Para fechar o ano destaco os meus favoritos de 2018. Vale ressaltar que levo em consideração todos os filmes que foram lançados por aqui desde janeiro.Sei que muita gente vai discordar da minha opinião nas categorias, mas o mais interessante destas listas é fazer um resumo do ano, lembrar dos trabalhos que considero mais interessantes e, se você não assistiu, vale a pena procurar os filmes desconhecidos. Não importa se são filmes de super-heróis, sucessos, fracassos, se não passaram no cinema ou se são originais Netflix. Esta é a retrospectiva de meu 2018 com os responsáveis por torna-lo muito mais interessante:
ELENC✪
Parece até provocação que num ano em que o Brasil mais falava sobre ser de direita ou esquerda, Armando Ianucci lançasse um filme tão ácido e debochado. Em A Morte de Stalin o melhor é que não se trata de algo tendencioso, já que faz tempo que o humor de Ianucci é ambidestro e já alfinetou para todos os lados possíveis. Com a ajuda de um elenco em sintonia perfeita, um roteiro esperto e cheio de golpes certeiros, o filme foi um dos mais comentados do ano. Sendo assim os outros destaques do ano (o heróico Pantera Negra, o melancólico Custódia, o episódico A Balada de Buster Scruggs, o tom espirituoso de Mais Uma Chance e a provocação de The Square) foram derrubados...
REVELAÇÃO DO AN✪
Dá para acreditar que Harry Melling era o primo gordinho chato de Harry Potter? Pois o rapaz cresceu e apareceu, surpreendendo por sua expressividade em um dos episódios mais complicados de A Balada de Buster Scruggs. Interpretando um artista sem membros e com falas que se repetem até o final, muito do que se passa no personagem é transmitidos pelo rosto do ator num trabalho sensacional! Espero que em breve possamos vê-lo em mais projetos, assim como a adolescente Elsie Fisher (Oitava Série), a mexicana Yalitzia Aparicio (Roma), a pequena Millicente Simmonds (que ficou famosa com o hit Um Lugar Silencioso, mas que apareceu pela primeira vez com Sem Fôlego lançado no início do ano), a ladra de cenas Zazie Beetz (excelente como a Domino de Deadpool2) e Vicly Krieps (que não se intimidou diante do gigantesco Daniel Day Lewis em Trama Fantasma).
ATRIZ C✪ADJUVANTE
Quatro das atrizes que aparecem nesta categoria disputaram a mesma no Oscar. Foi um ano excelente para estas atrizes que chamaram atenção de muita gente pela primeira vez. Laurie Metcalf (Lady Bird), Lesley Manville (Trama Fantasma) e Mary J. Blige (Mudbound) fizeram bonito, mas foi Allison Janney que quebrou todos os limites como a mãe da patinadora Tonya Harding, numa atuação que era misto de mãe zelosa, vilã e caricatura em Eu, Tonya! Simplesmente sensacional! Completaram o páreo a ótima Eddie Falco numa das atuações mais tocantes de sua carreira no drama Ouside In e Blake Lively brincando com o clima noir de Um Pequeno Favor.
ATOR C✪ADJUVANTE
Conheci Simon Russell Beale nos episódios de Penny Dreadful e custei para reconhecê-lo em A Morte de Stalin. Na pele do ardiloso Lavrentiy Beriya ele causa medo e risadas, especialmente quando um emaranhado de conspirações toma conta da história - e ele não perde o ritmo em momento algum com os diálogos ágeis e jogos de interesses intermináveis. Impossível esquecê-lo! Assim como o trabalho de Christopher Plummer (famoso por substituir Kevin Spacey em cima da hora em Todo Dinheiro do Mundo), da dupla Woody Harrelson e Sam Rockwell (como policiais opostos em Três Anúncios para um Crime), o vilão de Michael B. Jordan (Pantera Negra) e Armie Hammer provando que não basta ser galã, tem que arrasar todos os corações de Me Chame Pelo seu Nome.
CINEASTA REVELAÇÃ✪
Greta Gerwig entrou para a história como uma das poucas diretoras que já concorreram ao Oscar de direção - sendo a primeira a ser praticamente uma estreante (antes ela dividiu a direção de Nights and Weekends/2008 com Joe Swanberg). Greta fez de Lady Bird o filme queridinho da temporada. Ainda que muita gente considere que o filme não era para tanto, sua firmeza na direção e a capacidade de fazer drama e humor nos detalhes, a colocam como uma das diretoras mais interessantes de Hollywood (tanto que seu novo projeto é uma versão do clássico Little Women). Outros nomes interessantes para se ficar de olho são Jennifer Fox (que demonstra grande coragem na condução de O Conto), Cory Finley (com firmeza impressionante em Thoroughbreds), Ari Laster (que causou alguns dos momentos mais estranhos do ano com Hereditário), Matt Spicer (que surpreendeu com o humor crítico de Ingrid Vai para o Oeste) e Bo Burnham que elevou o drama adolescente para outro patamar com Oitava Série).
MELHOR AT✪R
Realmente não consigo escolher outro ator para representar a melhor atuação masculina do ano que não seja Rami Malek na pele de Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody. É verdade que o filme tem problemas, mas o trabalho quase mediúnico do ator nos faz esquecer os tropeços pelo meio do caminho. Em várias cenas eu até esquecia que estava diante de uma interpretação e imaginava estar diante do cantor novamente. Os outros favoritos do ano foram Jay Duplass com cara de quem precisa de um bom abraço em Outside In, Bradley Cooper no melhor trabalho de sua carreira em Nasce Uma Estrela (e o rapaz ainda estreou na direção com o pé direito), além de Denzel Washington no seu melhor trabalho em muito tempo com Roman J. Israel. Thimotée Chalamet também fez bonito ao se revelar para o grande público com Me Chame pelo seu Nome (eu lembro deste mocinho já interessante na série Homeland) e para fechar o sexteto, Daniel Day Lewis em mais uma de suas últimas atuações em Trama Fantasma (mas pedindo com jeitinho ele volta).
MELH✪R ATRIZ
Margot Robbie não apenas entregou a atuação feminina mais interessante do ano, como também provou ter coragem de se arriscar como produtora de um material bastante controverso. Não é qualquer uma que teria o destemor de levar para as telas a versão da patinadora Tonya Harding sobre um dos maiores escândalos do mundo dos esportes. Em Eu, Tonya, Margot está arrasadora! Seu trabalho tem tantas camadas que temos a impressão que ela aguentaria mais cinco horas na pele da personagem! Pelo trabalho até concorreu ao Oscar (ao lado de Sally Hawkins no oscarizado A Forma da Água), mas não levou. Quem também fez bonito foi Kathryn Hahn ótima como uma mulher lutando contra o seu relógio biológico (Mais Uma Chance), Karine Teles penando nas contradições de uma mãe zelosa (em Benzinho, meu filme brasileiro favorito do ano), Toni Collette descobrindo que sua família padece de uma terrível maldição (Hereditário) e Emily Blunt excelente na cena de parto mais arrepiante do cinema (Um Lugar Silencioso).
MELHOR ROTEIR✪
Esta é a categoria mais complicada de todas, sempre fico perdido sobre as qualidades que estou avaliando num roteiro - e tento não deixar me influenciar pelo resto do filme. Assim, The Square: A Arte da Discórdia foi o que mais me chamou atenção por suas provocações de um mundo onde até a arte e seus apreciadores precisam redefinir alguns conceitos (ou não?). Eu também curti muito o texto de As Aventuras de Brigsby Bear, o considerando um dos mais originais dos últimos anos. Mais uma Chance e Gente de Bem tem pontos em comum, mas seguem por caminhos diferentes em sua abordagem de pessoas comuns em dramas cotidianos. Sem Amor me deixa devastado só de ver o trailer (mas eu vi o filme e fiquei arrepiado com o que se passa na tela) e Ingrid Vai para o Oeste é uma dessas pérolas que retrata uma geração de forma bastante afiada.
DIREÇÃ✪
O sueco Ruben Östlund é um destes casos que você descobre os filmes recentes dele e quer conhecer tudo o que ele já fez (e vale a pena). The Square é seu quinto longa-metragem e já deixou claro que embora faça parte do time de cineastas europeus provocadores, ele é menos sisudo que os seus colegas - e sabe fazer refletir sem apelar para polêmicas gratuitas. Outros trabalhos de destaque em 2018 foram os de Luca Guadagnino que fez de Me Chame Pelo seu Nome um dos filmes mais belos de se assistir em 2018. Dee Rees que cria uma narrativa magnificamente humanista em Mudbound, John Krasinski que desafiou o impossível num filme de terror comercial com Um Lugar Silencioso, Alfonso Cuarón que filmou suas memórias no pessoal Roma e Tamara Jenkins com a tragicômica saga de um casal em busca de aumentar a família em Mais Uma Chance.
FILME DO AN✪
Só para ter ideia, The Square: A Arte da Discórdia estreou por aqui em janeiro e continuou na minha cabeça o ano inteiro - e sintetiza muita coisa que aconteceu no ano em que sobrevivemos. Uma verdadeira colagem de episódios que nos fazem questionar como a arte é capaz de nos conectar com o mundo (ou seria o contrário?). Um dos filmes mais inteligentes e provocadores que já assisti e, o mais importante, sem perder o bom humor! Neste ano dois documentários também chamaram muito a minha atenção, Visages Villages (que me deixou até triste quando terminou sua jornada) e Três Estranhos Idênticos, dois documentários que não poderiam ser mais diferentes e envolventes. Minha animação favorita do ano, Ilha dos Cachorros de Wes Anderson já tem minha torcida para a temporada de prêmios que se aproxima. Mudbound fez menos sucesso do que deveria e merece ser redescoberto por qualquer pessoa que curta bom cinema - o filme possui algumas das cenas mais bonitas que vi no ano (e algumas bastante assustadoras também). Me Chame Pelo Seu Nome parece que já nasceu clássico e seu sucesso foi tão grande em todo mundo que deve render algumas sequências sobre o romance entre Théo e Oliver. Como já disse antes, Benzinho foi meu filme brasileiro favorito do ano! Uma pequena obra-prima sobre o complicado laço entre uma mãe e o filho que quer ganhar o mundo - ele é o total oposto de Sem Amor, um dos filmes mais dolorosamente cinzentos que já assisti. Lançado no finalzinho do ano, Roma se tornou o mais elogiado de 2018 e ganhou pontos pela beleza que emana ao contar uma história aparentemente banal. Para fechar, Eu, Tonya, um exercício narrativo exuberante sobre uma das personagens mais controversas do esporte americano. A capa do blog no mês de dezembro foi um apanhado dos meus favoritos do ano!
Estes foram os filmes que fizeram meu ano que termina, quais foram os seus?
Que venha 2019!