem o filme da diretora e roteirista Annie Baker que conseguiu críticas positivas com sua estreia como cineasta. Baker adota um estilo sem firulas, bastante realista e direto, como se sua câmera estivesse espreitando a vida daquelas pessoas como se não estivesse ali. A trama não tem vilões, grandes acontecimentos ou revelações, mas se constrói na relação de proximidade entre mãe e filha de forma bastante sutil e até poética, mas sem afetação. No início Janet tem um namorado que a faz repensar sobre que tipo de relacionamento deseja. Depois ela reencontra uma amiga (Sophie Okonedo) que entre uma conversa aqui e outra ali, aprofunda a reflexão sobre os homens que atravessam o seu caminho, mal sabe ela que está aproximando Janet de outro relacionamento. O filme se concentra no desenho interno da personagem e o faz de forma bastante tranquila se desviando dos clichês do gênero, apresentando Janet como uma mulher comum e ao mesmo tempo interessante. Vale dizer que a protagonista é vivida por uma ótima atriz que ainda não recebeu o devido reconhecimento de merece do público. Juliane Nicholson chegou a roubar a cena de Meryl Streep e Julia Roberts como a irmã mais nova de Álbum de Família (2013), brilhou na pequena participação como a treinadora dedicada de Eu, Tonya (2017) e recebeu prêmios por seu trabalho memorável em Mare of Easttown (2021) ao lado de Kate Winslet. Em todos os seus papéis, a atriz consegue construir personagens bastante palpáveis e interessantes, de forma que dificilmente a Janet do título nos deixaria instigados se fosse vivida por outra atriz. A pequena Zoe Ziegler que interpreta sua filha consegue compor na exata medida uma menina que cresce ao lado da mãe curiosa sobre o a vida e o mundo (e sobre o que ambos lhe reservam). As duas apresentam diálogos bastante francos que tornam Planeta Janet um filme interessante justamente por ser tão simples. Não é um filme arrebatador, mas uma produção a que se assiste com certa curiosidade e que nos absorve para o cotidiano de personagens que, magicamente, parecem existir de verdade.
Planeta Janet (Janet Planet / EUA - 2023) de Annie Baker com Julianne Nicholson, Zoe Ziegler, Sophie Okonedo, Elias Koteas, Will Patton e Luke Phillip Bosco. ☻☻☻
KLÁSSIQO: Primavera de Uma Solteirona
Maggie e suas pupilas: a influencer de seu tempo. |
quarta-feira, 9 de outubro de 2024
PL►Y: Entrevista com o Demônio
Dastmalchian e seus convidados: tudo pela audiência. |